Igreja Católica
Sexta-feira Santa: o dia em que o amor venceu a morte
por Thiago Zanetti em 18/04/2025 • Você e mais 341 pessoas leram este artigo Comentar

Tempo de leitura: 7 minutos
A Sexta-feira Santa é um dos dias mais solenes do calendário litúrgico da Igreja Católica. É o momento em que os católicos de todo o mundo contemplam, em silêncio e reverência, a morte de Jesus Cristo na Cruz. Diferente de qualquer outra celebração religiosa, a Sexta-feira Santa não é marcada por alegria, mas por profunda meditação, jejum, penitência e gratidão.
Neste dia, a Igreja não celebra a Santa Missa. O altar permanece desnudado, e o silêncio invade os templos. Os fiéis são convidados a refletir sobre o mistério do sofrimento de Cristo, que se entregou livremente para a salvação da humanidade.
Por que a Sexta-feira Santa é tão importante?
A importância da Sexta-feira Santa está diretamente ligada ao centro da fé cristã: a paixão e morte redentora de Jesus. Como afirma o Catecismo da Igreja Católica (CIC), nos números 604-605:
“Ao entregar seu Filho por nossos pecados, Deus manifesta que seu desígnio sobre nós é um desígnio de amor benevolente que antecede a qualquer mérito nosso. (…) Este amor não excluiu ninguém”.
Na Cruz, Cristo assumiu sobre si todos os pecados da humanidade. Ele, que era inocente, sofreu injustamente para reconciliar o homem com Deus. Por isso, a Sexta-feira Santa é chamada de “santa”: nela se consumou o plano de salvação que começou com a Encarnação e culminou na Ressurreição.
O significado teológico da morte de Jesus
A morte de Jesus na Cruz não foi um acidente, tampouco o resultado de uma simples injustiça humana. Foi um ato voluntário de amor supremo. Em João 10,18, o próprio Cristo diz:
“Ninguém me tira a minha vida, mas eu a dou por vontade própria”.
De acordo com o Catecismo (§613):
“A morte de Cristo é ao mesmo tempo o sacrifício pascal, que realiza a redenção definitiva dos homens pelo ‘cordeiro que tira o pecado do mundo’, e o sacrifício da Nova Aliança, que reconduz o homem à comunhão com Deus.”
A Cruz, que era instrumento de maldição e vergonha, torna-se o trono da vitória do amor sobre o pecado, da vida sobre a morte, da obediência sobre a rebelião.
As leituras e ritos da Sexta-feira Santa
Liturgia da Palavra
A celebração da Sexta-feira Santa é dividida em três partes. A primeira é a Liturgia da Palavra, com destaque para a leitura da Paixão segundo São João (Jo 18,1; 19,42). É um momento forte de contemplação dos últimos momentos de Jesus: sua prisão, julgamento, flagelação, crucificação, morte e sepultamento.
Ao ouvir a narrativa, os fiéis são convidados a reviver espiritualmente cada cena, percebendo o quanto Deus nos ama e até onde foi para nos salvar.
Adoração da Santa Cruz
Em seguida, realiza-se o momento da Adoração da Santa Cruz. Um crucifixo é apresentado à assembleia, e todos são convidados a se aproximar, fazer uma reverência ou um beijo, como sinal de amor e gratidão a Cristo crucificado.
É um dos momentos mais emocionantes da liturgia, pois nos conecta diretamente com o Mistério Pascal. A Cruz não é mais sinal de derrota, mas de vitória. Como diz São Paulo:
“Quanto a mim, que eu me glorie somente da cruz do nosso Senhor, Jesus Crito” (Gl 6,14).
Rito da Comunhão
Por fim, ocorre o Rito da Comunhão, mas com hóstias consagradas no dia anterior, durante a Missa da Ceia do Senhor. Isso simboliza a continuidade do sacrifício de Cristo, e mantém o jejum e a sobriedade da Sexta-feira Santa, onde o foco é a Paixão do Senhor.
A Sexta-feira Santa e o silêncio de Deus
Muitos se perguntam: onde estava Deus quando Jesus morreu? A resposta está no próprio silêncio da Cruz. Deus estava lá, crucificado. Ele escolheu calar para que nós pudéssemos falar com Ele. Como afirmou Papa Bento XVI na Audiência Geral de 07/03/2012:
“A cruz de Cristo não mostra somente o silêncio de Jesus como sua última palavra ao Pai, mas revela também que Deus fala por meio do silêncio”.
O silêncio da Sexta-feira Santa não é ausência, mas presença misteriosa. Deus está presente no sofrimento humano, na dor do inocente, na angústia de quem reza sem resposta. A Cruz mostra que, mesmo quando tudo parece perdido, Deus continua agindo.
A importância do jejum e da abstinência
Na Sexta-feira Santa, a Igreja convida os fiéis a viverem o jejum e a abstinência de carne, como forma de penitência e união com o sofrimento de Cristo. O jejum não é apenas privação alimentar, mas um gesto de mortificação, que purifica a alma e nos faz lembrar que “não só de pão vive o homem” (Mt 4,4).
A abstinência nos convida ao desapego dos prazeres sensoriais, reforçando que o verdadeiro alimento da alma é a vontade de Deus.
A Via-Sacra: um caminho de oração com Jesus
Um dos atos de piedade mais comuns na Sexta-feira Santa é a Via-Sacra, que percorre os passos de Jesus desde sua condenação até o sepultamento. Cada estação é uma oportunidade de unir nossas dores às d’Ele, transformando o sofrimento em redenção.
Como nos ensina São João Paulo II:
“A cruz é sinal dum amor sem limites”.
Participar da Via-Sacra é, portanto, um exercício espiritual que nos ajuda a carregar nossa cruz de cada dia com mais fé, paciência e esperança.
Como viver bem a Sexta-feira Santa?
Aqui estão algumas práticas espirituais recomendadas para viver intensamente a Sexta-feira Santa:
- Participar da Celebração da Paixão (15h)
- Fazer jejum e abstinência
- Rezar a Via-Sacra
- Silenciar-se interiormente
- Ler os relatos da Paixão nos Evangelhos
- Meditar diante do crucifixo
- Praticar atos de caridade
O poder redentor da Cruz
A Sexta-feira Santa não é o fim da história. É o início da maior virada da humanidade. Como afirmou Santo Inácio de Loyola:
“Não há árvore mais apropriada para produzir e conservar o amor de Deus do que a árvore da Cruz”.
Cada lágrima, cada chaga, cada gota de sangue derramada por Jesus tem valor eterno. É na Cruz que encontramos sentido para nossas dores e esperança para nossos pecados. O Calvário é o altar do amor perfeito.
A cruz é o maior sinal de esperança
A Sexta-feira Santa é o ápice do amor. É o dia em que Deus mostrou que não desiste da humanidade. É quando o silêncio da morte prepara o estrondo da vida nova. Cristo morreu por amor a você. E Ele faria tudo de novo só por você.
Neste dia santo, silencie-se, contemple, medite. Agradeça. E prepare seu coração, porque no terceiro dia… Ele ressuscitará.

Por Thiago Zanetti
Jornalista, copywriter e escritor católico. Graduado em Jornalismo e Mestre em História Social das Relações Políticas, ambos pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). É autor dos livros Deus é a resposta de nossas vidas (Palavra & Prece, 2012) e O Sagrado: prosas e versos (Flor & Cultura, 2012).
Acesse o Blog: www.thiagozanetti.com.br
Siga-o no Instagram: @thiagoz.escritor
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