Guia para Consagração a Jesus por Maria Consagrações
ApresentaçãoApresentamos aqui um Guia de 30 Dias para Consagração a Jesus por Maria, baseado no método de São Luís Maria Grignion de Montfort.Este guia é para quem deseja se consagrar a Jesus por Maria pela primeira vez e também para quem já é consagrado, mas quer renovar sua consagração com profundidade. Pré-requisitos: Leitura obrigatória do Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, de São Luís. Esse livro é a base da consagração e prepara o coração para vivê-la com entendimento e seriedade. É necessário um desejo sincero de mudança de vida e de buscar a santidade por meio de Maria. Comprometimento com a rotina diária. Você vai precisar de tempo todos os dias, por trinta dias seguidos, para meditar e rezar. Isso exige disciplina, foco e perseverança — mesmo em dias difíceis, domingos ou feriados. Essa constância é parte essencial da preparação espiritual. A vida sacramental também é indispensável. Estar em estado de graça, ou seja, sem pecado mortal, é parte vital de todo esse processo. Por isso, mantenha uma vida sacramental sólida, com confissões e comunhões frequentes. A consagração é mais frutuosa quando vivida com os sacramentos e a oração pessoal em dia. Como usar este guia: Siga o cronograma de trinta dias, com orações e reflexões diárias. Reserve um tempo diário e fiel, preferencialmente num mesmo horário. Use o guia como um itinerário espiritual, não apenas como leitura. Se perder um dia, não desista. Retome no ponto onde parou e continue. Etapas da preparação: Etapa um: desapego do espírito do mundo — doze dias. Etapa dois: conhecimento de si mesmo — seis dias. Etapa três: conhecimento da Santíssima Virgem — seis dias. Etapa quatro: conhecimento de Jesus Cristo — seis dias. Qual o objetivo da consagração? Viver totalmente entregue a Deus pelas mãos de Maria. Renovar com consciência as promessas do Batismo. Assumir um estilo de vida mariano, fazendo tudo: “por Maria, com Maria, em Maria e para Maria, a fim de fazê-las mais perfeitamente por Jesus Cristo, com Jesus Cristo, em Jesus Cristo e para Jesus Cristo.” (Tratado da Verdadeira Devoção, número 257) Avisos importantes: Essa preparação não é simbólica nem superficial. O demônio tentará te desanimar. Persevere. A consagração exige compromisso real, tal como um voto religioso. Dúvidas? Confira a seguir as perguntas e respostas mais comuns para esclarecer tudo antes de começar. Equipe Pocket Terço __________ Fontes utilizadas para a produção deste guia: Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, de São Luís Maria Grignion de Montfort. O Segredo de Maria, do mesmo autor. O “livro de ouro” ao alcance de todos, de Padre Luiz Carlos Lodi da Cruz. Exercícios Preparatórios para a Consagração de São Luís Maria de Montfort, do Padre J. M. Dayet. | |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Perguntas e RespostasTrazemos aqui uma série de perguntas e respostas mais comuns para quem quer saber mais sobre a Consagração a Jesus por meio de Maria pelo método de São Luís Maria Grignion de Montfort. I. O SIGNIFICADO E O FUNDAMENTO DA CONSAGRAÇÃO A JESUS POR MARIA1. O que significa se consagrar a Jesus por Maria?Se consagrar a Jesus por Maria significa entregar-se totalmente a Jesus Cristo, vivendo tudo por meio de Maria. É confiar a Ela todos os nossos méritos, obras e futuro, para que Ela os administre conforme a vontade de Deus. Essa entrega total inclui nosso corpo, alma, bens exteriores e interiores, passado, presente e futuro. A consagração é um caminho de santidade, pois nos coloca sob os cuidados da Virgem Maria, que é o caminho mais seguro, curto, perfeito e fácil para chegar a Jesus Cristo, como ensina São Luís Maria Grignion de Montfort. 2. Por que fazer isso por meio de Maria?Porque foi por Maria que Jesus Cristo veio ao mundo, e é por Ela que continuamos a recebê-Lo. Mesmo não sendo absolutamente necessário, Deus Pai quis confiar a Maria a missão de trazer ao mundo o Salvador. Portanto, o caminho que Deus escolheu para vir até nós é o mesmo que devemos escolher para ir até Ele. São Luís ensina que tudo em Maria nos conduz a Jesus. Ela é o molde perfeito no qual o Espírito Santo forma os santos. Entregar-se a Maria é entrar neste molde divino, deixando-se formar por Ela segundo o modelo que é o próprio Cristo. 3. O que é a consagração à Nossa Senhora pelo Método de São Luís de Montfort?É um ato de entrega total de si mesmo(a) a Maria, como meio para se consagrar a Jesus Cristo. Entregar-se inteiramente à Maria e, por Ela, a Jesus, procurando fazer todas as ações com Maria, em Maria, por Maria e para Maria. Essa consagração é chamada de “escravidão de amor” porque se inspira na entrega total que um escravo fazia ao seu senhor, mas no caso cristão, é uma escravidão voluntária, amorosa, feita por amor, não por força. Ao entregar-se a Maria, a alma se torna propriedade de Jesus por meio de Sua Mãe. 4. A consagração nos afasta de Jesus?De modo nenhum. Pelo contrário, nos leva a uma intimidade mais profunda com Ele. Tudo o que se entrega a Maria chega mais perfeitamente a Jesus, pois Ela o embeleza e purifica com seu amor materno. Maria não retém nada para si: tudo o que lhe é entregue, Ela leva diretamente a Jesus. São Luís ensina que é impossível que alguém se aproxime verdadeiramente de Maria e não se aproxime ainda mais de Jesus. 5. Maria tira a liberdade da alma consagrada?Não. Maria não tira, mas aperfeiçoa a liberdade da alma consagrada. Ao entregar nossa vontade a Maria, Ela nos guia com doçura e nos ajuda a viver com mais liberdade em Deus. É uma “escravidão de amor” — que liberta do pecado, da escravidão do egoísmo e nos une perfeitamente à vontade divina. A verdadeira liberdade é fazer o bem e seguir a Deus, e Maria nos ajuda justamente nisso. 6. A consagração substitui os sacramentos?Não. A consagração de forma alguma substitui os sacramentos. Ela é, na verdade, uma ajuda preciosa para vivermos melhor os sacramentos que a Igreja nos dá. Ao consagrar-se, a pessoa renova e aprofunda sua fidelidade ao batismo, vive com mais profundidade o sacramento da confissão e a Eucaristia, e sente-se mais motivada a buscar a graça nos sacramentos. São Luís destaca que a consagração nos torna mais fiéis às promessas do batismo, ajudando-nos a renunciar ao pecado e a viver para Deus. II. QUEM PODE SE CONSAGRAR7. Quem pode se consagrar?Todos os batizados que vivem a vida sacramental e tenham lido o Tratado da Verdadeira Devoção podem se consagrar, desde que se preparem adequadamente segundo o método de São Luís. A pessoa deve estar disposta a viver com fidelidade a entrega feita, buscando crescer na vida de oração, na união com Maria e na santidade. 8. É preciso ser batizado para se consagrar?Sim. A consagração é uma renovação das promessas do batismo. Por isso, só pode ser feita por quem já recebeu esse sacramento. Aqueles que ainda não são batizados podem conhecer a devoção, preparar-se e fazer a consagração depois de serem batizados. 9. A consagração exige idade mínima?Não há uma idade mínima fixada, mas é importante que a pessoa compreenda, ao menos em parte, o que está fazendo. Com um acompanhamento catequético e espiritual, qualquer batizado pode se consagrar. São Luís Maria de Montfort desejava ardentemente que não apenas adultos e religiosos, mas também crianças, jovens e pessoas simples se consagrassem a Jesus por Maria. Recomenda-se, para maior fruto, que já tenham feito a Primeira Comunhão e possuam alguma mínima maturidade na fé. Consulte um diretor espiritual. 10. Posso me consagrar mesmo tendo pouco conhecimento da fé?Sim. A consagração é para todos os batizados. O essencial é ter o desejo sincero de pertencer a Jesus por meio de Maria, e estar disposto a aprender e crescer na fé com o tempo. Mesmo que o conhecimento da fé ainda não seja profundo, a consagração já pode ser feita, desde que haja orientação e desejo de viver esse caminho de santidade. 11. Posso me consagrar se estou em pecado mortal?Não. A consagração exige que a pessoa esteja em estado de graça, ou seja, livre do pecado mortal. É essencial fazer uma boa confissão antes da consagração. O ideal é confessar-se nos últimos dias da preparação e comungar no dia da consagração como sinal da entrega total a Jesus por Maria. III. PREPARAÇÃO PARA A CONSAGRAÇÃO12. Como é feita a preparação para a consagração e quanto tempo dura?A preparação começa pela leitura do Tratado da Verdadeira Devoção, para compreender o que é a consagração e qual sua importância. Depois, segue-se um período de 30 dias de preparação, que simbolizam os 30 anos de vida oculta de Jesus, vividos em submissão à Virgem Maria. Essa preparação é dividida assim:
Durante esses dias, são feitas orações diárias, leituras e meditações. Ao final do período, a pessoa recita publicamente o ato de “Consagração de si mesmo à Sabedoria encarnada”. 13. Qual é a data ideal para fazer a consagração?A consagração pode ser feita em qualquer dia do ano, mas é tradicional escolher uma data mariana para este momento tão especial. Isso liga simbolicamente a entrega pessoal à celebração litúrgica da Virgem Maria. A ideia é contar 30 dias antes da data escolhida e iniciar a preparação nesse momento, para que a consagração coincida com a festa mariana, no 31º dia. Algumas datas recomendadas incluem:
14. É necessário repetir os 30 dias todos os anos?Não é uma obrigação, mas é recomendado. Muitos fiéis fazem os 30 dias de preparação todos os anos, como forma de renovar com profundidade a consagração. Outros preferem fazer uma renovação mais breve. O mais importante é renovar a consagração com sinceridade e amor, seja com a preparação completa ou com uma oração simples, desde que feita com o coração. 15. Se eu falhar em um dos dias da preparação, ainda posso me consagrar?Sim. Se você falhar em um dos dias, não precisa abandonar a preparação. Pode continuar normalmente e, se possível, rezar naquele dia o conteúdo perdido. Se a falha for de muitos dias e você sentir que perdeu o sentido da preparação, pode recomeçar do início. O importante é preparar-se bem, com sinceridade e constância. 16. É necessário o acompanhamento de um sacerdote durante o processo?Não é estritamente necessário, mas é muito proveitoso. Um sacerdote ou alguém experiente na devoção pode orientar, tirar dúvidas e ajudar na caminhada espiritual. No entanto, também é possível fazer a preparação de forma pessoal, desde que se siga com fidelidade o método e a doutrina propostos por São Luís. Com o aplicativo Pocket Terço é possível realizar o processo de preparação sem a necessidade obrigatória de um acompanhamento. 17. Posso fazer a consagração sozinho(a) ou preciso participar de um grupo?Você pode fazer a consagração sozinho(a). Participar de um grupo é bom e ajuda na motivação, mas não é obrigatório. Onde não houver grupo, a consagração pode e deve ser feita individualmente. Existem também grupos virtuais que acolhem e acompanham quem deseja se consagrar. 18. O que devo fazer no dia da consagração?No dia da consagração, recomenda-se:
19. É obrigatório participar da Missa no dia da consagração?Não é estritamente obrigatório, mas é altamente recomendado. A Missa é o centro da vida cristã, e participar da Eucaristia no dia da consagração, recebendo a comunhão, é uma forma profunda de selar essa entrega. É um gesto de amor e união com Jesus por meio de Maria. 20. Sou obrigado a usar as correntes de ferro (cadeias)?Não. O uso da cadeia é uma recomendação simbólica feita por São Luís, como sinal da entrega total e da escravidão de amor. Contudo, esse sinal pode ser adaptado conforme a realidade de cada um. Pode-se usar uma medalhinha da Virgem Maria, um escapulário, um anel ou outro sinal visível que lembre o compromisso assumido com Jesus por Maria. IV. COMO O CONSAGRADO DEVE VIVER21. Como deve viver quem se consagrou a Jesus por Maria segundo São Luís Maria?A partir da consagração, a vida do fiel deve tomar um novo rumo, baseado na renovação das promessas do batismo. Isso significa viver constantemente renunciando ao pecado, ao demônio, ao espírito do mundo e ao egoísmo. O consagrado se torna uma "oferta viva" a Deus, confiando inteiramente sua alma, corpo, bens e méritos espirituais à Santíssima Virgem, para que Ela disponha de tudo segundo a vontade do Altíssimo. É um estilo de vida que se sustenta na humildade, na oração constante e no amor operante. 22. Por que o consagrado entrega todos os seus méritos espirituais a Maria?Porque confia que Maria, sendo Mãe de Deus e nossa Mãe, conhece perfeitamente a vontade de Deus e deseja apenas a Sua glória. Ao entregar tudo a Maria — orações, penitências, boas obras, indulgências e méritos —, o consagrado aceita que ela administre espiritualmente sua vida, oferecendo a Deus tudo da melhor forma possível. Esse gesto de confiança exige grande humildade, pois significa não mais “guardar méritos” pessoais, mas deixá-los totalmente ao serviço do Reino, segundo os desígnios divinos. 23. Quais são as práticas interiores que o consagrado deve cultivar diariamente?São Luís destaca quatro atitudes interiores essenciais:
Essas práticas tornam cada gesto uma expressão de amor e confiança, em profunda comunhão com a Mãe de Deus. 24. Quais são as práticas exteriores que ajudam a manter viva a consagração?Além da vivência interior, São Luís recomenda algumas práticas externas que ajudam o consagrado a perseverar:
Esses gestos externos não são obrigatórios, mas são fortemente recomendados como apoio para manter vivo o espírito de consagração. 25. O que significa desprezar o espírito do mundo segundo São Luís Maria?Significa rejeitar os valores mundanos que se opõem ao Evangelho, como a vaidade, o orgulho, o apego à sensualidade e a busca por aplausos humanos. O consagrado deve viver com simplicidade, humildade e fidelidade, buscando parecer-se cada vez mais com Maria em tudo. Isso implica um combate espiritual constante, pois o mundo tenta nos seduzir. Por isso, São Luís insiste: “O verdadeiro devoto de Maria não se conforma com o mundo.” 26. Como o consagrado deve viver a Santa Missa e a Comunhão em união com Maria?Antes da Missa e da Comunhão: Deve entregar-se a Maria, pedindo que Ela mesma o prepare para receber dignamente Jesus. Suplica que Maria o purifique, inspire fé, humildade e amor para acolher Jesus com as disposições d’Ela. 27. Como saber se estou vivendo bem minha consagração?Você pode reconhecer se está vivendo bem sua consagração observando os frutos que ela produz na sua vida. Entre os sinais estão:
Se esses frutos estão crescendo em sua vida, é um bom sinal de que sua consagração está sendo vivida com fidelidade. 28. O que devo fazer se esquecer de viver a consagração?Recomece. São Luís de Montfort nos ensina que a consagração não exige perfeição, mas sim uma fidelidade humilde e perseverante. Se você se distraiu, se afastou ou caiu no pecado, volte a rezar, retome a leitura do Tratado e renove sua entrega a Maria. Ela o conduzirá novamente a Jesus. 29. O que acontece se, depois de consagrado, eu cair em pecado?Você continua sendo consagrado. A consagração é um compromisso espiritual que não é anulado pelo pecado. No entanto, o pecado impede que os frutos da consagração se manifestem plenamente. Por isso, é necessário buscar a reconciliação com Deus por meio da confissão o quanto antes, e retomar com confiança o caminho de consagrado(a). 30. Posso fazer outras devoções mesmo depois de me consagrar?Sim. A consagração não exclui outras devoções — como ao Sagrado Coração de Jesus, ao Santos Anjos, a São José, a outros santos. Pelo contrário, fortalece todas elas. Maria deve ser o meio habitual e seguro para todas as graças e todas as devoções, como Mãe espiritual que nos conduz a Jesus. | |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
1ª parte |
Orientações da Primera ParteDoze Dias Preliminares - Desapego do Espírito do MundoPara alcançar a união perfeita com Jesus Cristo, a alma deve antes preparar um espaço interior puro, afastando os obstáculos que impedem essa comunhão. Essa purificação, chamada fase purgativa, consiste em abandonar o pecado e as paixões que desviam a alma de Deus, e é o foco inicial da consagração segundo São Luís Maria Grignion de Montfort. Montfort destaca que essa purificação não se limita à rejeição do pecado visível, mas sobretudo ao afastamento do “espírito do mundo”, que é uma sabedoria falsa e enganosa, que justifica o pecado e ignora a graça. Essa sabedoria do mundo se manifesta em três formas principais: o apego exagerado aos bens materiais (sabedoria terrena), a busca desordenada dos prazeres (sabedoria carnal) e o orgulho e desejo por honra (sabedoria diabólica). O apóstolo São João alerta para esses perigos ao chamar o mundo de um conjunto de concupiscências: desejos da carne, dos olhos e soberba da vida. Por isso, a verdadeira purificação exige um desapego radical dessas seduções mundanas, abraçando o espírito do Evangelho, que é de penitência, humildade e desapego, para libertar a alma da escravidão do pecado e escolher firmemente seguir Cristo. São Luís apresenta essa purificação como uma escolha definitiva entre Cristo e o mundo, entre a escravidão do amor divino ou do ódio satânico. Essa oposição é radical e irreconciliável, pois o espírito do mundo também se opõe à Virgem Maria, Mãe de Jesus, estabelecendo uma inimizade que os fiéis devem refletir em seu próprio coração. O processo de purificação inicial inclui uma série de meditações que contrastam o espírito do mundo com o de Cristo, culminando em quatro meios para libertar-se do mundo: desejo ardente, oração constante, mortificação universal e verdadeira devoção a Maria — esta última considerada a mais poderosa. Após esse preparo, a consagração é uma renovação dos votos do batismo, um esvaziamento do espírito do mundo para conformar a alma ao molde virginal de Maria e permitir que a Sabedoria divina habite plenamente no coração purificado. Após a meditação, rezar o Ave, Estrela do Mar e o Vinde, Espírito Criador. |
Dia 1: O mundo e seu espírito de gozação de vida“Meus filhinhos, dizia o apóstolo São João, não ameis o mundo nem as coisas do mundo, porque tudo o que há no mundo é concupiscência da carne, concupiscência dos olhos e soberba da vida.” (1Jo 2, 15-16.)Detenhamo-nos na primeira dessas indicações: o amor pelos prazeres da carne, ponto de partida da corrupção do mundo e primeira manifestação de seu espírito. É pelos prazeres dos sentidos que o mundo começa a afastar as almas do mandamento divino. Consideraremos as obras e máximas dos instruídos por esse espírito, com o único objetivo de nos desviarmos dele para sempre. Ó Maria, Mãe castíssima – Mater castissima –, ajudai-nos a refletir sobre a falsa conduta dos mundanos, escravos da concupiscência carnal. No momento da morte, terão de reconhecer que se enganaram: Ergo erravimus. (Sab 5, 6.) I. Suas obras consistem em “não buscar senão os prazeres dos sentidos, diz o Pe. de Montfort. Eles amam regalar-se, afastam de si tudo o que pode mortificar ou incomodar o corpo... não pensam, ordinariamente, senão em beber, comer, jogar, rir, se divertir e passar agradavelmente o tempo...” (Amor Sabedoria Eterna, n. 81.) Essa busca de bem-estar e prazeres sensuais leva à preguiça, intemperança e, por fim, a fruições grosseiras que não se podem nomear entre os santos. O mundo agarra facilmente as almas levianas por essa isca dos sentidos. “Vindos de uma carne de pecado, diz São Gregório, carregamos em nós as armas com as quais nosso inimigo nos combate.” Desde nossa decadência, a carne cobiça contra o espírito, e uma lei de rebelião em nossos membros oprime a alma, a ponto de os santos exclamarem: Quis me liberabit de corpore mortis hujus? (Rom 7, 24.) A graça de Cristo opera nas almas justas o início dessa libertação, mas exige luta até a vitória plena, que se torna coroa eterna. O mundo, inimigo da graça, rejeita essa luta e, tirando força da natureza decaída, conduz ao amor desenfreado dos prazeres corporais, multiplicando e variando suas seduções: romances, espetáculos, cinemas, modas corruptoras, festins, danças impudicas, perfumes, invenções refinadas — tudo serve à luxúria. Ele apresenta a sensualidade sob aparências sedutoras, querendo apenas gozar sempre: eis a magia do mundo. As almas, arrastadas nesse turbilhão, apegam-se ao corpo e suas exigências, mergulhando mais na servidão do pecado, entregando-se a baixezas, excessos e desordens, tornando-se escravas de hábitos vergonhosos. Assim, o corpo torna-se “essa carne tão constantemente e severamente condenada na Escritura”, que não é mais o corpo, mas o que o degrada e perde; “a carne que é a inimiga do espírito, a contradição viva da graça; o anjo de Satanás (Gál 5, 17), nosso anticristo pessoal, antagonista de Deus; essa carne que é a razão mais clara da reprovação, segundo (1Cor 15, 50): a carne e o sangue não podem possuir o reino de Deus” (Mons. Gay). Examinemos nossa consciência: importa desvencilhar a vida cristã de toda aliança com o mundo e a carne. Mesmo sem lama, haverá poeira? São Leão Magno afirma: Necesse est de mundano pulvere etiam religiosa corda sordescere. E que dizer dos que têm complacência pelo século ou pelas atrações da cobiça carnal? O que pensar das almas que lançam na lama a coroa do batismo e da confirmação? Há em todos nós uma secreta disposição aos prazeres da carne; cedendo a eles, ultrapassamos facilmente os justos limites. “Todos os prazeres dos sentidos, diz Bossuet, estimulam uns aos outros; a alma que experimenta um remonta à fonte de todos. Assim os mais inocentes preparam os mais culposos...”. Por isso, “toda alma pudica foge do ócio, das afeições que amolecem, de tudo que agrada os sentidos, dos alimentos deliciosos: tudo isso alimenta a concupiscência da carne que São João nos proíbe, e atiça seu fogo.” ----- Ó Maria, desapegai nosso coração e mantende-o desapegado de todo amor pelos prazeres culposos. A austeridade da vida cristã, sustentada por vossa graça, exige esse desapego, com a santa temperança no uso dos prazeres permitidos, com os quais desejais guarnecer nosso percurso de exílio. Não permitais que esses prazeres nos tomem e nos cativem; fazei-nos viver mais alto que nosso corpo e que todos os deleites que o afligem. Fixai nosso coração no amor do Coração de vosso divino Filho: somente a ele devemos a soberana preferência, e somente ele deve permanecer como regra invariável de nossos outros amores. II. Quanto às máximas dos sujeitos ao espírito do mundo, são fundamentalmente perniciosas. Vêm após as obras e pretendem justificá-las, formando o código da sabedoria mundana, oposta à sabedoria evangélica. Por meio delas, o espírito do mundo penetra nas inteligências e as corrompe quase irremediavelmente, tendendo a fazer ignorar Deus, a graça, a vida futura, destruindo todo sobrenatural na alma dos batizados. Para os mundanos libertinos, o pecado – especialmente o da carne – não é uma ofensa a Deus e à dignidade humana, mas mera exigência natural, como comer ou dormir: “Não se contraria a natureza.” O mundo impõe essas teorias com ar de ciência, cobrindo de sarcasmo os continentes e os castos, especialmente os consagrados a Cristo. O mundo não acredita na virtude. Para esses, Jesus Cristo não é o grande inimigo, mas o grande desconhecido e desdenhado. Não lhe declaram guerra aberta, apenas o ignoram: que ele nos deixe com nossos prazeres; não querem conceder-lhe nem atenção. Sob essa ignorância culpada, sufocam toda ideia de mandamento ou proibição divina, afirmam independência, e nessa louca emancipação, sentem-se à vontade para saciar paixões vergonhosas. Essas consciências falseadas propagam máximas como: “Os jovens são como são”, “É preciso respeitar a liberdade de cada um”, “É preciso viver como todo mundo”, “Nossos prazeres não fazem mal a ninguém...” Máximas às quais se dão força de lei por complacência dos bons. Para esses mundanos, somente a vida presente importa, e não há outro destino. “Disseram, pois, no desvairamento dos pensamentos: O tempo de nossa vida é curto e cheio de tédio, e não há nenhum bem a esperar depois da morte... Vinde, pois, e gozemos dos bens presentes... Coroemo-nos de rosas, antes que murchem...” (Sab 2, 1-9). Essas são as máximas dos voluptuosos descritas no Livro da Sabedoria há dois mil anos. Os mundanos de hoje resumem-se na frase: “É preciso viver a vida”, ou seja, extrair da existência o máximo de gozo, antes que a morte nos lance no nada. “Enganaram-se, acrescenta o autor sagrado, porque a sua malícia os cegou... Deus criou o homem imortal.” E o divino Mestre declarou: “O que ama a sua vida, perdê-la-á.” Quando esse espírito pernicioso governa uma alma, a conversão parece impossível, pois a fé é expulsa de seus últimos refúgios. Se houvesse apenas obras de pecado, a graça ainda poderia triunfar; mas aqui, o pecado não é mais visto como ofensa a Deus, e desaparece toda crença na vida futura. O mundano sofre a mais terrível escravidão: a do espírito, vive sob a tirania do erro e da mentira, e só aprecia as coisas da carne (Rom 8, 5). Assim, diz Santo Agostinho, “o homem que devia ser espiritual mesmo na carne, tornou-se carnal mesmo no espírito”. E essa degradação o assemelha, segundo Bossuet, aos povos selvagens ou mesmo civilizados “que não têm mais espírito senão para o corpo, e em quem o que há de mais puro é o respirar.” ----- Como importa, pois, odiar o mundo, segundo o preceito de São João, visto que está submerso na concupiscência da carne. Tenhamos horror, sobretudo, às suas máximas, que corrompem o coração e cegam o espírito. Quanto aos prazeres que propõe com tanto artifício, despojemo-los de sua sedutora aparência, e se mostrarão curtos, vazios e não apaziguadores. “Não recusei aos meus olhos coisa alguma de tudo o que eles desejaram, escrevia Salomão; nem proibi ao meu coração que gozasse de todo o prazer... depois vi em tudo vaidade e aflição de espírito.” (Ecl 2, 10.) “Desgosto, apetite, mais desgosto, depois renovação do ardor” (Bossuet): é o círculo vicioso dos prazeres dos sentidos. Estejamos atentos. Vigiemos para não abrir ao demônio tentador a porta dos sentidos. O mundo começa sua sedução pelos prazeres sensuais, imitando a tática daquele que Nosso Senhor chama de “seu Príncipe” (Jo 12, 31). No paraíso da abundância e no deserto da escassez, Satanás dirige-se primeiro à carne: comer o fruto proibido, transformar pedras em pães. Se agiu assim com os inocentes e com Cristo, quanto mais o fará conosco, em estado de decadência. Adão e Eva caíram por escutar o Tentador. Jesus o rejeitou com a Escritura inspirada. Também o rejeitaremos, interrogando o Evangelho na meditação seguinte, para descobrir a oposição entre Jesus Cristo e o mundo nesse ponto. Peçamos à Virgem puríssima que nos ajude a escutar e seguir os ensinamentos de seu Filho, a Sabedoria encarnada. ORAÇÕES Veni, Creátor Spíritus (Vinde, Espírito Criador) (Latim) Veni, Creátor Spíritus, Mentes tuórum visita, Imple supérna gratia, Quæ tu creásti péctora. Qui diceris Paráclitus, Altíssimi donum Dei, Fons vivus, ignis, charitas Et spiritális únctio. Tu septiformis múnere, Dígitus patérnæ déxteræ Tu rite promissum Patris, Sermone ditans gúttura. Accénde lumen sénsibus: Infúnde amórem córdibus; Infírma nostri córporis, Virtúte firmans pérpeti. Hostem repéllas longius, Pacémque donas prótinus: Duc sic te præeúnte, nostrum Vítemus omne nóxium. Per te sciámus da Patrem, Noscámus atque Fílium: Te utriúsque Spíritum Credámus omni témpore. Deo Patri sit glória, Et Fílio, qui a mórtuis Surréxit, ac Paráclito, In sæculórum sǽcula. Amen. ℣. Emítte Spíritum tuum, et creabúntur. ℟. Et renovábis fáciem terrae. Deus qui corda fidélium Sancti Spíritus illustratióne docuísti: da nobis in eódem Spíritu recta sápere; et de eius semper consolatióne gaudére. Per Christum dominum nostrum. Amen. (Vernáculo) Vinde, Espírito Criador, a nossa alma visitai e enchei os corações com vossos dons celestiais. Vós sois chamado o Intercessor, de Deus excelso dom sem par, a fonte viva, o fogo, o amor, a unção divina e salutar. Sois o doador dos sete dons e sois poder na mão do Pai, por Ele prometido a nós, por nós seus feitos proclamai. A nossa mente iluminai, os corações enchei de amor, nossa fraqueza encorajai, qual força eterna e protetor. Nosso inimigo repeli e concedei-nos vossa paz; se pela graça nos guiais, o mal deixamos para trás. Ao Pai e ao Filho Salvador, por Vós possamos conhecer; que procedeis do Seu amor fazei-nos sempre firmes crer. Amém! ℣. Enviai o Vosso Espírito. ℟. E renovareis a face da terra. Ó Deus, que instruístes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, fazei que apreciemos retamente todas as coisas segundo o mesmo Espírito e gozemos sempre da sua consolação. Por Cristo, Senhor Nosso. Amém. Ave maris stella (Ave, do mar Estrela) (Latim) 1. Ave maris stella, Dei Mater alma, Atque semper Virgo, Felix cæli porta. 2. Sumens illud Ave Gabrielis ore, Funda nos in pace, Mutans Hevæ nomen. 3. Solve vincla reis, Profer lumen cæcis, Mala mostra pelle, Bona cuncta posce. 4. Monstra te esse matrem, Sumat per te preces, Qui pro nobis natus Tulit esse tuus. 5. Virgo singularis, Inter omnes mitis, Nos, culpis solutos, Mites fac et castos. 6. Vitam præsta puram Iter para tutum, Ut, videntes Jesum, Semper collætemur. 7. Sit laus Deo Patri, Summo Christo decus, Spiritui Sancto, Tribus honor unus. Amen. (Vernáculo) 1. Ave, do mar Estrela De Deus mãe bela, Sempre virgem, da morada Celeste Feliz entrada. 2. Ó tu que ouviste da boca Do anjo a saudação; Dá-nos a paz e quietação; E o nome da Eva troca. 3. As prisões aos réus desata. E a nós cegos alumia; De tudo que nos maltrata Nos livra, o bem nos granjeia. 4. Ostenta que és mãe, fazendo Que os rogos do povo seu Ouça aquele que, nascendo Por nós, quis ser filho teu. 5. Ó virgem especiosa, Toda cheia de ternura, Extintos nossos pecados Dá-nos pureza e brandura, 6. Dá-nos uma vida pura, Põe-nos em via segura, Para que a Jesus gozemos, E sempre nos alegremos. 7. A Deus Pai veneremos: A Jesus Cristo também: E ao Espírito Santo; demos Aos três um louvor. Amém. |
