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Vinda do divino Juiz e exame no Juízo Final

Videbunt Filium hominis venientem in nubibus coeli, cum virtute multa et maiestate – “Eles verão o Filho do homem, que virá sobre as nuvens do céu com grande poder e majestade” (Mt 24, 30)

Sumário. Eis que se abrem os céus e os anjos vêm assistir ao juízo trazendo as insígnias da Paixão de Jesus Cristo, e especialmente a Cruz. Vêm depois os santos apóstolos e todos os seus imitadores; vem a Rainha dos Santos, Maria Santíssima, e por fim o eterno Juiz mesmo, que, sentado num trono de majestade e de luz, procederá ao exame. Reflitamos aqui: O que será de nós nesse dia? Que desculpas poderemos alegar, se por ventura formos condenados?

I. Considera como a divina Justiça julgará todos os povos no vale de Josafá, quando, no fim do mundo, ressuscitarem os corpos para receberem, juntamente com a alma, a recompensa ou o castigo, segundo as suas obras. Eis que já se abrem os céus, e os anjos vêm assistir ao juízo, trazendo as insígnias da Paixão de Jesus Cristo, segundo Santo Tomás. Aparecerá sobretudo a Cruz: E então aparecerá o sinal do Filho do homem, e todos os povos da terra se lastimarão em pranto (1). Diz Cornélio a Lapide: Ao verem a Cruz, como chorarão nesse dia os pecadores, que em vida não cuidaram da sua salvação eterna, que tanto custou ao filho de Deus! Assistirão também, na qualidade de assessores, os santos apóstolos e todos os seus imitadores, que juntamente com Jesus Cristo julgarão as nações. Fulgebunt iusti, indicabunt nationes (2) — “Os justos refulgirão e julgarão as nações”. Virá assistir igualmente a Rainha dos Santos e dos Anjos, Maria Santíssima.

Aparecerá enfim o eterno Juiz, num trono de majestade e de glória: Et videbunt Filium hominis venientem in nubibus coeli, cum virtute multa et maiestate — “Eles verão o Filho do homem, que virá sobre as nuvens do céu com grande poder e majestade.” A vista de Jesus regozijará os eleitos, mas para os réprobos será maior tormento que o inferno mesmo, diz São Jerônimo. Por isso exclamava Santa Teresa: Meu Jesus, infligi-me qualquer outro castigo, mas não me deixeis ver nesse dia a vossa face indignado contra mim. E São Basílio acrescenta: Superat omnem poenam confusio ista: esta vista será o mais horrível de todos os tormentos. Então cumprir-se-á a profecia de São João: os condenados rogarão às montanhas que caiam sobre eles e os livrem da vista do Juiz irritado. Abscondite nos a facie sedentis super thronum et ab ira Agni (3).

II. Principia o julgamento. Manuseiam-se os processos, isto é, põe-se a descoberto a consciência de cada um: Iudicium sedit et libri aperti sunt (4) — “Assentou-se o juízo e abriram-se os livros”. As primeiras testemunhas chamadas a depor contra os réprobos, serão os demônios, que (segundo Santo Agostinho) dirão:

“Deus de justiça, mandai que seja nosso aquele que de nenhum modo quis ser vosso.”

Testemunhas serão em segundo lugar as próprias consciências: dando-lhes testemunho a própria consciência (5). Outras testemunhas, a clamarem vingança, serão as paredes da casa onde Deus foi ofendido pelos pecadores: Lapis de pariete clamabit (6).

Virá afinal o testemunho do próprio Juiz, que esteve presente a todas as ofensas que lhe foram feitas. Diz São Paulo que então o Senhor manifestará o que se acha escondido nas trevas (7); isto é, descobrirá então aos olhos de todos os homens os mais recônditos e vergonhosos pecados dos réprobos, que eles em vida ocultaram aos próprios confessores: Revelabo pudenda tua in facie tua (8). Os pecados dos eleitos, segundo o Mestre das Sentenças e outros teólogos, não serão manifestados, mas ficarão encobertos, conforme estas palavras de Davi: Bem-aventurados aqueles cujas iniquidades são perdoadas e cujos pecados são encobertos (9). Pelo contrário, os dos réprobos, diz São Basílio, serão vistos de todo o mundo num relance de olhos, como num quadro.

Considera agora, meu irmão: o que será de ti nesse dia?… quão grande será a tua confusão se por desgraça te perderes?… que desculpas poderás alegar? Eia pois, faze penitência, muda de vida, dá-te inteiramente a Deus e começa a amá-Lo devéras.

Sim, meu Jesus, já Vos ofendi bastante; não quero empregar a vida que ainda me resta, em dar-Vos novos desgostos. Não é isso o que Vós mereceis. Quero empregá-la somente em amar-Vos e em chorar os meus pecados, que agora detesto de todo o meu coração.

† Ó dulcíssimo Jesus, não sejais meu juiz, senão meu Salvador (10). — E vós, ó minha Mãe Maria, rogai a vosso divino Filho por mim.

Referências:
(1) Mt 24, 30
(2) Sb 3, 7
(3) Ap 6, 16
(4) Dn 7, 10
(5) Rm 2, 15
(6) Hab 2, 11
(7) 1Cor 4, 5
(8) Na 3, 5
(9) Sl 31, 1
(10) Indulgência de 50 dias de cada vez