Doutrina Católica

A VIRGEM MARIA É A RAINHA-MÃE (PARTE 1)

por André Aloísio • Você e mais 42 pessoas leram este artigo Comentar

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Provavelmente todos os católicos sabem que a Virgem Maria é a Rainha-Mãe. Ao rezarmos a oração “Salve Rainha” ao final do Rosário, por exemplo, chamamos Nossa Senhora de “Rainha” e de “Mãe”, e no quinto dos Mistérios Gloriosos, meditamos na coroação de Nossa Senhora como Rainha do Céu e da Terra. O que talvez poucos católicos saibam é que esse título e a realidade comunicada por ele estão profundamente enraizados na Sagrada Escritura. Neste artigo, vamos examinar a base bíblica para essa verdade.

O reinado da mulher em Gênesis 1-3

O propósito de Deus sempre foi que tanto o homem quanto a mulher reinassem sobre toda a criação como representantes de Deus. Deus criou o homem do pó da terra (Gn 2, 7), como os reis que eram levantados do pó (1Rs 16, 2-3; cf. 1Sm 2, 6-8; Sl 112 [113], 7), e soprou em suas narinas o sopro da vida (Gn 2, 7), associado em Lm 4, 20 com o rei de Israel (cf. Is 11, 1-2). Além disso, em Gn 1, 26-27, Deus criou o ser humano, homem e mulher, à sua própria imagem, linguagem usada no Antigo Oriente Próximo para descrever reis. Como imagem de Deus, tanto o homem quanto a mulher deveriam submeter a terra e dominar sobre todos os animais (Gn 1, 26-30; cf. Sl 8, 6-9 [5-8]). Por isso, em Gn 2, 18-20, o homem dá nome a todos os animais, inclusive aos selvagens, exercendo sua autoridade real sobre eles.

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A associação da mulher ao homem no reinado continua em Gn 3, 14-15. Após a tentação da serpente e o pecado do ser humano, Deus se dirige à serpente, um dos animais selvagens (Gn 3, 1) sobre os quais o ser humano deveria dominar, e lhe amaldiçoa a comer pó (Gn 3, 14), linguagem que no Sl 71 [72], 9 descreve o domínio do rei de Israel sobre os seus inimigos. Na sequência, Deus diz à serpente que haveria três inimizades a partir daquele momento: entre a serpente e a mulher, entre a descendência da serpente e a descendência da mulher, e entre a serpente e a descendência da mulher (Gn 3, 15). A descendência da mulher, inclusive, feriria a cabeça da serpente, presumivelmente com seu pé, que é ferido, o que também está ligado com o reinado do rei de Israel sobre os inimigos (Nm 24, 17; 2Sm 22, 37-43; Sl 88 [89], 24 [23]; 109 [110], 1. 6; cf. Sl 8, 7 [6]). A mulher que é mãe, porém, também participa dessa vitória e domínio sobre a serpente juntamente com seu filho. Isso pode ser percebido tanto no fato de que o domínio sobre a serpente é o próprio domínio sobre os animais de Gn 1, 28, no qual a mulher está envolvida, quanto no fato de que no Antigo Testamento mulheres são descritas como ferindo a cabeça de seus inimigos (Jz 4, 17-21; 9, 53; Jt 13, 4-8; Et 5-7), numa alusão a esta passagem de Gn 3, 15.

Esse reinado da mulher com o homem, e especialmente da mãe com o filho, fica ainda mais claro e evidente a partir da instituição da rainha-mãe no antigo Israel.

A rainha-mãe no antigo Israel

No Antigo Oriente Próximo, era comum que os reis tivessem muitas mulheres. Nessa situação, o ofício de rainha não era exercido pelas mulheres do rei ou por uma delas, o que causaria grande rivalidade, mas pela mãe do rei, a rainha-mãe. Ela participava da autoridade real do seu filho e também atuava como conselheira (Dn 5, 10-12; Pv 31) e advogada.

Quando Israel se tornou uma monarquia, pelo menos a partir de Salomão, também passou a ter como rainha a mãe do rei. O termo hebraico usado no Antigo Testamento para descrever essa rainha-mãe é “gebirah” (1Rs 15, 13; 2Rs 10, 13; Jr 13, 18; 29, 2; 2Cr 15, 16), que significa “senhora” ou “rainha”.

