A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo

Santo Afonso Maria de Ligório

CAPÍTULO IX - Todas as nossas esperanças devem ser postas nos merecimentos de Jesus Cristo

Virtude de Cristo em nós

1. O apóstolo suplicou três vezes ao Senhor que o livrasse de um aguilhão impuro que o molestava e recebeu a resposta: “Basta-te a minha graça, pois a virtude se completa na fraqueza” (2Cor 12,9). Como se explica que a virtude se aperfeiçoa na fraqueza? S. Tomás com S. Crisóstomo explica que, quanto maior é a fraqueza e inclinação para o mal, tanto maior força Deus comunica a quem nele confia. Por isso, S. Paulo no lugar citado diz: “De boa vontade gloriar-me-ei nas minhas enfermidades, para que a virtude de Cristo habite em mim. Por isso é que me comprazo nas minhas enfermidades, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias pelo Cristo, porque quando estou enfermo então é que estou forte” (2Cor 12,10).

“Porque a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para os que se salvam, isto é, para nós, é a força de Deus” (1Cor 40 1,18). S. Paulo nos adverte a não seguir os mundanos, que põem sua confiança nas riquezas ou em seus parentes e amigos do mundo e julgam loucos os santos por desprezarem esses esteios terrenos. Os homens de bem depositam toda a sua confiança no amor da cruz, isto é, de Jesus crucificado, que concede todos os bens a quem nele confia.

2. Note-se também que o poder e força do mundo são mui diversos dos de Deus: aquele se adquire por meio das riquezas e honras mundanas; este, pela humildade e tolerância. S. Agostinho diz que nossa força está no reconhecimento de nossa fraqueza e na confissão humilde de nossas misérias (De grat. Chr. c. 12). E S. Jerônimo diz que toda a perfeição da vida presente consiste em nos reconhecermos imperfeitos (Ep. ad Ctesiph.). Sim, porque, quando nós nos reconhecemos imperfeitos como o somos, então, desconfiando das nossas forças, abandonamo-nos nos braços de Deus, que protege e salva os que nele confiam. “Ele é o protetor de todos os que esperam nele” (Sl 17,31). “Vós salvais os que esperam em vós” (Sl 16,7). Davi ajunta que quem confia no Senhor torna-se firme como um monte, que não se abala com todos os esforços de seus inimigos: “Quem confia no Senhor, como o monte Sião não será abalado eternamente” (Sl 134,1). S. Agostinho nos admoesta que nos perigos de pecar, quando tentados, devemos recorrer e nos abandonar a Jesus Cristo, que não se afastará deixando-nos cair, antes nos tomará nos braços para sustentar-nos e assim remediar a nossa fraqueza (Conf. 1. 8 c. 11).

Jesus Cristo, tomando sobre si as fraquezas de nossa humanidade, nos mereceu uma força que supera toda a nossa fraqueza. S. Paulo diz: “Por isso que ele mesmo padeceu e foi tentado, pode auxiliar os que são tentados” (Hb 2,18). Como se explica que o Salvador, por ter sido tentado, pode nos socorrer nas nossas tentações? Explica-se por que Jesus, tendo sido atormentado pelas tentações, tornou-se mais propenso a compadecer-se de nós e auxiliar-nos quando tentados. A este corresponde aquele outro texto de S. Paulo: “Não temos um pontífice que se não possa compadecer das nossas fraquezas, mas um experimentado à nossa semelhança em tudo, com exceção do pecado” (Hb 4,15). Por isso o Apóstolo exorta-nos a que recorramos com confiança ao trono da graça que é a cruz, para recebermos do crucifixo as graças que desejamos: “Cheguemo-nos com confiança ao trono da graça, para obtermos misericórdia e encontrarmos a graça no momento oportuno” (Hb 4,16).


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(Santo Afonso Maria de Ligório)
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