Espiritualidade

ARIDEZ E INAPETÊNCIA PARA AS COISAS ESPIRITUAIS

por Marcos A. Fiorito • Você e mais 60 pessoas leram este artigo Comentar

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Você, certamente, já ouviu falar da aridez na vida de um cristão, algo que incomoda sensivelmente o fiel, mas que tem um papel importante no crescimento espiritual. A aridez se dá quando o cristão não sente a menor consolação quando reza, quando participa da Santa Missa ou de uma cerimônia sacra. Em outros momentos, pelo contrário, ele sentia uma espécie de arroubo místico, uma certa doçura, sentia que tudo era agradável e consolador.

São Francisco de Sales, na sua obra Introdução à vida devota (IV, 14), adverte para o difícil momento da secura espiritual: “Esse tempo tão belo e agradável não durará muito, Filoteia. Perderás tanto, às vezes, o gosto e o sentimento da devoção, que tua alma se parecerá com uma terra deserta e estéril, onde não verá nem um caminho, nem uma vereda para ir a Deus e onde as águas salutares da graça não correrão mais para a regar no tempo da seca, o que a tornará deserta […].”

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 A aridez faz parte das nossas provações, faz parte da nossa caminhada neste “vale de lágrimas”, como diz a oração da Salve Rainha. Todos os santos passaram pela provação da aridez e não há como pular essa etapa… Ela não visa naturalmente o mal do fiel devoto, pelo contrário, dá-lhe rigidez, robustez para progredir como cristão.

Porém existe uma outra realidade que assola quem verdadeiramente busca o crescimento espiritual que se chama “acídia”. A acídia é frequentemente entendida como sinônimo de preguiça, mas no caso, não iremos tratá-la como uma preguiça qualquer, mas como falta de apetite para as coisas do espírito.

Muitos santos e doutores, como São Gregório e São Tomás de Aquino, definem a acídia como uma má tristeza, que tira do homem o desejo de praticar a virtude, causa-lhe certa repulsa das coisas espirituais. São Tomás diz que ela é uma tristeza ácida e fria que invade a alma ao pensar nos bens espirituais.

Ela nos tira o desejo de rezar, por isso provoca falta de constância na vida de oração. Por exemplo, alguém faz um propósito de rezar o terço todos os dias, mas acaba rezando um dia, dois dias, no terceiro já não reza porque não sente vontade… Promete rezar todos os dias as orações da manhã e da noite, mas acaba por deixá-las de lado com o tempo… Acha a Missa demorada, monótona… Sente aversão à ideia de meditar…

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A acídia, se não for combatida, conduz o fiel à tibieza, e com ela todos os seus males. O tíbio é avesso ao silêncio, à meditação, a regras, ocasionando com isso o relaxamento e a ruína da vida espiritual. Abre a porta a muitas tentações, produz a insensibilidade e dureza de coração. Inclusive, está próximo a cair em pecados graves…

Como remediar? Antes de tudo é preciso apegar-se à oração e pedir a cura. Fazer uma boa confissão, comungar com frequência, manter o hábito de confessar-se com frequência, mesmo que seja para confessar pecados veniais. Tudo isso é uma excelente forma de combater a acídia.

Vale ressaltar que o apetite para as coisas espirituais funciona de forma inversa do nosso apetite alimentar. O apetite alimentar aumenta enquanto não for saciado, e cessa quando comemos. Já o desejo das coisas espirituais aumenta à medida que é atendido, e diminui quando não o nutrimos. A melhor forma de combater a acídia é buscar as coisas do espírito de forma perseverante e crescente.

No livro “A Oração”, Santo Afonso Maria de Ligório, tomando como base comentários de outros santos, afirma com todas as letras que Deus nos presenteia com certas graças ainda que não as peçamos. É o caso da graça do batismo, da conversão ou da vocação para a vida religiosa, mas a perseverança e a salvação Deus só concede a quem pede. Por isso Nosso Senhor Jesus Cristo nos ensinou a pedir com insistência (Mt 7, 7). Nas petições que fazemos quando rezamos o Pai-nosso, pedimos a perseverança: “não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal.” E na Ave-Maria pedimos a graça da perseverança no presente e na hora derradeira: “Rogai por nós, os pecadores, agora e na hora da nossa morte”.

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Marcos A. Fiorito

Teólogo e historiador

(Autoriza-se reprodução do artigo com citação da fonte e autor.)

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