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Imitação de Cristo

Tomás de Kempis

Livro III - Da consolação interior

Capítulo 33 - Da instabilidade do coração e que a intenção final se há de dirigir a Deus

1. Jesus: Filho, não te fies nos teus afetos atuais, que depressa em outros se mudarão. Enquanto viveres, estarás sujeito ao variável, ainda que não queiras; ora te acharás alegre, ora triste, ora sossegado, ora perturbado, umas vezes fervoroso, outras tíbio, já diligente, já preguiçoso, agora sério, logo leviano. O sábio, porém, e instruído na vida espiritual, está acima desta inconstância, não cuidando dos seus sentimentos, nem de que parte sopra o vento da instabilidade, mas concentrando todo o esforço de sua alma no devido e almejado fim. Porque assim poderá permanecer sempre o mesmo e inabalável, dirigindo a mim, sem cessar, a mira de sua intenção, entre todas as vicissitudes que lhe sobrevierem.

2. Quanto mais pura for tua intenção, porém, tanto mais constante serás durante as diversas tempestades. Mas em muitos se escurece o olhar da pura intenção, porque depressa o volvem para qualquer objeto deleitável que se lhes depare. Poucos há inteiramente livres da pecha do egoísmo. Assim, os judeus foram um dia a Betânia, em casa de Maria e Marta, não só por amor de Jesus, mas também para verem Lázaro (Jo 12,9). Cumpre, pois, purificar a intenção, para que seja simples e reta e se dirija a mim acima de tudo que há de permeio.

Reflexões

Deus continua o ser supremo desse grande mundo em perpétua mudança, pela qual o dia se transforma sempre em noite, a primavera em verão, o verão em outono, o outono em inverno e o inverno em primavera. E um dos dias jamais se assemelha perfeitamente ao outro: há dias nebulosos, chuvosos, secos, ventosos, variedade que dá uma grande beleza a este universo. Acontece o mesmo com o ser humano que é, segundo a opinião dos antigos, um resumo do mundo. Porque jamais ele está num mesmo estado (Jó 14,2), e sua vida escoa nesta terra, como as águas, flutuando e ondulando numa perpétua diversidade de movimentos que ora o elevam às esperanças, ora o abaixam pelo medo, ora o inclinam à direita pela consolação, ora à esquerda pela aflição; e jamais um só de seus dias se assemelha ao outro, nem mesmo uma de suas horas se parece inteiramente com a outra.

Daí esta grave advertência: devemos esforçar-nos para manter uma contínua e inviolável igualdade de coração numa tão grande desigualdade de acidentes; e embora todas as coisas mudem e variem diversamente à nossa volta, devemos permanecer constantemente imóveis para sempre ter em vista, tender e pretender ao nosso Deus (Introduction à la vie dévote, parte IV, cap. XIII, I, 253).

Oração

Ó dulcíssima vontade de meu Deus, que sejais feita para sempre! Ó desígnios eternos da vontade de meu Deus, eu vos adoro, consagro e dedico minha vontade para querer para sempre, eternamente, o que eternamente quisestes! Que eu faça, portanto, hoje e sempre, e em todas as coisas, vossa divina vontade, ó meu amável Criador! Sim, Pai Celeste, porque foi este o vosso prazer em toda eternidade. Assim seja (Opusc., III, 151).


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