Meditação de hoje 11/12/2025 Meditação
O Abandono à Providência Divina
Padre Jean Pierre de CaussadeLivro Terceiro: Da assistência paternal com que Deus envolve as almas que se abandonam inteiramente a ele
CAPÍTULO X - A alma que se abandona a Deus encontra mais luz e mais força na submissão à acção divina, do que têm todos os orgulhosos que lhe resistem
De que servem as ilustrações mais sublimes, e até as divinas revelações, quando não há amor à vontade de Deus? Foi assim que Lúcifer se perdeu; a ação divina, descobrindo-lhe o mistério da Encarnação, serviu só para fazer brotar nele sentimentos de inveja. Pelo contrário, uma alma simples e ilustrada unicamente pelas luzes da fé, não se pode cansar de admirar, louvar e amar a ordem de Deus; de o encontrar, não somente nas criaturas santas, mas ainda mesmo na confusão e desordem das mais desconcertadas. Um raio de fé pura ilumina mais uma alma santa, do que Lúcifer foi iluminado por suas próprias luzes, apesar de tão sublimes.
A ciência da alma fiel às próprias obrigações, tranquilamente submissa às ordens íntimas da graça, doce e humilde para todos, é de maior valor do que a mais profunda penetração dos mistérios. Se soubéssemos ver a ação divina em todo este orgulho e dureza da ação das criaturas, recebê-las-íamos sempre com doçura e respeito. As suas desordens não nos fariam deixar a ordem, por mais que nos fosse desagradável a sua maneira de proceder.
Deve-se ver nelas a ação divina que trazem consigo e comunicam, quando somos fiéis em praticar a doçura e a humildade. Não se há de olhar para o caminho que elas seguem, mas avançar sempre com firmeza no próprio caminho; deste modo, dobrando-os suavemente, é que se quebram os cedros e se derrubam as rochas.
Que há no mundo que seja capaz de resistir à força duma alma fiel, doce e humilde? Se queremos derrotar infalivelmente todos os nossos adversários, não devemos opor-lhes outra espécie de armas. Jesus Cristo entregou-no-las para nossa defesa; quem as sabe manejar, não tem nada que temer. É preciso não ser covarde, mas decidido, como convém a instrumentos divinos. Tudo quanto vem de Deus é maravilhoso e sublime; e jamais a ação que faz guerra a Deus poderá resistir a quem está unido à ação divina pela doçura e pela humildade.
O que é Lúcifer? Um belo espírito, o mais brilhante e esclarecido de todos os espíritos, mas um descontente de Deus e da ordem divina. O mistério da iniquidade não é senão a extensão deste descontentamento, manifestando-se de todas as maneiras possíveis. Lúcifer, enquanto dele depende, nada quereria deixar subsistir na ordem por Deus estabelecida. Em toda a parte onde Lúcifer se introduz, aparece logo desfigurada a obra de Deus. Quanto mais o homem é dotado de luzes, de ciência e de capacidade, tanto mais há que recear se lhe falta o fundamento da piedade, que consiste em viver na alegria de Deus e da sua santa vontade. É por um coração bem regulado que se dá a união à ação divina; sem ele, não temos senão a pura natureza que, infelizmente, de ordinário não é senão pura oposição à ordem de Deus. Este divino e onipotente artífice não reconhece como seus instrumentos senão os humildes; e os soberbos que se opõem condena-os a servirem como de vis escravos no cumprimento dos seus amorosos desígnios.
Quando vejo uma alma para quem o seu tudo é Deus e a submissão às ordens de Deus, ainda que seja desprovida de outros dotes e qualidades, não posso deixar de exclamar: Eis uma alma dotada de grandes talentos para servir a Deus. Isto era o que na Santíssima Virgem e em S. José aparecia ao exterior. O resto, sem esta disposição da alma, infunde-me grave preocupação e temor, fazendo-me recear a ação de Lúcifer. Por isso, mantendo-me numa prudente reserva, mais firmemente me apoio no meu fundo de simplicidade, para o opor a toda a essa sensibilidade espetaculosa, que bem considerada em si mesma, não é senão como vidro frágil.
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