Dia 2: Jesus Cristo e seu Espírito de penitênciaEm oposição ao mundo prazeroso, gozador da vida, Jesus Cristo – a Sabedoria encarnada – nos apresenta um espírito de penitência. Essa é sua marca de Redentor. Fomos por ele resgatados; é, pois, a ele que devemos seguir, amar e imitar. Encher-nos de seu espírito será o meio mais radical de nos esvaziar do espírito do mundo.Peçamos a Maria que nos faça aderir com todas as nossas forças ao nosso Redentor vivo: 1. ao EXEMPLO que ele nos dá em sua divina Pessoa, 2. aos ENSINAMENTOS que ele nos deixou em seu Evangelho. I. O espírito de penitência de Jesus Cristo se manifesta desde o início de sua vida pública, após longos anos de anonimato em Nazaré. É espantoso que ele deseje como seu anunciador um homem cuja vida é a de um penitente e casto: João, filho de Zacarias, que há trinta anos vive no deserto, mortificando seu corpo em tudo: alimentação, vestuário, habitação. Quando chega a hora, João prega com autoridade a penitência: Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus (Mt 3, 2). Cumpre assim sua missão de preparar os caminhos daquele que vem após ele, mais forte, do qual não se julga digno de desatar a correia das sandálias. Jesus aparece. Logo ao se apresentar a João, pede o batismo de penitência reservado aos pecadores, desejando mostrar que tomava o lugar deles. Em seguida, retira-se à região desértica entre Jericó e Jerusalém para um retiro de quarenta dias, em penitência voluntária extrema. Foi conduzido ali pelo Espírito Santo. Como se os anos austeros de Nazaré – em oração, silêncio, trabalho, sofrimento íntimo com Maria e José – não bastassem, era necessário algo mais antes de se manifestar como Fundador do Reino espiritual. Era preciso dar às gerações futuras o exemplo de uma penitência memorável: quarenta dias de jejum rigoroso, sem comer nada, no auge da estação fria e chuvosa, afastado de toda criatura humana, entre as feras, como relata São Marcos. Durante essa reclusão, Satanás, Príncipe deste mundo, vem atacá-lo diretamente. Teme que esse solitário penitente seja o Messias que destruirá seu império. Sem disfarces, propõe-lhe todos os prazeres inferiores com que manteve o mundo submisso, começando pelos sentidos. É sua porta de entrada. Jesus, soberano de si mesmo, apesar do esgotamento, responde vitoriosamente com a Escritura (Dt 8, 3): “O homem não vive só de pão, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.” Com essa palavra, rejeita e derruba a sugestão diabólica. Jesus afirma a primazia da alma. As necessidades do corpo vêm depois das do espírito. Pelo jejum voluntário – ou qualquer penitência corporal, expressão da força da alma – o cristão se liberta das servidões inferiores. É a superação do carnal, sem a qual o espiritual não progride. Mas, ai! A maioria, seduzida pelas sugestões de Satanás através do instinto corporal, esquece que nossa natureza exige essa luta. Recusando o combate, encontra todos os pretextos para não recusar nada ao corpo. O espírito, então, sujeito à carne, fica indefeso diante das tentações que virão. Assim o demônio afasta as almas fracas do espírito de Jesus Cristo, que se manifesta desde o início pela penitência. ----- Se a penitência caracteriza o Salvador no início de sua vida apostólica, ela deve igualmente caracterizar todos os que decidiram segui-lo. Apeguemo-nos, pois, a Jesus penitente, como fizeram os primeiros discípulos do Precursor, quando este, pouco antes da tentação no deserto, lhes apontou o Cristo que vinha ao seu encontro: Ecce Agnus Dei! Eis o Cordeiro de Deus, aquele que carrega e tira os pecados do mundo. Sendo a inocência e a santidade perfeitas, nada tem a expiar por si; mas será o grande Penitente pelos outros, até a imolação da cruz. Ecce Agnus Dei! Admiremos esse primeiro nome ou título oficial dado a Jesus por aquele cuja missão foi testemunhar sua vinda. Nome de pureza, de doçura e, sobretudo, de sofrimento redentor. Jesus Cristo é o Cordeiro de quem Isaías descreveu a imolação silenciosa em meio aos tormentos. É o Cordeiro que São João, no Apocalipse, mostra imolado ao pé do trono de Deus, purificando tudo com seu sangue. É o Cordeiro inocente, a Vítima sem mácula, que pagou ao Pai o resgate pelos pecados de todos os homens, pelas incontáveis impurezas de todos os séculos, provocadoras dos castigos da cólera divina. Ele é, sobretudo, para nós, o Cordeiro de Maria, nascido da mais doce e terna das mães. “Explicai-me a mansidão de Jesus”, pedia o Padre de Montfort. E respondia: “Explicai-me primeiro a mansidão de sua Mãe, a quem ele se assemelha no temperamento.” (A.S.E., n. 118.) Por isso ele nunca quis quebrar a cana rachada, nem apagar a mecha que ainda fumega. Se nos sujamos no contato do mundo, não temamos aproximar-nos dele, respirar os perfumes de seu sangue, purificar nele nossas faltas e dele extrair o gosto da pureza e da penitência. Quantas vezes a Santíssima Virgem nos veio relembrar, da parte de seu divino Filho, essa necessidade da penitência! II. Ele mesmo, ao longo de seus anos de pregação, multiplicou advertências de graça nesse sentido. Desde o primeiro contato com as multidões, repetia a fórmula de seu Precursor: “Fazei penitência, porque está próximo o reino dos céus” (Mt 4, 17). E acrescentava: “Fazei penitência, crede no Evangelho” (Mc 1, 15), ou seja, crede naquele que vos traz a Boa Nova das misericórdias divinas, do perdão de Deus oferecido a todos, mesmo aos mais decaídos dentre os pecadores. “Pois vim chamar os pecadores à penitência” (Lc 5, 32). E como entre os pecadores a maioria se deixa arrastar pelos prazeres da carne, Jesus – nos inícios de seu ministério – atravessa a inóspita Samaria apenas para encontrar uma dessas almas culpadas e despertar nela o arrependimento. Sentado sobre o parapeito do velho poço de Jacó, após longa caminhada sob o sol, vê chegar essa alma. Fala-lhe primeiro, inicia uma conversa e profere palavras das mais graves, profundas e majestosas: “Se tu conheceras o dom de Deus, e quem é que te diz, que ele é a Fonte eternamente abundante e que só quer saciar a sede de tua alma, tu mesmo, apesar de tua indignidade, apesar de tuas máculas, já lhe terias pedido para beber.” Pouco a pouco, Jesus a leva a reconhecer e confessar sua miséria. E diante dessa mulher, há anos desregrada, mas agora aberta à penitência, revela: “O Messias – aquele que vem apagar os pecados do mundo – sou eu, que falo contigo.” A samaritana cai de joelhos, reergue-se e parte, transformada. Em sua alegria de convertida, esquece o cântaro à beira do poço. Mas que lhe importa! Conhece agora a Fonte de beatitude que sacia a sede; não voltará mais às gozações da vida que deixam as almas sedentas e intranquilas. ----- Um pouco mais tarde, na pessoa de Madalena, Jesus nos dá um exemplo ainda mais tocante de uma alma conquistada pelo espírito de penitência. Madalena era pecadora de notoriedade pública. Ainda que mantendo certa dignidade exterior, vivia na mundanidade e na satisfação dos prazeres sensuais. Mas, um dia, perdida na multidão, ouviu o divino Mestre. Talvez seu discurso sobre a montanha: Bem-aventurados os puros de coração! Essa palavra, diferente de tudo o que já ouvira, perturbou-a profundamente, a ponto de todos os seus prazeres lhe parecerem mentira e vaidade. Resolvida a abandonar a vida mundana e dar logo prova disso, entrou, sem ser convidada, na casa de Simão fariseu, no momento em que este recebia o Salvador à mesa. Na presença dos convivas, e num gesto irreversível, foi diretamente ajoelhar seu arrependimento aos pés d’Aquele que secretamente transformara seu coração. O fariseu se escandaliza, e Jesus ouve seu pensamento. Longe de aprová-lo, defende publicamente Madalena e louva sem restrição os sinais inequívocos de sua conversão. Visto que veio chamar os pecadores à penitência, não pode senão se regozijar ao ver uma alma desviada pedir seu perdão. Madalena, a pecadora, será doravante o modelo das almas arrependidas. Apegar-se-á aos passos de Jesus e o seguirá até o Calvário. E a Igreja, ao inscrevê-la no catálogo dos santos, só terá uma palavra para qualificá-la: sancta Maria Magdalena PAENITENS. ----- Por mais instigante que seja esse exemplo de conversão, Jesus Cristo quis nos propor também a parábola do filho pródigo, uma de suas últimas parábolas. Ela vem após as parábolas da ovelha desgarrada e da dracma perdida (Lc 15), e vai além delas, exaltando o arrependimento como suprema conquista da afeição divina. Sob o véu transparente dessa parábola, vê-se uma alma cristã, desertora da Igreja de seu batismo e de suas comunhões, caída o mais profundamente possível na lama dos gozos carnais. Os males que a atingem após o esgotamento de suas forças são o desfecho fatal de uma vida devassa. A alma experimenta fome cruel e se vê, sob dominação de Satanás, considerando a sorte dos animais irracionais mais feliz que a sua. E, no entanto, o Pai dos Céus – pois ninguém é tão Pai quanto Ele – não cessa de amar essa pobre alma e de esperar seu retorno. Aproximando-se com amabilidade, obriga-a a refletir, a lembrar-se da casa paterna, onde abunda para todos o Pão eucarístico, e sobretudo d’Ele, que foi ofendido, mas permanece sempre Pai. Então brota o arrependimento das profundezas da consciência: Surgam. Levantar-me-ei e irei até meu Pai. Desafiarei todos os obstáculos, aceitarei fadigas, humilhações, farei todas as confissões, renunciarei às vantagens de outrora, solicitarei o último lugar… A resolução se cumpre sem demora: Et surgens venit ad Patrem. No coração do Pai que corre ao seu encontro, a alma arrependida encontra apenas misericórdia e a necessidade infinita de perdoar. Não apenas os pecados são apagados e esquecidos, mas a graça santificante lhe restitui a brancura da túnica batismal, lavada no sangue do Cordeiro que tira os pecados do mundo. E o festim eucarístico recomeça, assegurando agora uma perseverança que não se romperá mais. Foi dito dessa parábola que ela é o evangelho do evangelho. Nenhuma outra justifica tanto a palavra de Jesus: Não vim chamar os justos, mas os pecadores à penitência (Lc 5, 32); e esta outra: Misericordiam volo – Antes de tudo, quero a misericórdia (Mt 9, 13). A esse querer de misericórdia, devemos responder com nosso querer de conversão. Do contrário, enfrentamos esta alternativa: ou penitência, ou danação, pois não é tanto o pecado que condena, mas o endurecimento nele, a obstinação em rejeitar o perdão salvador. Se não fizerdes penitência, todos perecereis (Lc 13, 5). ----- Importa, pois, que a penitência produza primeiro em nós seu fruto normal, regular: uma mudança de alma e, consequentemente, de conduta, segundo o que exigir nosso passado de faltas. Mais do que nunca serão, então, impositivas as privações exigidas pela Igreja em certos dias do ano. De modo geral, convém manter grande moderação no uso dos bens sensíveis. E se tivemos a felicidade de conservar uma alma pura e membros castos, nosso mérito será grande ao nos dedicarmos a nos reaproximar sempre mais de Jesus penitente, a exemplo de seu Precursor. Maria Imaculada, elevada em corpo e alma ao Céu, nos fará provar das alegrias espirituais que não se podem comparar a nenhum prazer do mundo: são de outra ordem. Nossa consagração no-las reserva em grau eminente; por isso, devemos dar decididamente esse primeiro passo de nossos Exercícios preparatórios. ORAÇÕES Veni, Creátor Spíritus (Vinde, Espírito Criador) (Latim) Veni, Creátor Spíritus, Mentes tuórum visita, Imple supérna gratia, Quæ tu creásti péctora. Qui diceris Paráclitus, Altíssimi donum Dei, Fons vivus, ignis, charitas Et spiritális únctio. Tu septiformis múnere, Dígitus patérnæ déxteræ Tu rite promissum Patris, Sermone ditans gúttura. Accénde lumen sénsibus: Infúnde amórem córdibus; Infírma nostri córporis, Virtúte firmans pérpeti. Hostem repéllas longius, Pacémque donas prótinus: Duc sic te præeúnte, nostrum Vítemus omne nóxium. Per te sciámus da Patrem, Noscámus atque Fílium: Te utriúsque Spíritum Credámus omni témpore. Deo Patri sit glória, Et Fílio, qui a mórtuis Surréxit, ac Paráclito, In sæculórum sǽcula. Amen. ℣. Emítte Spíritum tuum, et creabúntur. ℟. Et renovábis fáciem terrae. Deus qui corda fidélium Sancti Spíritus illustratióne docuísti: da nobis in eódem Spíritu recta sápere; et de eius semper consolatióne gaudére. Per Christum dominum nostrum. Amen. (Vernáculo) Vinde, Espírito Criador, a nossa alma visitai e enchei os corações com vossos dons celestiais. Vós sois chamado o Intercessor, de Deus excelso dom sem par, a fonte viva, o fogo, o amor, a unção divina e salutar. Sois o doador dos sete dons e sois poder na mão do Pai, por Ele prometido a nós, por nós seus feitos proclamai. A nossa mente iluminai, os corações enchei de amor, nossa fraqueza encorajai, qual força eterna e protetor. Nosso inimigo repeli e concedei-nos vossa paz; se pela graça nos guiais, o mal deixamos para trás. Ao Pai e ao Filho Salvador, por Vós possamos conhecer; que procedeis do Seu amor fazei-nos sempre firmes crer. Amém! ℣. Enviai o Vosso Espírito. ℟. E renovareis a face da terra. Ó Deus, que instruístes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, fazei que apreciemos retamente todas as coisas segundo o mesmo Espírito e gozemos sempre da sua consolação. Por Cristo, Senhor Nosso. Amém. Ave maris stella (Ave, do mar Estrela) (Latim) 1. Ave maris stella, Dei Mater alma, Atque semper Virgo, Felix cæli porta. 2. Sumens illud Ave Gabrielis ore, Funda nos in pace, Mutans Hevæ nomen. 3. Solve vincla reis, Profer lumen cæcis, Mala mostra pelle, Bona cuncta posce. 4. Monstra te esse matrem, Sumat per te preces, Qui pro nobis natus Tulit esse tuus. 5. Virgo singularis, Inter omnes mitis, Nos, culpis solutos, Mites fac et castos. 6. Vitam præsta puram Iter para tutum, Ut, videntes Jesum, Semper collætemur. 7. Sit laus Deo Patri, Summo Christo decus, Spiritui Sancto, Tribus honor unus. Amen. (Vernáculo) 1. Ave, do mar Estrela De Deus mãe bela, Sempre virgem, da morada Celeste Feliz entrada. 2. Ó tu que ouviste da boca Do anjo a saudação; Dá-nos a paz e quietação; E o nome da Eva troca. 3. As prisões aos réus desata. E a nós cegos alumia; De tudo que nos maltrata Nos livra, o bem nos granjeia. 4. Ostenta que és mãe, fazendo Que os rogos do povo seu Ouça aquele que, nascendo Por nós, quis ser filho teu. 5. Ó virgem especiosa, Toda cheia de ternura, Extintos nossos pecados Dá-nos pureza e brandura, 6. Dá-nos uma vida pura, Põe-nos em via segura, Para que a Jesus gozemos, E sempre nos alegremos. 7. A Deus Pai veneremos: A Jesus Cristo também: E ao Espírito Santo; demos Aos três um louvor. Amém. |
Dia 3: O mundo e seu espírito de posseA segunda fonte da corrupção do mundo, segundo São João, é a concupiscência dos olhos. Essa cobiça, adulada, engendra em alguns o amor pela riqueza em si mesma, o desejo de ajuntar bens terrestres cuja visão atrai e retém seus olhares. É a COBIÇA, mais comumente chamada de avareza.Mais sutilmente, essa mesma cobiça se apresenta, em outros, de forma mais espiritual. Engendra, então, o amor pela vã ciência, pelo saber inútil e perigoso, o desejo de conhecer e experimentar o que não se deve. É uma CURIOSIDADE perniciosa, contrária à fé e muito nociva à vida espiritual. Consideraremos sob seu duplo aspecto essa segunda manifestação do espírito do mundo e constataremos, à luz dos textos revelados, que ela também vem de Satanás. Roguemos a Maria, a Virgem de coração simples, tão magnificamente desapegada dos bens deste mundo e de tudo o que não se relaciona a Deus. Peçamos-lhe que coloque em nossas almas seu amor pelos bens imperecíveis, sua bela inteligência das verdades da fé. I Aqueles que o mundo detém pela concupiscência dos olhos do corpo testemunham, acima de tudo, um apego desregrado às riquezas, cujo brilho os ofusca e fascina. Buscam essas riquezas não para satisfazer uma paixão carnal, mas pelo prazer de tê-las sob os olhos e saborear sua posse vã. O bem-estar do avaro está nesse contentamento egoísta: sou o possuidor desta fortuna, o senhor deste ouro, destas terras, deste domínio, desta rica mobília. O amor do dinheiro é seu repouso e felicidade. Não o dissipa, guarda-o, fixa-lhe os olhos e encerra sua felicidade nesse horizonte limitado. “O avarento, diz o Sábio, jamais se fartará de dinheiro; e o que ama as riquezas, não tirará delas fruto. Logo também isto é vaidade… E de que servem os bens a quem os possui, senão para ver com seus olhos as suas riquezas?” (Ecl 5, 9.) “É para ele, acrescenta Bossuet, como que uma coisa sagrada da qual não se permite aproximar suas mãos. Todo coração apaixonado embeleza em sua imaginação o objeto de sua paixão. Este dá ao seu ouro e à sua prata um brilho que a natureza não lhe dá; ele é ofuscado por esse falso brilho; a luz do sol, que é a verdadeira alegria dos olhos, não lhe parece tão bela.” Tal é o vazio dessa cobiça denunciada por São João. E, no entanto, seu desejo é insaciável. Nada contenta a fome devoradora do coração apegado às riquezas. A característica da avareza é tornar a alma cada vez mais ávida em seu desejo de possuir. Essa paixão do desejo é seu único gozo, ou antes, seu tormento. As outras cobiças encontram um limite: o sensual apazigua sua paixão nos prazeres da carne; o guloso sacia-se nos festins; mas o coração cobiçoso nunca se satisfaz. “Essa gula dos olhos, observa ainda Bossuet, nunca está contente; ela não tem, por assim dizer, nem fundo nem margem.” Por isso, a Escritura compara os olhos do homem avaro ao sepulcro ou ao abismo que uma nova presa nunca sacia. ----- Os males que a cobiça engendra são incontáveis. São Paulo, que a chama de “idolatria” (Ef 5, 5), afirma também que ela é a raiz de todos os vícios: Radix omnium malorum est cupiditas (1Tim 6, 10). Ela origina muitas iniquidades, pois precipita seus escravos na tentação e nas armadilhas de Satanás. O homem apegado ao dinheiro torna-se rapidamente injusto, velhaco, enganador. Mostra-se sempre insensível e duro diante das misérias alheias, como descreve a parábola do mau rico. Pode chegar ao roubo, ao homicídio, à traição, como o apóstolo Judas. Sua repugnância pelas coisas divinas é invencível. O desgosto pelas realidades eternas invade a alma loucamente apaixonada pelos bens do mundo. “Não podeis servir a Deus e às riquezas” (Lc 16, 13), disse Nosso Senhor. O coração não pode conter esses dois amores: é preciso escolher entre as riquezas do século presente e as do século vindouro. Se a escolha recai sobre as primeiras, talvez se prove, por um tempo, o bem-estar de um paraíso terrestre; mas as delícias do Paraíso eterno permanecerão desconhecidas para sempre. O cobiçoso está mais distante da salvação que o voluptuoso. A caridade do Salvador converteu Madalena, a pecadora, mas não venceu o endurecimento de Judas. A concupiscência dos olhos, reinando em um coração que idolatra riquezas, destrói sem esperança todo impulso da vontade para um mundo melhor. Nihil est iniquius quam amare pecuniam (Eclo 10, 10): nada é mais sórdido que o amor ao dinheiro. Quem se inflama por essa cobiça traz uma alma venal e amontoa um tesouro de cólera para o dia do julgamento. Eis, no entanto, o grande talismã que o mundo apresenta àqueles que seu espírito tiraniza. Supliquemos à Santíssima Virgem que desvie para sempre nossos olhos e corações dele. E repitamos, desde já, que nossa Consagração, fielmente vivida, nos assegura a posse tranquila da divina Sabedoria, puro tesouro que não se alia às riquezas da terra: “Porque todo o ouro ao seu lado é um pouco de areia, e a prata será considerada como lodo à sua vista.” (Sab 7, 9.) II. Dissemos que é preciso relacionar também à concupiscência dos olhos a curiosidade vã. Os olhos devem então ser entendidos como a inteligência, uma inteligência que busca possuir: • seja conhecimentos inúteis e frívolos, • seja certas ciências perniciosas, • seja até mesmo as ciências verdadeiras, mas de maneira insuficiente, ou excessiva, ou simplesmente egoísta. ----- A vã curiosidade se apresenta mais comumente como o desejo de saber, sem razão alguma, tudo o que se passa no mundo e ao redor: as notícias insignificantes que circulam, o que relatam indistintamente os jornais e o rádio; os segredos das famílias, a conduta e os negócios do vizinho, os complôs, as intrigas, os modos de agir deste ou daquele… “Ó Deus, exclamava Bossuet, que alimento para as almas curiosas, e por isso vãs e fracas!” E que porta aberta ao espírito do século! Por isso os mundanos se destacam na aquisição dessa ciência superficial e vazia. Ela satisfaz sua leviandade, ocupa seu tempo, enche sua existência de vento e sombra. Fascinados por essas insignificâncias, fecham os olhos interiores à única ciência necessária: a da salvação. Quando essa curiosidade se apodera de uma alma cristã ou consagrada, torna-se “uma causa como que infinita de distrações e de preocupações; desenvolve o sentido humano, os gostos terrenos. Ela é contrária ao recolhimento, torna a oração pouco a pouco impossível e mina a vida interior.” ----- A esses conhecimentos inúteis e frívolos importa ainda acrescentar as ciências perniciosas que despertam a curiosidade supersticiosa de muitas pessoas. Seu desejo imoderado de conhecer leva-as a consultar mestres reprovados. É fato de experiência: o mundo orienta invariavelmente seus adeptos para os detentores das ciências ocultas, persuadindo-os de que assim poderão penetrar os segredos do futuro e adquirir uma ciência capaz de bastar diante do temível mistério da vida após a morte. No Amor da Sabedoria Eterna, o Padre de Montfort advertia os cristãos contra essas ciências falsas e enganosas (n. 85-89). Se as manifestações que ele denunciava pareciam, em seu tempo, procedimentos já envelhecidos, a astúcia do mundo não mudou tanto assim. Ainda hoje, “quantas cartomantes, quantas adivinhas, quantos espíritas, quantos especuladores e prometedores de toda sorte de coisas ocultas, ou de felicidade e de vida fácil! Quantas superstições são a realidade de uma multidão de pessoas que se vangloriam ainda de serem cristãs! Ninguém negará que o dinheiro que ali perdem, o tempo que ali passam e sua fé, que elas abalam, sejam fatos cotidianos.” Montfort concluía que se dedicar a tais ciências é fazer injúria a Jesus Cristo, a Sabedoria encarnada, em quem estão todos os tesouros da Sabedoria e da Ciência de Deus. ----- Por fim, no que concerne às ciências verdadeiras, humanas ou divinas, é preciso proteger nosso espírito de um triplo perigo: o de não fazer convergir todo raio de sol rumo à Luz eterna, objeto de nossa felicidade; o de querer escrutar com excesso os segredos da graça, que ultrapassam o alcance de nossa inteligência; o de querer ajuntar conhecimentos sem nenhum desejo de apostolado. Curiosidade perecível; curiosidade presunçosa e temerária; curiosidade que se transforma em egoísmo. – Toda ciência que não eleva nossa alma às realidades imortais é uma ciência caduca. Conhecer Jesus Cristo, autor da graça, é a vida eterna, é simplesmente a vida, pois não há para nós vida verdadeira diferente da do Espírito do Cristo em nós. Importa, pois, sobrenaturalizar nossos estudos, orientá-los sempre à verdade divina que é o Cristo. Então, nossa ciência, mesmo profana, desabrochará na luz, em vez de ser somente o fruto efêmero de uma atividade natural. – Quanto à própria verdade divina, tragamo-la para ser contemplada pelo olhar humilde dos corações simples e retos a quem Deus se revela. Não busquemos o que nos ultrapassa. Saibamos nos contentar e considerar os limites destinados ao nosso exílio. “O que quer sondar a majestade será oprimido pela sua glória” (Prov 25, 27). A história eclesiástica está repleta de quedas de espíritos sábios, desmedidamente curiosos. “Quantos encontraram sua condenação na meditação excessiva dos segredos da predestinação e da graça!” (Bossuet.) O mistério da predestinação e da reprovação é impenetrável; não podemos senão balbuciar alguma explicação sobre ele. Sejamos, pois, sóbrios e moderados no estudo dessas questões reveladas, como São Paulo nos exorta, recomendando a ciência e a sabedoria: Non plus sapere quam oportet sapere, sed sapere ad sobrietatem (Rom 12, 3). “Hoje, creiamos simplesmente; amanhã, os véus cairão, a grande visão surgirá, e o mistério terá desaparecido para sempre.” – Por fim, protejamo-nos contra o vício de recolher e ajuntar conhecimentos, mesmo sobrenaturais, unicamente para si, para própria satisfação, como um tesouro improdutivo — seria a avareza do espírito. Deus não nos deu o gosto e a capacidade de conhecer, de estudar, somente para nosso deleite pessoal. A inteligência, como o dinheiro, só serve com a condição de ser utilizada no interesse do próximo. Nossas faculdades não nos pertencem; foram-nos emprestadas por Deus como um depósito para ser multiplicado. O conhecimento da verdade, sobretudo da revelada, confere a quem o possui o dever de disseminá-lo. Que nossa ciência desabroche em desejo de apostolado. Assim nos libertaremos, com o auxílio da Santíssima Virgem, de toda curiosidade perigosa. III. Para terminar de nos desviar para sempre desse espírito do mundo, sob seu duplo aspecto — de avareza e de curiosidade —, percebamos, agora, que ele vem diretamente de Satanás, o adversário de Deus e inimigo de nossas almas. Sobre esse ponto, em parte alguma sua tática de corruptor se mostra tão descoberta como na tentação de nossos primeiros pais no paraíso terrestre e na tentação do novo Adão no deserto da Judeia. No paraíso terrestre, nossos primeiros pais tinham tudo em abundância. Não havia necessidade alguma de tocar o fruto proibido por Deus. Por isso, o diabo não lhes propôs um acréscimo de riquezas ou de bem-estar, mas visou à inteligência. Diante dos olhos do espírito deles, abriu uma curiosidade como que infinita, prometendo a posse de uma ciência capaz de lhes revelar os segredos do governo de Deus: “Não, vós não morrereis comendo do fruto desta árvore. Deus sabe, ao contrário, que no dia em que dele comerdes, vossos olhos serão abertos.” Aperientur oculi vestri. Vossos olhos serão abertos, ou seja, vosso espírito se abrirá a uma ciência superior, até então desconhecida. As luzes que possuís são nada diante daquelas que a virtude oculta desse fruto ainda vos esconde. Por essa ciência, sereis esclarecidos sobre tudo o que pode vos tornar felizes ou infelizes. Penetrareis, por vós mesmos, no conhecimento misterioso e reservado do bem e do mal, do qual Deus parece ciumento. E eis a terrível cobiça despertada em seu espírito. Adão e Eva se deixaram levar por ela. No deserto da Judeia, a situação era inversa. Durante seu jejum de quarenta dias, Jesus vivia na escassez mais absoluta. Vencido na tentação da fome, o demônio propõe em seguida ao Salvador a sedução das riquezas. Segundo São Lucas (4, 5-8), transportou-o a uma montanha muito elevada, de onde lhe mostrou, em um instante, todos os reinos do universo com sua magnificência e seus tesouros: “Te darei todos esses bens, te estabelecerei como dono de toda essa opulência, se, caindo aos meus pés, tu te prostrares diante de mim!” Com uma palavra de mandamento, Jesus rejeita o tentador, cuja tática era a mesma do paraíso terrestre. Seja atacando os olhos do espírito, seja os do corpo, o objetivo do demônio será sempre o de atrair os humanos a uma felicidade mentirosa, por meio da promessa de bens que nos desviam de Deus e nos lançam aos seus pés. ----- Assim ele infundiu no mundo esse espírito de posse, justamente denominado pelo apóstolo São João como concupiscência dos olhos: dos olhos que querem se alimentar da riqueza por si mesma, ou dos olhos que querem se abrir sobre o conhecimento do pecado. Os olhos se abrem então, com efeito, mas é “para ver sua desgraça e uma desordem em si mesmo, que não se teria visto sem isso” (Bossuet). Quanto aos olhos avaros ou cobiçosos, seu miserável deleite será passageiro. Ó Maria, visto que a perversidade e a mentira do mundo nos aparecem cada vez mais claramente, não permitais que nos deixemos enganar por ela um só dia. Que vossos encantos, vossos atrativos, vossas virtudes, vossos exemplos nos cativem e nos retenham nos momentos de tentação. Atraí-nos a vós. Ter-vos, possuir-vos, não é ter e possuir todos os bens? Não sois o tesouro de Deus, e, pois, também o nosso? “Oh! – exclamava o Pe. de Montfort, que confiança e que consolação para uma alma que pode dizer que o tesouro de Deus, onde ele pôs tudo o que tem de mais precioso, é também o seu! Ipsa est thesaurus Domini. Ela é, diz um santo, o tesouro do Senhor.” (V. D., n. 216.) E essa é a riqueza que nossa Doação total nos assegura. ORAÇÕES Veni, Creátor Spíritus (Vinde, Espírito Criador) (Latim) Veni, Creátor Spíritus, Mentes tuórum visita, Imple supérna gratia, Quæ tu creásti péctora. Qui diceris Paráclitus, Altíssimi donum Dei, Fons vivus, ignis, charitas Et spiritális únctio. Tu septiformis múnere, Dígitus patérnæ déxteræ Tu rite promissum Patris, Sermone ditans gúttura. Accénde lumen sénsibus: Infúnde amórem córdibus; Infírma nostri córporis, Virtúte firmans pérpeti. Hostem repéllas longius, Pacémque donas prótinus: Duc sic te præeúnte, nostrum Vítemus omne nóxium. Per te sciámus da Patrem, Noscámus atque Fílium: Te utriúsque Spíritum Credámus omni témpore. Deo Patri sit glória, Et Fílio, qui a mórtuis Surréxit, ac Paráclito, In sæculórum sǽcula. Amen. ℣. Emítte Spíritum tuum, et creabúntur. ℟. Et renovábis fáciem terrae. Deus qui corda fidélium Sancti Spíritus illustratióne docuísti: da nobis in eódem Spíritu recta sápere; et de eius semper consolatióne gaudére. Per Christum dominum nostrum. Amen. (Vernáculo) Vinde, Espírito Criador, a nossa alma visitai e enchei os corações com vossos dons celestiais. Vós sois chamado o Intercessor, de Deus excelso dom sem par, a fonte viva, o fogo, o amor, a unção divina e salutar. Sois o doador dos sete dons e sois poder na mão do Pai, por Ele prometido a nós, por nós seus feitos proclamai. A nossa mente iluminai, os corações enchei de amor, nossa fraqueza encorajai, qual força eterna e protetor. Nosso inimigo repeli e concedei-nos vossa paz; se pela graça nos guiais, o mal deixamos para trás. Ao Pai e ao Filho Salvador, por Vós possamos conhecer; que procedeis do Seu amor fazei-nos sempre firmes crer. Amém! ℣. Enviai o Vosso Espírito. ℟. E renovareis a face da terra. Ó Deus, que instruístes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, fazei que apreciemos retamente todas as coisas segundo o mesmo Espírito e gozemos sempre da sua consolação. Por Cristo, Senhor Nosso. Amém. Ave maris stella (Ave, do mar Estrela) (Latim) 1. Ave maris stella, Dei Mater alma, Atque semper Virgo, Felix cæli porta. 2. Sumens illud Ave Gabrielis ore, Funda nos in pace, Mutans Hevæ nomen. 3. Solve vincla reis, Profer lumen cæcis, Mala mostra pelle, Bona cuncta posce. 4. Monstra te esse matrem, Sumat per te preces, Qui pro nobis natus Tulit esse tuus. 5. Virgo singularis, Inter omnes mitis, Nos, culpis solutos, Mites fac et castos. 6. Vitam præsta puram Iter para tutum, Ut, videntes Jesum, Semper collætemur. 7. Sit laus Deo Patri, Summo Christo decus, Spiritui Sancto, Tribus honor unus. Amen. (Vernáculo) 1. Ave, do mar Estrela De Deus mãe bela, Sempre virgem, da morada Celeste Feliz entrada. 2. Ó tu que ouviste da boca Do anjo a saudação; Dá-nos a paz e quietação; E o nome da Eva troca. 3. As prisões aos réus desata. E a nós cegos alumia; De tudo que nos maltrata Nos livra, o bem nos granjeia. 4. Ostenta que és mãe, fazendo Que os rogos do povo seu Ouça aquele que, nascendo Por nós, quis ser filho teu. 5. Ó virgem especiosa, Toda cheia de ternura, Extintos nossos pecados Dá-nos pureza e brandura, 6. Dá-nos uma vida pura, Põe-nos em via segura, Para que a Jesus gozemos, E sempre nos alegremos. 7. A Deus Pai veneremos: A Jesus Cristo também: E ao Espírito Santo; demos Aos três um louvor. Amém. |
