Meditação de hoje 04/12/2025 Meditação
Imitação de Cristo
Tomás de KempisLivro III - Da consolação interior
Capítulo 50 - Como o homem angustiado se deve entregar nas mãos de Deus
1. Senhor Deus, Pai Santo! bendito sejais agora e sempre; porque como quisestes assim se fez, e bom é quanto fazeis. Alegre-se em vós o vosso servo, não em si, nem em algum outro, porque só vós sois a verdadeira alegria, vós a minha esperança e coroa; só vós, Senhor, minha delícia e glória. Que tem vosso servo, senão o que de vós recebeu, ainda sem o merecer? Vosso é tudo o que destes e fizestes. Pobre sou e vivo em trabalho desde a juventude (Sl 87,16), e minha alma se entristece algumas vezes até às lágrimas, e outras se perturba pelos sofrimentos que a ameaçam.
2. Desejo a alegria da paz, suplico a paz de vossos filhos, a que apascentais na luz da consolação. Se vós me derdes a paz, se vós me infundirdes santa alegria, será a alma de vosso servo cheia de júbilo, entoando devotamente vossos louvores. Mas se vos afastardes, como muitas vezes fazeis, não poderá ele trilhar o caminho dos vossos mandamentos, mas antes se prostrará de joelhos, para bater no peito, porque não lhe vai como nos dias passados, “quando resplandecia vossa luz sobre sua cabeça” (Gn 31,2), e encontrava refúgio contra as tentações violentas debaixo da sombra de vossas asas.
3. Pai justo e sempre digno de louvor! Chegada é a hora em que será provado o vosso servo. Pai amoroso! Justo é que nesta hora sofra alguma coisa o vosso servo por vosso amor. Pai sempre adorável, chegou a hora que de toda a eternidade prevíeis havia de vir, que por pouco tempo sucumba vosso servo exteriormente, mas vivendo interiormente sempre unido a vós. Por pouco tempo seja desprezado e humilhado, abatido diante dos homens e oprimido de sofrimentos e enfermidades, para que ressuscite convosco na aurora de uma nova luz e seja glorificado no céu. Pai Santo! Foi esta vossa ordem e vontade, fez-se o que ordenastes.
4. Pois é uma graça que concedeis ao vosso amigo: o sofrer e penar neste mundo por vosso amor, quantas vezes e de quem o permitireis. Sem o vosso desígnio, sem a vossa providência, ou sem causa, nada acontece na terra. É bom para mim, Senhor, que me tenhais humilhado, para que aprenda vossos justos juízos (Sl 118,71), e deponha toda a soberba e toda presunção. Proveitoso é para mim “ter o rosto coberto de confusão” (Sl 68,8), para que busque a consolação em vós e não nos homens. Também aprendi por este meio a temer vossos insondáveis juízos; pois afligis o justo com o ímpio, mas sempre com equidade e justiça.
5. Graças vos dou, Senhor, que não poupastes minhas maldades, antes me castigais com duros açoites, enviando-me dores e afligindo-me exterior e interiormente de angústias. De tudo quanto existe debaixo do sol, nada há capaz de me consolar senão vós, Senhor meu Deus, médico celestial das almas, que feris e sanais, pondes em grandes tormentos e deles livrais (1Rs 2,6; Tb 13,2). Vosso castigo está sobre mim e vossa disciplina me ensinará (Sl 17,36).
6. Pai querido, em vossas mãos estou e me inclino debaixo da vara de vossa correção. Feri-me as costas e o pescoço, para que sujeite minha vontade teimosa à vossa. Fazei-me discípulo devoto e humilde, como sabeis fazer, para que obedeça ao vosso menor aceno. Entrego-me, com tudo que é meu, à vossa correção; pois é melhor ser castigado neste mundo que no outro. Vós sabeis tudo e todas as coisas e nada se vos esconde da consciência humana. Vós sabeis o futuro antes que se realize, e não precisais de quem vos ensine ou advirta das coisas que se fazem na terra. Vós sabeis o que serve para meu progresso e quanto vale a tribulação para limpar a ferrugem dos vícios. Disponde de mim segundo o vosso beneplácito e não olheis para a minha vida pecaminosa, de ninguém melhor e mais claramente conhecida do que de vós.
7. Concedei-me, Senhor, que eu saiba o que devo saber, ame o que devo amar; fazei-me louvar o que mais vos agrada, estimar o que vós apreciais, desprezar o que a vossos olhos é abjeto. Não me deixeis julgar pelas aparências exteriores, nem criticar pelo que ouço de homens inexperientes, mas dai-me o discernimento certo das coisas visíveis e das espirituais, e sobretudo o desejo de conhecer sempre vossa vontade.
8. Enganam-se, frequentemente, os homens em seus juízos, e não menos se enganam os mundanos, porque só amam as coisas visíveis. Porventura ficará melhor o homem porque outro o louva? O mentiroso engana ao mentiroso, o vaidoso ao vaidoso, o cego ao cego, o doente ao doente, em lhe fazendo elogios; e na verdade, antes o confunde em lhe tecendo vãos louvores. Porque, quanto cada um é aos olhos de Deus, tanto é e nada mais, diz o humilde São Francisco.
Reflexões
Não existe uma maneira mais excelente de rezar do que contentar-nos simplesmente em apresentar as próprias necessidades a Nosso Senhor e depois deixá-lo agir, mantendo-nos na certeza de que ele proverá as nossas necessidades, segundo o que nos for mais conveniente, contentando-nos em dizer-lhe: Senhor, eis aqui vossa pobre criatura, desolada e aflita, cheia de secura e aridez, cumulada de misérias e de pecados; mas vós sabeis bem do que preciso, basta-me fazer-vos ver o que sou; é a vós que cabe prover as minhas misérias conforme vos aprouver, porque sabeis bem o que me é mais útil para a vossa glória (Sermon pour le IIe dimanche après l’Ephiphanie, IV, 123).
Não, minha querida filha, não é preciso apenas aceitar que Deus nos fere, mas é preciso aquiescer que é de acordo com o que lhe agrada. Devemos deixar a escolha a Deus, porque ela lhe pertence. Davi ofereceu sua vida pela vida de seu Absalão, mas foi porque ele morria assassinado; é neste caso que se deve conjurar a Deus: mas em perdas temporais, minha filha, que Deus pinça e toca nosso alaúde por onde ele quiser, e sobre a corda do nosso alaúde que ele escolher, jamais ele fará outra coisa senão uma bela harmonia. Senhor Jesus, sem reserva, sem se, sem mais, sem exceção, sem limitação, seja feita a vossa vontade sobre pai, mãe, filhos, em tudo e sobre tudo! Ah, não digo que não se deve desejar e orar para a conservação deles, mas dizer a Deus: deixai este e tomai aquele, minha querida filha, não se deve dizer (78e lettre spirit. X, 264).
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