Sacramentos
A preparação para o matrimônio, por que o discernimento é essencial
por Thiago Zanetti em 03/12/2025 • Você e mais 186 pessoas leram este artigo Comentar
Tempo de leitura: 7 minutos
O matrimônio é uma das decisões mais sérias e transformadoras da vida cristã. A Igreja ensina que o casamento não é apenas um contrato humano, mas um sacramento instituído por Cristo, no qual homem e mulher se tornam um só corpo diante de Deus. Por isso, entrar nesse caminho exige mais do que sentimento, exige discernimento, oração e maturidade espiritual. Preparar-se bem é um ato de amor a si mesmo, ao outro e ao próprio Deus.
Neste artigo, vamos refletir sobre por que o discernimento é essencial na preparação para o matrimônio, como a Igreja orienta esse processo e quais caminhos concretos ajudam um casal a tomar uma decisão sólida, consciente e fecunda.
1. O matrimônio como vocação, não apenas escolha pessoal
A Igreja afirma que o casamento é uma vocação, ou seja, um chamado de Deus. O Catecismo diz:
“[…] no matrimônio cristão, os cônjuges são robustecidos e como que consagrados para por um sacramento especial aos deveres e à dignidade de seu estado” (CIC 1638).
Isso significa que o matrimônio não é apenas um projeto humano, mas uma missão espiritual.
Discernir uma vocação é perguntar sinceramente:
Deus me chama a construir uma vida com esta pessoa?
O discernimento é essencial porque o matrimônio não é apenas compatibilidade emocional, mas compromisso de fidelidade, doação e abertura à graça. Sem essa consciência, muitos entram no casamento guiados apenas por emoção, e depois se frustram ao enfrentar as exigências próprias da vida conjugal.
2. Discernimento exige oração, silêncio e escuta
O discernimento cristão não é uma simples análise racional, é diálogo com Deus. Na preparação para o matrimônio, é fundamental que o casal reze junto e individualmente. A oração ilumina intenções, cura feridas internas e dá clareza aos sentimentos.
Jesus recorda: “Sem mim, nada podeis fazer” (Jo 15,5).
Sem oração, qualquer decisão importante tende a se apoiar apenas na força humana, que é limitada. Com oração, o coração se abre à vontade divina, que sempre conduz ao bem e à maturidade.
Além disso, o silêncio e a escuta ajudam a reconhecer sinais do Espírito Santo. Muitas vezes, Deus orienta por meio de pequenas inquietações, desejos de paz, conselhos e até mesmo movimentos interiores difíceis de explicar. Quem não escuta, não discerne.
3. A importância de conhecer a si mesmo e o outro
O discernimento para o matrimônio também inclui um caminho de autoconhecimento. O Catecismo ensina que: “Não há verdadeira liberdade a não ser a seriço do bem e da justiça” (CIC 1733). Assim, é essencial que cada pessoa conheça suas motivações, traumas, expectativas e limites.
Muitos relacionamentos fracassam porque um ou ambos entram no casamento esperando que o outro cure feridas que só Deus pode curar, ou esperando que o matrimônio resolva imaturidades que precisam de conversão pessoal.
Discernir significa perguntar:
Estou pronto para amar de maneira madura? Estou disposto a crescer?
E também:
Conheço verdadeiramente a pessoa com quem desejo me casar? Sei como ela vê a fé, o futuro, os filhos, o trabalho, o perdão?
O matrimônio é real, concreto, cotidiano. Idealizações excessivas geram frustrações. Conhecer a realidade do outro é amar com maturidade.
4. Conversas profundas, transparentes e frequentes
Nenhuma preparação para o matrimônio é completa sem conversas sérias sobre temas fundamentais. Isso inclui fé, projetos de vida, educação dos filhos, administração financeira, limites pessoais, vícios, rotina, saúde emocional e espiritual.
A Igreja recomenda que os noivos façam perguntas que revelem caráter e propósito. O amor verdadeiro não teme a verdade. Pelo contrário, cresce com ela.
Conversas maduras evitam surpresas após o casamento, fortalecem a confiança e constroem uma base sólida de parceria.
5. A castidade como caminho de liberdade e clareza
A castidade é uma das virtudes mais importantes na preparação para o matrimônio. O Catecismo afirma:
“A castidade significa a integração correta da sexualidade na pessoa” (CIC 2337).
Quando um casal vive a castidade, aprende a priorizar o amor sobre o desejo, a liberdade sobre a impulsividade e a decisão sobre a emoção.
Muitos confundem paixão com discernimento. A castidade permite ver a pessoa como ela é, sem que a afetividade ou o impulso se tornem filtros que distorcem a percepção. Um coração casto enxerga com mais clareza e decide com mais liberdade.
6. Acompanhamento espiritual e pastoral
A Igreja não deixa os noivos sozinhos. O acompanhamento de um sacerdote, de um casal experiente ou de uma equipe de pastoral familiar é um apoio precioso.
A experiência de quem já viveu o sacramento ajuda a iluminar os pontos cegos do casal. Orienta sobre o chamado, as responsabilidades, os desafios e as graças próprias do matrimônio.
Além disso, a preparação matrimonial oferecida pela paróquia é uma oportunidade de formação doutrinal e espiritual que muitas vezes falta ao cotidiano.
7. Sinais de que o discernimento está acontecendo
Um discernimento verdadeiro costuma apresentar sinais claros como:
- paz interior, mesmo diante de desafios
- desejo de crescer espiritualmente
- disposição para o sacrifício e o perdão
- alegria em construir uma vida a dois
- maturidade para enfrentar diferenças
- clareza sobre o propósito da vocação
Quando a decisão gera inquietação profunda, medo excessivo, confusão persistente ou necessidade de esconder partes da vida, geralmente é sinal de que algo precisa ser revisto com mais calma e oração.
8. Discernir é amar com responsabilidade
O discernimento não atrasa a vida, ele protege. Decidir sem pensar, sem rezar, sem conversar, sem maturidade, pode levar a sofrimentos que poderiam ser evitados.
A vocação matrimonial é um caminho de santidade. É uma escola de amor. E amor não combina com pressa. Santo João Paulo II dizia que o amor autêntico exige responsabilidade. Discernir é justamente assumir essa responsabilidade com serenidade e verdade.
Discernir é permitir que Deus conduza o futuro
A preparação para o matrimônio é um tempo de graça, crescimento e luz. Quando o casal se abre ao discernimento, a decisão deixa de ser apenas humana e se torna uma resposta ao chamado de Deus.
Discernir é pedir que o Senhor esteja no centro da escolha.
É olhar para o futuro com fé.
É desejar amar como Cristo amou.
E é assim que nasce um matrimônio forte, maduro, fecundo e capaz de resistir aos desafios da vida. Quando Deus é colocado no fundamento, tudo se torna mais firme, mais claro e mais belo.
Se você está nesse caminho, viva esse tempo com profundidade. Reze, converse, busque direção. Deixe Deus guiar. Porque o matrimônio é mais do que uma escolha, é uma missão. E toda missão precisa ser discernida.

Por Thiago Zanetti
Jornalista, copywriter e escritor católico. Graduado em Jornalismo e Mestre em História Social das Relações Políticas, ambos pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). É autor dos livros Mensagens de Fé e Esperança (UICLAP, 2025), Deus é a resposta de nossas vidas (Palavra & Prece, 2012) e O Sagrado: prosas e versos (Flor & Cultura, 2012).
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