Dia 4: Jesus Cristo e seu Espírito de desapegoAo espírito de posse dos mundanos, sejamos felizes por opor o espírito de desapego do Salvador. Que força para nossas almas cristãs! E também que segurança! Estamos assegurados de avançar no reto caminho, seguindo o Mestre em quem não há engano.Como precedentemente, em nossa meditação do segundo dia, consideraremos: • o exemplo que Jesus nos dá, • e os ensinamentos de seu Evangelho. Roguemos à Santa Virgem que coloque em nosso coração os sentimentos de admiração, os ímpetos de amor que ela experimentava, neste mundo, ao ver e ao escutar seu divino Filho. I. Aquele que, havia longos séculos, a humanidade inteira esperava como seu Libertador da tirania de Satanás, quis dar desde seu nascimento o EXEMPLO de um sublime desapego diante dos bens deste mundo. Rei do Céu e da terra, poderia ter vindo em meio aos esplendores de um palácio. Preferiu a pobreza de um estábulo. É o sinal que os anjos dão aos pastores dos campos de Belém: Nasceu-vos um Salvador… Encontrareis um menino envolto em panos e deitado numa manjedoura (Lc 2, 11-12). Nem mesmo a Virgem Maria havia sonhado tal vinda de seu Filho entre nós. Esperava recebê-lo em sua casa de Nazaré, morada pobre, sem dúvida, mas onde haveria um quarto fechado, a tranquilidade de um lar, a intimidade familiar, a facilidade de cuidados ao recém-nascido. E eis que, obrigada pelas circunstâncias, vê-o nascer longe dessa casa, numa gruta aberta a todos os ventos, em plena noite de inverno. Entrando imediatamente, porém, na inteligência desse mistério, adorou a vontade de seu divino Filho. Compreendeu que, encarnando-se por todos os homens, ele devia servir de exemplo aos mais abandonados e deserdados. Aqueles que a miséria afligir, por consequência de faltas, injustiças ou violências, poderão olhar para o estábulo de Belém e dizer-se: Ele, o Soberano Mestre, poderia ter escolhido outra coisa como lugar de nascimento; se não o fez, foi para que os infelizes encontrassem, em sua lembrança sempre viva, a força para resistir à provação que oprime. E a Virgem pensava também que os outros — os que a desgraça não atinge — seriam igualmente atraídos à manjedoura do Salvador, para ali recolher uma primeira lição de desapego em face dos bens de que gozam. Visto que Aquele que possui tudo não quis, desde seu nascimento, tirar proveito das vantagens que a riqueza obtém, por que os que possuem alguma coisa apegariam a ela seu coração? Com a Virgem Maria, compreendamos e apreciemos o valor dessa graça que nos oferece Jesus ao nascer. ----- Se continuamos a observar o divino Modelo, seja durante os meses de seu exílio no Egito, seja, sobretudo, durante os anos de Nazaré, encontramo-lo às voltas com as mesmas dificuldades de existência. Os de sua vizinhança, na Galileia, que o conhecem e o observam, prestam-lhe serviços ou lhe pedem trabalho, e todos o consideram como pertencente, de fato, a uma família de pobres. Não de indigentes ou miseráveis — pois a miséria não é uma qualidade —, mas de pobres trabalhadores, honestos e dignos, que asseguram para si recursos muito modestos, suficientes para cada dia, como fruto de seu incessante e muitas vezes penoso trabalho. Essa sujeição a um trabalho manual cotidiano, esse desejado e amado distanciamento da riqueza, essa ausência de conforto e bem-estar temporal — não é o que aparecia, então, em primeiro plano nos dias de Jesus? Seus compatriotas, sem perceber os esplendores espirituais dessa existência tão comum, constatam e testemunham que esse jovem é o filho de um carpinteiro de vilarejo, e carpinteiro ele mesmo (Mc 6, 3), um simples marceneiro que deve labutar o dia todo. Constatação benéfica para nós, que já não ignoramos o porquê de tal pobreza voluntária. ----- Durante sua vida pública, Jesus não terá sequer uma habitação para si. “E, deixando Nazaré, foi habitar em Cafarnaum (cidade) marítima” (Mt 4, 13). É ali que seus discípulos exercem seu ofício de pescadores. Uma de suas casas – a de Simão Pedro, acredita-se – será sua morada emprestada. Uma morada sem beleza, desprovida de conforto, em um bairro populoso da cidade, nas vizinhanças do porto. A mobília é rudimentar. O chão, de terra batida. Uma casa térrea, com um teto tão baixo e frágil que foi facilmente descoberto para fazer passar um paralítico sobre seu catre (Mc 2, 4). Assim reaparece, nessa instalação de humildes trabalhadores, o espírito de desapego que encontramos em todas as etapas da vida do Salvador: um refúgio de pastores em Belém, uma tenda de artesão em Nazaré, e agora, à beira do lago, um casebre de barqueiros. Nele permaneceu durante os dois anos de suas viagens apostólicas pela Galileia. Quando deixa essa província rumo à Judeia, nenhuma morada fixa se oferece mais. Ele e seus apóstolos não saberão pela manhã onde dormirão à noite. E nem sempre estarão garantidos, mesmo ao cair da noite. Ao atravessar o vilarejo de Samaria, as casas recusam, uma após outra, abrir-se diante deles. Por isso, quando um escriba veio pedir para segui-lo, sem ter medido antes que privações o aguardavam, Jesus respondeu: “As raposas têm covis, e as aves do céu têm ninhos, porém o Filho do homem (menos rico do que elas) não tem onde reclinar a cabeça” (Lc 9, 57-58). Era verdade, literalmente. Jesus dirigia-se então a Jerusalém para a última Páscoa, a Páscoa sangrenta. Somente ali – após a acolhida de uma noite na Betânia – ele terá onde repousar a cabeça: sobre o madeiro da Cruz. Assim, do nascimento à morte, que exemplo de progressivo desapego nos dá ele em sua Pessoa! Ó Maria, que seguistes as etapas desse desapego, fazei que conservemos como vós os olhos fixos sobre o divino Modelo. Visto que ele desejou – sendo o Rei do Céu e da terra – contentar-se com tão pouco durante os anos de sua passagem entre nós, ensinai-nos, a seu exemplo, a usar sempre com moderação os bens temporais colocados por sua Providência à nossa disposição. Então, mais desapegados e desembaraçados, avançaremos com um coração leve e passos rápidos rumo à posse dos bens imperecíveis. II. Provaremos melhor também dos ENSINAMENTOS que Jesus nos deixou ao longo das páginas de seu Evangelho. O sermão da montanha começa exaltando a felicidade dos que carregam dentro de si uma alma de pobreza: Beati pauperes spiritu (Mt 5, 3). Bem-aventurados os pobres de espírito. Em primeiro plano, os pequenos e humildes, os deserdados deste mundo, que aceitam sua condição modesta com submissão e abandono à Providência. Depois deles, os favorecidos pelos bens da fortuna, mas que dão valor unicamente aos bens da alma. Uns e outros se reúnem como amantes dessa pobreza que é uma virtude, muito mais que uma situação de fato: a pobreza interior, o desapego das riquezas, o espírito de pobreza. As evidências indicam que Nosso Senhor não quis beatificar somente a pobreza material. Aquele que é pobre, mas inveja a riqueza, a deseja ardentemente, nela põe sua felicidade e se julga infeliz por não a possuir, não é pobre no sentido de Jesus e não pode ser chamado por ele de bem-aventurado. Ai de mim! Quantos pobres invejosos, revoltados, ladrões, homicidas! Jesus não condenou a riqueza em si mesma. A fortuna propriamente dita não é coisa condenável, visto que pode comportar o essencial da pobreza espiritual. Os Magos, que vieram à manjedoura, eram ricos. José de Arimateia é apresentado no Evangelho como um rico personagem de Jerusalém, membro do Sinédrio, homem justo e bom. Puseram seus bens a serviço do Cristo. Permaneciam pobres interiormente, por suas disposições. Detinham a promessa do Reino dos Céus. Não é menos verdade que, ao proclamar sua primeira Bem-aventurança, o divino Mestre quis declarar privilegiados os que são pobres em espírito e de fato. A esses ele dá suas preferências. Ele mesmo, como vimos, se colocou do lado deles desde seu nascimento. E desde o início de sua vida pública, esteve com eles. Mais do que isso, ele anuncia sua atitude em relação a eles como sinal de sua missão, conforme a predição de Isaías: “O Espírito do Senhor repousou sobre mim; pelo que me ungiu para evangelizar os pobres.” (Lc 4, 18-19.) Regozijemo-nos, pois, se somos desprovidos ou pouco favorecidos com os bens da fortuna. Razão a mais para nos desapegarmos desse pouco e aceitarmos cristãmente os sofrimentos de nossa condição. Se, ao contrário, possuímos alguns bens na terra, não busquemos neles nossa satisfação; vigiemos para fazer uso deles com uma alma de pobre. Assim nos conformaremos ao espírito de Jesus Cristo. ----- Na sequência de seu ensinamento, se nosso divino Salvador nunca condenou a riqueza, insistiu muito, porém, sobre a dificuldade que os ricos têm de conquistar a salvação. Estes estão mais propensos a esquecer Deus e a vida vindoura, devido à facilidade de encontrar neste mundo todas as satisfações que desejam. Por isso, Nosso Senhor recomenda aos seus discípulos que se previnam contra a paixão das riquezas: “Guardai-vos e acautelai-vos de toda a avareza, porque a vida de cada um, ainda que esteja na abundância, não depende dos bens que possui.” (Lc 12, 15.) Nossa vida se apoia em Deus; se nela há abundância, é ele quem a dá, é ele também quem a retira. Reconheçamos nossa dependência diante dele. O perigo das riquezas vem precisamente do fato de que elas fazem esquecer a fonte de todos os bens e o único tesouro de uma criatura inteligente. Não queria concordar com isso aquele rico da Palestina, cujos campos haviam produzido muito e que, não tendo mais lugar para guardar suas colheitas, já planejava construir novos celeiros. Apesar de suas múltiplas preocupações, relatava sua alegria a si mesmo: “Ó alma, tens muitos bens em depósito para largos anos; descansa, come, bebe, regala-te.” Mas a morte vem de repente arruinar esses belos cálculos, nos quais nem a menor parte era dedicada a Deus e aos pobres: “Néscio, esta noite te virão demandar a tua alma; e as coisas que juntaste, para quem serão?…” (Lc 12.) ----- Como se essa lição não bastasse, Jesus acrescentará a ela a terrível parábola do mau rico. Muitos Padres da Igreja acreditaram tratar-se de uma história real. O ensinamento permanece o mesmo: esse homem foi condenado às chamas inextinguíveis por ter guardado seu ouro com egoísmo e por ter negado pão a um mendigo: “Lembra-te que recebestes os bens em tua vida, e Lázaro, ao contrário, males; por isso ele é agora consolado e tu és atormentado.” (Lc 16.) Não se observou que os únicos condenados de que fala o Evangelho foram condenados por não saberem escapar da tirania do dinheiro? No próprio colégio apostólico, o desgraçado Judas caminhará para sua perdição, preferindo sua bolsa ao amor do Cristo e das almas. Prova trágica de que a conciliação entre esses dois amores é impossível: “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou há de afeiçoar-se a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e à riqueza.” (Mt 6, 24.) “Bom Mestre, que devo fazer para obter a vida eterna?” – perguntou um dia a Jesus um jovem de alma bem orientada. Ele havia observado todos os mandamentos. Sua fidelidade e inocência estavam de acordo com a resposta do divino Mestre. E, no entanto, faltava-lhe algo: no íntimo, sentia subir um chamado à vida mais perfeita. Por isso, Jesus olhou-o com amor e lhe disse: “Ainda te falta uma coisa: Vende tudo quanto tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu; depois vem e segue-me.” Foi então que o semblante do jovem se entristeceu, pois possuía grandes bens. Negou-se a comprar o tesouro dos Céus ao preço de seu sacrifício… Quantas almas bem-nascidas passaram, assim, ao largo da perfeição, da verdadeira felicidade, unicamente por possuírem riquezas materiais. Repitamo-lo: ser rico não é um pecado; mas o apego exagerado à riqueza pode fazer reprovar toda uma vida. Enquanto o jovem se afastava com sua melancolia, Jesus também se entristeceu e, percorrendo com o olhar o círculo de seus discípulos, disse-lhes: “Quanto é difícil que aqueles que têm riquezas entrem no reino de Deus! É mais fácil passar um camelo pelo orifício de uma agulha.” (Lc 18.) Sem dúvida, trata-se aqui de um provérbio oriental; importa, contudo, considerar que ele exprime com clareza o pensamento do divino Mestre: há uma impossibilidade moral — não apenas de perfeição, mas também de salvação — para o rico prisioneiro e vítima da fortuna. Somente o ensinamento de Cristo, somente a graça de Cristo poderão operar esse milagre: desligar um coração de seus bens, mesmo sem tirá-los dele. Bem-aventurados todos os que carregam em si mesmos essa alma de pobreza. ----- Dediquemo-nos, pois, a sempre preservar nosso coração muito desapegado, mesmo do pouco que possamos possuir, no abandono à Providência do Pai dos Céus. E se, às vezes, estivermos tentados a lançar um olhar invejoso sobre aqueles a quem nada parece faltar, reconduzamos em seguida nossa alma à presença do exemplo e dos ensinamentos de Jesus Cristo. Ele, que era infinitamente rico, “se fez pobre por vós” (2Cor 8, 9); e prometeu aos seus uma felicidade e riquezas “onde não chega o ladrão, nem a traça rói” (Lc 12, 33). Até a morte, essa grande espoliadora que leva tudo, será impotente para nos despojar de nossos bens eternos. É por isso que encontramos lá em cima, entre as mãos de nossa divina Mãe e Rainha, o mérito de nossa pobreza evangélica transformado em glória; e, de modo semelhante, todos os outros méritos que lhe tivermos confiado em virtude de nossa Consagração. Sem contar que tal desapego até de nossos bens espirituais não pode senão nos fazer penetrar cada dia mais profundamente na alegria da primeira Beatitude proclamada sobre a montanha. Saboreemos nossa alegria na companhia de São Luís Maria de Montfort, esse pobre entre os pobres, cuja alma cheia de cânticos entoava ainda sobre o leito de agonia: Vamos, caros amigos, Vamos ao paraíso: O que quer que se ganhe aqui, Mais vale o paraíso. O paraíso, a posse do reino dos Céus, era a recompensa de todas as suas bem-aventuradas renúncias aos bens deste mundo. Será um dia a nossa, se deixarmos Maria nos encher cada vez mais do espírito de desapego de seu divino Filho. ORAÇÕES Veni, Creátor Spíritus (Vinde, Espírito Criador) (Latim) Veni, Creátor Spíritus, Mentes tuórum visita, Imple supérna gratia, Quæ tu creásti péctora. Qui diceris Paráclitus, Altíssimi donum Dei, Fons vivus, ignis, charitas Et spiritális únctio. Tu septiformis múnere, Dígitus patérnæ déxteræ Tu rite promissum Patris, Sermone ditans gúttura. Accénde lumen sénsibus: Infúnde amórem córdibus; Infírma nostri córporis, Virtúte firmans pérpeti. Hostem repéllas longius, Pacémque donas prótinus: Duc sic te præeúnte, nostrum Vítemus omne nóxium. Per te sciámus da Patrem, Noscámus atque Fílium: Te utriúsque Spíritum Credámus omni témpore. Deo Patri sit glória, Et Fílio, qui a mórtuis Surréxit, ac Paráclito, In sæculórum sǽcula. Amen. ℣. Emítte Spíritum tuum, et creabúntur. ℟. Et renovábis fáciem terrae. Deus qui corda fidélium Sancti Spíritus illustratióne docuísti: da nobis in eódem Spíritu recta sápere; et de eius semper consolatióne gaudére. Per Christum dominum nostrum. Amen. (Vernáculo) Vinde, Espírito Criador, a nossa alma visitai e enchei os corações com vossos dons celestiais. Vós sois chamado o Intercessor, de Deus excelso dom sem par, a fonte viva, o fogo, o amor, a unção divina e salutar. Sois o doador dos sete dons e sois poder na mão do Pai, por Ele prometido a nós, por nós seus feitos proclamai. A nossa mente iluminai, os corações enchei de amor, nossa fraqueza encorajai, qual força eterna e protetor. Nosso inimigo repeli e concedei-nos vossa paz; se pela graça nos guiais, o mal deixamos para trás. Ao Pai e ao Filho Salvador, por Vós possamos conhecer; que procedeis do Seu amor fazei-nos sempre firmes crer. Amém! ℣. Enviai o Vosso Espírito. ℟. E renovareis a face da terra. Ó Deus, que instruístes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, fazei que apreciemos retamente todas as coisas segundo o mesmo Espírito e gozemos sempre da sua consolação. Por Cristo, Senhor Nosso. Amém. Ave maris stella (Ave, do mar Estrela) (Latim) 1. Ave maris stella, Dei Mater alma, Atque semper Virgo, Felix cæli porta. 2. Sumens illud Ave Gabrielis ore, Funda nos in pace, Mutans Hevæ nomen. 3. Solve vincla reis, Profer lumen cæcis, Mala mostra pelle, Bona cuncta posce. 4. Monstra te esse matrem, Sumat per te preces, Qui pro nobis natus Tulit esse tuus. 5. Virgo singularis, Inter omnes mitis, Nos, culpis solutos, Mites fac et castos. 6. Vitam præsta puram Iter para tutum, Ut, videntes Jesum, Semper collætemur. 7. Sit laus Deo Patri, Summo Christo decus, Spiritui Sancto, Tribus honor unus. Amen. (Vernáculo) 1. Ave, do mar Estrela De Deus mãe bela, Sempre virgem, da morada Celeste Feliz entrada. 2. Ó tu que ouviste da boca Do anjo a saudação; Dá-nos a paz e quietação; E o nome da Eva troca. 3. As prisões aos réus desata. E a nós cegos alumia; De tudo que nos maltrata Nos livra, o bem nos granjeia. 4. Ostenta que és mãe, fazendo Que os rogos do povo seu Ouça aquele que, nascendo Por nós, quis ser filho teu. 5. Ó virgem especiosa, Toda cheia de ternura, Extintos nossos pecados Dá-nos pureza e brandura, 6. Dá-nos uma vida pura, Põe-nos em via segura, Para que a Jesus gozemos, E sempre nos alegremos. 7. A Deus Pai veneremos: A Jesus Cristo também: E ao Espírito Santo; demos Aos três um louvor. Amém. |
Dia 5: O mundo e seu espírito de soberbaA terceira manifestação do espírito do mundo é chamada por São João de “soberba da vida” — superbia vitae. Ela é essa depravação que leva seres criados, dotados de inteligência, a adorarem a si mesmos, rejeitando deliberadamente sua dependência em relação a Deus.Quando tal espírito molda uma alma humana, como moldou outrora Lúcifer, que se tornou Satanás, tem-se a marca da reprovação. Pois nada é mais pernicioso do que se opor a Deus, querendo tratá-lo como igual. Consideraremos primeiro, na revolta de Lúcifer, A ORIGEM manifesta dessa aberração. Veremos, em seguida, por meio de que TÁTICA Satanás se esforça para arrastar os homens após si. Ó Maria, humilde escrava do Senhor, ajudai-nos a extrair das considerações que seguirão um respeito cada vez mais profundo pela soberana autoridade de Deus. I. Deus tinha acabado de criar os anjos. Havia-os feito próximos de si, puros espíritos maravilhosamente belos: inteligência plena de ciência, vontade plena de força, liberdade sem entraves, poder quase sem limites sobre o mundo exterior e, como coroamento dessas perfeições, a visão radiosa da imortalidade. Assim eram os anjos em seu estado de natureza. A essas magnificências, Deus havia acrescentado os esplendores de sua graça. Esses puros espíritos brilhavam de inocência e de felicidade. A vida divina impregnava sua substância. As luzes da fé, os ardores da caridade, o desabrochar de todas as virtudes projetavam sobre a retidão de suas faculdades uma sabedoria e uma harmonia incomparáveis. Mas essa graça não era ainda a glória. Para que se transformasse nela, era necessária a cooperação de sua livre vontade à moção de Deus, que os levava a se elevarem rumo à sua felicidade nele. Era preciso uma homenagem de sujeição e dependência diante da coroa apresentada ao seu amor. Estabelecidos no estado de justiça, mas não confirmados no bem, os anjos deviam merecer a beatitude eterna. Esse foi o instante da provação. Qual era a obediência que Deus lhes pedia? Seria entoar um cântico à sua glória ou, talvez, inclinar-se diante da revelação do mistério de seu Verbo que devia um dia se encarnar? Pouco importa o motivo. O essencial era adorar. O que Lúcifer se recusou a fazer. Ele, o primeiro dos Serafins, marcado de modo excelente com o selo da semelhança divina: Tu signaculum similitudinis; cheio de sabedoria e perfeito na beleza: plenus sapientia et perfectus decore (Ez 28, 12), esqueceu o nada de sua origem e se fixou na contemplação de sua própria grandeza. Longe de considerar a vontade divina como regra suprema à qual deve se conformar toda liberdade criada, saiu de sua posição de ser dependente para buscar a felicidade nos recursos de sua natureza finita, fora dos limites determinados por seu soberano Senhor. O orgulho, em sua intensidade máxima, hipnotizou-o na consideração de si mesmo. Inebriado por seus esplendores de empréstimo, “ele deixou, diz Bossuet, essa primeira Bondade que não era somente o apoio necessário de sua felicidade, mas também o único fundamento de seu ser”. Non serviam, ousou proferir ao Eterno esse espírito soberbo: não me curvarei, não adorarei; não me reconhecerei escravo de Deus. Rejeito sua graça e sua glória; sou para mim mesmo meu fim e minha felicidade: a perfeição de minha natureza basta à minha felicidade. E o grito de revolta ecoou entre as hierarquias celestiais: um terço dos anjos, segundo uma piedosa interpretação, seguiu em seu pecado Lúcifer, agora Satanás, o adversário de Deus. ---- Reflitamos que dessa palavra proveio o espírito de soberba do mundo. Tudo o que, nesta terra, resiste a Deus, à sua luz, à sua verdade, à sua graça, ao seu amor, à sua beatitude, repete ainda o Non serviam. Todo o que pretende poder se bastar sob o ponto de vista da felicidade, sem nada dever a Deus, por horror da dependência em relação a esse Mestre supremo, repete ainda o Non serviam. Todo o que se coloca como obstáculo aos favores do Cristo, todo o que se revolta contra o livre exercício que ele faz de sua Soberania sobre seus membros resgatados, repete ainda o Non serviam. Todo o que nega obediência à Igreja e à autoridade de seu Chefe; tudo o que se denomina espírito de independência, ou de insubmissão, ou de naturalismo e de laicismo, conserva também como palavra de ordem o Non serviam de Lúcifer: não serei o escravo de Deus. O mundo, maldito por Nosso Senhor, está inteiramente imbuído desse espírito de Satanás. É nele que bebe sua seiva, que toma sua forma mais característica, sua forma definitiva. Se ele começa pelo engodo dos prazeres carnais ou pela sedução das riquezas, é para redundar na recusa da graça e da felicidade de Deus. Entretanto, Deus será para sempre o Mestre incontestável. Se não queremos depender dele livremente e por amor, será preciso, ainda assim, depender dele por obrigação e por ódio. Essa é, há milhares de séculos, a sorte de Satanás, o escravo rebelde: ele está condenado sem esperança. ----- Em contrapartida ao drama angelical, amemos contemplar a amorosa submissão de Maria, a primeira e a mais privilegiada de todas as criaturas humanas. Agraciada ela também, e desde o primeiro instante de sua concepção imaculada, com todos os dons da natureza e da graça, ela não deixara de responder, com o pleno ímpeto de sua vontade, à aproximação divina. Até que, na manhã da Anunciação, ela atingiu um grau de graça santificante superior ao que podemos imaginar. Foi então que Deus lhe propôs — não a entrada na glória eterna — mas uma graça eminente, de ordem transcendente: a de se tornar a Mãe de seu Verbo, segunda Pessoa da Trindade. Diante da revelação de tamanha grandeza, longe de pensar em si mesma e se agradar com isso, a Virgem se anula em sua humildade, se rebaixa diante de Deus, reconhece seus direitos, adora seus desígnios de misericórdia. Ela pensa nas almas, em todas as almas que serão resgatadas, e dá seu consentimento: Ecce ancilla Domini, Sou a escrava do Senhor Soberano que é Deus. E ela quis permanecer a escrava de Deus no instante mesmo em que se tornou sua Mãe, quando se vê elevada bem acima das hierarquias angelicais. O que mostra bem que ela não considera a honra que lhe é dada. Olha unicamente para Deus e para nossas almas. Esse contraste entre Lúcifer e Maria nos faz compreender melhor qual foi a aberração do primeiro dos Serafins, e qual é também, no presente, a loucura dos que preferem seguir esse revoltado. II. Pois, atormentado pelo ciúme, Satanás teve muito sucesso em arrastar os homens em seu orgulho e em sua queda. Não começou ele por atacar nossos primeiros pais no paraíso terrestre? Não provocou a desobediência deles, fazendo-lhes crer que eles seriam como deuses, os iguais de Deus, encontrando, pois, em si mesmos sua felicidade? Adão e Eva não tinham qualquer necessidade, nem mesmo qualquer desejo de provar o sabor do fruto proibido. Os frutos saborosos não lhes faltavam. A astúcia do demônio foi dirigir-se à inteligência deles pela falsa afirmação de que esse fruto continha uma ciência de certo modo divinizante. O que os fazia sair de sua condição para se elevarem à altura do próprio Deus. “Deus vos proibiu de tocar esse fruto para vos impedir de conhecer tudo o que ele conhece, e de ter como ele uma excelência divina…” E nossos primeiros pais beberam esse veneno mortal. “Levantou-se em seu coração uma certa atenção a si mesmos que não lhes era permitida, um amor por sua própria excelência; e de tudo isto um secreto prazer de provarem a si mesmos antes de provarem o fruto proibido, e de se agradarem com sua própria perfeição, que, até então, inocentes e simples, eles não haviam visto senão em Deus.” (Bossuet.) Sua desobediência foi, pois, uma desobediência de soberba. De modo traiçoeiro, Satanás lhes havia infundido sua malícia, seu espírito de insubordinação: libertar-se de seu Criador e Santificador, fazer de sua pessoa uma divindade. ----- É sempre nessa soberba que desemboca sua tática de tentador, qualquer que seja o meio de sedução que ele empregue. Mesmo em sua luta com o Cristo no deserto, ele não teve medo de praticar esse supremo ataque. São Lucas nos relata, com efeito, que depois das duas primeiras tentações, o demônio levou Jesus à Cidade santa e o colocou sobre o pináculo do templo, isto é, sobre a torre mais elevada do edifício, a que se projetava, a quarenta metros do chão, sobre todo o vale de Josafá. “Se és filho de Deus, lança-te daqui abaixo! Não há nenhum perigo. Não está escrito (no salmo 90) que Deus mandou aos seus anjos que te guardem… e que te sustenham em suas mãos, para não magoares o teu pé em nenhuma pedra?” Soprava-lhe uma ideia de presunção e de vanglória. Que presunção deixar o caminho onde o Senhor ordena andar, o caminho simples do dever de estado, para se precipitar nas temeridades e nas loucuras da vontade própria. Deus prometeu a assistência dos santos anjos guardiões somente àqueles que permanecem em seu lugar, nos caminhos dele: in viis tuis. Satanás, no texto que cita, suprimiu essas duas palavras essenciais. Vanglória e também vã ostentação de se oferecer aos olhares da multidão que enchia o recinto sagrado, por uma ação pomposa, um prodigioso lance teatral, uma espécie de publicidade estridente, que o faria ser aclamado imediatamente pela nação inteira como o mais glorioso de seus taumaturgos. Jesus teria, assim, assumido o papel de um Messias político e mundano, enquanto deve, ao contrário, salvar os homens da servidão do pecado por meio da humilhação, do sofrimento e da morte. Insidiosa tentação de soberba! Jesus resistiu, mas como o mundo, amigo da vã ostentação e de todas as temeridades, se deixa enganar por ela! ----- São Lucas acrescenta que o demônio, vencido, se afastou do Salvador, mas somente até outra ocasião (4, 13). Efetivamente, Satanás voltará a essa cidade de Jerusalém no momento da Paixão, que será sua hora, “a hora do Príncipe das trevas”. Então, ele se tornará de tal modo inspirador e senhor dos Pontífices da nação judia, que estes conseguirão fazer morrer Jesus, unicamente por ciúme de soberba. “Não queremos que este homem, que se diz ser o Filho de Deus, venha tomar nosso lugar e dominar sobre nós. Não nos curvaremos diante dele. Somos os chefes. A nós somente devem se dirigir as homenagens do povo. Que importam os milagres desse sedutor! Que importa a afirmação de sua divindade. Ele blasfema, quando se diz rei e filho de Deus. Ele merece a morte. Que nos desvencilhemos dele. Crucifiquemo-lo…” E eis, traduzida em linguagem humana, a orgulhosa revolta de Lúcifer. É ainda o Verbo encarnado que ele persegue com seu ódio invejoso e tenaz. Ele havia, outrora, arrastado após si um terço dos anjos. Arrasta agora, arrasta sempre em sua rebelião uma multidão de homens. E estes – que o seguem conscientemente – são mais culpados do que os que pecam por ignorância ou por fraqueza, porque atacam diretamente a Deus. A autoridade de Deus os ofusca, seus mandamentos e os de sua Igreja os revoltam. A majestosa Realeza do Cristo desperta sempre seu ciúme. Esse desprezo por Deus e por seu Cristo constitui o pecado do espírito e dá à soberba toda sua intensidade. Não há malícia maior. Por outro lado, esses seres orgulhosos, para quem Deus não importa, aspiram com veemência a dominar seus semelhantes. Seu triunfo brilha quando conseguem pôr tudo sob seus pés. Que jactância, então, e que exibição de sua superioridade! Somente a eles as homenagens e os aplausos do público. É preciso carregá-los em triunfo e aclamá-los, e que eles se manifestem como tendo usurpado o lugar de Deus. É o reino da soberba em seu apogeu. Em geral, esse reino dura pouco. Inebriados com sua própria glória, eles se lançam em intentos temerários, logo seguidos de quedas estrondosas. É então que o soberano Senhor, ultrajado, quebra o cetro desses ambiciosos, e, por um singular retorno da Providência, o opróbrio se torna definitivamente sua herança e seu castigo. De quantos exemplos famosos não fomos testemunhas nestes últimos tempos! ----- Tal é o triste desfecho dessa soberba da vida que constitui a base do espírito do mundo. Torna-se muito evidente, com isso, a impossibilidade para uma alma de iniciar a Consagração da santa escravidão enquanto estiver, de uma maneira ou de outra, sob a mordida desse veneno violento. Ó Maria, mantende nosso espírito atento contra toda tentação de desobediência a Deus e de contentamento em nós mesmos. Ajudai-nos a fugir de tudo o que pareça ostentação, jactância, vanglória, ambição, desejo de aparecer e de dominar. Sabemos que tudo isso não pode vir senão do demônio. Colocai em nós vossos sentimentos de humildade, vosso amor pela submissão e pela dependência, vosso soberano respeito pelos direitos de Deus, vosso constante cuidado em tudo reportar à sua glória, como testemunhastes em vosso cântico do Magnificat. Então, seremos felizes por nos reconhecer, seguindo-vos e ao vosso exemplo, os escravos do amor de Deus. Não há pertencimento mais nobre: é dele que se glorificam todos os justos que estão sobre a terra e todos os santos que estão no Céu. ORAÇÕES Veni, Creátor Spíritus (Vinde, Espírito Criador) (Latim) Veni, Creátor Spíritus, Mentes tuórum visita, Imple supérna gratia, Quæ tu creásti péctora. Qui diceris Paráclitus, Altíssimi donum Dei, Fons vivus, ignis, charitas Et spiritális únctio. Tu septiformis múnere, Dígitus patérnæ déxteræ Tu rite promissum Patris, Sermone ditans gúttura. Accénde lumen sénsibus: Infúnde amórem córdibus; Infírma nostri córporis, Virtúte firmans pérpeti. Hostem repéllas longius, Pacémque donas prótinus: Duc sic te præeúnte, nostrum Vítemus omne nóxium. Per te sciámus da Patrem, Noscámus atque Fílium: Te utriúsque Spíritum Credámus omni témpore. Deo Patri sit glória, Et Fílio, qui a mórtuis Surréxit, ac Paráclito, In sæculórum sǽcula. Amen. ℣. Emítte Spíritum tuum, et creabúntur. ℟. Et renovábis fáciem terrae. Deus qui corda fidélium Sancti Spíritus illustratióne docuísti: da nobis in eódem Spíritu recta sápere; et de eius semper consolatióne gaudére. Per Christum dominum nostrum. Amen. (Vernáculo) Vinde, Espírito Criador, a nossa alma visitai e enchei os corações com vossos dons celestiais. Vós sois chamado o Intercessor, de Deus excelso dom sem par, a fonte viva, o fogo, o amor, a unção divina e salutar. Sois o doador dos sete dons e sois poder na mão do Pai, por Ele prometido a nós, por nós seus feitos proclamai. A nossa mente iluminai, os corações enchei de amor, nossa fraqueza encorajai, qual força eterna e protetor. Nosso inimigo repeli e concedei-nos vossa paz; se pela graça nos guiais, o mal deixamos para trás. Ao Pai e ao Filho Salvador, por Vós possamos conhecer; que procedeis do Seu amor fazei-nos sempre firmes crer. Amém! ℣. Enviai o Vosso Espírito. ℟. E renovareis a face da terra. Ó Deus, que instruístes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, fazei que apreciemos retamente todas as coisas segundo o mesmo Espírito e gozemos sempre da sua consolação. Por Cristo, Senhor Nosso. Amém. Ave maris stella (Ave, do mar Estrela) (Latim) 1. Ave maris stella, Dei Mater alma, Atque semper Virgo, Felix cæli porta. 2. Sumens illud Ave Gabrielis ore, Funda nos in pace, Mutans Hevæ nomen. 3. Solve vincla reis, Profer lumen cæcis, Mala mostra pelle, Bona cuncta posce. 4. Monstra te esse matrem, Sumat per te preces, Qui pro nobis natus Tulit esse tuus. 5. Virgo singularis, Inter omnes mitis, Nos, culpis solutos, Mites fac et castos. 6. Vitam præsta puram Iter para tutum, Ut, videntes Jesum, Semper collætemur. 7. Sit laus Deo Patri, Summo Christo decus, Spiritui Sancto, Tribus honor unus. Amen. (Vernáculo) 1. Ave, do mar Estrela De Deus mãe bela, Sempre virgem, da morada Celeste Feliz entrada. 2. Ó tu que ouviste da boca Do anjo a saudação; Dá-nos a paz e quietação; E o nome da Eva troca. 3. As prisões aos réus desata. E a nós cegos alumia; De tudo que nos maltrata Nos livra, o bem nos granjeia. 4. Ostenta que és mãe, fazendo Que os rogos do povo seu Ouça aquele que, nascendo Por nós, quis ser filho teu. 5. Ó virgem especiosa, Toda cheia de ternura, Extintos nossos pecados Dá-nos pureza e brandura, 6. Dá-nos uma vida pura, Põe-nos em via segura, Para que a Jesus gozemos, E sempre nos alegremos. 7. A Deus Pai veneremos: A Jesus Cristo também: E ao Espírito Santo; demos Aos três um louvor. Amém. |