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A rainha-mãe ocupava uma posição de destaque no reinado de Israel. Quando os livros de Reis e Crônicas descrevem o início do reinado de um descendente de Davi, quase sempre mencionam o nome de sua mãe (1Rs 14, 21; 15, 2. 10; 22, 42; 2Rs 8, 26; 12, 1; 14, 2; 15, 2. 33; 18, 2; 21, 1. 19; 22, 1; 23, 31. 36; 24, 8. 18; 2Cr 12, 13; 13, 2; 20, 31; 22, 3; 24, 1; 25, 1; 26, 3; 27, 1; 29, 1). A mãe do rei davídico também é listada entre os membros da corte real, imediatamente após o rei e antes das mulheres do rei e dos seus oficiais (2Rs 24, 12. 15; Jr 29, 2; cf. Jr 22, 26), mostrando que sua posição só era menor que a do rei. Essa posição da rainha-mãe era à direita do rei, a posição de honra máxima na Bíblia, que indica participação no reinado (cf. Sl 109 [110], 1), como pode ser percebido nas palavras do salmista em Sl 44 [45], 10 [9], que se dirige ao rei, dizendo: “à tua direita está a rainha-mãe, ornada com ouro de Ofir”. De fato, em Jr 13, 18. 20, tanto o rei quanto a rainha-mãe são descritos com coroas e é dito que a eles foi confiado um rebanho.

Três exemplos, dois negativos e um positivo, ilustram a grande autoridade da rainha-mãe. O primeiro é de Maaca, mãe do rei Asa. Em 1Rs 15, 13, é dito que Asa “destituiu a sua mãe, Maaca, como rainha-mãe, porque ela havia feito um ídolo abominável em honra de Astarte”, indicando que ela ocupava uma posição importante no reino. O segundo é de Atalia, mãe do rei Ocozias. Em 2Cr 22, 3, Atalia é apresentada como conselheira do rei Ocozias, e em 2Rs 11, 1-3, ao saber que seu filho havia morrido, Atalia matou toda a família real, com exceção de Joás, e reinou sozinha durante seis anos.

O terceiro exemplo é de Betsabeia, mãe do rei Salomão e provavelmente a primeira rainha-mãe de Israel. Em 1Rs 2, 13-18, Adonias pede que Betsabeia interceda por ele diante do rei Salomão, funcionando, assim, como advogada. Então, “Betsabeia foi ter com o rei Salomão para falar-lhe a respeito de Adonias. O rei levantou-se e foi ao seu encontro, prostrou-se diante dela, assentou-se no trono e mandou pôr também um trono para a mãe do rei, a qual se sentou à sua direita” (1Rs 2, 19). Betsabeia pede que Salomão não a decepcione no pedido que fará, ao que o rei responde: “Pede, mãe. Com certeza, não te decepcionarei” (1Rs 2, 20). Nessa passagem, a posição de autoridade de Betsabeia fica bastante clara pela reverência que o rei Salomão lhe presta, prostrando-se diante dela, pelo fato de ela se sentar à direita dele num trono e pela força da sua intercessão, a ponto de Adonias recorrer a ela e Salomão dizer que lhe atenderia. Se o pedido dela não foi atendido, como se vê na sequência (1Rs 2, 21-25), isso aconteceu por causa do absurdo do pedido de Adonias, não por falta de autoridade na intercessão de Betsabeia. Tamanha era a sua autoridade que a passagem de Ct 3, 11 chega mesmo a dizer que a mãe do rei Salomão o coroou com uma coroa no dia do seu casamento.

Se a mãe do rei, descendente de Davi, era a rainha-mãe no antigo Israel, era de se esperar que a Virgem Maria, como mãe do Senhor Jesus Cristo, descendente de Davi por excelência, fosse a Rainha-Mãe no novo Israel, a Igreja. De fato, é exatamente isso que vemos no Novo Testamento. Mas isso é assunto para um próximo artigo.

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Leia também: A Virgem Maria é a Rainha-Mãe (Parte 2)

André Aloísio

Teólogo

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