Exegese

JESUS VEIO SEMEAR A DISCÓRDIA? “NÃO VIM TRAZER A PAZ, MAS SIM A ESPADA” (MT 10, 34)

por Marcos A. Fiorito • Você e mais 40 pessoas leram este artigo Comentar

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De forma compreensível, alguns trechos da Bíblia são questionados por gente cristã e não-cristã, também por gente de outras religiões. Entre esses questionamentos, está o de certas frases que parecem incitar à violência. Como, por exemplo, a seguinte afirmação de Cristo: “Não julgueis que vim trazer a paz à terra. Não vim trazer a paz, mas sim a espada” (Mt 10, 34).

Aparentemente, é o próprio Jesus quem afirma que veio lançar no mundo a chama de uma guerra religiosa. Naturalmente, muita gente questiona qual a diferença disso para uma jihad islâmica: “Não está aí uma prova cabal de que o cristianismo é incendiário?”.

Porém, todo trecho das Sagradas Escrituras tem que ser compreendido dentro de seu contexto. Se isolarmos algumas frases, correremos o risco de adulterar o sentido real delas. Por isso temos uma ciência teológica que procura interpretar os textos sagrados: a exegese bíblica. À luz dela, é possível compreender melhor o que nos quis dizer o Autor Divino.

Na verdade, Cristo não estava declarando uma guerra de religião, mas prevenindo os seus discípulos do que lhes ia acontecer pelo fato de serem seus seguidores e propagarem a Boa Nova. Portanto, Ele os alertava para as consequências inevitáveis de serem cristãos. Tanto é assim, que os advertiu:

“Eu vos envio como ovelhas no meio de lobos. Sede, pois, prudentes como as serpentes, mas simples como as pombas. Cuidai-vos dos homens. Eles vos levarão aos seus tribunais e açoitar-vos-ão com varas nas suas sinagogas. Sereis por minha causa levados diante dos governadores e dos reis: servireis assim de testemunho para eles e para os pagãos” (Mt 10, 16-18).

“O irmão entregará seu irmão à morte. O pai, seu filho. Os filhos levantar-se-ão contra seus pais e os matarão. Sereis odiados de todos por causa de meu nome, mas aquele que perseverar até o fim será salvo. Se vos perseguirem numa cidade, fugi para uma outra” (Mt 10, 21-23).

E quando o Messias lhes disse: “O discípulo não é mais que o mestre” (Mt 10, 24), queria dizer a eles que assim como Ele foi perseguido, ultrajado, crucificado, eles também passariam por incompreensões, perseguições e suplícios.

E continuou: “Não temais aqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma; temei antes aquele que pode precipitar a alma e o corpo no fogo do Inferno” (Mt 10, 28).

“Portanto, quem der testemunho de mim diante dos homens, também eu darei testemunho dele diante de meu Pai que está nos Céus. Aquele, porém, que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai que está nos Céus” (Mt 10, 31-32)

No mesmo capítulo, em outro trecho, Ele deixa claro que sua passagem pela Terra é pedra de escândalo, divisora de águas. Ele põe de um lado os justos, os homens por Ele amados, e do outro os que têm coração duro, os que resistem à graça, pois preferem o pecado:

“Eu vim trazer a divisão entre o filho e o pai, entre a filha e a mãe, entre a nora e a sogra, e os inimigos do homem serão as pessoas de sua própria casa. Quem ama seu pai ou sua mãe mais que a mim, não é digno de mim. Quem ama seu filho mais que a mim, não é digno de mim. Quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim. Aquele que tentar salvar a sua vida, perdê-la-á. Aquele que a perder, por minha causa, reencontrá-la-á” (Mt 10, 35-39).

Marcos A. Fiorito

Teólogo e historiador

(Autoriza-se reprodução do artigo com citação da fonte e autor.)

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