Dia 6: Jesus Cristo e seu Espírito de humildadeSendo a soberba a característica de Satanás, o Príncipe do mundo, devemos esperar encontrar em Jesus Cristo um espírito de humildade que será também como sua nota dominante e constituirá a base de sua santidade.Lúcifer, simples criatura angélica, se agradara de sua excelência, que lhe fora emprestada, a ponto de querer se tornar igual a Deus. O Verbo encarnado, Filho de Deus e Deus ele mesmo, esquecerá, por assim dizer, sua infinita grandeza e se rebaixará a ponto de se fazer homem, nosso semelhante, no apagamento total de sua Personalidade divina. Consideraremos seu espírito de humildade: 1º face a Deus, seu Pai; 2º diante dos homens, seus irmãos. Ó Maria, que tivestes a felicidade de ser, neste mundo, a testemunha dessa humildade, ajudai-nos a impregnar com ela as capacidades de nossa alma, de maneira a poder edificar sobre esse sólido fundamento toda a nossa vida espiritual. I. Ninguém, mais do que o apóstolo São Paulo, mostrou-nos o quanto o Verbo encarnado, quando de sua encarnação, se tornou humilde ao extremo EM FACE DE SEU PAI. Desejando exortar à humildade seus caros cristãos de Filipos, na Macedônia, momentaneamente expostos a certas rivalidades de pessoas, escrevia-lhes: “Nada façais por espírito de partido ou por vanglória e por um esforço do ciúme. Mas, no apagamento de todo pensamento pessoal, olhai-vos como inferiores aos vossos irmãos, sempre preocupados, não com vossos interesses próprios, mas com o interesse e o bem dos outros. “Tende em vós os mesmos sentimentos, as mesmas disposições profundas que animavam o Cristo Jesus. Ele estava e permanece na condição de Deus, coeterno e igual a Deus; e, no entanto, não abraçou avidamente sua igualdade com Deus, mas espontaneamente se despojou de sua grandeza divina, que se tornara incômoda e quase importuna para a obra que ele vinha cumprir. Ele assumiu a condição de escravo, tornou-se semelhante aos homens, e, sob a vestimenta da carne, tornou-se como um de nós.” Semetipsum exinanivit, formam servi accipiens, in similitudinem hominum factus, et habitu inventus ut homo (Flp 2, 3-7.) Isto não é tudo. A lição de humildade do Verbo encarnado vai muito mais longe. Fazer-se escravo de natureza de seu Pai não lhe bastou, ele quis sobretudo se fazer seu escravo de amor. “Depois de se ter despojado de sua glória divina, depois de ter renunciado ao benefício de sua igualdade eterna com Deus, como se esse abandono primeiro não fosse ainda para ele senão um degrau rumo a um desinteresse mais profundo, uma etapa somente rumo a uma renúncia maior; depois de se ter tornado homem e um de nós, uma vez em posse dessa natureza criada que era para ele um meio de se humilhar e de sofrer; depois de ter despojado Deus, ele quis também despojar o homem. “Com a mesma tranquila espontaneidade, com uma adorável escolha pela humildade, ele se fez pequeno, se fez obediente até à morte; e como se fosse insaciável de humilhação, até à morte de cruz…” Humiliavit semetipsum, factus obediens usque ad mortem, mortem autem crucis. “Por que, então, meus caros filipenses, não vos humilhar? Por que não consentir em transigir sobre vossos direitos e a abandonar vossas miúdas exigências pessoais? Vede, aliás, o que o rebaixamento voluntário do Cristo fez-lhe merecer. A medida da humilhação buscada e amada foi a medida da grandeza que ele recebeu de seu Pai. “Com efeito, em troca de todos esses abandonos consentidos, Deus o elevou ao infinito, até à partilha de seu trono eterno. Deu-lhe um nome, uma grandeza, uma dignidade que superam tudo o que pode ser nomeado no mundo, a fim de que, segundo a palavra de Isaías (45, 24), ao nome de Jesus todo joelho se dobre no Céu, sobre a terra, no inferno, e que uma homenagem universal testemunhe que Jesus Cristo é Rei e Senhor para a glória de seu Pai.” Propter quod et Deus exaltavit illum, et donavit illi nomem quod est super omne nomen: ut in nomine Jesu omne genu flectatur, coelestium, terrestrium et infernorum, et omnis lingua confiteatur quia Dominus Jesus Christus in gloria est Dei Patris. (Flp 2, 9-11.) ---- Não parece, observa Dom Delatte, de quem emprestamos esse rico comentário, que a alma batizada possa resistir à eficácia de tal exemplo. Que contraste, que oposição com Lúcifer! Tanto o orgulhoso Serafim havia proferido seu Non serviam à face de Deus, tanto e mais ainda nosso humilde Salvador se proclama o escravo de amor de seu Pai: O Domine… ego servus tuus! Esta palavra se encontra no Salmo messiânico 115. Jesus a exala de seu coração como uma prece de gratidão para com seu Pai por tê-lo livrado, não dos sofrimentos excessivos que precederam sua morte, mas dos laços da própria morte. O Cristo devia morrer, visto que sua morte constituía o sacrifício de nossa redenção. Foi uma morte de obediência heroica, como acabamos de ver. Deus Pai o recompensa por isso imediatamente, ressuscitando-o. E Jesus agradece então seu Pai: Quid retribuam Domino?… O Domine, quia ego servus tuus, ego servus tuus et filius ancillae tuae, dirupisti vincula mea. “Que darei em retribuição ao Senhor?… Ah! Senhor, porque sou teu escravo, teu escravo por vontade amorosa, e o filho de tua serva, tu quebrastes as cadeias que a morte me havia imposto.” Jesus – notemo-lo bem – não se limita a reconhecer aqui sua dependência de natureza, que lhe é comum com todos os homens. Ele menciona, como único motivo de sua ressurreição, sua dependência de amor, que acentua ainda com uma maravilhosa repetição de palavras. Ele ofereceu a seu Pai uma vontade soberanamente humilde; uma vontade humana, feliz por poder adorá-lo, agradecê-lo, oferecer-lhe um sacrifício expiatório e súplicas de um valor infinito; uma vontade dependente até nos suplícios extremos e na morte violenta da cruz. Ele se mostrou verdadeiramente o escravo de amor de seu Pai na oblação sangrenta de si mesmo; e foi pelo mérito dessa obediência que seu Pai quebrou, em seu favor e em favor dos justos, as cadeias de toda morte. E eis a atitude de Cristo em face de Deus, seu Pai. Desde o primeiro instante de sua Encarnação, ele havia exclamado: “Não aceitaste, ó Pai, as oblações antigas; mas formaste para mim um corpo (escravidão de natureza); então eu disse: eis-me aqui, eu venho, ó Deus, para fazer a tua vontade (escravidão de amor).” Nas alegrias de sua Ressurreição, sua oração de ação de graças é também a de uma alma ajoelhada diante da vontade de seu Pai. Essa atitude de obediência é e sempre será a marca mais autêntica da verdadeira humildade. Obedecer é humilhar-se. Obedecer a Deus é humilhar-se diante de Deus, é reconhecer que ele é o Soberano Senhor, que seus mandamentos são adoráveis, que suas vontades são santas e santificadoras. Obedecer a Deus é o melhor uso que podemos fazer de nosso livre-arbítrio. A consagração da santa escravidão nos oferece constantemente essa alegria de ter de obedecer e de ter somente que obedecer. Ela nos mantém, pois, na humildade verdadeira, nessa humildade da Virgem de Nazaré se proclamando, na manhã da Anunciação, a escrava de amor de seu Senhor. Como estamos longe, então, do espírito de soberba do mundo! Ó nossa Senhora e Rainha, cultivai em nossas almas vossos sentimentos de humildade e as disposições profundas do Coração de vosso divino Filho. Que graça poder conformar a ele tão plenamente quanto possível a nossa vida espiritual. II. DIANTE DOS HOMENS, seus irmãos, Jesus Cristo manifestou o mesmo espírito de humildade que em face de seu Pai. Ao se encarnar, assumiu a condição de escravo: formam servi accipiens, para estar à disposição dos que vinha resgatar. Não fará outra coisa além de servi-los. Ele declara formalmente: “O Filho do homem… não veio para ser servido, mas para servir.” (Mt 20, 28.) “Qual é o maior, o que está à mesa, ou o que serve?… Pois eu estou no meio de vós como um que serve.” (Lc 22, 27.) Na Quinta-Feira Santa, ele se levanta da mesa, cinge-se da libré do serviço e, ajoelhado, lava os pés dos doze apóstolos. Função dos humildes e submissos, trabalho dos prostrados aos pés de um senhor terreno. Jesus rejeita o modelo dos poderosos do mundo, que dominam e se fazem servir. Em seu Reino, quer que os que conduzem se façam servos dos inferiores, buscando seu bem. Por isso, deseja que esse gesto seja imitado por todos que se glorificarem de lhe pertencer. “Compreendeis o que vos fiz?… Se eu, pois, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros… O servo (o escravo) não é maior do que seu senhor… Se compreendeis estas coisas, bem-aventurados sereis se as praticardes.” Que diferença entre o espírito do cristianismo e o espírito do mundo! O Filho de Deus fez-se servo de seus próprios servos. E foi essa humildade admirável que lhe deu tão profunda influência sobre as almas, essa abnegação que deixava transparecer somente o desejo de fazer o bem. Nenhuma outra virtude lhe atraiu mais a confiança dos apóstolos do que a mansidão, inseparável da humildade. “Estais em minha escola… aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração.” (Mt 11, 29.) Com esses sentimentos, exercereis ação benéfica sobre todos. Por isso, Jesus aproveitou todas as ocasiões para ensinar-lhes a humildade, inclusive nas relações entre si, na Comunidade. Nem toda vaidade havia desaparecido de seus corações. Um dia, discutiam na estrada para Cafarnaum sobre quem seria o maior no Reino. Chegando à casa, Jesus os interroga: “De que vínheis vós discutindo pelo caminho?”. Ninguém responde. Ele então chama uma criança, a abraça e diz: “Na verdade vos digo que, se vos não converterdes… e não vos tornardes como meninos, não entrareis no reino dos céus. Aquele pois que se fizer pequeno, como este menino, esse será o maior no reino dos céus.” (Mc 9, 32-35; Mt 18, 2-3.) A alma infantil, por sua candura, não olha para si, não se pergunta se vale mais, ignora-se. Retornemos a essa simplicidade. Eliminemos toda preocupação com nossa gloríola, todo espírito de rivalidade e ciúme, toda exibição de superioridade. A luta contra a soberba não é coisa a adiar, mas fundamento a estabelecer. ---- É, pois, de todo o coração e com uma vontade firme que devemos nos dedicar a nos impregnar do espírito de humildade de Jesus Cristo. As fulgurantes luzes de seu exemplo e de seus ensinamentos não são graças protetoras e imperativas? Deixemo-nos ganhar, sem opor a menor resistência. Como a Santíssima Virgem, olhemos Deus, Deus feito homem, e olhemos somente para ele. Olhares favoráveis sobre nós mesmos significariam fraqueza e covardia. Apenas retardaríamos nosso encaminhamento a uma Consagração que quer ser como uma continuação da atitude do Verbo encarnado, escravo de amor de Deus, seu Pai, por meio de Maria, sua Santa Mãe. ORAÇÕES Veni, Creátor Spíritus (Vinde, Espírito Criador) (Latim) Veni, Creátor Spíritus, Mentes tuórum visita, Imple supérna gratia, Quæ tu creásti péctora. Qui diceris Paráclitus, Altíssimi donum Dei, Fons vivus, ignis, charitas Et spiritális únctio. Tu septiformis múnere, Dígitus patérnæ déxteræ Tu rite promissum Patris, Sermone ditans gúttura. Accénde lumen sénsibus: Infúnde amórem córdibus; Infírma nostri córporis, Virtúte firmans pérpeti. Hostem repéllas longius, Pacémque donas prótinus: Duc sic te præeúnte, nostrum Vítemus omne nóxium. Per te sciámus da Patrem, Noscámus atque Fílium: Te utriúsque Spíritum Credámus omni témpore. Deo Patri sit glória, Et Fílio, qui a mórtuis Surréxit, ac Paráclito, In sæculórum sǽcula. Amen. ℣. Emítte Spíritum tuum, et creabúntur. ℟. Et renovábis fáciem terrae. Deus qui corda fidélium Sancti Spíritus illustratióne docuísti: da nobis in eódem Spíritu recta sápere; et de eius semper consolatióne gaudére. Per Christum dominum nostrum. Amen. (Vernáculo) Vinde, Espírito Criador, a nossa alma visitai e enchei os corações com vossos dons celestiais. Vós sois chamado o Intercessor, de Deus excelso dom sem par, a fonte viva, o fogo, o amor, a unção divina e salutar. Sois o doador dos sete dons e sois poder na mão do Pai, por Ele prometido a nós, por nós seus feitos proclamai. A nossa mente iluminai, os corações enchei de amor, nossa fraqueza encorajai, qual força eterna e protetor. Nosso inimigo repeli e concedei-nos vossa paz; se pela graça nos guiais, o mal deixamos para trás. Ao Pai e ao Filho Salvador, por Vós possamos conhecer; que procedeis do Seu amor fazei-nos sempre firmes crer. Amém! ℣. Enviai o Vosso Espírito. ℟. E renovareis a face da terra. Ó Deus, que instruístes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, fazei que apreciemos retamente todas as coisas segundo o mesmo Espírito e gozemos sempre da sua consolação. Por Cristo, Senhor Nosso. Amém. Ave maris stella (Ave, do mar Estrela) (Latim) 1. Ave maris stella, Dei Mater alma, Atque semper Virgo, Felix cæli porta. 2. Sumens illud Ave Gabrielis ore, Funda nos in pace, Mutans Hevæ nomen. 3. Solve vincla reis, Profer lumen cæcis, Mala mostra pelle, Bona cuncta posce. 4. Monstra te esse matrem, Sumat per te preces, Qui pro nobis natus Tulit esse tuus. 5. Virgo singularis, Inter omnes mitis, Nos, culpis solutos, Mites fac et castos. 6. Vitam præsta puram Iter para tutum, Ut, videntes Jesum, Semper collætemur. 7. Sit laus Deo Patri, Summo Christo decus, Spiritui Sancto, Tribus honor unus. Amen. (Vernáculo) 1. Ave, do mar Estrela De Deus mãe bela, Sempre virgem, da morada Celeste Feliz entrada. 2. Ó tu que ouviste da boca Do anjo a saudação; Dá-nos a paz e quietação; E o nome da Eva troca. 3. As prisões aos réus desata. E a nós cegos alumia; De tudo que nos maltrata Nos livra, o bem nos granjeia. 4. Ostenta que és mãe, fazendo Que os rogos do povo seu Ouça aquele que, nascendo Por nós, quis ser filho teu. 5. Ó virgem especiosa, Toda cheia de ternura, Extintos nossos pecados Dá-nos pureza e brandura, 6. Dá-nos uma vida pura, Põe-nos em via segura, Para que a Jesus gozemos, E sempre nos alegremos. 7. A Deus Pai veneremos: A Jesus Cristo também: E ao Espírito Santo; demos Aos três um louvor. Amém. |
Dia 7: O desejo ardenteNossas meditações dos seis primeiros dias lançaram luz sobre a oposição absoluta que existe entre o espírito do mundo e o espírito de Jesus. Nenhum acordo, nenhuma conciliação é possível. O mundo engaja seus adeptos no caminho largo da perdição; Jesus nos faz seguir o caminho estreito que leva à eternidade bem-aventurada. É ele, pois, que devemos amar, e não o mundo, como nos disse o apóstolo João; é aos seus exemplos e ao seu ensinamento que devemos nos apegar.É por isso que importa, agora, recorrer aos meios indicados por nosso mestre espiritual, São Luís Maria de Montfort. Os três primeiros são: o desejo ardente, a prece contínua, a mortificação universal. Veremos o quanto esses meios são soberanamente eficazes para nos desvencilhar, nos liberar dessa falsa sabedoria do mundo, que o apóstolo São Tiago qualificou como terrena, carnal, diabólica. O desejo ardente elevará nossas almas bem acima da sabedoria terrena, ligada ao amor dos bens deste mundo. A prece incessante, sempre com base na humildade, será nossa força contra a sabedoria diabólica, apaixonada por tudo o que pode saciar o orgulho humano. A mortificação universal nos obrigará a lutar vitoriosamente contra a sabedoria carnal, que ama e busca somente os prazeres dos sentidos. Assim atingiremos, com o auxílio da graça, o fim perseguido por Montfort durante o período preliminar de seus Exercícios espirituais. Peçamos hoje a Maria que acenda e alimente em nossos corações a chama do desejo ardente; ela, cuja jovem alma esteve sempre ofegante pelo Salvador prometido, mais do que todos os Patriarcas e os Profetas da antiga Lei. ---- I. – OBJETO DE NOSSO DESEJO. Não é outro senão Jesus Cristo, considerado como a divina Sabedoria, a única e verdadeira Sabedoria, o Bem mais desejável, aquele que supera infinitamente todos os bens dos quais podemos desejar a posse. Mas para desejar e buscar essa divina Sabedoria, é necessário que nos dediquemos a conhecê-la, como já começamos a fazer em nossas primeiras meditações. Pois é possível amar o que não se conhece? Pode-se verdadeiramente desejar o que se conhece apenas imperfeitamente? “Por que, interroga Montfort, ama-se tão pouco o adorável Jesus, senão porque não se o conhece, ou muito pouco? Não há quase ninguém que estude, como se deve, como o Apóstolo, essa ciência tão eminente de Jesus, que é, no entanto, a mais nobre, a mais doce, a mais útil e a mais necessária de todas as ciências e de todos os conhecimentos.” Ela é a mais nobre, porque tem por objeto o que há de mais sublime, a Sabedoria eterna e encarnada, que encerra em si toda a plenitude da divindade e da humanidade, tudo o que há de maior no Céu e sobre a terra, todas as criaturas visíveis e invisíveis, espirituais e corpóreas. São João Crisóstomo diz que Nosso Senhor é um sumário das obras de Deus, um quadro resumido de todas as suas perfeições e de todas as perfeições que estão nas criaturas. Jesus Cristo, a Sabedoria eterna, é tudo o que podeis e deveis desejar. Desejai-o, buscai-o, porque ele é essa única e preciosa pérola pela compra da qual deveis vender, sem dificuldade, tudo o que possuís… Não há, também, ciência mais doce do que o conhecimento da divina Sabedoria. Bem-aventurados são os que a escutam; mais felizes ainda os que a desejam e a buscam; todavia, os mais felizes são os que guardam seus caminhos e experimentam em seu coração essa doçura infinita, alegria e felicidade do Pai eterno, e glória dos anjos. Não se pode saber qual é o prazer que prova uma alma que conhece a beleza da Sabedoria, particularmente quando ela faz ouvir estas palavras: Provai e vede… e inebriai-vos de minhas doçuras eternas, pois a minha conversação não tem nada de desagradável, nem a minha convivência desgosto, mas tudo nela é satisfação e alegria. (Sab 8, 16.) Esse conhecimento da divina Sabedoria é também o mais útil e o mais necessário, porque a vida eterna consiste em conhecer Deus e seu Filho, Jesus Cristo (Jo 17, 3). Porque o conhecer-te, exclama o Sábio, falando com a Sabedoria, é a justiça consumada; e o reconhecer a tua justiça e o teu poder é a raiz da imortalidade. (Sab 15, 3.) Se desejamos, em verdade, ter a vida eterna, tenhamos, pois, o conhecimento da divina Sabedoria; se desejamos ter a perfeição da santidade neste mundo, conheçamos a Sabedoria; se desejamos ter em nosso coração a raiz da imortalidade, tenhamos em nosso espírito o conhecimento da Sabedoria. “Saber Jesus Cristo, a Sabedoria encarnada, é saber o bastante. Saber tudo e não sabê-lo, é nada saber… De que nos servirão todas as outras ciências necessárias à salvação, se não sabemos a de Jesus Cristo, que é a única necessária e o centro ao qual todas devem convergir?…” E se apoiando sobre o exemplo de São Paulo, Montfort acrescenta: “Embora o grande Apóstolo soubesse tantas coisas e fosse versado nas Letras humanas, dizia por toda parte que julgava não dever saber coisa alguma senão a Jesus Cristo crucificado” (1Cor 2, 2). Digamos com ele: Desprezo todos esses conhecimentos que até hoje considerei lucro, em comparação ao conhecimento de Jesus Cristo, meu Senhor (Flp 3, 7-8). Vejo agora e experimento que essa ciência é tão excelente, tão deliciosa, tão proveitosa e tão admirável, que hoje não levo em consideração todas as outras, que outrora tanto me agradaram… Digo-vos que Jesus Cristo é o abismo de toda a ciência, a fim de que não vos deixeis enganar pelas belas e magníficas palavras dos oradores, nem pelas sutilezas tão falaciosas dos filósofos (Col 2, 4-8), isto é, de todos os que pensam, falam e ensinam apenas segundo a ciência natural e o espírito do mundo.” (Amor Sabedoria Eterna, n. 8-12.) ---- Amaremos ainda mais conhecer a divina Sabedoria porque ela mesma teve o cuidado de nos testemunhar o zelo que tem por nos ver desejá-la e buscá-la. “Eu amo os que me amam, disse-nos a Sabedoria, e os que vigiam desde manhã para me buscarem, achar-me-ão, e, achando-me, encontrarão a abundância de todos os bens… Pois os bens duráveis comigo estão; e é incomparavelmente melhor me possuir do que possuir todo o ouro e toda a prata do mundo… Conduzo os homens que vêm a mim pelos caminhos da justiça e da prudência, e os enriqueço, satisfazendo os seus desejos… E estejais convencidos de que meus mais doces prazeres, minhas delícias mais caras são conversar e permanecer com os filhos dos homens.” (Prov. 8, 17-21.) E como se os homens temessem ainda se aproximar dela, devido ao seu brilho maravilhoso e à sua majestade soberana, ela faz dizer a eles que é de fácil acesso; que se deixa facilmente ver por aqueles que a amam; que se antecipa aos que a desejam e se mostra antes a eles, e aquele que a buscar desde a aurora não terá trabalho, pois a encontrará sentada à sua porta (Sab 6, 12-14). Muito mais, “essa Sabedoria eterna, para se aproximar ainda mais dos homens e testemunhar-lhes mais sensivelmente seu amor, não chegou ao ponto de se fazer homem, ao ponto de se tornar criança, ao ponto de se tornar pobre e ao ponto de morrer por eles sobre a cruz? Quantas vezes ela exclamou, enquanto vivia sobre a terra: Vinde a mim, vinde todos a mim; sou eu, não temais. Por que temeríeis? Sou semelhante a vós e vos amo. Será porque sois pecadores? Ora! É a eles que busco. Será porque vos afastastes do redil por erro vosso? Ora! Eu sou o Bom Pastor. Será porque vos enchestes de pecados, vos cobristes de sujeira, vos oprimistes pela tristeza? Ora! É justamente por isso que deveis vir a mim; pois eu vos aliviarei, eu vos consolarei… “Como, conclui nosso santo, não ser tocado por desejos tão zelosos, por buscas tão amorosas e por testemunhos de uma amizade tão persistente?” (A.S.E., n. 67, 69, 70, 72.) Desejemos, pois, por nossa vez, e busquemos unicamente essa divina Sabedoria, tal como ela se apresentou a nós em nossas meditações precedentes, em oposição à sabedoria mundana. É ela somente que devemos adorar. A outra é enganosa e mentirosa, feita de aparências e cheia de decepções; os que nela se comprazem levam uma existência vazia, fora do caminho da verdade. “Até quando, grita-lhes Montfort, tereis o coração pesado e voltado para a terra? Até quando amareis a vaidade e buscareis a mentira?” (A.S.E, n. 181.) Ó Nossa Senhora da Sabedoria, protegei-nos de imitar a conduta desses pretensos sábios do século; e visto que nosso coração é feito de tal modo que não pode permanecer sem amor, no lugar da cobiça terrena, cultivai em nós o desejo sobrenatural. Longe daqueles que se mantêm unicamente inclinados sobre os bens deste mundo, elevai nossos corações a esse Bem inestimável e esse tesouro sem preço que é vosso divino Filho. Então, nosso desejo não será ilusão, e nosso amor se dirigirá a uma realidade imperecível. Por que importa que os filhos do século sejam mais prudentes em seus negócios do que os filhos da luz na perseguição da verdadeira Sabedoria? Aqueles não descansam até que tenham obtido o transitório bem-estar cobiçado; e nós, não faríamos nenhum esforço para chegar à posse da suprema e indefectível Riqueza da terra e dos Céus? Ó Maria, ajudai-nos a compreender o quanto tudo nos falta, se não a possuímos. II. – QUALIDADE DE NOSSO DESEJO. Ele deve ser ARDENTE, isto é, avivado pela chama de um constante amor pela adorável Pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo. Visto que devemos transmitir às nossas almas os sentimentos e as disposições da alma dele, como não amá-lo com toda a força de nossa vontade? Como não buscar intensificar sempre nosso amor no contato de seus exemplos e de suas palavras, tais como no-los propõe o Evangelho? Conhecemos o episódio dos dois discípulos desamparados de Emaús, na noite da Páscoa. Enquanto caminhavam em companhia do viajante desconhecido, que veio se juntar a eles, e que o escutavam explicar-lhes as Escrituras desde Moisés até os Profetas, sobre como importava que o Cristo sofresse para entrar em sua glória… seu coração, até ali pesado de tristeza, tornou-se de repente ardente em seu peito. O que não os espantou mais quando reconheceram, no partir do pão, o Salvador ressuscitado. Ó minha alma, não é esse mesmo Salvador que te fala hoje, que te explica seu Evangelho, que te manifesta, ao longo das páginas do Livro inspirado, seu espírito de penitência, ele que era a própria inocência; seu espírito de desapego dos bens terrenos, ele que possuía toda a riqueza da terra e dos Céus; seu espírito de admirável humildade diante de Deus e dos homens, enquanto era igual a Deus e enquanto assim permanece para sempre?… E enquanto ele projeta assim essa luz sobre tua inteligência, não sentes, como os discípulos de Emaús, o teu coração queimar no peito? Não experimentas então mais intensamente o desejo de amá-lo, de segui-lo em seu caminho austero e doloroso, a fim de entrar um dia na participação de sua glória?… Oh! Sim, guardemos que, para preservar e cultivar em nós esse desejo ardente da divina Sabedoria, é preciso apenas ter habitualmente diante de nossos olhos e repassar em nosso espírito os ensinamentos do Evangelho. O encantamento dessa ciência das ciências nos desencantará para todo sempre das aparências e vaidades do mundo. ---- Seremos fiéis, então, em observar os mandamentos do Senhor, na certeza de chegar à posse do Tesouro tão desejado e buscado. “É preciso, nos diz Montfort, que o desejo da Sabedoria seja um grande dom de Deus, visto que é a recompensa da fiel observação de seus mandamentos…”. A Sabedoria, com efeito, não entrará em uma alma perversa, não habitará um corpo sujeito ao pecado: quoniam in malevolam animam non introibit Sapientia, nec habitabit in corpore subdito peccatis (Sab. 1, 4). Não poderia, pois, bastar ter esses desejos mornos, essas veleidades do bem, que não fazem abandonar o pecado e não obrigam a se fazer violência. Esses são desejos falsos e enganosos que matam e condenam. O castigo é temível, mesmo desde este mundo: “Desprezando eles a Sabedoria, diz o Espírito Santo, não só caíram na ignorância do bem, mas deixaram ainda aos homens uma lembrança da sua loucura, de tal sorte que não puderam ocultar os pecados que cometeram” (Sab 10, 8). Ignorância, louca cegueira, escândalo… três desgraças que ferem durante esta vida aqueles que fugiram, desprezaram e ofenderam a amável e soberana Sabedoria. “Mas, prossegue Montfort, qual é sua desgraça no momento da morte, quando, contra sua vontade, ouvem a Sabedoria lhes dizer: Eu vos chamei, e vós não quisestes ouvir-me (Prov 1, 24); eu vos estendi o braço todo o dia, e resististes a mim; eu vos esperei, sentada em vossa porta, e não viestes a mim… Também me rirei de vossa ruína, e zombarei de vós, quando vos suceder o que temíeis (Prov 1, 26). Não terei mais nem ouvidos para escutar vossos gritos, nem olhos para ver vossas lágrimas, nem coração para ser tocado por vossos soluços, nem mãos para vos prestar socorro. “Enfim, qual será sua desgraça no inferno!”