Catecismo
Concepção: aqui começa a vida
por Lorraine Martins • Você e mais 199 pessoas leram este artigo Comentar
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Santo Ireneu de Lyon, no século II, proferiu uma afirmação que continua a ecoar no coração da Igreja Católica: “A glória de Deus é o homem vivo; e a vida do homem é a visão de Deus” (Adversus Haereses – Contra as Heresias, Livro IV, Capítulo 20, Seção 7). Este princípio encapsula uma crença central do Cristianismo: a dignidade intrínseca do ser humano como criação de Deus, feito à Sua imagem e semelhança. Essa visão confere ao ser humano um valor profundo e inalienável, sustentado pela compreensão de que a vida é um dom divino, precioso e inviolável e que inicia na concepção.
A dignidade humana na doutrina Católica
De acordo com a Igreja, o início da vida humana não se restringe, portanto, apenas ao nascimento. Pelo contrário, atribui valor à vida desde o momento da concepção. Os ensinamentos católicos reforçam a ideia de que se deve respeitar e proteger a vida humana desde a concepção. Está explicitado no Catecismo da Igreja Católica, que declara a defesa da vida em todas as suas etapas (CIC, §2270). A Igreja, portanto, considera o aborto provocado uma grave violação da dignidade humana, pois vê o ser humano, em todas as fases, como uma obra de Deus que merece respeito e proteção.
A doutrina Católica distingue entre o aborto espontâneo e o aborto provocado. No caso do primeiro, compreende-se como um evento natural, sem a interferência da vontade humana. Assim, a Igreja vê o aborto provocado como uma grave violação do direito à vida de um ser inocente. Considera cada ser humano, em qualquer fase, como portador de uma alma criada diretamente por Deus e, portanto, refletindo Sua imagem.
Documentos da Igreja: a defesa da vida e a rejeição ao aborto
Desde o início da era cristã, a Igreja tem registrado, em seus documentos e declarações, sua posição de defesa da vida. O Catecismo da Igreja Católica é um exemplo claro dessa continuidade, afirmando a “maldade moral de todo aborto provocado” (CIC, §2271). O Código de Direito Canônico estabelece que quem realiza ou contribui para o aborto incorre em excomunhão automática (latae sententiae). (Cân. 1398).
A encíclica Evangelium Vitae, publicada por São João Paulo II, também reforça a inviolabilidade da vida humana. A encíclica destaca a distinção entre a cultura da vida e a cultura da morte. Este é um conceito que agrupa práticas que desvalorizam a vida sob pretextos de avanços sociais, como o aborto e a eutanásia. João Paulo II considera o direito à vida absoluto e vê seu respeito como fundamental para a dignidade humana. De maneira similar, o Papa Francisco critica o descarte da vida humana e, além disso, ressalta que tratar uma nova vida como inconveniente despreza o potencial que Deus deu à humanidade.
A cultura da vida e a cultura do descarte
A concepção da cultura da vida surge como resposta à visão crescente que considera a vida humana sob critérios de utilidade e conveniência. O Papa Francisco observa que a sociedade atual frequentemente vê os mais frágeis, como crianças e idosos, como “problemas” a evitar. Chamada de Cultura do Descarte pelo Pontífice, essa visão atribui valor apenas a certas vidas, ignorando as que demandam mais cuidados ou apresentam limitações.
Dessa forma, a Igreja contesta tanto a ideia de “controle de natalidade” quanto os métodos contraceptivos que, em essência, ignoram a potencialidade da vida humana. Para a doutrina católica, o ato sexual é expressão de amor conjugal, com características unitiva e procriativa (CIC, §2366). Exclui intencionalmente um desses aspectos viola a integridade desse ato. Por essa razão, a Igreja reprova métodos que, além de impedir a concepção, possam resultar na eliminação de uma vida humana potencial.
Aborto e eutanásia: questões de justiça e respeito à dignidade
A defesa da vida pela Igreja abrange tanto o período pré-natal quanto o respeito à dignidade humana no fim da vida. O mandamento “não matarás” sustenta o ensino da Igreja de que qualquer forma de homicídio é moralmente inaceitável. No caso do aborto e da eutanásia, existe uma dimensão ainda mais profunda, já que ambos representam uma violação da virtude da justiça. Para a Igreja, a justiça exige reconhecer o direito à vida de cada pessoa, independentemente de sua saúde ou limitações.
A visão de que aborto e eutanásia violam o direito à vida é clara em discursos papais e na encíclica Evangelium Vitae, de João Paulo II, que ressalta a responsabilidade de proteger os mais indefesos. Por isso, embora a Igreja reconheça a possibilidade de sofrimento e vulnerabilidade, ela considera que essas circunstâncias exigem cuidado e compaixão, e não a eliminação da vida.
A Igreja e o apoio à vida em situações de vulnerabilidade
Dessa forma, aqueles que enfrentam dilemas relacionados à gravidez e à vida, especialmente as mulheres em dificuldades que consideram o aborto como solução, podem buscar o apoio e o auxílio oferecidos pela Igreja. Organizações e congregações religiosas dedicam-se ao apoio de mulheres em situações de vulnerabilidade, proporcionando assistência psicológica, econômica e espiritual. Esse apoio reflete a missão da Igreja de acolher e amparar as pessoas em momentos de dificuldades e evitar que a prática do aborto seja uma opção resultante do desespero.
A vida como um dom inalienável de Deus
A visão Católica sobre a vida humana não é meramente um ponto de vista teológico; é, antes, uma visão antropológica que se estende ao compromisso moral e social de valorizar a vida como um dom inestimável. A exortação de Santo Ireneu, “a glória de Deus é o homem vivo”, convida a humanidade a reconhecer o valor do ser humano como reflexo da glória Divina. Em cada fase de sua existência, desde a concepção até o momento da morte, a vida humana deve ser protegida, celebrada e respeitada como expressão da criação divina. Desse modo, a mensagem da Igreja permanece clara:
Toda vida é digna e valiosa, não por sua utilidade, mas por sua essência e sua origem em Deus.
Convidamos você a rezar a Novena a Santa Gianna a favor da vida, em nosso aplicativo ou aqui pelo site.
– Lorraine Martins