Anjos

POR QUE OS ANJOS MAUS NÃO TIVERAM OUTRA CHANCE?

por Marcos A. Fiorito • Você e mais 34 pessoas leram este artigo Comentar

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“Digno arremate e coroa da obra de suas mãos”, assim São Tomás de Aquino explica a razão pela qual Deus quis que houvesse o mundo angélico. O grande luminar da teologia medieval ainda completa, dizendo que os anjos são a porção mais formosa, nobre e perfeita do universo.

Como já vimos no post sobre a queda dos anjos (clique aqui para ver!), em muito a natureza angélica excede a débil natureza humana; no entanto, também parte dos anjos pecou e foi devidamente sentenciada ao suplício eterno. E é justamente em torno da condenação imediata deles que ouvimos a seguinte pergunta:

 – Por que após o seu pecado, Satanás e seus anjos foram precipitados imediatamente no Inferno. Por que não tiveram a mesma chance de Adão, Eva e os demais homens de emendar-se?

Por uma série de características muito próprias da natureza angélica, temos que no anjo não se dá o arrependimento de seus atos da mesma forma que observamos na natureza humana. Ao homem é comum acontecer de ele estar decidido a um determinado sentido e, depois, mudar de opinião – e até de forma repentina – por julgar que de outra forma agiria de modo mais perfeito. Como diz a ópera Rigoletto, de Giuseppe Verdi, “La donna è mobile qual piuma al vento”. Embora a frase acima se refira ao gênero feminino, podemos aplicá-la perfeitamente a todo o gênero humano, porque somos volúveis como uma pena ao vento.

Pois então sabemos que é muito comum o ser humano agir de forma indevida, insegura, depois se arrepender, tomar outro caminho… Mas tal não acontece com a natureza dos anjos, pois, como nos ensina o doutor angélico, eles possuem um conhecimento mais perfeito que o nosso; sua origem não está nos seres do mundo exterior, nem adquirem a ciência mediante um raciocínio progressivo, pelo contrário, abrangem com um só olhar todos os princípios e consequências.

Quando Lúcifer foi submetido à prova, ele viu com total clareza que ao não se submeter a Deus, estaria contrariando os desígnios divinos, agindo contra si mesmo e precipitando-se no Inferno.

Por isso não foi dada uma nova chance aos demônios. E o mais espantoso está no fato de que, ainda que lhes fosse dada, eles a rejeitariam. Embora seja difícil de ser compreendido por nossa natureza volúvel, com os anjos passou-se isso de espantoso: quando escolheram o mal, foram como que petrificados nele.

E o mesmo São Tomás explica que, no primeiro instante de sua criação, os anjos receberam a graça santificante, e esta os fazia filhos adotivos de Deus e herdeiros da glória eterna. No momento da prova, os anjos que permaneceram bons passaram imediatamente do estado de graça para o estado de glória, alcançando, assim, para sempre a bem-aventurança.

Como foi explicado no nosso primeiro post sobre o pecado original (clique aqui para ver!), para receber um determinado prêmio é preciso antes passar pela prova, e com os anjos não foi diferente. De tal forma que tiveram o pleno uso de seu livre arbítrio. A graça os inclinava a submeter-se a Deus por inteiro e, através dela, conquistar o dom da glória. No sentido contrário, os anjos maus tiveram um reprovável sentimento de orgulho, queriam ser como Deus e gozar de uma felicidade plena, porém dissociada do Criador.

Marcos A. Fiorito

Teólogo e historiador

(Autoriza-se reprodução do artigo com citação da fonte e autor.)

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