. Leiamos o que o Espírito Santo disse das lamentações, dos remorsos, do desespero dos pobres condenados: Logo, nós nos extraviamos do caminho da verdade, A luz da justiça não raiou para nós, E o sol da inteligência não nasceu para nós. Cansamo-nos da senda da iniquidade e da perdição, Andamos por caminhos ásperos, e ignoramos o caminho do Senhor. De que nos aproveitou a soberba? De que nos serviu a vã ostentação das riquezas? Todas aquelas coisas passaram como sombra, Como um mensageiro fugaz… (Sap. 5, 6-9.) “Tarde demais, eles reconhecem sua loucura e sua desgraça por terem desprezado a Sabedoria de Deus. Começam a falar sabiamente, mas no inferno.” (A.S.E., n. 72.) ---- Não é, pois, para os sábios segundo o mundo que devemos voltar nossos olhares, mas aos eleitos de Deus, a fim de inflamar nosso desejo com o ardor de seu amor. Estes não tentaram conciliar o espírito de Jesus Cristo com o espírito do século. A vida deles foi sem disfarce, e seu desejo surgia de uma vontade reta, que visava somente o bem. Se o mundo com seus encantos, ou a concupiscência com suas febres vinham às vezes tentar sua constância, eles sabiam desprezar essas aproximações e tiravam a energia para vencerem a si mesmos do pensamento de que a vida do homem neste mundo não é uma busca dos bens perecíveis e passageiros, mas uma luta perseverante pela obtenção da coroa da glória. Esses eleitos que se apaixonam assim pela divina Sabedoria são os pobres e os ignorantes segundo o mundo, os oprimidos e os fracos, os pequenos e os humildes, as almas de silêncio e de sacrifício que, através de todas as dificuldades inerentes à sua condição, alimentam o ardor de seu desejo ao contato das verdades eternas e das promessas infalíveis. O que esses pobres e esses desprezados do mundo obtiveram com o auxílio da graça, por que não o obteríamos? Por que suspirar por mais tempo por esses desejos que não terminam jamais? Por que correr o risco de perder os bens imperecíveis, detendo nosso coração sobre as miseráveis riquezas de um dia? Não é melhor, para nossa felicidade, nos voltarmos decididamente à única e verdadeira Sabedoria? Então, nosso desejo subirá de um coração ardente, isto é, de uma vontade sem langor, de uma vida sem disfarce, de um amor sem falsas alianças. Não nos espalharemos mais na multidão das coisas vãs, mas nos recolheremos e nos estabeleceremos na unidade da incorruptível Sabedoria. E a Virgem, tendo atraído todas as nossas capacidades à inestimável vida interior, nos revestirá desse manto de luz que é o espírito de seu Senhor Jesus. ORAÇÕES Veni, Creátor Spíritus (Vinde, Espírito Criador) (Latim) Veni, Creátor Spíritus, Mentes tuórum visita, Imple supérna gratia, Quæ tu creásti péctora. Qui diceris Paráclitus, Altíssimi donum Dei, Fons vivus, ignis, charitas Et spiritális únctio. Tu septiformis múnere, Dígitus patérnæ déxteræ Tu rite promissum Patris, Sermone ditans gúttura. Accénde lumen sénsibus: Infúnde amórem córdibus; Infírma nostri córporis, Virtúte firmans pérpeti. Hostem repéllas longius, Pacémque donas prótinus: Duc sic te præeúnte, nostrum Vítemus omne nóxium. Per te sciámus da Patrem, Noscámus atque Fílium: Te utriúsque Spíritum Credámus omni témpore. Deo Patri sit glória, Et Fílio, qui a mórtuis Surréxit, ac Paráclito, In sæculórum sǽcula. Amen. ℣. Emítte Spíritum tuum, et creabúntur. ℟. Et renovábis fáciem terrae. Deus qui corda fidélium Sancti Spíritus illustratióne docuísti: da nobis in eódem Spíritu recta sápere; et de eius semper consolatióne gaudére. Per Christum dominum nostrum. Amen. (Vernáculo) Vinde, Espírito Criador, a nossa alma visitai e enchei os corações com vossos dons celestiais. Vós sois chamado o Intercessor, de Deus excelso dom sem par, a fonte viva, o fogo, o amor, a unção divina e salutar. Sois o doador dos sete dons e sois poder na mão do Pai, por Ele prometido a nós, por nós seus feitos proclamai. A nossa mente iluminai, os corações enchei de amor, nossa fraqueza encorajai, qual força eterna e protetor. Nosso inimigo repeli e concedei-nos vossa paz; se pela graça nos guiais, o mal deixamos para trás. Ao Pai e ao Filho Salvador, por Vós possamos conhecer; que procedeis do Seu amor fazei-nos sempre firmes crer. Amém! ℣. Enviai o Vosso Espírito. ℟. E renovareis a face da terra. Ó Deus, que instruístes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, fazei que apreciemos retamente todas as coisas segundo o mesmo Espírito e gozemos sempre da sua consolação. Por Cristo, Senhor Nosso. Amém. Ave maris stella (Ave, do mar Estrela) (Latim) 1. Ave maris stella, Dei Mater alma, Atque semper Virgo, Felix cæli porta. 2. Sumens illud Ave Gabrielis ore, Funda nos in pace, Mutans Hevæ nomen. 3. Solve vincla reis, Profer lumen cæcis, Mala mostra pelle, Bona cuncta posce. 4. Monstra te esse matrem, Sumat per te preces, Qui pro nobis natus Tulit esse tuus. 5. Virgo singularis, Inter omnes mitis, Nos, culpis solutos, Mites fac et castos. 6. Vitam præsta puram Iter para tutum, Ut, videntes Jesum, Semper collætemur. 7. Sit laus Deo Patri, Summo Christo decus, Spiritui Sancto, Tribus honor unus. Amen. (Vernáculo) 1. Ave, do mar Estrela De Deus mãe bela, Sempre virgem, da morada Celeste Feliz entrada. 2. Ó tu que ouviste da boca Do anjo a saudação; Dá-nos a paz e quietação; E o nome da Eva troca. 3. As prisões aos réus desata. E a nós cegos alumia; De tudo que nos maltrata Nos livra, o bem nos granjeia. 4. Ostenta que és mãe, fazendo Que os rogos do povo seu Ouça aquele que, nascendo Por nós, quis ser filho teu. 5. Ó virgem especiosa, Toda cheia de ternura, Extintos nossos pecados Dá-nos pureza e brandura, 6. Dá-nos uma vida pura, Põe-nos em via segura, Para que a Jesus gozemos, E sempre nos alegremos. 7. A Deus Pai veneremos: A Jesus Cristo também: E ao Espírito Santo; demos Aos três um louvor. Amém. |
Dia 8: A prece contínuaDecididos a nos libertar do espírito do mundo, voltamos nossos olhares para a única e verdadeira Sabedoria. Nosso desejo de possuí-la se eleva de um coração fervoroso. Por isso, espontaneamente, a prece se apresenta a nós como a ajuda mais poderosa para manter nosso desejo em seu fervor e para atrair em nossa alma a divina Sabedoria.Com nosso mestre espiritual, meditaremos sobre a maravilhosa obrigação de ter de pedir esse grande Dom de Deus, e sobre a continuidade que deverá caracterizar nosso pedido. Recorramos humildemente a Maria Mediadora, cuja função é acolher todas as preces e transmitir todas as graças. ---- I. É PRECISO PEDIR A DIVINA SABEDORIA. “Quanto mais um dom de Deus é grande, mais difícil é obtê-lo. Que preces, então, e que trabalhos não exige o dom da Sabedoria encarnada, o maior de todos os dons de Deus! “Escutemos o que diz a própria divina Sabedoria: Pedi, e vos será dado; buscai e achareis; batei e abrir-se-vos-á (Mt 7, 7; Lc 11, 9; Mc 11, 24). Como se Ela dissesse: se quereis encontrar-me, é preciso buscar-me; se quereis entrar em meu palácio, é preciso bater em minha porta; se quereis receber-me, é preciso pedir-me. Ninguém me encontra se não me busca; ninguém entra em minha casa se não bate em minha porta; ninguém me obtém se não me pede; e tudo se faz por meio da prece. “A prece é o canal ordinário por meio do qual Deus comunica suas graças, particularmente sua Sabedoria.” (A.S.E., n. 184.) Senhor absoluto de seus dons, ele deseja que reconheçamos primeiro nossa extrema indigência. O pobre, porque é pobre, pede a esmola. Todos nós somos pobres diante de Deus; implorando a ele, confessamos nossa miséria, expomos-lhe a necessidade de que nossa pobreza seja socorrida. Colocamo-nos, assim, na disposição requerida para obter os benefícios desejados. Essa confissão de nossa miséria toca infalivelmente o coração do Pai dos Céus. Por outro lado, Deus resiste aos soberbos. A alma orgulhosa não pede, ela não quer se humilhar. O amor por sua própria excelência mantém sobre seus olhos a venda que cegou Lúcifer e sopra em sua vontade o mesmo sentimento de falsa independência: Non serviam: se é preciso inclinar-me para receber os benefícios divinos, não me inclinarei. Essa inconcebível loucura nos faz também compreender por que São Luís Maria de Montfort quer que adicionemos ao desejo da verdadeira Sabedoria o auxílio e a força da prece. Assim, ele nos liberta desse orgulho que é a manifestação mais evidente e mais obstinada do espírito do mundo. Ele encaminha nosso desejo, pelo caminho da humildade, rumo à aquisição do maior de todos os dons de Deus. “O mundo esteve, por milhares de anos, a pedir a Encarnação da divina Sabedoria”, porque essa divina Sabedoria não encontrava no mundo a medida de humildade capaz de atraí-la sobre a terra. Mesmo a humilde Virgem Maria “esteve quatorze anos se preparando, por meio da prece, para recebê-la em seu ventre”. Se algum de vós necessita de Sabedoria, diz São Tiago (1, 5), peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e não lança em rosto, e ser-lhe-á concedida. “Notai de passagem, sublinha Montfort, que o Espírito Santo não diz: Se alguém necessita de caridade, de humildade, de paciência, etc., que são virtudes tão excelentes, mas: Se alguém necessita da Sabedoria. Pois, pedindo-a, pedimos todas as virtudes que estão contidas nela”, e que ela deseja nos comunicar. (n. 184.) ---- Para tê-la, é preciso, pois, pedi-la, e pedi-la não somente com um grande espírito de humildade, mas também com uma fé viva e firme, isenta de hesitação, pois aquele que tem somente uma fé vacilante não deve esperar obtê-la. Nosso erro não é nos aproximarmos de Deus com um coração sem confiança, que parece temer, antecipadamente, ser atendido? Nossa natureza se rebela diante dos sacrifícios mal entrevistos; queremos e não queremos; e nossos pedidos são indecisos, porque não procedem de um espírito de fé decididamente orientado à santidade, como se o mundo nos retivesse ainda pela doçura de seus encantos. Além disso, “é preciso pedir a Sabedoria com uma fé pura, sem apoiar sua prece sobre consolações sensíveis ou revelações particulares. Embora tudo isso possa ser bom e verdadeiro, como se pode ver na vida de vários Santos, é sempre perigoso fiar-se a isso; e a fé é tanto menos pura e meritória quanto mais se apoia sobre essas espécies de graças extraordinárias e sensíveis”… O que o Evangelho nos fez conhecer dos exemplos e dos ensinamentos da Sabedoria encarnada, os desejos que Ela mesma manifesta de se oferecer a nós, as necessidades que temos dela e de seus tesouros de graça, são motivos poderosos o bastante para nos fazer desejá-la e pedi-la a Deus com zelo. “O justo, ou o sábio, vive da fé, sem ver nem sentir, nem provar e sem vacilar. Deus o disse ou o prometeu, eis a pedra fundamental de todas as suas preces e de todas as suas ações, embora lhe pareça naturalmente que Deus não tem olhos para ver sua miséria, ouvidos para escutar seus pedidos, braços para arrasar seus inimigos, nem mão para prestar-lhe ajuda; embora ele seja atacado por distrações, por dúvidas e por trevas no espírito, por ilusões na imaginação, por desgostos e melancolia no coração, por tristeza e agonia na alma. “Ele não pede para ver coisas extraordinárias como os Santos viram, nem para provar doçuras sensíveis em suas preces e suas devoções. Ele pede com fé a divina Sabedoria, e tem como certo que ela lhe será dada, mais do que se um anjo tivesse descido dos Céus para certificá-lo disso, porque a própria Sabedoria disse: Omnis qui petit accipit (Lc 11, 10), todos os que pedem a Deus como se deve obtêm o que pedem.” (A.S.E., n. 185-187.) Ó Maria, trono acessível da divina Sabedoria, tornai meu coração ávido de possuir esse grande dom de Deus; tocai nele as fibras de vosso espírito de oração. Imploro vossa poderosa mediação: Comunicai-me vossa fé, Terei a Sabedoria por meio dela, E todos os bens virão a mim. ---- II. NOSSO PEDIDO PELA DIVINA SABEDORIA DEVE SER CONTÍNUO. No mesmo cântico, Montfort – dirigindo-se à divina Sabedoria – se atrevia a dizer-lhe: Se não quereis que eu vos pertença, Deixai-me vos importunar, Deixai-me sempre no castigo De vos buscar sem encontrar. Como exprimir melhor a continuidade com a qual, sem jamais nos cansar, devemos pedir a divina Sabedoria? “É para a aquisição dessa pedra preciosa, desse tesouro infinito, que importa fazer uso de uma santa importunidade junto a Deus, sem a qual nunca a teremos. “Não se deve fazer como a maioria das pessoas que pedem a Deus alguma graça. Depois de terem orado durante um tempo bastante considerável, até anos inteiros, e não verem suas preces atendidas por Deus, elas se desencorajam e deixam de orar, acreditando que Deus não quer escutá-las. Elas perdem, assim, o fruto de suas preces, e até mesmo ofendem a Deus, que ama doar e que atende sempre – infalivelmente – as preces bem feitas, seja de uma maneira, seja de outra. “Aquele que deseja, pois, obter a divina Sabedoria deve pedi-la dia e noite, sem se cansar e sem se desencorajar. Mil vezes bem-aventurado será se obtiver após dez, vinte, trinta anos de preces, e mesmo uma hora antes de morrer. E se a recebe depois de ter passado toda sua vida a buscá-la e a pedi-la e a merecê-la por toda sorte de trabalhos e de cruzes, que esteja bem convencido de que não lhe é dada por justiça, como uma recompensa, mas por pura misericórdia, como uma esmola. “Não, não, não são essas almas negligentes e inconstantes em suas preces e suas buscas que terão a divina Sabedoria.” Serão aquelas que se parecerem com aquele pedinte importuno do qual fala o Evangelho, que foi no meio da noite bater na porta de seu amigo, pedindo-lhe três pães. Observai, diz Montfort, que é a própria Sabedoria quem, nessa parábola, nos indica a maneira pela qual importa pedir para obter. Esse amigo bate e repete suas batidas e sua prece, e cada vez com mais força e mais insistência. Sem demora, ele pede os três pães para um viajante que acaba de chegar, e ao qual tem nada a oferecer; pede-os em uma hora indevida e ainda que seu amigo esteja dormindo. A resposta é primeiro uma recusa: Não me sejas importuno, grita o que dormia, descontente por ter sido tirado de seu sono. A porta já está fechada, os meus filhos estão deitados comigo; não me posso levantar para te dar coisa alguma… Mas a solicitação continua a ressoar em sua soleira. Como continuar resistindo? – Digo-vos, prossegue Jesus, se o outro perseverar em bater, ainda que ele não se levantasse a dar-lhos, por ser seu amigo, certamente pela sua importunação se levantará e lhe dará quantos pães precisar. (Lc 11, 5-8.) Eis, conclui Montfort, a maneira pela qual se deve rezar para ter a divina Sabedoria; e infalivelmente, cedo ou tarde, Deus, que deseja ser importunado, se levantará, abrirá a porta de sua misericórdia e nos dará os três pães da Sabedoria: – o pão da vida, isto é, a graça em abundância, a vida divina comunicada com magnificência; – o pão do entendimento, isto é, a inteligência das verdades do Evangelho; – o pão dos anjos, isto é, o próprio Jesus dado como alimento e fruição à alma no sacramento da Eucaristia. (A.S.E., n. 188-190.) ---- A história da mulher cananeia, na região de Tiro, é um exemplo tocante das graças que pode obter a oração perseverante. O Salvador havia se afastado da Galileia para escapar da cólera dos fariseus, voltando à Síria e procurando dissimular sua presença. Mas o renome de seus milagres o precedera. Ao saber de sua chegada, uma mulher do país correu a ele e gritou: “Senhor, filho de Davi, tem piedade de mim. Minha filha está miseravelmente atormentada do demônio.” Sua prece, como a do centurião de Cafarnaum, transbordava fé; ela reconhecia a divindade e o poder de Jesus. Contudo, Jesus não lhe responde e segue adiante. É o único exemplo, no Evangelho, de tal silêncio diante de uma súplica. São João Crisóstomo exclama: “Que novidade surpreendente! Buscais as outras, essa infeliz vos busca, e a repelis!” A cananeia, sem perder confiança, continua a segui-lo, repetindo seus apelos. Os apóstolos, cansados de seus gritos, pedem a Jesus que a atenda. Ele rompe o silêncio, não para curar, mas para parecer excluí-la: “Não fui enviado senão às ovelhas desgarradas da casa de Israel.” Ela se aproxima ainda mais e se prostra aos seus pés: “Senhor, vale-me.” Jesus parece ainda mais severo: “Deixa que primeiro sejam fartos os filhos, porque não é bem tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cães.” Mas a mãe não se ofende. Santo Agostinho observa: “Ela não tem um movimento de revolta, nem de dignidade ofendida.” Com fé humilde, ela replica: “Assim é, Senhor, sou estrangeira, não sou digna do pão dos filhos. Mas vossa mesa é rica: deixai que eu recolha as migalhas.” Diante de tamanha humildade, Jesus responde com admiração: “Ó mulher, grande é a tua fé! Vai, o demônio saiu de tua filha.” A oração triunfa sobre tudo, até mesmo sobre Deus, que concede mais do que se pede. Além da cura, há o milagre mais profundo: a ascensão de uma alma que persevera na súplica, com fé e humildade crescentes, apesar da recusa e da humilhação. Assim também Deus nos atenderá, se vir que perseveramos na oração, mesmo por anos, mesmo por toda uma vida, como ensinou São Luís Maria de Montfort. A oração perseverante, expressão de nosso desejo ardente, fará nossa alma subir às regiões espirituais, onde não chegam os ruídos do mundo e seus falsos prazeres. ---- À oração vocal, expressa por palavras, acrescentaremos – conforme o último conselho de Montfort – a oração mental, feita no interior da alma. “Ela ilumina o espírito”, diz ele, pois obriga à reflexão, reapresentando-nos as verdades eternas. “Ela inflama o coração”, por nos levar a pedir com mais ardor a graça de Deus, já que, pela reflexão, sentimos melhor nossa impotência. “Ela nos torna capazes de escutar a voz da divina Sabedoria, de provar suas doçuras e de possuir seus tesouros”, pois essa conversação com Deus se torna cada dia mais íntima, afetuosa e prolongada, chegando a continuar durante todo o dia, em meio às ocupações. A prática do santo Rosário oferece o meio mais fácil de unir constantemente a oração vocal à oração mental. Nele se reúnem todas as vantagens: a recitação das mais belas fórmulas de oração; a meditação dos mistérios de alegria, de dor e de glória da vida de Jesus e de Maria; a perseverança em repetir as mesmas súplicas sem nos cansarmos, justamente porque nossa meditação nunca esgotará o conteúdo dos mistérios, nem nossa alma as graças que deles procedem. Agradeçamos ao Pe. de Montfort por nos facilitar, pela fidelidade à prece do Rosário, a obtenção dessa graça das graças: “O Reino de Deus, a Sabedoria eterna dentro de nós.” (n. 193.) ---- Ó Maria, tornai-nos almas de oração, almas felizes por poderem recorrer a essa força sobrenatural que está sempre à nossa disposição. Suprimiremos assim, cada vez mais, “a leviandade, a presunção, o orgulho, a falta de profundidade daqueles que cumprem sua tarefa cotidiana, mesmo nas circunstâncias mais importantes, sem separar um tempo para refletir, para se recolher, para implorar as luzes do alto, colocar-se em conexão íntima de confiança, de abandono, de espírito filial, com a Sabedoria sem limites, de quem tudo depende e sem a qual nada pode, neste mundo, chegar ao seu termo final.” Como se deve lamentar por aqueles que não oram ou que se contentam com preces furtivas, abreviadas, distraídas, mecânicas, sem benefícios para sua vida! Desperdiçam esse tempo, que nos é dado para preparar nossa eternidade. Dir-se-ia que só respiram para o seu corpo. A alma continua enfraquecida, enquanto poderia estar transbordante de vida divina. Eles não conhecerão as doçuras e as bênçãos que Nossa Senhora reserva aos que imploram, sem jamais se cansarem, a posse da eterna Sabedoria. ORAÇÕES Veni, Creátor Spíritus (Vinde, Espírito Criador) (Latim) Veni, Creátor Spíritus, Mentes tuórum visita, Imple supérna gratia, Quæ tu creásti péctora. Qui diceris Paráclitus, Altíssimi donum Dei, Fons vivus, ignis, charitas Et spiritális únctio. Tu septiformis múnere, Dígitus patérnæ déxteræ Tu rite promissum Patris, Sermone ditans gúttura. Accénde lumen sénsibus: Infúnde amórem córdibus; Infírma nostri córporis, Virtúte firmans pérpeti. Hostem repéllas longius, Pacémque donas prótinus: Duc sic te præeúnte, nostrum Vítemus omne nóxium. Per te sciámus da Patrem, Noscámus atque Fílium: Te utriúsque Spíritum Credámus omni témpore. Deo Patri sit glória, Et Fílio, qui a mórtuis Surréxit, ac Paráclito, In sæculórum sǽcula. Amen. ℣. Emítte Spíritum tuum, et creabúntur. ℟. Et renovábis fáciem terrae. Deus qui corda fidélium Sancti Spíritus illustratióne docuísti: da nobis in eódem Spíritu recta sápere; et de eius semper consolatióne gaudére. Per Christum dominum nostrum. Amen. (Vernáculo) Vinde, Espírito Criador, a nossa alma visitai e enchei os corações com vossos dons celestiais. Vós sois chamado o Intercessor, de Deus excelso dom sem par, a fonte viva, o fogo, o amor, a unção divina e salutar. Sois o doador dos sete dons e sois poder na mão do Pai, por Ele prometido a nós, por nós seus feitos proclamai. A nossa mente iluminai, os corações enchei de amor, nossa fraqueza encorajai, qual força eterna e protetor. Nosso inimigo repeli e concedei-nos vossa paz; se pela graça nos guiais, o mal deixamos para trás. Ao Pai e ao Filho Salvador, por Vós possamos conhecer; que procedeis do Seu amor fazei-nos sempre firmes crer. Amém! ℣. Enviai o Vosso Espírito. ℟. E renovareis a face da terra. Ó Deus, que instruístes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, fazei que apreciemos retamente todas as coisas segundo o mesmo Espírito e gozemos sempre da sua consolação. Por Cristo, Senhor Nosso. Amém. Ave maris stella (Ave, do mar Estrela) (Latim) 1. Ave maris stella, Dei Mater alma, Atque semper Virgo, Felix cæli porta. 2. Sumens illud Ave Gabrielis ore, Funda nos in pace, Mutans Hevæ nomen. 3. Solve vincla reis, Profer lumen cæcis, Mala mostra pelle, Bona cuncta posce. 4. Monstra te esse matrem, Sumat per te preces, Qui pro nobis natus Tulit esse tuus. 5. Virgo singularis, Inter omnes mitis, Nos, culpis solutos, Mites fac et castos. 6. Vitam præsta puram Iter para tutum, Ut, videntes Jesum, Semper collætemur. 7. Sit laus Deo Patri, Summo Christo decus, Spiritui Sancto, Tribus honor unus. Amen. (Vernáculo) 1. Ave, do mar Estrela De Deus mãe bela, Sempre virgem, da morada Celeste Feliz entrada. 2. Ó tu que ouviste da boca Do anjo a saudação; Dá-nos a paz e quietação; E o nome da Eva troca. 3. As prisões aos réus desata. E a nós cegos alumia; De tudo que nos maltrata Nos livra, o bem nos granjeia. 4. Ostenta que és mãe, fazendo Que os rogos do povo seu Ouça aquele que, nascendo Por nós, quis ser filho teu. 5. Ó virgem especiosa, Toda cheia de ternura, Extintos nossos pecados Dá-nos pureza e brandura, 6. Dá-nos uma vida pura, Põe-nos em via segura, Para que a Jesus gozemos, E sempre nos alegremos. 7. A Deus Pai veneremos: A Jesus Cristo também: E ao Espírito Santo; demos Aos três um louvor. Amém. |
Dia 9: A mortificação universalO desejo ardente pela verdadeira Sabedoria desvia para sempre nossas almas dessa cobiça dos mundanos, unicamente preocupados com os bens da terra. A oração perseverante nos livra do seu espírito de soberba, porque nos ajoelha continuamente diante de Deus, conscientes de nossa impotência para obter por nós mesmos o Bem supremo tão desejado. Por sua vez, a mortificação será nossa defesa mais segura contra essa febre de prazeres, tão disseminada em nossos dias.Dediquemo-nos, pois, corajosamente a meditar, com nosso São Luís Maria de Montfort, sobre a importância da mortificação em nossa vida de batizados e sobre a extensão que ela deve ter. Que a Santa Virgem nos conceda, então, a abundância dessas alegrias espirituais que são sempre a herança e a recompensa dos corações verdadeiramente mortificados. ---- I. IMPORTÂNCIA DA MORTIFICAÇÃO. Ela é indispensável a quem deseja adquirir o espírito de Nosso Senhor Jesus Cristo. “A Sabedoria, nos diz o Espírito Santo, não se encontra na terra dos que vivem em delícias (Jó 28, 13), que dão às suas paixões e aos seus sentidos tudo o que desejam; pois os que estão na carne não podem agradar a Deus, e a sabedoria da carne é inimiga de Deus.” (Rom 8, 7-8.) “Todos os que pertencem a Jesus Cristo, a Sabedoria encarnada, crucificaram a sua própria carne com os vícios e concupiscências (Gál 5, 24); trazem sempre em seu corpo a mortificação de Jesus (2Cor 4, 10), negam continuamente a si mesmos, tomam sua cruz todos os dias (Lc 9, 23); e por fim, estão mortos e enterrados com Jesus Cristo (Rom 7, 4). Eis palavras do Espírito Santo, nos declara Montfort, que mostram de modo mais claro que o dia que para possuir a Sabedoria encarnada, Jesus Cristo, é preciso praticar a mortificação, a renúncia ao espírito de gozação de vida daqueles que o mundo considera como seus. “Não imagineis, prossegue ele, que essa Sabedoria, mais pura que os raios de sol, entre em uma alma e em um corpo sujos pelos prazeres dos sentidos. Não penseis que ela ofereça seu repouso, sua paz inefável, aos que amam as companhias e as vaidades do mundo. Não dou, diz ela, meu maná escondido senão aos que são vitoriosos do mundo e de si mesmos. (Apoc 2, 17.) Essa amável Soberana, embora por sua luz infinita conheça e distinga todas as coisas em um instante, anda à procura dos que são dignos dela (Sab 6, 17). Ela procura, porque o número deles é tão pequeno, que com dificuldade encontra alguns desligados do mundo o bastante, interiores e mortificados o bastante, para serem dignos dela, dignos de sua Pessoa e de seus tesouros e de sua aliança.” (A.S.E., n. 194-195.) Ó meu Deus, como essas palavras, jorradas do coração de um santo, devem determinar minha conversão completa ao espírito de vosso divino Filho! Até o presente, o desejo da única e verdadeira Sabedoria, assim como a prece necessária para adquiri-la, levaram minha vontade a uma escolha definitiva; mas desejo e prece não sondaram o lado vulnerável de minha natureza, não me colocaram frente a frente à sua corrupção e às suas fraquezas. A mortificação me atinge no âmago do ser, ela me engaja em uma luta decisiva contra os instintos e as paixões que o mundo tenta tornar seus cúmplices. Aceitar a luta, persegui-la generosamente, é vencer o mundo, é me tornar capaz de aspirar às alegrias da divina Sabedoria. Recuarei agora? Tornarei inúteis meus precedentes esforços? Por que persistiria em cultivar em minha natureza, ferida pelo pecado original e enfraquecida por meus pecados pessoais, as brechas pelas quais penetra o espírito de gozação de vida do século? Minha própria segurança não me ordena fechar-lhe todo acesso?… Para qualquer lado que me volte, a mesma alternativa se apresenta sempre: ou o espírito do mundo, ou o espírito de Jesus Cristo… Posso seguir o caminho largo do prazer… Posso engajar-me também, seguindo meu divino Mestre, no caminho estreito do sacrifício. O melhor não é assumir, não é aceitar tudo o que acaba de me dizer São Luís Maria de Montfort, tal como o expressa à luz e com a força dos textos inspirados, sem tentar negligenciar o que quer que seja?