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A prática do amor a Jesus Cristo

Santo Afonso Maria de Ligório

Capítulo II - Jesus Cristo merece ser amado pelo amor demonstrado na instituição da eucaristia

Disposições e Efeitos

Primeiramente, como ensina o Concílio de Trento, a comunhão é o remédio que nos livra dos pecados veniais e nos preserva dos mortais: “Remédio pelo qual somos livres das falhas cotidianas e preservados dos pecados mortais”(Concílio de Trento, Sess XIII, c. 2)

Diz-se que somos livres das falhas cotidianas porque, segundo Santo Tomás, por meio deste sacramento, o homem é estimulado a fazer atos de amor e por eles se apagam os pecados veniais. Somos preservados dos pecados mortais, porque a comunhão confere o aumento da graça que nos preserva das culpas graves (Summa Theol. 3 p., q. 79, a. 4). Por isso escreveu Inocêncio III: “Jesus Cristo com sua Paixão nos livrou do poder do pecado, mas com a Eucaristia nos livra do poder de pecar” (Inocêncio III, De sacro Altaris mysterio libri sex, 1. 4, c. 44. ML 217-885)

Além disso, este sacramento inflama de modo especial as pessoas no amor de Deus: “Deus é amor”. É fogo que consome todos os afetos terrenos em nossos corações: “É fogo devorador”. O Filho do Homem veio precisamente acender este fogo de amor na terra. Não tinha outro desejo senão ver aceso este santo fogo em cada um de nós. “Vim trazer fogo à terra, e que desejo, senão que ele se acenda?” ( Jo 4,8; Dt 4,24; Lc 12,49). Que chamas de amor acende Jesus Cristo em todo aquele que devotamente o recebe neste Sacramento!

Santa Catarina de Sena imaginava Jesus Sacramentado nas mãos do sacerdote como se fosse um globo de fogo e a santa admirava-se de não ficarem abrasados e consumidos todos os corações dos homens (B. Raimundo de Cápua, O.P., Vita, p. 2, c. 6). Santa Rosa de Lima, depois da comunhão, impressionava a todos que dela se aproximavam por sua grande piedade e recolhimento (L. Hansen, O.P., Vita, c. 22). Conta-se também que São Venceslau, ao visitar as igrejas onde estava o Santíssimo Sacramento, transformava-se exteriormente a ponto de chamar a atenção de quem o seguia (Bollandisti, Acta Sanctorum, 28 setembro). Por isso, diz São João Crisóstomo: O Santíssimo Sacramento é fogo que nos inflama de modo que, retirando-nos do altar, espargimos tais chamas de amor que nos tornam terríveis ao inferno (S. João Crisóstomo, De Poenitentia, hom. 9: MG 499-345; In Ioannem, hom.46, n. 3: MG 59-260, 261)

Dizia a Esposa no Livro dos Cânticos: “Ele me introduziu numa adega”. Escreveu São Gregório de Nissa que a comunhão é exatamente essa adega de vinho em que a pessoa fica inebriada do amor de Deus, de tal modo que esquece e perde de vista todas as coisas criadas (S. Gregório de Nissa, In Cantica Canticorum, hom. 4. MG 44-846. 42 Ct 2,4.5). É aquele morrer de amor mencionado pelo Livro dos Cânticos: “Estou enferma de amor” (Io. Gersonius, Collectorium super Magnificat, t. 9, partitio 3. Opera, tom. 3. Antuerpiae, 1706, col. 422).

– Não comungo com frequência, dirá alguém, porque me vejo frio no amor de Deus.

Responde Gerson: Então, porque você se sente frio, quer se afastar do fogo? (Io. Gersonius, Collectorium super Magnificat, t. 9, partitio 3. Opera, tom. 3. Antuerpiae, 1706, col. 422). Porque você se sente frio, tanto mais você deve se achegar a este Sacramento, se é que tem verdadeiro desejo de amar a Jesus Cristo! São Boaventura escreve: Ainda que friamente, aproxime-se confiando na misericórdia de Deus. Tanto mais uma pessoa precisa do médico, quanto mais se sente doente (De profectu Relig., entre as obras de S. Boaventura, Lugduni 1668, vol. VII, p. 612).Também dizia São Francisco de Sales: “Duas espécies de pessoas devem comungar com frequência: os perfeitos, para se conservarem na perfeição, e os imperfeitos, para chegarem à perfeição” (S. Francisco de Sales, Introdução à Vida Devota, p. 2, c. 21). Mas, para comungar frequentemente é preciso, ao menos, ter um grande desejo de fazer-se santo e crescer no amor a Jesus Cristo. “Quando você for comungar, deseje todo aquele amor que jamais um coração teve para comigo, e eu receberei este seu amor como você gostaria que fosse”, é o que nos diz o Senhor (Sentimentos de Sta. Matilde, mencionados por Luís Blósio, Conclave animae fidelis, p. 2, c. 6, n. 6).


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(Santo Afonso Maria de Ligório)
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