História
Como surgiu o tapete de Corpus Christi? História, arte e fé
por Thiago Zanetti em 19/06/2025 • Você e mais 232 pessoas leram este artigo Comentar

Tempo de leitura: 6 minutos
Uma das tradições católicas mais belas e singulares do Brasil e do mundo é, sem dúvida, a confecção dos tapetes de Corpus Christi. Com cores vivas, formas simbólicas e forte participação comunitária, esses tapetes transformam as ruas em verdadeiros corredores sagrados, por onde passa o Santíssimo Sacramento em procissão.
A origem da Solenidade de Corpus Christi
Antes de entender os tapetes, é preciso conhecer a festa que os inspira. A Solenidade de Corpus Christi, do latim Corpo de Cristo, foi instituída pelo Papa Urbano IV em 1264, por meio da bula Transiturus de hoc mundo. A motivação foi um milagre ocorrido em Bolsena, na Itália, quando uma hóstia consagrada sangrou nas mãos de um sacerdote com dúvidas sobre a presença real de Jesus na Eucaristia.
O objetivo da solenidade era celebrar publicamente a fé na presença real de Cristo na Hóstia consagrada, algo já professado pela Igreja desde os primeiros séculos, mas agora proclamado com maior ênfase e visibilidade.
Desde então, procissões eucarísticas passaram a ser realizadas pelas ruas, como forma de adoração e testemunho público.
O surgimento dos tapetes de Corpus Christi
A tradição dos tapetes surgiu como um desdobramento natural da procissão. A prática de enfeitar o caminho por onde passa algo ou alguém importante é antiga e está presente em várias culturas. No contexto cristão, surgiu como um gesto de reverência e preparação do caminho para o Rei dos Reis: Jesus Eucarístico.
No início, usavam-se flores, ramos e tecidos para adornar o percurso da procissão. Com o tempo, essa decoração ganhou formas mais elaboradas e simbólicas, dando origem aos tapetes como conhecemos hoje.
Quando os tapetes começaram a ser feitos no Brasil?
No Brasil, os tapetes de Corpus Christi foram introduzidos no período colonial, por influência dos portugueses e espanhóis. As primeiras manifestações são registradas no século XVIII, especialmente em cidades históricas de Minas Gerais, Bahia e São Paulo.
O costume foi se expandindo e ganhando características próprias em cada região. Hoje, cidades como Ouro Preto (MG), São João del-Rei (MG), Salvador (BA), Ouro Preto do Oeste (RO) e Arraial do Cabo (RJ) são famosas pela beleza e grandeza de seus tapetes.
O que significam os desenhos dos tapetes?
Os tapetes são feitos com serragem colorida, sal, areia, pó de café, flores, folhas, tampinhas, cascas e outros materiais naturais, sempre com muito cuidado e criatividade. Os desenhos representam:
- Símbolos eucarísticos: como o cálice, a hóstia, o trigo e a uva.
- Ícones católicos: como o Sagrado Coração de Jesus, o Espírito Santo e os santos.
- Frases bíblicas ou litúrgicas: que reforçam a fé na Eucaristia.
- Motivos locais: como homenagens a padroeiros, eventos paroquiais ou características culturais da comunidade.
O ato de confeccionar os tapetes também é um ato de oração, feito por famílias, jovens, crianças, idosos e grupos pastorais. É um momento de comunhão e fé compartilhada, onde cada gesto, cor e traço se torna uma oferenda.
Mais que arte: uma catequese visual
Os tapetes de Corpus Christi vão além da estética. Eles são uma expressão de fé e um meio de evangelização. Em tempos onde muitas pessoas não conhecem os símbolos da fé católica, os tapetes funcionam como uma catequese visual e popular.
Ao andar pelas ruas decoradas, o fiel é convidado a contemplar e refletir. A procissão sobre os tapetes também reforça a ideia de que Cristo caminha conosco, no meio do seu povo, e que o chão da nossa vida é santificado pela Sua presença.
Corpus Christi: festa pública da fé católica
Enquanto outras celebrações litúrgicas acontecem nos templos, Corpus Christi vai às ruas. É uma festa onde a Igreja se torna visível para a cidade, proclamando a centralidade da Eucaristia.
O Catecismo da Igreja Católica ensina:
“Na Santíssima Eucaristia contém todo o bem espiritual da Igreja, a saber, o próprio Cristo, nossa Páscoa.” (CIC, §1324)
Por isso, os tapetes têm o papel de preparar esse caminho de adoração. Assim como Jerusalém acolheu Jesus com ramos no Domingo de Ramos, a Igreja acolhe o Cristo Eucarístico com flores, cores e símbolos no Corpus Christi.
Uma tradição que atravessa gerações
Apesar da modernidade e dos desafios do mundo atual, os tapetes de Corpus Christi continuam vivos. Muitas paróquias mantêm a tradição como parte essencial da celebração, adaptando-se ao contexto urbano, mas sem perder o sentido original.
Além de manter a cultura viva, os tapetes ensinam fé às novas gerações, conectando crianças e jovens a uma espiritualidade concreta, criativa e comunitária.
Fé que se torna beleza
O tapete de Corpus Christi é uma ponte entre a arte e a fé, entre a liturgia e a cultura popular, entre o sagrado e o cotidiano. Ele nasceu da adoração ao Santíssimo Sacramento e cresceu como uma manifestação de amor e reverência ao Cristo presente na Eucaristia.
Ao conhecer sua história, compreendemos que o tapete é mais do que enfeite. É um caminho sagrado, tecido com mãos humanas e inspirado pela fé em Deus que se faz Pão vivo descido do Céu.

Por Thiago Zanetti
Jornalista, copywriter e escritor católico. Graduado em Jornalismo e Mestre em História Social das Relações Políticas, ambos pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). É autor dos livros Mensagens de Fé e Esperança (UICLAP, 2025), Deus é a resposta de nossas vidas (Palavra & Prece, 2012) e O Sagrado: prosas e versos (Flor & Cultura, 2012).
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