… Ó Maria, modelo dos corações fortes, engajai e mantende meus passos no caminho que me indica vosso amor, o caminho da divina Sabedoria. ---- II. EXTENSÃO DA MORTIFICAÇÃO. “A Sabedoria não pede, para se comunicar, uma mortificação pela metade e uma mortificação de alguns dias; mas uma mortificação universal e contínua, corajosa e discreta. Para ter a Sabedoria, isto é, para possuir Jesus Cristo com seus tesouros de graças e de virtudes, é preciso deixar realmente os bens do mundo, como fizeram os apóstolos, os discípulos, os primeiros cristãos, e como fazem os religiosos: é o meio mais rápido, o melhor, o mais seguro; ou, ao menos, é preciso desapegar seu coração dos bens, e possuí-los como sem os possuir, sem se apressar para tê-los, sem se inquietar para conservá-los, sem se queixar nem se impacientar quando se os perde: o que é muito difícil de executar.” Muitos cristãos, contudo, conseguem se santificar permanecendo no mundo. Mas então “não se devem conformar aos modos exteriores dos mundanos, seja no vestuário, seja nos móveis, seja nas casas, seja nas refeições e nos outros usos e ações da vida. Nolite conformari huic saeculo. (Rom 12, 2.) Essa prática é mais necessária do que se pensa”. Ela põe um freio ao amor do bem-estar e das satisfações naturais. “Não se deve nem crer nem seguir as falsas máximas do mundo, como já vimos em nossa meditação do primeiro dia. Não se deve pensar, falar, agir como os mundanos. Eles têm uma doutrina tão contrária à da Sabedoria encarnada quanto as trevas à luz e a morte à vida. Examinai bem seus sentimentos e suas palavras: eles pensam e falam mal de todas as maiores verdades. É verdade que não mentem abertamente; mas disfarçam suas mentiras sob a aparência da verdade; não pensam que estão mentindo, mas mentem ainda assim. Em geral, não ensinam o pecado abertamente, mas tratam-no como virtude, ou honestidade, ou de coisa indiferente e de pouca importância. É nessa sutileza, que o mundo aprendeu com o demônio para cobrir a feiúra do pecado e da mentira, que consiste essa malignidade da qual fala São João: Mundus totus in maligno positus est (1Jo 5, 19). Por toda parte o mundo é penetrado por essa malignidade, e agora mais do que nunca.” É a porta larga aberta a todos os prazeres proibidos. “Por fim, se se permanece no século, é preciso, tanto quanto possível, fugir das companhias dos homens, não somente das dos mundanos, que são perniciosas ou perigosas, mas até mesmo as das pessoas devotas, quando são inúteis e fazem perder tempo.” As conversações se tornam, então, o alimento dessa curiosidade que desenvolve os gostos terrenos e prejudica grandemente a vida interior. (A.S.E., 197-200.) Eis a mais fundamental mortificação cristã: nenhuma aliança, nenhum compromisso com o espírito do mundo, mesmo permanecendo no mundo. “O ponto capital da vida cristã, escrevia o grande Pontífice Leão XIII, é não ceder à corrupção dos costumes do século, mas opor-lhe uma luta, uma resistência constante.” ---- “Para ter a Sabedoria,” continua Montfort, “é preciso também mortificar o corpo, não somente sofrendo pacientemente as enfermidades que o afetam, as injúrias das estações e os golpes que recebe, nesta vida, das criaturas; mas também procurando-se alguns castigos e mortificações, como os jejuns, as vigílias, e outras austeridades de santos penitentes. É preciso coragem para isso, porque a carne é naturalmente idólatra de si mesma; e o mundo vê e rejeita como inúteis todas as mortificações do corpo. O que ele não diz, o que ele não faz para desviar da prática das austeridades os santos que, todos, mais ou menos, reduziram seu corpo à servidão? Eles haviam feito como um pacto com ele, de não lhe conceder nenhum descanso neste mundo.” São esses grandes vitoriosos que devemos imitar, sem dar atenção à zombaria dos mundanos: nossos gostos não lhes são contrários, nossos hábitos não lhes são opostos? Repitamos-lhes a palavra de Tertuliano: “O tempo de nossos banquetes e de nossas núpcias ainda não chegou: não podemos nos regozijar convosco, porque vós também não podereis vos regozijar conosco.” Virá o tempo de nosso banquete, pois o Esposo divino nos convidou às suas bodas eternas; então, os que carregaram em seu corpo a mortificação do Salvador Jesus entrarão na alegria de sua beatitude infinita, enquanto os mundanos libertinos serão enviados ao lugar das lágrimas e do ranger de dentes. “A fim de que essa mortificação exterior e voluntária seja boa, importa necessariamente uni-la à mortificação do julgamento e da vontade, por meio da santa obediência; porque, sem essa obediência, toda mortificação é manchada pela vontade própria, e geralmente mais agradável ao demônio do que a Deus. É por isso que não devemos nos entregar a nenhuma mortificação considerável sem conselho… Aquele que não quer se arrepender do que fez não deve fazê-lo antes de ter pedido o parecer de um homem prudente e experimentado. Esse é o grande conselho que o Espírito Santo nos dá… (Eclo 32, 24.) Por meio dessa obediência, o amor-próprio, que tudo estraga, é repelido; a menor coisa se torna muito meritória; estamos protegidos da ilusão do demônio.” (A.S.E., n. 196-202.) São Luís Maria de Montfort nos faz assim entender que a mortificação interior ou espiritual é superior à mortificação exterior ou corporal, mas uma não é menos necessária que a outra, de outro modo não chegaremos a triunfar sobre essa cobiça carnal que carregamos em nós mesmos, e não avançaremos jamais seriamente na virtude. A mortificação corporal, praticada com essa moderação e essa prudência, que acaba de nos recomendar nosso guia espiritual, será sempre nossa força contra a tendência de nossa natureza decaída a buscar o prazer por toda parte onde podemos encontrá-lo. Afinal, ela nos fará gozar também dessa paz, dessa alegria, dessa serenidade de alma que imploramos à Santíssima Virgem no começo de nossa meditação. Os cristãos mortificados experimentam uma felicidade íntima que jamais conhecerão os mundanos entregues a toda sorte de prazeres. ---- Não é preciso dizer que a mortificação, assim compreendida, difere da penitência. Esta tem como efeito reparar os pecados que tivemos a infelicidade de cometer; a mortificação, ao contrário, visa, antes de tudo, a prevenir as faltas. Sem dúvida, ela pode também contribuir para nos purificar das faltas passadas; mas seu objetivo principal é nos precaver contra as do presente e do futuro, diminuindo em nós o amor do prazer, fonte de todos os nossos pecados, e mantendo-nos, por isso mesmo, opostos ao espírito do mundo. Avançamos, assim, com passos seguros rumo a esse fim beatificante que Montfort não deixa de nos indicar: a posse de Jesus, a Sabedoria encarnada, com todos os bens que encerra sua divina Pessoa. Ó Maria, apegai cada vez mais nossos corações a essa felicidade que não engana e não passa jamais. Se desejamos gozar dela um dia no Céu, face a face com a eternidade, não devemos, desde agora, buscar e encontrar um antegozo dela nas intimidades que nos oferece nossa vida de graça santificadora? Nossa Consagração de escravos de amor acrescentará também a ela as alegrias de um pertencimento total e indefectível. ORAÇÕES Veni, Creátor Spíritus (Vinde, Espírito Criador) (Latim) Veni, Creátor Spíritus, Mentes tuórum visita, Imple supérna gratia, Quæ tu creásti péctora. Qui diceris Paráclitus, Altíssimi donum Dei, Fons vivus, ignis, charitas Et spiritális únctio. Tu septiformis múnere, Dígitus patérnæ déxteræ Tu rite promissum Patris, Sermone ditans gúttura. Accénde lumen sénsibus: Infúnde amórem córdibus; Infírma nostri córporis, Virtúte firmans pérpeti. Hostem repéllas longius, Pacémque donas prótinus: Duc sic te præeúnte, nostrum Vítemus omne nóxium. Per te sciámus da Patrem, Noscámus atque Fílium: Te utriúsque Spíritum Credámus omni témpore. Deo Patri sit glória, Et Fílio, qui a mórtuis Surréxit, ac Paráclito, In sæculórum sǽcula. Amen. ℣. Emítte Spíritum tuum, et creabúntur. ℟. Et renovábis fáciem terrae. Deus qui corda fidélium Sancti Spíritus illustratióne docuísti: da nobis in eódem Spíritu recta sápere; et de eius semper consolatióne gaudére. Per Christum dominum nostrum. Amen. (Vernáculo) Vinde, Espírito Criador, a nossa alma visitai e enchei os corações com vossos dons celestiais. Vós sois chamado o Intercessor, de Deus excelso dom sem par, a fonte viva, o fogo, o amor, a unção divina e salutar. Sois o doador dos sete dons e sois poder na mão do Pai, por Ele prometido a nós, por nós seus feitos proclamai. A nossa mente iluminai, os corações enchei de amor, nossa fraqueza encorajai, qual força eterna e protetor. Nosso inimigo repeli e concedei-nos vossa paz; se pela graça nos guiais, o mal deixamos para trás. Ao Pai e ao Filho Salvador, por Vós possamos conhecer; que procedeis do Seu amor fazei-nos sempre firmes crer. Amém! ℣. Enviai o Vosso Espírito. ℟. E renovareis a face da terra. Ó Deus, que instruístes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, fazei que apreciemos retamente todas as coisas segundo o mesmo Espírito e gozemos sempre da sua consolação. Por Cristo, Senhor Nosso. Amém. Ave maris stella (Ave, do mar Estrela) (Latim) 1. Ave maris stella, Dei Mater alma, Atque semper Virgo, Felix cæli porta. 2. Sumens illud Ave Gabrielis ore, Funda nos in pace, Mutans Hevæ nomen. 3. Solve vincla reis, Profer lumen cæcis, Mala mostra pelle, Bona cuncta posce. 4. Monstra te esse matrem, Sumat per te preces, Qui pro nobis natus Tulit esse tuus. 5. Virgo singularis, Inter omnes mitis, Nos, culpis solutos, Mites fac et castos. 6. Vitam præsta puram Iter para tutum, Ut, videntes Jesum, Semper collætemur. 7. Sit laus Deo Patri, Summo Christo decus, Spiritui Sancto, Tribus honor unus. Amen. (Vernáculo) 1. Ave, do mar Estrela De Deus mãe bela, Sempre virgem, da morada Celeste Feliz entrada. 2. Ó tu que ouviste da boca Do anjo a saudação; Dá-nos a paz e quietação; E o nome da Eva troca. 3. As prisões aos réus desata. E a nós cegos alumia; De tudo que nos maltrata Nos livra, o bem nos granjeia. 4. Ostenta que és mãe, fazendo Que os rogos do povo seu Ouça aquele que, nascendo Por nós, quis ser filho teu. 5. Ó virgem especiosa, Toda cheia de ternura, Extintos nossos pecados Dá-nos pureza e brandura, 6. Dá-nos uma vida pura, Põe-nos em via segura, Para que a Jesus gozemos, E sempre nos alegremos. 7. A Deus Pai veneremos: A Jesus Cristo também: E ao Espírito Santo; demos Aos três um louvor. Amém. |
Dia 10: Uma verdadeira devoção a MariaEis enfim o maior dos meios que nos propõe São Luís Maria de Montfort para nos libertar do espírito do mundo e nos fazer adquirir o espírito de Jesus Cristo: ter uma verdadeira devoção pela Santa Virgem. Esse é o maior dos meios, porque para praticar os meios de salvação e de santidade, a graça nos é absolutamente necessária; mas a graça, isto é, a vida divina de Jesus em nós, só nos é comunicada por Maria.Consideraremos, pois, por que a graça nos é dada por Maria, e o quanto importa nos dispor a recebê-la por uma verdadeira devoção a essa divina Mãe. Tornemos nossa meditação cada vez mais fervorosa, à medida que nos aproximamos do fim deste primeiro período de nossos Exercícios preparatórios à Consagração. I. POR QUE A GRAÇA NOS É DADA POR MARIA Nunca houve alguém além de Maria, nos diz Montfort, que tenha encontrado graça diante de Deus para si mesma e para todo o gênero humano, e que tenha tido o poder de encarnar e pôr no mundo a Sabedoria Eterna; e ainda hoje somente ela tem, pela ação do Espírito Santo, o poder de encarná-la, por assim dizer, nos predestinados. Os patriarcas, profetas e santos da antiga Lei pediram a encarnação da Sabedoria Eterna, mas ninguém a mereceu. Somente Maria, pela sublimidade de sua virtude, atingiu o trono da Divindade e mereceu esse benefício infinito. Assim, tornou-se a Mãe, a Senhora e o Trono da Sabedoria Eterna. 1º Maria é sua MÃE digníssima, porque encarnou e pôs no mundo como fruto de suas entranhas a Sabedoria Eterna, Jesus. Por isso, em todo lugar onde se encontra Jesus, é verdadeiro dizer que ele é fruto de Maria; somente Maria é a árvore da vida, e somente Jesus é seu fruto. Quem deseja ter Jesus, deve ter Maria. 2º Maria é a SENHORA da divina Sabedoria. Não por estar acima da Sabedoria ou igual a ela — o que seria blasfêmia —, mas porque Jesus, a Sabedoria Eterna, submeteu-se a Maria como a sua Mãe e deu-lhe sobre si um poder materno e natural, incompreensível, tanto na terra quanto agora no Céu. Assim, Maria, por suas preces e maternidade divina, obtém de Jesus tudo o que deseja e o dá a quem quiser, gerando-o todos os dias nas almas que deseja. Quem ganhou as boas graças de Maria pode estar certo de possuir em breve a Sabedoria, pois Maria ama os que a amam e lhes comunica de mãos cheias seus bens, especialmente Jesus. Sendo Senhora da Sabedoria, ela tem também poder sobre todas as graças e dons de Deus: é o tesouro inesgotável do Senhor, a tesoureira e dispensadora de todos os seus dons. Deus quer que, desde que deu a ela seu Filho, recebamos tudo por sua mão; não desce dom celeste algum sem passar por ela. É de sua plenitude que recebemos, e tudo o que há de graça e esperança em nós nos vem de Deus por ela. Ela dá a quem quiser, quanto quiser, quando e como quiser, todas as graças de Deus, virtudes de Jesus Cristo, dons do Espírito Santo e bens da natureza, da graça e da glória. Todavia, por maiores que sejam esses dons, Maria não se contenta enquanto não nos dá seu Filho Jesus, a Sabedoria encarnada. Ela busca diariamente almas dignas para conceder-lhes esse dom supremo. 3º Maria é o TRONO real da Sabedoria Eterna. É nela que a Sabedoria, na Encarnação, manifesta suas grandezas, revela seus tesouros e encontra contentamento. Não há lugar no Céu ou na terra onde a Sabedoria faça ver tanta magnificência e assuma tanta complacência quanto em Maria. Por isso, os Padres e Doutores da Igreja a chamam de santuário da Divindade, repouso e contentamento da Trindade, trono de Deus, cidade de Deus, altar de Deus, templo de Deus, mundo de Deus e paraíso de Deus — títulos que expressam as maravilhas que o Altíssimo realizou nela. (A.S.E., n. 203-208.) ---- Monfort nos conduz, assim, a esta firme conclusão: “Somente por intermédio de Maria, pois, se pode obter a Sabedoria”, isto é, a posse da divina Pessoa de Jesus, com todos os tesouros de graça e de santidade que ela encerra. A devoção a Maria nos aparece então, com toda evidência, como o maior dos meios para atingir o fim que perseguimos em nossos Exercícios espirituais. Sem Jesus e seus tesouros de vida divina não podemos nada fazer, não podemos ganhar qualquer mérito; e é somente Maria que nos dá Jesus. Ela o deu ao mundo, e o dá a cada alma em particular. Devemos, pois, amá-la, recorrer a ela, testemunhar-lhe uma verdadeira devoção e permitir-lhe assim exercer a nosso respeito sua missão de graça. II. O QUE SE DEVE ENTENDER COMO VERDADEIRA DEVOÇÃO A MARIA. A verdadeira devoção a Maria se reconhece nas qualidades seguintes: ela é interior, terna, constante e santa. Montfort tem o cuidado de nos indicar essas qualidades antes de avançar, para nos precaver contra as falsas devoções que correm o mundo, e das quais o demônio se serve para enganar e perder muitas almas. Seria funesto para nós, de fato, visar a Perfeita Consagração a Maria, se nossa devoção não apresentasse as qualidades de base, que nos serão sempre luz e força. Antes de tudo, a verdadeira devoção a Maria é INTERIOR, o que quer dizer que ela parte de nosso espírito e de nosso coração: de nosso espírito que formou para si mesmo – como acabamos de ver – uma alta ideia das grandezas de Maria; de nosso coração, que tem por ela um amor inabalável. A inteligência e a vontade são conquistadas, a alma inteira lhe é devotada. Consequentemente, esforçamo-nos para manifestar externamente essa estima e esse amor por meio de diversas práticas de piedade deixadas à iniciativa de cada um, e também por um zelo diligente em aproveitar todas as ocasiões de fazer conhecer a Santa Virgem e de propagar sua devoção ao redor de si. Entre as práticas de piedade, apegar-nos-emos, sobretudo, ao santo Rosário, que Montfort, aqui mesmo, já nos recomendou como o meio mais poderoso de atrair a Sabedoria Eterna para dentro de nós. Vigiaremos para dizê-lo com fervor e meditação dos mistérios, lutando incessantemente contra a rotina e a indiferença. Separar-nos-emos assim claramente desses devotos exteriores que descreve nosso santo em seu Tratado da Verdadeira Devoção (n. 96). Eles também aceitam de bom grado as práticas habituais de devoção a Maria, mas experimentam somente seu exterior. Tudo o que se vê os atrai. Sua sensibilidade assim se satisfaz. Não vão além disso. Falta-lhes o espírito interior. Vós os vedes “recitar muitos rosários apressadamente, ouvir várias missas sem atenção, ir às procissões sem devoção, entrarem em todas as confrarias sem correção de sua vida, sem violência às suas paixões e sem imitação das virtudes da Santa Virgem”. Assim os observais hoje, assim os revereis mais tarde. A alma não retirou qualquer fruto de práticas tão santificadoras em si mesmas. “O mundo, observa judiciosamente o Pe. de Montfort, está cheio dessa espécie de devotos exteriores.” Reconhecemo-los por seu espírito de curiosidade e de difamação. Pois “não há gente mais crítica das pessoas de oração, que se dedicam ao interior como ao essencial”. ---- A verdadeira devoção a Maria é TERNA, isto é, cheia de confiança em Maria, como a de um filho em sua boa Mãe. A alma recorre então à sua intercessão com grande simplicidade, em todas as suas necessidades, tanto as do corpo quanto as do espírito. Ela implora por sua ajuda, sua assistência em todo tempo, em todo lugar e em todas as coisas: “em suas dúvidas, para ser iluminada; em seus desvarios, para ser corrigida; em suas tentações, para ser fortificada; em suas quedas, para ser reerguida; em seus desencorajamentos, para ser encorajada; em suas inquietações morais, para ser livre delas; em suas cruzes, trabalhos e problemas da vida, para ser consolada” (V. D., n. 107). Maria é seu recurso ordinário, e jamais aflora o medo de importunar essa boa Mãe ou de desagradar a Jesus Cristo. Admirável simplicidade, ela é o sinal de uma alma que ama verdadeiramente. Como, por isso, nos aparece diferente e censurável a conduta dos que têm sempre medo de fazer demais pela Santa Virgem, como se a Santa Virgem retivesse consigo mesma as homenagens que lhe dirigimos; como se o maior desejo de Maria não fosse nos ver amar cada vez mais seu divino Filho. Que eles compreendam, pois, também, que Jesus Cristo honrou sua Mãe, mais do que nós mesmos a poderemos honrar. ---- A verdadeira devoção a Maria é CONSTANTE. Ela firma a alma no bem, leva-a a não deixar facilmente suas práticas de piedade. Torna-a corajosa para se opor ao mundo, em seus modos e suas máximas; à carne, em seus tédios e suas paixões; e ao diabo, em suas tentações; de modo que uma pessoa verdadeiramente devota a Maria não é inconstante nem melancólica. Não que ela não caia algumas vezes, ou que não tenha nada a sofrer na sensibilidade de sua devoção. Mas se ela cai, reergue-se imediatamente, estendendo a mão à sua boa Mãe; se ela perde o gosto e o fervor sensível, não sofre por isso, pois em sua inteligência a fé continua a projetar luzes sobre as grandezas de Maria e sobre a solidez de sua devoção. (V.D., n. 109.) Ela luta assim, e de forma meritória, contra a leviandade de tantas pobres pessoas no mundo, que não amam a Santa Virgem senão por intervalos e em repentes. A momentos de fervor sucedem dias de mornidão; a compromissos e promessas de fidelidade não corresponde nenhum esforço louvável para mantê-los. Mais vale prometer menos, e permanecer fiel; mais vale se contentar com as práticas essenciais, e nunca omiti-las, salvo caso de impossibilidade. ---- Por fim, a verdadeira devoção a Maria é SANTA, o que significa que ela leva uma alma a evitar o pecado e a imitar as virtudes da Santíssima Virgem. Evitar o pecado não basta, é o lado negativo da vida cristã. É preciso, sobretudo, dedicar-se a manifestar em sua conduta as virtudes tão recomendadas por Nosso Senhor em seu Evangelho. Essas virtudes, encontramo-las todas no Coração de Maria, onde elas se nos tornam amáveis, atraentes, acessíveis, porque praticadas por uma pessoa humana, irmã de nossas almas, que andou em nossos caminhos e que, agora, facilita nosso acesso ao Cristo Jesus. O Pe. de Montfort enumera, no n. 108 de seu Tratado, as dez principais virtudes de Nossa Senhora. O que quer dizer que não devemos negligenciar nenhuma delas. Mas, para começar, poderemos nos dedicar a imitar especialmente sua humildade profunda, virtude básica que nada substitui (voltaremos a esse tema em nossa primeira Semana); depois, sua obediência inabalável, sua paciência heroica, sua doçura angelical. Quando essas virtudes aparecem em uma alma, as outras estão também em bom caminho, e a solidez da devoção se afirma cada vez mais. Como estamos longe, então, desses devotos presunçosos que Montfort assinala e estigmatiza como sendo os piores de todos. Pecadores entregues às suas paixões ou amantes do mundo, eles escondem – sob a aparência de algumas práticas de devoção em relação a Maria – faltas graves de que dormem em paz em seus maus costumes. A Santa Virgem, dizem, não os deixará morrer sem confissão; eles não serão condenados, desde que continuem rogando a ela. Esperam evitar assim a condenação, continuando a cometer o pecado. São os piores falsos devotos, porque neles a vontade é fundamentalmente má. Não se trata, observemo-lo bem, de pobres pecadores, vítimas de sua fraqueza, deplorando suas quedas e recorrendo a Maria para se reerguer e sair desse miserável estado. Trata-se de pecadores cometendo conscientemente o pecado mortal, e negando toda correção enquanto lhes sorrir a vida presente. “Admito, reconhece Montfort, que para ser verdadeiramente devoto à Santa Virgem não é absolutamente necessário ser tão santo a ponto de evitar todo pecado, embora isso fosse desejável; mas é preciso ao menos (e que se observe bem o que vou dizer) estar em uma sincera resolução de evitar pelo menos todo pecado mortal; ser duro consigo mesmo para evitar o pecado; participar das confrarias, recitar o terço, o rosário ou outras orações, jejuar no sábado, etc… “Isso é maravilhosamente útil à conversão de um pecador, mesmo endurecido; e se meu leitor é assim, mesmo que tenha um pé no abismo, assim o aconselho; mas com a condição de que não pratique essas boas obras senão com a intenção de obter de Deus, pela intercessão da Santa Virgem, a graça da contrição e do perdão de seus pecados, e de vencer seus maus hábitos, e não para permanecer tranquilamente no estado do pecado contra os remorsos de sua consciência, o exemplo de Jesus Cristo e dos santos, e as máximas do Evangelho.” (V. D., 99, 100.) Pois “nada é tão condenável, no cristianismo, quanto essa presunção diabólica. Podemos dizer com verdade que amamos e honramos a Santa Virgem quando, com nossos pecados, perfuramos, traspassamos, crucificamos e ultrajamos Jesus Cristo, seu Filho? E se Maria tinha para si como uma lei salvar por sua misericórdia esse tipo de pessoas, ela autorizaria o crime, e ajudaria a crucificar e ultrajar seu filho; quem ousaria jamais pensá-lo? “Digo que abusar assim da devoção à Santa Virgem é cometer um horrível sacrilégio. Depois do sacrilégio da comunhão indigna, é o maior e o menos perdoável.” (n. 98.) Grande advertência de um Santo que nos põe continuamente atentos contra o espírito do mundo, insuflado por Satanás até na devoção a Maria. “O diabo, como um falso negociador e um enganador sutil e experimentado, tanto enganou e condenou almas por uma falsa devoção à Santíssima Virgem, que se serve todos os dias de sua experiência diabólica para perder muitos outros, entretendo-os e adormecendo-os no pecado, sob o pretexto de algumas preces mal ditas e de algumas práticas exteriores que lhes inspira.” (n. 90.) ---- Estaremos ao abrigo de todas as suas armadilhas, lembrando-nos frequentemente do que Deus fez pela Santíssima Virgem: como a escolheu para ser a Mãe e a Senhora de seu divino Filho, e o Trono de onde quer irradiar sobre o mundo todas as graças da redenção. Ao contemplar Maria tão grande no pensamento e no coração de Deus, desejaremos que ela seja grande também na devoção verdadeira que lhe dedicamos, e que veremos desabrochar, no termo destes Exercícios, na Perfeita Consagração de São Luís Maria de Montfort. ORAÇÕES Veni, Creátor Spíritus (Vinde, Espírito Criador) (Latim) Veni, Creátor Spíritus, Mentes tuórum visita, Imple supérna gratia, Quæ tu creásti péctora. Qui diceris Paráclitus, Altíssimi donum Dei, Fons vivus, ignis, charitas Et spiritális únctio. Tu septiformis múnere, Dígitus patérnæ déxteræ Tu rite promissum Patris, Sermone ditans gúttura. Accénde lumen sénsibus: Infúnde amórem córdibus; Infírma nostri córporis, Virtúte firmans pérpeti. Hostem repéllas longius, Pacémque donas prótinus: Duc sic te præeúnte, nostrum Vítemus omne nóxium. Per te sciámus da Patrem, Noscámus atque Fílium: Te utriúsque Spíritum Credámus omni témpore. Deo Patri sit glória, Et Fílio, qui a mórtuis Surréxit, ac Paráclito, In sæculórum sǽcula. Amen. ℣. Emítte Spíritum tuum, et creabúntur. ℟. Et renovábis fáciem terrae. Deus qui corda fidélium Sancti Spíritus illustratióne docuísti: da nobis in eódem Spíritu recta sápere; et de eius semper consolatióne gaudére. Per Christum dominum nostrum. Amen. (Vernáculo) Vinde, Espírito Criador, a nossa alma visitai e enchei os corações com vossos dons celestiais. Vós sois chamado o Intercessor, de Deus excelso dom sem par, a fonte viva, o fogo, o amor, a unção divina e salutar. Sois o doador dos sete dons e sois poder na mão do Pai, por Ele prometido a nós, por nós seus feitos proclamai. A nossa mente iluminai, os corações enchei de amor, nossa fraqueza encorajai, qual força eterna e protetor. Nosso inimigo repeli e concedei-nos vossa paz; se pela graça nos guiais, o mal deixamos para trás. Ao Pai e ao Filho Salvador, por Vós possamos conhecer; que procedeis do Seu amor fazei-nos sempre firmes crer. Amém! ℣. Enviai o Vosso Espírito. ℟. E renovareis a face da terra. Ó Deus, que instruístes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, fazei que apreciemos retamente todas as coisas segundo o mesmo Espírito e gozemos sempre da sua consolação. Por Cristo, Senhor Nosso. Amém. Ave maris stella (Ave, do mar Estrela) (Latim) 1. Ave maris stella, Dei Mater alma, Atque semper Virgo, Felix cæli porta. 2. Sumens illud Ave Gabrielis ore, Funda nos in pace, Mutans Hevæ nomen. 3. Solve vincla reis, Profer lumen cæcis, Mala mostra pelle, Bona cuncta posce. 4. Monstra te esse matrem, Sumat per te preces, Qui pro nobis natus Tulit esse tuus. 5. Virgo singularis, Inter omnes mitis, Nos, culpis solutos, Mites fac et castos. 6. Vitam præsta puram Iter para tutum, Ut, videntes Jesum, Semper collætemur. 7. Sit laus Deo Patri, Summo Christo decus, Spiritui Sancto, Tribus honor unus. Amen. (Vernáculo) 1. Ave, do mar Estrela De Deus mãe bela, Sempre virgem, da morada Celeste Feliz entrada. 2. Ó tu que ouviste da boca Do anjo a saudação; Dá-nos a paz e quietação; E o nome da Eva troca. 3. As prisões aos réus desata. E a nós cegos alumia; De tudo que nos maltrata Nos livra, o bem nos granjeia. 4. Ostenta que és mãe, fazendo Que os rogos do povo seu Ouça aquele que, nascendo Por nós, quis ser filho teu. 5. Ó virgem especiosa, Toda cheia de ternura, Extintos nossos pecados Dá-nos pureza e brandura, 6. Dá-nos uma vida pura, Põe-nos em via segura, Para que a Jesus gozemos, E sempre nos alegremos. 7. A Deus Pai veneremos: A Jesus Cristo também: E ao Espírito Santo; demos Aos três um louvor. Amém. |
Dia 11: A inimizade entre Satanás e MariaSendo nossa devoção à Santa Virgem o maior, o mais poderoso meio de atrair às nossas almas Jesus Cristo, a Sabedoria eterna e encarnada, ela é também, por isso mesmo, o meio mais radical de nos libertar do espírito do mundo, sempre em viva oposição com o do Evangelho.É por isso que convém — ao terminar este período preliminar de nossos Exercícios espirituais — fixar nossa meditação sobre a inimizade irreconciliável, desejada por Deus, entre a Virgem e Satanás, o Príncipe do mundo. Essa mesma inimizade deverá ser encontrada em todos os que desejam ser fiéis escravos de amor de Maria. Ao mesmo tempo, uma luz mais viva se projetará sobre as promessas de nosso santo Batismo, e nos convidará a renová-las com um acréscimo de fervor. Renunciar a Satanás e às suas seduções, nos devolver para sempre a Jesus por intermédio de Maria — como conciliar melhor nossas almas com o que constitui o fundamento da vida cristã? Atingimos plenamente o objetivo de nosso trabalho dos doze dias preliminares. Detenhamo-nos hoje em considerar a inimizade que existe entre Satanás e Maria; a inimizade que nos revela a sentença proclamada por Deus no paraíso terrestre contra a serpente tentadora. Veremos como, em virtude dessa sentença, Maria foi inteiramente subtraída do poder do demônio: ele nunca pôde e não poderá prejudicá-la. Por outro lado, a Virgem será sempre onipotente face ao seu ódio de condenado. ---- I. – MARIA, INTEIRAMENTE SUBTRAÍDA DO PODER DE SATANÁS. Adão e Eva, criados em estado de justiça original, gozavam do Éden sob uma única proibição imposta por Deus. Satanás, serafim decaído, movido por ciúmes, atacou Eva disfarçado de serpente, animal mais astuto, e com palavras sedutoras a levou a desobedecer. Eva cedeu e induziu Adão a fazer o mesmo, perdendo o paraíso e mergulhando ambos no medo e na vergonha diante de Deus. Interrogados, Adão culpou Eva, e esta atribuiu parte da culpa à serpente. Então Deus disse à serpente: “És maldita… rastejarás… comeras poeira… Porei inimizades entre ti e a Mulher, entre tua posteridade e a dela. Ela te pisará a cabeça, e tu armarás traições ao seu calcanhar” (Gên 3, 13-15). Essa sentença tem duas partes: a primeira, um castigo contra a serpente animal, que, por sua reptação, se torna símbolo de Satanás; a segunda, uma pena contra o próprio Satanás, que se utilizara da serpente para enganar Eva. Deus estabelece uma inimizade entre Satanás e a Mulher, Maria, a predestinada, bendita entre todas, desde o início excluída do domínio do demônio. Maria será a inimiga de Satanás desde o primeiro instante de sua existência, sua concepção será imaculada, em contraste com os demais filhos de Adão e Eva, concebidos no pecado. Confirmada em graça, Maria será preservada de todo pecado, mesmo venial, e de toda fraqueza, inteiramente subtraída aos ataques do demônio, que nunca poderá levá-la à menor desobediência — em total oposição ao poder que teve sobre Eva. Maria será, sobretudo, a Mãe Daquele que esmagará a cabeça da Serpente infernal, a Mãe do grande vencedor de Satanás: “Ponho uma inimizade entre ti, Satanás, e a Mulher que virá; entre tua raça e sua descendência. Esta – a descendência dessa Mulher – te esmagará a cabeça…”, ou seja, destruirá teu império e poder de “Príncipe deste mundo” (Jo 12, 31), o que se refere, primariamente, ao Cristo Jesus, Salvador misericordioso da humanidade. Maria será, assim, Mãe do Redentor e, com Ele, vencedora de Satanás. Ela será sua Mãe e colaboradora na obra divina de revanche. “Eva havia colaborado ativamente em nossa perda, Maria colaborará não menos ativamente em nossa salvação. Mas, assim como a desobediência de Eva não consumou nossa perda, a obediência de Maria não rematará nossa salvação: ambas agem secundariamente. Ao grande responsável que foi Adão, Deus oporá o grande Fiador, o Cristo: ipse conteret caput tuum.” É Ele quem esmagará tua cabeça, arrebatando com luta o fruto de tua vitória sobre os primeiros pais. A Vulgata usou o pronome feminino ipsa, atribuindo a vitória à Mulher, mais que à sua descendência; mas no hebraico, assim como na Septuaginta e na versão siríaca, o pronome é masculino. (São Jerônimo reconhecia que o original é ipse, conservado em antigos manuscritos da Vulgata. Um copista, não compreendendo a relação de ipse com semen, teria escrito ipsa. O sentido, no entanto, não muda substancialmente. Cf. Bíblia de Crampon, nota, Gênesis 3, 15.) É Cristo, o Rebento por excelência da Mulher, o grande vencedor de Satanás, e Maria será associada, como Corredentora, à vitória Daquele que representa eminente sua posteridade. Essa interpretação ajuda-nos a compreender as últimas palavras da sentença divina: “O Rebento da Mulher te esmagará a cabeça, e tu morderás o seu calcanhar.” Diferente de sua Mãe, o Salvador será exposto à mordedura da Serpente infernal, ou seja, às emboscadas que esta lhe preparará: logo após seu nascimento, sofrerá a fuga ao Egito para escapar do massacre de Herodes, instrumento do demônio; no início da vida pública, será tentado no deserto; durante o apostolado, enfrentará as perseguições dos fariseus, “raça de víboras”; e por fim, na hora do poder das trevas, suportará a Paixão e a morte na Cruz. O Cristo foi assim mordido no calcanhar, na parte inferior de si mesmo, em sua humanidade, em seu corpo: venceu pagando com feridas e com a vida corporal. Por outro lado, Maria Corredentora será isenta de toda mordedura da Serpente infernal: não conhecerá as tentações da sua astúcia, nem as perseguições dos inimigos do Filho. “Em parte alguma se vê que os homens tenham atacado diretamente sua pessoa. Sobre o Calvário, nem antes nem depois do Cenáculo, ela é o objeto, parece-nos, de qualquer zombaria, de qualquer mau tratamento.” As primeiras perseguições da Igreja tampouco a atingem. Vive em paz junto a São João, como em retiro e contemplação, em um “deserto” (Apoc 12, 6 e 14), a ponto de seu nome desaparecer das Escrituras após o Pentecostes. Mesmo admitindo, pela crença universal, que Maria tenha conhecido a morte corporal, esta não podia ter senão a forma de um êxtase de amor, uma saída suave da alma, uma dormição tranquila seguida de um pronto despertar; morte sem qualquer caráter penal, caso único na história. Pois até a morte dos santos e a do Cristo têm esse caráter. Satanás, portanto, não pôde prejudicar Maria em nada. Sem dúvida, a