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Santa Teresinha: por que ela é padroeira das missões sem nunca ter saído do Carmelo

por Thiago Zanetti em 01/10/2025 • Você e mais 1146 pessoas leram este artigo Comentar


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Tempo de leitura 5 minutos

Outubro é o Mês das Missões na Igreja Católica. E no dia 1º deste mês celebramos Santa Teresinha do Menino Jesus, a carmelita descalça de Lisieux, declarada padroeira das missões por Pio XI em 1927, ao lado de São Francisco Xavier. Um paradoxo? Não para Deus. Teresinha nunca saiu do Carmelo, nunca pisou em terras estrangeiras, nunca pregou publicamente. Mas sua alma ardia em zelo pelas almas — e sua vida foi um testemunho radical de amor oculto e fecundo.

A missão de amar: o coração da vocação de Teresinha

Aos 15 anos, Teresa Martin entrou no Carmelo de Lisieux. Ali viveu apenas nove anos, marcada por enfermidades, provas espirituais e uma intensa vida interior. Mas foi justamente neste escondimento que floresceu sua missão. Teresinha compreendeu que a alma da missão é o amor, e que o amor verdadeiro não precisa de palco, de microfone ou de passaporte para salvar almas. Em sua autobiografia, “História de uma Alma”, ela escreveu:

“No coração da Igreja, minha Mãe, serei o Amor. Assim serei tudo.” (Manuscrito B, 3vº)

Essa frase é central em sua espiritualidade. Ao buscar ser o amor no coração da Igreja, Teresinha não escolheu o menor papel: escolheu o papel essencial. Como o coração bombeia sangue para todo o corpo, ela desejava, com seu amor escondido, sustentar todos os missionários espalhados pelo mundo.

A missão silenciosa: oferecer tudo pelas almas

Santa Teresinha viveu o que a Igreja chama de “espiritualidade oblativa”. Ela se ofereceu como vítima ao Amor Misericordioso, vivendo cada pequeno ato, cada sofrimento físico ou espiritual, como oferta por aqueles que evangelizavam em terras distantes — e, sobretudo, pelos pecadores.

Essa mística se aproxima da doutrina do Corpo Místico de Cristo (cf. 1Cor 12,12-27), segundo a qual todos os membros da Igreja, unidos a Cristo, cooperam entre si. Assim, o sofrimento oculto de uma freira no Carmelo pode ter o mesmo valor que uma pregação em praça pública, se estiver unido a Cristo por amor.

“Quis ser missionária, não por alguns anos apenas, mas quis sê-lo desde a criação do mundo até a consumação dos séculos.” (História de uma Alma, Manuscrito B)

Esse desejo intenso e universal é expressão de uma alma totalmente voltada para Deus. Teresinha entendeu que a missão não se mede pela geografia, mas pela intensidade do amor.

Por que a Igreja a proclamou padroeira das missões?

Em 1927, o Papa Pio XI proclamou Santa Teresinha Padroeira Universal das Missões, mesmo sem ela jamais ter saído do Carmelo. A decisão não foi apenas um ato devocional, mas teológico: a Igreja reconhecia que a oração, o sacrifício escondido e a caridade vivida no silêncio são essenciais para a obra missionária.

O Papa Francisco, em sua mensagem no Angelus na Festa do Batismo do Senhor em 2017, reforçou esse ponto:

“A verdadeira missão nunca é proselitismo, mas atração a Cristo”.

Santa Teresinha é modelo dessa missão silenciosa, que atrai pelo amor puro e gratuito.

Cartas a missionários: a fraternidade invisível

Outro aspecto missionário concreto da vida de Teresinha foi sua correspondência com dois missionários: o Pe. Adolphe Roulland e o Pe. Maurice Bellière, ambos em terras de missão. Teresinha não apenas rezava por eles, mas os acompanhava com palavras de encorajamento, amizade e partilha espiritual.

“Não posso fazer grandes coisas a única coisa que faço é amar.”

Com essas palavras, ela mostra que seu apoio não era apenas humano, mas espiritual: ela carregava esses missionários com suas orações, jejum e sofrimentos ocultos.

Missão no escondimento: lições para hoje

No mundo atual, onde tudo é exibido, postado e validado por curtidas, a vida de Santa Teresinha é um antídoto contra o ego espiritual. Ela ensina que o amor verdadeiro se esconde, se oferece, se entrega sem precisar aparecer. Sua espiritualidade é um chamado a todos nós: pais, mães, jovens, idosos, doentes, trabalhadores anônimos — todos podemos ser missionários com o que somos e onde estamos.

“Quis ser missionária, mártir, sacerdote, profeta Quis fazer tudo e entendi que o amor encerrava todas as vocações.”

Essa compreensão profunda levou-a a descobrir sua vocação na Igreja: ser o Amor que tudo sustenta. Não é à toa que, em 1997, São João Paulo II a proclamou Doutora da Igreja, com o título de “Doutora do Amor”.

O segredo missionário de Teresinha: evangelizar amando

Santa Teresinha do Menino Jesus é padroeira das missões porque entendeu o que é o coração da missão: o amor oferecido a Deus pelas almas. Sua vida é uma resposta a quem acredita que só evangeliza quem prega. Ela nos ensina que evangeliza quem ama.

No Mês das Missões, seu exemplo nos convida a ser missionários onde estamos, com os meios que temos. Nem todos serão enviados a países distantes. Mas todos podem amar profundamente, rezar com fervor, oferecer-se em silêncio e sustentar com sacrifício os que estão na linha de frente.

Como ela mesma disse:

“Compreendi que o Amor compreende todas as vocações, que o Amor é tudo.”

Thiago Zanetti

Por Thiago Zanetti
Jornalista, copywriter e escritor católico. Graduado em Jornalismo e Mestre em História Social das Relações Políticas, ambos pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). É autor dos livros Mensagens de Fé e Esperança (UICLAP, 2025), Deus é a resposta de nossas vidas (Palavra & Prece, 2012) e O Sagrado: prosas e versos (Flor & Cultura, 2012).
Acesse o Blog: www.thiagozanetti.com.br
Siga-o no Instagram: @thiagoz.escritor




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