Virgem sofreu na vida do Salvador, sobretudo ao pé da Cruz. Mas sofreu em sua alma, como predissera Simeão. Sofreu com o Filho e no Filho. Aos méritos da agonia de Cristo, uniu os da própria Compaixão. Seus sofrimentos, unidos às preces, contribuíram para nossa Redenção, ou seja, para a derrota de Satanás. Ela se mostrou inimiga ativa dele, sem jamais sofrer qualquer mordedura. Admiremos esse triunfo de Deus em seu plano de revanche. Admiremos a nova Eva, totalmente subtraída ao poder do tentador, às ciladas da “antiga serpente, que se chama demônio e satanás” (Apoc 12, 9), “por inveja de quem a morte entrou no mundo” (Sab 2, 24). Com Maria vitoriosa, a vida nos foi devolvida, e a vitória é assegurada a nós, pois se o demônio nada pôde contra a Virgem, por seu turno a Virgem tudo pode contra ele. ---- II. – MARIA, ONIPOTENTE CONTRA SATANÁS. A onipotência de Maria manifesta-se desde o Cenáculo, berço da Igreja nascente. Presente entre os apóstolos e discípulos, ela ora e implora a vinda do Espírito Santo. São eles que iniciarão a conquista das almas, a conversão do mundo pagão, arrancando território por território do domínio de Satanás. Enquanto travam esses primeiros combates e fundam cristandades por todo o império romano, Maria permanece em oração, na solidão e no retiro. Seu Filho a deixa ainda por certo tempo na terra, para consolo dos primeiros batizados, perseguidos e mártires, que buscam força e ardor na sua oração, sabendo que ela ainda está entre eles. A Igreja primitiva conservou intensamente essa lembrança: nas pinturas das Catacumbas e nos afrescos das primeiras Basílicas, Maria é sempre representada como a grande Orante, com as mãos erguidas ao Céu. Quanta raiva devia sentir Satanás diante dessa contínua e onipotente intercessão da Virgem, no momento em que começava a ruir seu império terreno! No Céu, após sua triunfante Assunção, Maria permanece ainda mais onipotente em suas súplicas: omnipotentia supplex. Ela continua a obter e distribuir todas as graças da Redenção. Sua missão é povoar o Paraíso dos eleitos, encher os tronos celestes. “Deus lhe deu, escreve Montfort, o poder e a incumbência de encher de santos os tronos vazios dos quais os anjos apóstatas caíram por soberba.” (V. D., n. 28.) Que estrondosa revanche sobre Lúcifer! Maria não apenas assegura a entrada dos eleitos na glória, mas também sua inserção nas hierarquias angelicais. “Como recompensa de sua humildade”, foi feita Soberana do Reino celeste, com o poder e a missão de restituir a Deus a glória que os anjos rebeldes lhe roubaram. Essa missão durará até o fim dos tempos. Os anjos fiéis estão ao seu serviço, sobretudo São Miguel, vencedor de Lúcifer. Esse Príncipe da Milícia celestial será o mais zeloso executor de suas ordens, tanto nos grandes combates da Igreja — onde Maria surgirá como exterminadora das heresias — quanto nas lutas interiores de cada cristão contra o demônio, especialmente na hora decisiva da morte, quando Maria deseja apenas justificar seu consolador título de “Porta do Céu”, ou seja, salvar o maior número possível de almas. ---- É por isso que sua onipotência se manifesta sobretudo em relação aos pecadores. Coisa maravilhosa: Maria, a inimiga irreconciliável de Satanás, não será inimiga daqueles que ele possui no pecado. Ao contrário, será seu Refúgio, a Esperança dos desesperados, como a chama Santo Efrém. Ela os arrancará do inferno, se consentirem invocá-la e implorar seu perdão; pois jamais se dirá que algum dos que recorreram à sua misericórdia tenha sido abandonado ou rejeitado. Compreende-se, então, o ódio persistente de Satanás por ela, seu furor contra suas milagrosas intervenções, contra Lourdes, La Salette, Fátima, contra todas as suas aparições, sempre em favor dos pecadores e fonte de incontáveis conversões. Se Nossa Senhora de Fátima chegou a mostrar aos três pastorinhos uma visão do inferno, é sinal de que deseja, com toda a força de seu poder, evitar a danação eterna de tantas pobres almas, que o inferno – mais furioso do que nunca – se obstina a perder. E se ela percorreu o mundo inteiro como Peregrina – inclusive o mundo hindu e muçulmano –, semeando graças por onde passa, isso mostra claramente sua luta contra Satanás e sua incansável misericórdia pelos que ele julga possuir para sempre. Não se pode negar que o comunismo seja a mais monstruosa heresia já surgida: nega absolutamente a Deus e seus mandamentos, promove o ateísmo universal e visa re-paganizar a terra. Seus adeptos não admitem senão a matéria e a vida presente. Seu sucesso é fulminante: um quarto da população mundial está sob seu poder. Na Encíclica Divini Redemptoris, Pio XI afirmou que a rápida difusão das ideias comunistas só se explica por “uma propaganda verdadeiramente diabólica”. Maria, então, aparece em Fátima e denuncia a Rússia como berço do comunismo. Ao mesmo tempo, pede orações e atos de reparação pela conversão dessa nação governada pelos Sem-Deus. Promete o triunfo de seu Coração Imaculado, o fim das guerras e perseguições, se lhe obedecermos e abandonarmos o espírito do mundo, retornando ao Evangelho. Eis Maria levantando-se novamente contra Satanás e suas legiões infernais. Com a solene Definição do dogma de sua Assunção corporal, no momento em que Satanás pensava possuir a vitória, ela esmaga de uma só vez todos os erros comunistas. Afirma, diante do Universo, a distinção entre alma e corpo, a sobrevivência da alma, a existência da outra vida, a participação do corpo na felicidade da alma, a dignidade restaurada da pessoa humana, a vida eterna com Deus. Além disso, para mostrar o laço entre essa Definição e sua Mensagem de Fátima, ela renova para Pio XII, e somente para ele, por quatro vezes – nos dias 30 e 31 de outubro, 1º e 8 de novembro de 1950 – o grande milagre do sol, sinal da autenticidade de sua Mensagem de 1917. Poderia haver prova mais evidente de sua onipotência como Inimiga de Satanás? Por fim, a Santíssima Virgem pediu a consagração da Rússia ao seu Coração Imaculado. Toda a catolicidade exultou com o gesto do Sumo Pontífice, no dia 7 de julho de 1952. Com ele, Maria atinge o comunismo em seu ponto crucial, pois a conversão da Rússia, anunciada por ela, certamente trará a conversão das demais nações que gemem sob o jugo infernal. Esse será seu triunfo, seu reino de paz. Cumpre-se assim o que escreveu Montfort no Tratado da Verdadeira Devoção: “Deus formou apenas uma inimizade, mas irreconciliável, que durará e aumentará até o fim: é entre Maria, sua digna Mãe, e o diabo; entre os filhos e servos da Santa Virgem, e os filhos e cúmplices de Lúcifer; de modo que a mais terrível das inimigas que Deus estabeleceu contra o diabo é Maria, sua santa Mãe.” (n. 52.) ---- Que esta meditação nos ajude a compreender o quanto devemos, por toda a nossa vida, seguir os passos da Virgem, inimigos declarados de Satanás. Ele tem o poder de nos tentar, é verdade; mas não o de nos fazer sucumbir. Podemos opor-lhe a energia de nossa vontade sustentada pela graça. No dia de nosso batismo, as preces sacramentais da Igreja expulsaram de nossa alma o demônio que nela se encontrava instalado em consequência do pecado original. “Sai desta criança, disse-lhe o sacerdote, e dá lugar ao Espírito Santo.” Pela virtude dessa ordem, Satanás teve de sair, e o Espírito Santo entrou com a intenção de ali sempre permanecer. Se chegamos a cometer um pecado mortal, revertemos essa forte palavra do sacerdote; somos nós, então, que dizemos ao Espírito Santo: “Sai de minha casa, e dá de novo lugar ao demônio.” O demônio retorna, e faz estragos. Reflitamos no sofrimento que a Santa Virgem experimenta cada vez que um batizado pactua assim com o demônio. E quanto mais se se trata de uma alma, escrava de Maria, que consente se tornar outra vez escrava de Satanás! Sem dúvida, há o remédio do sacramento da Penitência, se a alma pecadora apresenta a Deus as disposições desejadas; por outro lado, é santificador poupar a si mesmo dos remorsos de uma consciência manchada e de uma prestação de contas mais penosa no dia do julgamento. Saibamos empregar para nosso proveito a onipotência da Santa Virgem contra o demônio tentador, a fim de que ele não possa nos prejudicar de modo algum. Avançaremos, então, na fidelidade às promessas de nosso Batismo e de nossa Consagração, sobre o caminho que conduz à eterna recompensa. ORAÇÕES Veni, Creátor Spíritus (Vinde, Espírito Criador) (Latim) Veni, Creátor Spíritus, Mentes tuórum visita, Imple supérna gratia, Quæ tu creásti péctora. Qui diceris Paráclitus, Altíssimi donum Dei, Fons vivus, ignis, charitas Et spiritális únctio. Tu septiformis múnere, Dígitus patérnæ déxteræ Tu rite promissum Patris, Sermone ditans gúttura. Accénde lumen sénsibus: Infúnde amórem córdibus; Infírma nostri córporis, Virtúte firmans pérpeti. Hostem repéllas longius, Pacémque donas prótinus: Duc sic te præeúnte, nostrum Vítemus omne nóxium. Per te sciámus da Patrem, Noscámus atque Fílium: Te utriúsque Spíritum Credámus omni témpore. Deo Patri sit glória, Et Fílio, qui a mórtuis Surréxit, ac Paráclito, In sæculórum sǽcula. Amen. ℣. Emítte Spíritum tuum, et creabúntur. ℟. Et renovábis fáciem terrae. Deus qui corda fidélium Sancti Spíritus illustratióne docuísti: da nobis in eódem Spíritu recta sápere; et de eius semper consolatióne gaudére. Per Christum dominum nostrum. Amen. (Vernáculo) Vinde, Espírito Criador, a nossa alma visitai e enchei os corações com vossos dons celestiais. Vós sois chamado o Intercessor, de Deus excelso dom sem par, a fonte viva, o fogo, o amor, a unção divina e salutar. Sois o doador dos sete dons e sois poder na mão do Pai, por Ele prometido a nós, por nós seus feitos proclamai. A nossa mente iluminai, os corações enchei de amor, nossa fraqueza encorajai, qual força eterna e protetor. Nosso inimigo repeli e concedei-nos vossa paz; se pela graça nos guiais, o mal deixamos para trás. Ao Pai e ao Filho Salvador, por Vós possamos conhecer; que procedeis do Seu amor fazei-nos sempre firmes crer. Amém! ℣. Enviai o Vosso Espírito. ℟. E renovareis a face da terra. Ó Deus, que instruístes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, fazei que apreciemos retamente todas as coisas segundo o mesmo Espírito e gozemos sempre da sua consolação. Por Cristo, Senhor Nosso. Amém. Ave maris stella (Ave, do mar Estrela) (Latim) 1. Ave maris stella, Dei Mater alma, Atque semper Virgo, Felix cæli porta. 2. Sumens illud Ave Gabrielis ore, Funda nos in pace, Mutans Hevæ nomen. 3. Solve vincla reis, Profer lumen cæcis, Mala mostra pelle, Bona cuncta posce. 4. Monstra te esse matrem, Sumat per te preces, Qui pro nobis natus Tulit esse tuus. 5. Virgo singularis, Inter omnes mitis, Nos, culpis solutos, Mites fac et castos. 6. Vitam præsta puram Iter para tutum, Ut, videntes Jesum, Semper collætemur. 7. Sit laus Deo Patri, Summo Christo decus, Spiritui Sancto, Tribus honor unus. Amen. (Vernáculo) 1. Ave, do mar Estrela De Deus mãe bela, Sempre virgem, da morada Celeste Feliz entrada. 2. Ó tu que ouviste da boca Do anjo a saudação; Dá-nos a paz e quietação; E o nome da Eva troca. 3. As prisões aos réus desata. E a nós cegos alumia; De tudo que nos maltrata Nos livra, o bem nos granjeia. 4. Ostenta que és mãe, fazendo Que os rogos do povo seu Ouça aquele que, nascendo Por nós, quis ser filho teu. 5. Ó virgem especiosa, Toda cheia de ternura, Extintos nossos pecados Dá-nos pureza e brandura, 6. Dá-nos uma vida pura, Põe-nos em via segura, Para que a Jesus gozemos, E sempre nos alegremos. 7. A Deus Pai veneremos: A Jesus Cristo também: E ao Espírito Santo; demos Aos três um louvor. Amém. |
Dia 12: A inimizade entre a raça de Satanás e a descendência de MariaApós a queda de nossos primeiros pais, Deus não se contentou em estabelecer uma inimizade total, irremissível, entre Satanás, o demônio tentador, e Maria, a Mulher que estará intimamente associada à obra de reparação. Ele estabeleceu, de modo também formal, a mesma inimizade entre a raça de Satanás e a descendência da Virgem.A raça de Satanás é formada por todos os homens perversos que imitam sua conduta de revoltado. Quanto à descendência de Maria, compreende Jesus, seu Filho por natureza, e todos os seus filhos por graça, os predestinados, membros do Corpo místico do Cristo. Foi essa descendência de Maria que recebeu a missão de esmagar a cabeça da serpente infernal, como vimos em nossa meditação do 11º dia. Jesus, Verbo encarnado, se manifestou, no curso de sua existência terrena, como o grande Vencedor de Satanás e dos aliados de Satanás. Mas estes não se desarmaram por causa disso. Até o fim do mundo, não deixarão de atacar e de perseguir todos os que pertencem à descendência espiritual de Maria. Os justos terão, pois, de lutar eles também, e de vencer. Consideraremos primeiro como o mundo está dividido em dois campos adversos. Compreenderemos melhor, em seguida, o quanto devemos nos felicitar por estarmos do lado dos escravos da Virgem, na certeza de nossa vitória sobre os escravos de Satanás. I. OS DOIS CAMPOS ADVERSOS. É um fato inegável que o mundo se encontra dividido em dois grupos: de um lado, Satanás e a raça dos maus; de outro, Maria e sua descendência. À cidade do mal, Deus – por meio de sua sentença do Paraíso terrestre – opôs a cidade do bem. Essa cidade do mal já existia, na pessoa de Lúcifer e de seus anjos rebeldes. Sabemos que os espíritos angelicais, no momento de sua criação, foram submetidos a uma prova, a fim de merecerem a entrada no Céu da visão beatífica. Em um desígnio de amor, Deus lhes revelava o mistério da Encarnação de seu Filho. Esse Filho, predestinado a ser seu Rei, “não lhes era apresentado em sua glória, nem mesmo na plenitude de sua vida humana, mas na humilhação: era uma criança, uma criança no ventre de sua mãe”. (Apoc 12, 2). Seguindo o orgulhoso Lúcifer, alguns não querem reconhecê-lo e se levantam contra ele. Os outros, sob a liderança de Miguel, tomam sua defesa e o adoram. Houve um grande combate entre eles, mas o dragão vermelho e seus anjos não puderam vencer, e até mesmo seu lugar foi tirado do Céu. Assim, foi em torno da Virgem-Mãe do Verbo encarnado que se fez a eterna partilha dos bons e dos maus, do bem e do mal, na criação. O inferno nasceu dessa revolta dos maus anjos, logo transformados em demônios. Compreendemos, por esse fato, seu ódio contra a Virgem e contra sua descendência espiritual. ---- No Paraíso terrestre, o sinal mariano é levantado novamente, colocando-se, desta vez, diante da humanidade pecadora. É preciso escolher entre a Mulher Corredentora e o demônio, corruptor das almas; entre Maria ou Satanás. Não há meio-termo. Os homens se dividirão em dois campos, como os anjos: uns aceitarão o misericordioso plano da Redenção; outros rejeitarão essa imensa graça oferecida. Os primeiros se colocarão do lado da Virgem; os segundos, por soberba, ficarão do lado de Satanás, o inimigo da Mulher e de sua descendência. Haverá os bons e os maus, os obedientes e os rebeldes, os eleitos e os reprovados. Haverá os escravos de Maria e os escravos de Satanás. Entre uns e outros, nenhuma aliança será possível. “Deus estabeleceu, diz Montfort, inimizades, antipatias, ódios secretos, entre os verdadeiros filhos e servos da Santa Virgem e os filhos e escravos do demônio. Eles não se amam mutuamente, não têm correspondência interior uns com os outros. “Os Filhos de Belial, os escravos de Satanás, os amigos do mundo (pois é a mesma coisa), sempre perseguiram até aqui e perseguirão mais do que nunca aqueles e aquelas que pertencem à Santíssima Virgem, como outrora Caim perseguiu seu irmão Abel, e Esaú seu irmão Jacó, que são as figuras dos reprovados e dos predestinados. “Mas a humilde Maria terá sempre a vitória sobre esse orgulhoso, e tão grande, que esmagará a cabeça onde reside seu orgulho. Ela descobrirá sempre sua malícia de serpente…” (V. D., n. 54.) No tempo da Encarnação, ela já arrancou dele, por meio de seu divino Filho, esse império do mundo que ele detinha incontestavelmente há milênios. Na manhã de Pentecostes, ela opôs ao seu ódio a força irresistível de conquista da Igreja nascente. A pregação dos apóstolos, sustentada pela virtude do Espírito Santo, permitiu-lhe gerar incontáveis filhos e ver surgirem cristandades magníficas. Durante cerca de quatro séculos, os imperadores pagãos provocaram perseguições sobre perseguições, que fizeram milhares de mártires. Essas perseguições são as mordeduras da raça da Serpente contra a descendência espiritual de Maria, contra “os outros filhos da Mulher”, revestida de sol e coroada de estrelas. (Apoc 12, 17.) Satanás, por meio de seus cúmplices, obstinou-se em ferir seus corpos com toda sorte de torturas, até provocar sua morte violenta. Da mesma forma que perseguiu o Cristo, perseguiu os primeiros cristãos. Sempre foi assim na vida da Igreja. Sobre todas as praias às quais os missionários chegaram para anunciar a Virgem e seu divino Filho, eles arrancaram muitas almas de Satanás; mas Satanás não tardou a suscitar contra eles sangrentas perseguições. Contudo, os mártires sempre triunfaram sobre seus carrascos, e seu sangue derramado se tornou uma semente de novas cristandades para Maria. Mesmo nos países em que a Igreja afirma há séculos o poder de sua hierarquia, se Satanás nem sempre pode provocar perseguições sangrentas, emprega armas assassinas contra as almas. É a laicização desmedida; é a mentirosa e odiosa propaganda comunista, é a imprensa perniciosa, cada vez mais invasora com seus livros, brochuras e revistas com gravuras obscenas, é o mau cinema, são todas as atrações do mundo. Nunca as mordeduras da raça da Serpente foram mais venenosas e mais cruéis. Jamais a cidade do mal se levantou tanto contra a cidade do bem. Deus deixou ao demônio o poder de fazer o mal, a fim de dar aos filhos da Virgem a glória de combater e de sofrer para merecer a coroa eterna. Entretanto, esse poder é limitado, e durará somente por um tempo; é por isso que vemos o demônio – sabendo que lhe resta pouco tempo – intensificar seu ódio e ganhar em toda parte, para sua causa, multidões de homens perversos, para combater mais do que nunca os fiéis filhos e escravos da Virgem. Como devemos nos felicitar por desejar pertencer a Maria como seus escravos de amor, nessa luta formidável dos últimos tempos anunciada por Montfort, e que terminará com o triunfo majestoso de Jesus Cristo e de seu Reino nos séculos dos séculos. II. A VITÓRIA DOS ESCRAVOS DE MARIA SOBRE OS ESCRAVOS DE SATANÁS. “Mas o poder de Maria sobre todos os diabos se evidenciará particularmente nos últimos tempos, quando Satanás puser armadilhas ao seu calcanhar, isto é, aos seus humildes escravos e aos seus pobres filhos, que ela suscitará para declarar-lhe guerra. “Eles são pequenos e pobres segundo o mundo, e rebaixados diante de todos como o calcanhar, pisados e perseguidos como o calcanhar o é em relação aos outros membros do corpo. Mas, em compensação, serão ricos em graças de Deus, que Maria lhes distribuirá abundantemente; grandes e destacados em santidade diante de Deus, superiores a toda criatura por seu zelo animado, e tão fortemente apoiados do socorro divino, que com a humildade de seu calcanhar, em união com Maria, esmagarão a cabeça do diabo e farão triunfar Jesus Cristo.” (V. D., n. 54.) Não nos espantemos, pois, ao ver o ódio dos escravos de Satanás se manifestar de modo característico contra os apóstolos e escravos de Maria, isto é, contra aqueles e aquelas que, totalmente devotados à sua causa, se esforçam para promover seu Reino no mundo. São as duas escravidões que se enfrentam, pois todos os que se colocam obstinadamente do lado de Satanás são seus escravos desde este mundo, e o serão ainda mais no inferno. São, aqui, seus escravos de obrigação: querendo ou não, Satanás os arrasta em sua revolta contra o plano divino, como arrastou outrora a terça parte dos espíritos angélicos. No inferno, eles serão, com Satanás e sob sua dominação, os escravos de obrigação da justiça de Deus, sofrendo um castigo implacável e sem esperança de término. Saberão, então, que Deus é o Senhor: Et scient quia ego Dominus. Contra os escravos de Satanás, Maria levanta o exército de seus escravos de amor, que ela formou à semelhança de seu divino Filho. Sua pequenez aos olhos do mundo, sua humildade, seu espírito de dependência, sua pobreza e desapego dos bens terrenos, sua falta de relevância do ponto de vista humano e natural, todo seu exterior evangélico atiçarão o ódio de Satanás. Mais do que os outros, eles sofrerão suas mordeduras. “Eles serão pisados e perseguidos, como o calcanhar o é em relação aos outros membros do corpo.” Serão desprezados, contrariados, tratados como insensatos. Mas Maria lhes comunicará uma força sobrenatural que os tornará invencíveis. Distribuir-lhes-á abundantemente suas graças, de modo que quanto mais parecerem pobres aos olhos do mundo, mais serão ricos em virtudes e méritos; quanto mais forem vistos como pequenos e desprezados, mais serão “grandes e elevados em santidade diante de Deus”. “Eles serão superiores a toda criatura por seu zelo avivado”, o que quer dizer que seu apostolado não se deterá nem diante dos poderes infernais enfurecidos, nem diante dos poderes humanos cúmplices. E se sentirão “tão fortemente apoiados pelo socorro divino, que com a humildade de seu calcanhar, em união com Maria, esmagarão a cabeça do diabo”, arrancarão muitas almas de sua escravidão, converterão os pecadores, recuarão as fronteiras do que ainda lhe resta como império. “E eles farão triunfar Jesus Cristo”, estabelecerão seu Reino, esse Reino magnífico que todas as almas santas esperam, e pelo qual oram e se sacrificam. Será o belo triunfo da Era mariana. Pois “Deus quer que sua santa Mãe seja agora mais conhecida, mais amada, mais honrada do que nunca…” (V. D., n. 55.) “Foi por Maria que a salvação do mundo começou, e é por Maria que ela deve ser consumada. Maria quase não apareceu na primeira vinda de Jesus Cristo… : mas na segunda (isto é, nos últimos tempos que precederão a aparição do Salvador na glória de seu triunfo), Maria deve ser conhecida e revelada pelo Espírito Santo, a fim de fazer, por meio dela, conhecer, amar e servir Jesus Cristo.” (n. 49.) “Maria deve brilhar, mais do que nunca, em misericórdia, em força e em graça, nesses últimos tempos: em misericórdia, para reconduzir e receber amorosamente os pobres pecadores e desviados que se converterão e voltarão à Igreja católica; em força, contra os inimigos de Deus… que se revoltarão terrivelmente para seduzir e fazer cair, por meio de promessas e ameaças, todos os que lhes forem contrários; e, por fim, ela deve brilhar em graça (como vimos), para animar e sustentar os valentes soldados e fiéis servos de Jesus Cristo que combaterão por seus interesses…” (n. 50.) É muito visível que entramos nessa Era mariana das grandes lutas da Igreja. Se, por um lado, vemos o exército dos escravos de Satanás mais organizado e mais decidido do que nunca, por outro lado, é incontestável que cada vez mais almas vêm à perfeita Consagração, tanto em nossas velhas regiões cristãs quanto em todos os países de Missão. Regozijemo-nos, pois, por desejar, por nossa Consagração, caminhar à frente do exército do Bem. ---- Tendo chegado ao termo do período preliminar de nossos Exercícios, não podemos dar a Maria um prazer maior do que renovando entre suas mãos as promessas de nosso batismo. Nossos doze dias nos preparam admiravelmente para isso. Visto que estamos decididos a seguir não a Satanás, o príncipe deste mundo, mas a Jesus Cristo, a Sabedoria eterna e encarnada, digamos com todo o fervor de nossa alma: Renuncio para sempre a Satanás, a todas as suas seduções e às suas obras de pecado, e entrego-me para sempre a Jesus Cristo. Ele é o único Senhor, o Senhor humilde e manso que não mente jamais. Ele é a Verdade por essência, é o Verbo de Luz, é a Sabedoria encarnada. Somente Ele diz as palavras que conduzem à vida eterna; e permaneço em santidade enquanto guardo seu ensinamento. Deposito esta renovação de minhas promessas batismais entre as mãos de Maria Imaculada, rogando humildemente que ela coloque em minha alma a inimizade que o próprio Deus estabeleceu entre ela e o demônio. Peço-lhe que torne essa inimizade total, sem corrupção, irredutível, eterna. Assim ela me receberá, no dia de minha perfeita Consagração, entre seus escravos de amor, que não se dão inteiramente a ela a não ser para pertencer inteiramente a Jesus Cristo. ORAÇÕES Veni, Creátor Spíritus (Vinde, Espírito Criador) (Latim) Veni, Creátor Spíritus, Mentes tuórum visita, Imple supérna gratia, Quæ tu creásti péctora. Qui diceris Paráclitus, Altíssimi donum Dei, Fons vivus, ignis, charitas Et spiritális únctio. Tu septiformis múnere, Dígitus patérnæ déxteræ Tu rite promissum Patris, Sermone ditans gúttura. Accénde lumen sénsibus: Infúnde amórem córdibus; Infírma nostri córporis, Virtúte firmans pérpeti. Hostem repéllas longius, Pacémque donas prótinus: Duc sic te præeúnte, nostrum Vítemus omne nóxium. Per te sciámus da Patrem, Noscámus atque Fílium: Te utriúsque Spíritum Credámus omni témpore. Deo Patri sit glória, Et Fílio, qui a mórtuis Surréxit, ac Paráclito, In sæculórum sǽcula. Amen. ℣. Emítte Spíritum tuum, et creabúntur. ℟. Et renovábis fáciem terrae. Deus qui corda fidélium Sancti Spíritus illustratióne docuísti: da nobis in eódem Spíritu recta sápere; et de eius semper consolatióne gaudére. Per Christum dominum nostrum. Amen. (Vernáculo) Vinde, Espírito Criador, a nossa alma visitai e enchei os corações com vossos dons celestiais. Vós sois chamado o Intercessor, de Deus excelso dom sem par, a fonte viva, o fogo, o amor, a unção divina e salutar. Sois o doador dos sete dons e sois poder na mão do Pai, por Ele prometido a nós, por nós seus feitos proclamai. A nossa mente iluminai, os corações enchei de amor, nossa fraqueza encorajai, qual força eterna e protetor. Nosso inimigo repeli e concedei-nos vossa paz; se pela graça nos guiais, o mal deixamos para trás. Ao Pai e ao Filho Salvador, por Vós possamos conhecer; que procedeis do Seu amor fazei-nos sempre firmes crer. Amém! ℣. Enviai o Vosso Espírito. ℟. E renovareis a face da terra. Ó Deus, que instruístes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, fazei que apreciemos retamente todas as coisas segundo o mesmo Espírito e gozemos sempre da sua consolação. Por Cristo, Senhor Nosso. Amém. Ave maris stella (Ave, do mar Estrela) (Latim) 1. Ave maris stella, Dei Mater alma, Atque semper Virgo, Felix cæli porta. 2. Sumens illud Ave Gabrielis ore, Funda nos in pace, Mutans Hevæ nomen. 3. Solve vincla reis, Profer lumen cæcis, Mala mostra pelle, Bona cuncta posce. 4. Monstra te esse matrem, Sumat per te preces, Qui pro nobis natus Tulit esse tuus. 5. Virgo singularis, Inter omnes mitis, Nos, culpis solutos, Mites fac et castos. 6. Vitam præsta puram Iter para tutum, Ut, videntes Jesum, Semper collætemur. 7. Sit laus Deo Patri, Summo Christo decus, Spiritui Sancto, Tribus honor unus. Amen. (Vernáculo) 1. Ave, do mar Estrela De Deus mãe bela, Sempre virgem, da morada Celeste Feliz entrada. 2. Ó tu que ouviste da boca Do anjo a saudação; Dá-nos a paz e quietação; E o nome da Eva troca. 3. As prisões aos réus desata. E a nós cegos alumia; De tudo que nos maltrata Nos livra, o bem nos granjeia. 4. Ostenta que és mãe, fazendo Que os rogos do povo seu Ouça aquele que, nascendo Por nós, quis ser filho teu. 5. Ó virgem especiosa, Toda cheia de ternura, Extintos nossos pecados Dá-nos pureza e brandura, 6. Dá-nos uma vida pura, Põe-nos em via segura, Para que a Jesus gozemos, E sempre nos alegremos. 7. A Deus Pai veneremos: A Jesus Cristo também: E ao Espírito Santo; demos Aos três um louvor. Amém. |
2ª parte |
Orientações da Segunda ParteA segunda parte de nossos Exercícios preparatórios à Perfeita Consagração deve ser empregada, segundo o conselho de São Luís Maria de Montfort, a adquirir o conhecimento de nós mesmos (V. D., n. 228). Perguntemo-nos, imediatamente, qual é a razão de ser desse novo trabalho; em que difere do trabalho dos doze dias preliminares?A PALAVRA de Nosso Senhor: “Se alguém quer vir após de mim, negue-se a si mesmo” (Lc 9, 23) será, nesta meditação, nossa maior luz. Um duplo EXEMPLO do Evangelho, o do apóstolo Judas e o do apóstolo Simão Pedro, fornecer-nos-á depois sua eloquente confirmação. Imploremos o auxílio da Santíssima Virgem, e não deixemos de repetir-lhe, durante os seis dias desta primeira Semana: O Domina, noverim me! Ó divina Mãe e Senhora, ajudai-me a me conhecer bem, a fim de bem renunciar a mim mesmo. A prática diária mínima inclui a Ladainha do Espírito Santo, Ladainha de Nossa Senhora e a Ave Maris Stella; acrescentamos a Ladainha da Humildade para ajudar um pouco mais nessa etapa. Repetir ao longo do dia: “Senhor, que eu veja!” |
Dia 13: Conhecer-se para renunciar a si mesmoI. A PALAVRA de Nosso Senhor: “Se alguém quer vir após de mim, negue-se a si mesmo”. Conhecemos há muito tempo essa palavra do divino Mestre, convidando-nos a segui-lo em seu caminho evangélico; mas será que percebemos que essas duas partes da frase correspondem exatamente ao duplo trabalho pedido por Montfort no início de seus Exercícios?Primeiro, “SE ALGUÉM QUER VIR APÓS DE MIM”… Querer seguir Jesus, isto é, escolhê-lo deliberadamente como único Senhor, ele e não Satanás, o Príncipe do mundo; aceitar com gratidão dar-lhe todo o nosso amor, sem associação, sem concessões, sem comprometimentos com as seduções do tentador; encontrar-nos muito felizes por caminhar após ele no reto caminho de seus ensinamentos e na luz dos exemplos que ele não deixou de dar durante os trinta e três anos de sua vida terrena; estar decididos a levar uma vida de modo perseverantemente cristão, em oposição declarada com a vida mundana, e em conformidade com as promessas de nosso santo Batismo, não foi a isso que visaram as meditações de nossos doze dias preliminares? Querer seguir Jesus… em sua vida penitente e sofredora, em seu espírito de desapego em relação aos bens deste mundo, em seu amor pela humildade e pela obediência. Ele não proclamou bem-aventurados os corações puros que têm horror pelo pecado, e os pobres de espírito, isto é, os que carregam dentro de si mesmos uma alma de pobreza? E ele não se mostrou no meio de nós o Senhor manso e humilde, aquele que quis se fazer obediente até a morte, e morte da Cruz? O caminho traçado por ele é luminoso e plenamente seguro. Podemos testemunhar-nos tê-lo fielmente seguido?… E se nos afastamos dele por causa de ofensas mais ou menos graves, será que voltamos a ele com um coração contrito e com a firme resolução de não mais deixá-lo?… Caminhamos agora após nosso divino Salvador, profundamente convencidos de que ele é a Sabedoria eterna e encarnada, de que tudo o que ele quer é se comunicar a nós, com todos os seus tesouros de graças e de virtudes? Desejamos possuí-lo cada vez mais intimamente? Oramos a ele incessantemente, tanto em nossas tristezas quanto em nossas alegrias, tanto no fervor quanto nos momentos de tentação ou de desencorajamento, sem medo de importuná-lo, antecipadamente certos de ser socorridos da melhor maneira em nossos interesses espirituais? Somos também fiéis ao nos cercar da muralha da mortificação cristã, vigiando sobre nossos sentidos, nossas leituras, nossas conversações e convívio (pois o mundo está sempre à nossa porta, e o demônio ronda ao nosso redor, buscando uma presa que possa devorar)? Acima de tudo, estimamos, como o maior meio de perseverança, uma verdadeira devoção a Maria, tal como São Luís Maria de Montfort no-la descreveu, com as características que a distinguem das falsificações das quais o demônio se serve para enganar muitas almas; tal como, sobretudo, no-la revelará sua perfeita Consagração? Se chegamos a esse ponto, devemos reconhecer com toda sinceridade que o trabalho dos doze dias preliminares é coisa cumprida ou em bom caminho para se cumprir, e que é preciso continuar a nos empenhar. Pois atingimos somente a indispensável primeira etapa: a vida manifestamente cristã, oposta à vida mundana. ---- É preciso, agora, começar e conduzir corajosamente a luta contra nós mesmos, isto é, contra o inimigo interior: é a obra da RENÚNCIA. O mundo, agente do demônio, é o inimigo exterior: ele nos atrai do exterior por meio do engodo dos prazeres, das riquezas e das honras. Mas no interior de nós mesmos há – e como o experimentamos! – o eu natural, sempre levado a visar e satisfazer a si mesmo, em detrimento do trabalho da graça. A graça, que vem de Deus, não pode senão nos atrair para o alto, rumo à prática das virtudes. Nossa natureza decaída, e que permanece ferida pelo pecado original, nos arrasta para baixo, em direção ao pecado atual. É preciso resistir, combater, se não queremos cair. É preciso negarmos a nós mesmos. É a luta contra nós mesmos, luta penosa com peripécias diversas; luta que, praticamente, só terminará no momento de nossa morte. Como ensina São Paulo (Ef 4, 22.24), há em nós dois homens: o homem regenerado pelo batismo e fortificado pela Confirmação, o homem novo com tendências sobrenaturais, divinas, que o Espírito Santo produz em nossa alma; tendências às quais nos esforçamos para corresponder por meio de nossa fidelidade à oração e o recurso aos sacramentos da Penitência e da Eucaristia. Mas, ao lado, há o homem natural, o homem carnal, o velho homem com suas tendências perniciosas que o batismo não retirou de nossa alma. O batismo nos purifica do pecado original, fazendo-nos renascer para a vida da graça; mas deixa em nós, como veremos, esse foco de cobiça que chamamos de concupiscência, cuja característica é tender incessantemente para o mal. Ela não é o pecado, mas vem do pecado e nos leva ao pecado. É por isso que se encontra, com mais ou menos força, mesmo nas almas que não têm ou não têm mais o espírito do mundo. Seu esforço deve se dirigir a essa luta contra si mesmo, a fim de poder avançar na prática das virtudes e merecer a coroa eterna. Pois não haverá coroados, definitivamente, além daqueles que tiverem corajosamente combatido. É, pois, às almas decididas a seguir Jesus no caminho de seus mandamentos e também de seus conselhos evangélicos, que incumbe esse trabalho da negação de si mesmo. ---- Mas para negar a si mesmo importa, antes de tudo, conhecer-se bem. Como lutar com sucesso contra as tendências perniciosas de nossa natureza, se não as conhecemos? Tanto mais porque em cada um de nós há uma que domina as outras e que nos atrai mais imperiosamente ao mal, na medida em que já a tenhamos satisfeito. E como aceitar reconhecer essa má tendência dominante, assim como nossos outros defeitos, sem um grande espírito de humildade, sem confessar que, entregues a nós mesmos, não valemos nem podemos nada? Não temamos, pois, meditar sobre as fortes verdades fundamentais que nos propõe o Padre de Montfort. Com ele, consideraremos, antes de tudo, nosso inteiro pertencimento a Jesus Cristo: nós fomos resgatados pelo preço de seu sangue; não somos, pois, senhores de nós mesmos, dependemos da graça redentora. Em seguida, dedicar-nos-emos a conhecer melhor: • nossa queda original e as tristes consequências que ela acarreta para cada um de nós; • nossa miséria de pobres pecadores e a profunda necessidade que temos do socorro de Maria Medianeira; • nossa fraqueza pessoal face aos inimigos de nossa salvação, se não confiamos a Maria nosso tesouro de graças. Descobriremos assim as razões que nos obrigam a negar a nós mesmos: • renunciar a tudo o que seria contrário às obrigações decorrentes de nosso pertencimento a Jesus Cristo; • renunciar, se não queremos perder o mérito de nossas boas ações, ao que sentimos subir das partes mais baixas de nossa natureza como consequência do pecado original e de nossos pecados pessoais; • renunciar a todo pensamento de autossuficiência, a todo sentimento de prazer em nós mesmos; o que nos levaria a negligenciar o maior Meio de nos unir a Jesus Cristo; • renunciar também a essa louca confiança de pretender salvaguardar, com a ajuda de nossas limitadas habilidades, o tesouro de graças e de virtudes que carregamos em vasos frágeis. Em último lugar, felicitar-nos-emos ao constatar que escolhemos, segundo o conselho de nosso mestre espiritual, a forma de devoção a Maria que mais nos conduz a essa negação e que a facilita. Veremos que ela é a melhor e a mais santificadora: é o nosso “segredo de graça”, que se apressam em agarrar as almas humildes e obedientes ao Espírito Santo. Tal será o trabalho de nossa primeira Semana, durante a qual Montfort nos recomenda “fazer tudo em espírito de humildade” (n. 228). Como vemos, ele se anuncia muito diferente daquele dos doze Dias preliminares. É bem superior a ele. Uma coisa é renunciar a Satanás e ao mundo; outra coisa é caminhar nos passos do Cristo, negando a si mesmo. Estamos aqui no trabalho da vida verdadeiramente cristã, trabalho que exige constantes esforços para a aquisição do Reino de Deus. Se nos recusamos a realizar esses esforços, não somente não progrediremos, mas, quando se apresentar a ocasião de pecar, sucumbiremos; e este será talvez o começo de uma série de quedas que mancharão as páginas de nossa vida. Como importa, pois, conhecer bem a si mesmo, a fim de saber lutar contra si mesmo, sobretudo nos momentos de tentação. II. O duplo EXEMPLO do apóstolo Judas e do apóstolo Simão Pedro vai nos mostrar agora, de maneira concreta, de um lado, a desgraça de uma alma que se deixou tomar pelo espírito do mundo; e, de outro lado, o grande perigo ao qual se expõe a alma que não nega a si mesma. JUDAS, chamado a seguir Jesus na qualidade de apóstolo, tinha começado bem. Ocupava até mesmo uma posição privilegiada na pequena comunidade apostólica, visto que era seu tesoureiro, o que era um sinal de confiança. Por que ele não perseverou? Como explicar sua decadência? É que ele logo dirigiu sua visão para algo limitado, vil e desprezível: o proveito honorífico e lucrativo que ele podia retirar de seu título de apóstolo e de sua colaboração na obra de Jesus. Como muitos de seus compatriotas, ele havia sonhado com um Messias glorioso e vencedor, que seria o Rei temporal de Israel. Esperava, pois, alcançar uma situação muito vantajosa no reino, libertado, ao mesmo tempo, dos romanos e da raça usurpadora dos Herodes. Os exemplos, a pregação do Salvador, e sua intimidade com ele, deveriam tê-lo afastado do desenvolvimento de semelhante esperança e de tão louca ambição. Não foi o que aconteceu. Os pensamentos de Judas foram desmascarados no dia seguinte ao do grande milagre da primeira multiplicação dos pães. Jesus havia aproveitado esse milagre para anunciar ao povo, em termos precisos e com insistência, a maravilha ainda maior de sua Eucaristia: “Eu sou o pão da vida. A minha carne é verdadeiramente comida e o meu sangue é verdadeiramente bebida. O que come a minha carne e bebe o meu sangue, tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia.” (Jo 6.) Diante de tais afirmações, os espíritos que o orgulho cegava se rebelaram; e muitos judeus, que tinham seguido o Salvador até então, encontraram um pretexto para se afastar dele definitivamente. Em face dessa deserção, Jesus, voltando-se aos seus Apóstolos, propôs-lhes claramente a questão de confiança: “Quereis vós também retirar-vos?” Simão Pedro tomou então a palavra em nome de seus irmãos: Ah! Senhor, a quem iríamos? Somente vós tendes todos os segredos da vida eterna, e no-los revelais em vossas palavras. Não há outro Mestre além de vós. Sabemos que sois o Cristo, o Filho de Deus. Admirável afirmação de fé! Se Jesus já havia feito tantos milagres, seu amor todo-poderoso bem poderia cumprir também o milagre eucarístico. Não se podia, pois, duvidar de sua palavra. Mas, entre os Apóstolos, Judas não pensava assim. Grande fora sua decepção ao ouvir o Salvador prometer, não uma felicidade terrena, mas o alimento de uma vida sobrenatural que não seria outra senão Ele mesmo. Visto que Jesus não tratava de suas intenções, ele só podia deixá-lo. Por isso, sua apostasia era coisa decidida; e, na falta de um lugar lucrativo no reino de seus sonhos, retiraria antecipadamente tudo o que pudesse do caixa apostólico, para assegurar seu futuro temporal. Tornou-se ladrão. A palavra é do apóstolo São João (12, 6). A paixão do dinheiro chegará ao ponto de conduzi-lo à traição e ao deicídio. Em vão Jesus tentará fazê-lo refletir sobre seus atos, tendo em vista o horror mesmo do que visava fazer: Não fui eu que vos escolhi, a vós os doze?, diz ele aos seus Apóstolos. No entanto, apesar dessa escolha de predileção, um de vós é um demônio, isto é, semelhante ao diabo, que, de bom, se fez mau. (Jo 6, 71.) Outras advertências se seguirão, às quais o desgraçado não dará nenhum valor. Ir-se-á, com a cabeça baixa, rumo à danação. Na noite da instituição da santa Eucaristia, Judas consumará sua apostasia, entregando o divino Mestre por trinta moedas de prata. Depois disso, louco de desespero, enforcar-se-á. Triste fim de uma alma que preferiu obstinadamente o espírito do mundo ao espírito de Jesus. Oh! Agradeçamos ainda a São Luís Maria de Montfort por ter-nos tão fortemente protegido desse pernicioso espírito que sempre conduz à danação eterna. ---- O apóstolo SIMÃO PEDRO nunca se deixara tomar pelo espírito do mundo. Seu amor por Nosso Senhor era sincero; seu devotamento, sem igual; sua fé, acima de todo elogio. Acabamos de vê-lo confessar a divindade de Jesus em uma circunstância aparentemente trágica para o sucesso da pregação evangélica. Um pouco mais tarde, em Cesareia de Filipe, não longe das fontes do Jordão, outra confissão de Simão Pedro será ainda mais explícita. Vendo-se sozinho com seus apóstolos, Jesus os interroga: “Quem dizem os homens que é o Filho do homem?” As apreciações são variadas, respondem eles. Uns vos tomam por João Batista ressuscitado, outros por Elias ou por Jeremias, ou ainda por algum dos antigos profetas que voltou sobre a terra. “E vós, prossegue o Salvador, quem dizeis que eu sou?” Sem uma sombra de hesitação, Pedro responde: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo.” Nada de mais completo se poderia formular. O Apóstolo não diz: estimamos, cremos, estamos convencidos; sua resposta afirma o que é. Vós, Senhor, que nossos olhos contemplam na realidade de vossa natureza humana, vós sois, para além do que aparece aos olhares, sois o Filho eterno do Deus vivo; sois o Cristo, isto é, o Ungido de Deus, o Messias esperado, Filho de Deus, do único Deus verdadeiro. Asserção tão bela e tão plena que, incontinenti, Jesus declara-lhe que ele será a pedra fundamental de sua Igreja: “E eu, por minha vez, como recompensa de tua fé, digo-te que tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.” (Mt 16.) Como explicar então a queda, nas horas dolorosas da Paixão, de um apóstolo tão fortemente ligado ao seu divino Mestre?… Pedro não conhecia o ponto fraco de sua natureza impetuosa. Tinha uma confiança em si mesmo que chegava até à presunção; e seus privilégios no seio do Colégio apostólico não o garantiam contra as tentações que podiam sobrevir. O próprio Jesus teve o cuidado de adverti-lo quanto a isso. Na última Ceia, falara da separação próxima, e da impossibilidade, para os discípulos, de segui-lo aonde ele ia, isto é, ao martírio, à cruz. “Para onde vais, Senhor?”, perguntou Pedro, ansioso. “Para onde vou, respondeu Jesus, não podes me seguir agora, mas me seguirás mais tarde.” E Pedro insistia: “Por que não posso te seguir desde agora? Eu daria minha vida por ti!” – Ah! Simão, Simão, continua Jesus, não sabes que Satanás recebeu permissão, pois é sua hora, para vos sacudir como o trigo que se depura? Todos vós sereis escandalizados nesta noite por causa de mim.” Pedro tenta, então, se justificar, tão seguro está de si mesmo e de seu amor pelo Salvador: “Ainda que todos os outros se escandalizassem a vosso respeito, eu não me escandalizaria!” “Em verdade te digo, afirma Jesus, tu, tu, Simão, hoje, nesta noite, antes que o galo cante duas vezes, ter-me-ás negado três vezes.” Essa asserção é intolerável ao Apóstolo; ele contesta fortemente, ousa contradizer seu divino Mestre, que é a própria Verdade: “Mesmo que tivesse de morrer convosco, não, eu não vos negaria. Senhor, eu estou pronto a ir contigo para a prisão e para a morte.” (Lc 22, 33.) Em face de tamanha presunção, Jesus se cala. Esperará a lição dos acontecimentos que se desenrolarão. Depois de sua prisão no jardim das Oliveiras, todos os Apóstolos haviam começado a fugir. Pedro, entretanto, tem outra opinião, e seguindo de longe a tropa, consegue entrar no pátio do palácio de Caifás, onde servos e guardas se aqueciam ao redor de um fogo de brasa. De modo imprudente, juntou-se a eles e quis esperar para ver como o julgamento terminaria. Mas a porteira, aproximando-se do grupo e olhando Pedro com atenção: “Tu também, disse-lhe ela, és um dos discípulos desse Nazareno?” – “Não”, respondeu o Apóstolo. “Eu não sei, não compreendo o que queres dizer.” Um primeiro canto do galo ressoa, ao qual Pedro não dá atenção. E eis que outra serva anuncia aos que se aqueciam que aquele homem estava realmente com Jesus, o Nazareno. Pedro negou uma segunda vez, e até com juramento: “Não conheço o homem do qual me falais.” Cerca de uma hora se passa. O infeliz Pedro não podia se decidir a sair e tomava parte na conversação. Alguns lhe disseram, então: “Mas seguramente és galileu, teu modo de falar te traiu.” Um dos servos do Pontífice chegou a precisar: “Eis que te vi com ele no jardim.” Pedro afirmou com juramento e imprecação que ignorava o que queriam dizer, que de modo algum conhecia aquele homem. As denegações perduravam ainda quando o galo cantou pela segunda vez. O Apóstolo se lembrou, então, da predição do Senhor: “Antes que o galo cante duas vezes, tu me negarás três vezes.” Ai de mim! Estava feito. E eis em que quedas lamentáveis podemos incorrer, ainda que não tendo o espírito do mundo, quando não conhecemos e não negamos a nós mesmos. Simão Pedro não desejara reconhecer a fraqueza de sua vontade uma vez entregue a si mesma. Bem ao contrário, ele se afirma com força, chegando a se exaltar acima dos outros e a acreditar ser impecável. A principal culpabilidade de Pedro está nessa louca estima que tem por si mesmo: em vez de se humilhar diante das advertências de Jesus, ele cai na presunção e na temeridade. O resto se segue, logo que a ocasião se apresenta. Esse pecado do Apóstolo deve nos mostrar, mais do que todas as considerações e razões, a conformidade de nossa primeira Semana. Empregando-a ao conhecimento de nós mesmos, em um grande espírito de humildade, atacamos a causa de quedas sempre possíveis. Prevenimos essas quedas porque, com a graça de Deus que não falta àquele que a pede, facilitamos as renúncias que se impõem para resistirmos às tentações e permanecermos fiéis a Jesus. ---- Não temamos, pois, projetar a luz sobre nós mesmos. Esse trabalho espiritual é indispensável. Que sua austeridade não nos assuste. Para nos encorajar, pensemos desde agora na alegria das duas Semanas que seguirão, nossa meditação fixada então sobre a Santa Virgem e sobre Nosso Senhor Jesus Cristo. Nossa Consagração a esses Mestres divinos exige que comecemos por nos humilhar e nos libertar do obstáculo do “eu” egoísta, do apego ao nosso espírito próprio e à nossa vontade própria. Se, em nosso passado, temos a deplorar faltas que lembram o pecado de fraqueza do apóstolo Simão Pedro, imitemos seu arrependimento, confiando no Coração sempre amoroso do Salvador. Um olhar bastou para fazer romper em lágrimas o apóstolo infiel e para dissipar para sempre a orgulhosa estima que ele tinha por si mesmo. Por isso, quando Jesus lhe pedir um triplo juramento de amor, em compensação da tripla negação: “Simão Pedro, tu me amas, me amas mais do que os outros?”, o Apóstolo não responderá diretamente à questão. Não se elevará mais, não se comparará mais, não afirmará mais nada de sua pessoa; não se derramará mais em vãs afirmações, em promessas verbais ilusórias. Terá renunciado a tudo isso e se contentará a apresentá-lo ao testemunho e à ciência infinita de seu Mestre: Sim, Senhor, vós que ledes no fundo do meu coração, sabeis bem que vos amo, e não mais “eu”, como outrora. A humildade – uma humildade profunda – havia entrado em sua alma com a triste experiência de sua queda e o conhecimento de seu defeito dominante. O mesmo se dará conosco. O conhecimento que adquiriremos de nossas fraquezas e de nossas tendências defeituosas fará caírem nossas ilusões. Ela nos encaminhará a essa virtude de humildade que é a única que pode favorecer de modo eficaz a renúncia a si exigida por Nosso Senhor. Peçamos ao Espírito Santo que nos ilumine, recitando suas Litanias todos os dias desta Semana, como prescreve nosso Padre de Montfort. Recorramos também, todos os dias, à Santíssima Virgem, por meio da recitação da Ave, maris Stella e de suas Litanias, para “pedir-lhe esta grande graça (o conhecimento de nós mesmos) que deve ser o fundamento das outras.” (V. D., n. 228.) ORAÇÕES Ladainha do Espírito Santo Senhor, tem piedade de nós. Jesus Cristo, tem piedade de nós. Divino Espírito Santo, ouve-nos. Espírito Paráclito, atende-nos. Deus Pai dos céus, tem piedade de nós. Deus Filho, redentor do mundo, tem piedade de nós. Deus Espírito Santo, tem piedade de nós. Santíssima Trindade, que és um só Deus, tem piedade de nós. Espírito da verdade, tem piedade de nós. Espírito da sabedoria, tem piedade de nós. Espírito da inteligência, tem piedade de nós. Espírito da fortaleza, tem piedade de nós. Espírito da piedade, tem piedade de nós. Espírito do bom conselho, tem piedade de nós. Espírito da ciência, tem piedade de nós. Espírito do santo temor, tem piedade de nós. Espírito da caridade, tem piedade de nós. Espírito da alegria, tem piedade de nós. Espírito da paz, tem piedade de nós. Espírito das virtudes, tem piedade de nós. Espírito de toda graça, tem piedade de nós. Espírito da adoção dos filhos de Deus, tem piedade de nós. Purificador das nossas almas, tem piedade de nós. Santificador e guia da Igreja Católica, tem piedade de nós. Distribuidor dos dons celestes, tem piedade de nós. Conhecedor dos pensamentos e das intenções do coração, tem piedade de nós. Doçura dos que começam a te servir, tem piedade de nós. Coroa dos perfeitos, tem piedade de nós. Alegria dos anjos, tem piedade de nós. Luz dos patriarcas, tem piedade de nós. Inspiração dos profetas, tem piedade de nós. Palavra e sabedoria dos apóstolos, tem piedade de nós. Vitória doa mártires, tem piedade de nós. Ciência dos confessores, tem piedade de nós. Pureza das virgens, tem piedade de nós. Unção de todos os santos, tem piedade de nós. Sede-nos propício, perdoa-nos, Senhor. Sede-nos propício, atende-nos, Senhor. De todo o pecado, livra-nos, Senhor. De todas as tentações e ciladas do demônio, livra-nos, Senhor. De toda a presunção e desesperação, livra-nos, Senhor. Do ataque à verdade conhecida, livra-nos, Senhor. Da inveja da graça fraterna, livra-nos, Senhor. De toda a obstinação e impenitência, livra-nos, Senhor. De toda a negligência e tepor do espírito, livra-nos, Senhor. De toda a impureza da mente e do corpo, livra-nos, Senhor. De todas as heresias e erros, livra-nos, Senhor. De todo o mau espírito, livra-nos, Senhor. Da morte má e eterna, livra-nos, Senhor. Pela tua eterna procedência do Pai e do Filho, livra-nos, Senhor. Pela milagrosa conceição do Filho de Deus, livra-nos, Senhor. Pela tua descida sobre Jesus Cristo batizado, livra-nos, Senhor. Pela tua santa aparição na transfiguração do Senhor, livra-nos, Senhor. Pela tua vinda sobre os discípulos do Senhor, livra-nos, Senhor. No dia do juízo, livra-nos, Senhor. Ainda que pecadores, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que nos perdoes, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes vivificar e santificar todos os membros da Igreja, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes conceder-nos o dom da verdadeira piedade, devoção e oração, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes inspirar-nos sinceros afetos de misericórdia e de caridade, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes criar em nós um espírito novo e um coração puro, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes conceder-nos verdadeira paz e tranquilidade no coração, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes fazer-nos dignos e fortes, para suportar as perseguições pela justiça, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes confirmar-nos em tua graça, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes receber-nos no número dos teus eleitos, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes ouvir-nos, nós vos rogamos, ouví-nos. Espírito de Deus, nós vos rogamos, ouví-nos. Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, envia-nos o Espírito Santo. Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, manda-nos o Espírito prometido do Pai. Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, dá-nos o Espírito bom. Espírito Santo, ouví-nos. Espírito Consolador, atendei-nos. ℣. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado. ℟. E renovareis a face da terra. Oremos: Deus, que instruístes o coração de vossos fiéis, com a luz do Espírito Santo, concedei-nos que, no mesmo Espírito, conheçamos o que é reto, e gozemos sempre as suas consolações. Por Cristo, Nosso Senhor. Amém. Ladainha de Nossa Senhora Senhor, tende piedade de nós. Cristo, tende piedade de nós. Senhor, tende piedade de nós. Santa Maria, rogai por nós. Santa Mãe de Deus, rogai por nós. Santa Virgem das Virgens, rogai por nós. Mãe de Cristo, rogai por nós. Mãe da Igreja, rogai por nós. Mãe de misericórdia, rogai por nós. Mãe da divina graça, rogai por nós. Mãe da esperança, rogai por nós. Mãe puríssima, rogai por nós. Mãe castíssima, rogai por nós. Mãe sempre virgem, rogai por nós. Mãe imaculada, rogai por nós. Mãe amável, rogai por nós. Mãe admirável, rogai por nós. Mãe do bom conselho, rogai por nós. Mãe do Criador, rogai por nós. Mãe do Salvador, rogai por nós. Virgem prudentíssima, rogai por nós. Virgem venerável, rogai por nós. Virgem louvável, rogai por nós. Virgem poderosa, rogai por nós. Virgem clemente, rogai por nós. Virgem fiel, rogai por nós. Espelho de justiça, rogai por nós. Sede de sabedoria, rogai por nós. Causa da nossa alegria, rogai por nós. Vaso espiritual, rogai por nós. Vaso honorífico, rogai por nós. Vaso insigne de devoção, rogai por nós. Rosa mística, rogai por nós. Torre de Davi, rogai por nós. Torre de marfim, rogai por nós. Casa de ouro, rogai por nós. Arca da aliança, rogai por nós. Porta do céu, rogai por nós. Estrela da manhã, rogai por nós. Saúde dos enfermos, rogai por nós. Refúgio dos pecadores, rogai por nós. Conforto dos migrantes, rogai por nós. Consoladora dos aflitos, rogai por nós. Auxílio dos cristãos, rogai por nós. Rainha dos anjos, rogai por nós. Rainha dos patriarcas, rogai por nós. Rainha dos profetas, rogai por nós. Rainha dos apóstolos, rogai por nós. Rainha dos mártires, rogai por nós. Rainha dos confessores, rogai por nós. Rainha das virgens, rogai por nós. Rainha de todos os santos, rogai por nós. Rainha concebida sem pecado original, rogai por nós. Rainha assunta ao céu, rogai por nós. Rainha do santo rosário, rogai por nós. Rainha da família, rogai por nós. Rainha da paz, rogai por nós. Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, perdoai-nos, Senhor. Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, ouvi-nos, Senhor. Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós. ℣. Rogai por nós, Santa Mãe de Deus. ℟. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo. Oremos: Senhor Deus, nós Vos suplicamos que concedais aos vossos servos perpétua saúde de alma e de corpo; e que, pela gloriosa intercessão da bem-aventurada sempre Virgem Maria, sejamos livres da presente tristeza e gozemos da eterna alegria. Por Cristo Nosso Senhor. Amém. Ave maris stella (Ave, do mar Estrela) (Latim) 1. Ave maris stella, Dei Mater alma, Atque semper Virgo, Felix cæli porta. 2. Sumens illud Ave Gabrielis ore, Funda nos in pace, Mutans Hevæ nomen. 3. Solve vincla reis, Profer lumen cæcis, Mala mostra pelle, Bona cuncta posce. 4. Monstra te esse matrem, Sumat per te preces, Qui pro nobis natus Tulit esse tuus. 5. Virgo singularis, Inter omnes mitis, Nos, culpis solutos, Mites fac et castos. 6. Vitam præsta puram Iter para tutum, Ut, videntes Jesum, Semper collætemur. 7. Sit laus Deo Patri, Summo Christo decus, Spiritui Sancto, Tribus honor unus. Amen. (Vernáculo) 1. Ave, do mar Estrela De Deus mãe bela, Sempre virgem, da morada Celeste Feliz entrada. 2. Ó tu que ouviste da boca Do anjo a saudação; Dá-nos a paz e quietação; E o nome da Eva troca. 3. As prisões aos réus desata. E a nós cegos alumia; De tudo que nos maltrata Nos livra, o bem nos granjeia. 4. Ostenta que és mãe, fazendo Que os rogos do povo seu Ouça aquele que, nascendo Por nós, quis ser filho teu. 5. Ó virgem especiosa, Toda cheia de ternura, Extintos nossos pecados Dá-nos pureza e brandura, 6. Dá-nos uma vida pura, Põe-nos em via segura, Para que a Jesus gozemos, E sempre nos alegremos. 7. A Deus Pai veneremos: A Jesus Cristo também: E ao Espírito Santo; demos Aos três um louvor. Amém. Ladainha da Humildade Senhor, tende piedade de nós. Cristo, tende piedade de nós. Senhor, tende piedade de nós. Jesus manso e humilde de coração, ouvi-nos. Jesus manso e humilde de coração, atendei-nos. Jesus manso e humilde de coração, fazei o nosso coração semelhante ao vosso. Do desejo de ser estimado, livrai-me Jesus. Do desejo de ser amado, livrai-me Jesus. Do desejo de ser buscado, livrai-me Jesus. Do desejo de ser louvado, livrai-me Jesus. Do desejo de ser honrado, livrai-me Jesus. Do desejo de ser preferido, livrai-me Jesus. Do desejo de ser consultado, livrai-me Jesus. Do desejo de ser aprovado, livrai-me Jesus. Do desejo de ser adulado, livrai-me Jesus. Do temor de ser humilhado, livrai-me Jesus. Do temor de ser desprezado, livrai-me Jesus. Do temor de ser rejeitado, livrai-me Jesus. Do temor de ser caluniado, livrai-me Jesus. Do temor de ser esquecido, livrai-me Jesus. Do temor de ser ridicularizado, livrai-me Jesus. Do temor de ser escarnecido, livrai-me Jesus. Do temor de ser injuriado, livrai-me Jesus. Que os outros sejam mais amados do que eu, Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo! Que os outros sejam mais estimados do que eu, Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo! Que os outros possam crescer na opinião do mundo e que eu possa diminuir, Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo! Que aos outros seja concedida mais confiança no seu trabalho e que eu seja deixado de lado, Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo! Que os outros sejam louvados e eu esquecido, Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo! Que os outros possam ser preferidos a mim em tudo, Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo! Que os outros possam ser mais Santos do que eu, contanto que eu pelo menos me torne santo como puder, Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo! Ó Maria, Mãe dos humildes, rogai por nós. São José, protetor das almas humildes, rogai por nós. São Miguel, que fostes o primeiro a lutar contra o orgulho e o primeiro a abatê-lo, rogai por nós. Ó justos todos, santificados a partir do espírito de humildade, rogai por nós. Oremos: Ó Deus que, através do ensinamento e do exemplo do Vosso Filho Jesus, apresentastes a humildade como chave que abre os tesouros da graça (Cf. Tg 4, 6) e como fundamento de todas as outras virtudes - caminho certo para o céu - concedei-nos pela intercessão da Bem-aventurada Virgem Maria, a mais humilde e a mais santa das criaturas, aceitar agradecendo todas as humilhações que Vossa Divina Providência nos oferecer. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, que convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo. Amém. Repetir ao longo do dia: “Senhor, que eu veja!” |
Dia 14: Somos resgatadosPara nós, que nos preparamos para professar a Consagração montfortina, importa conhecer e aprofundar, em primeiro lugar, o que somos em relação a Jesus Cristo. O fim dessa Consagração não é nos tornar, por intermédio de Maria, seus fiéis, seus perfeitos escravos?“Ó Sabedoria eterna e encarnada, ó tão amável e adorável Jesus, diremos nós… eu vos louvo e glorifico por terdes desejado vos submeter a Maria, vossa Santa Mãe, em todas as coisas, a fim de me tornar, por meio dela, vosso fiel escravo.” E, no último parágrafo: “Ó Virgem fiel, tornai-me em todas as coisas um escravo tão perfeito da Sabedoria encarnada, Jesus Cristo, vosso Filho…”. Que abundância de luz afluirá ao nosso espírito, se adquirirmos desde agora a certeza racional de que somos, com toda verdade, pela graça de nosso batismo, seus escravos resgatados pelo preço de seu sangue! Nossa doação total vai aparecer para nós, então, como a ratificação pessoal e amorosa das realidades redentoras. Dediquemo-nos, pois, a reconhecer, antes de qualquer outra consideração, NOSSO INTEIRO PERTENCIMENTO A JESUS CRISTO. Submeter-nos-emos com maior generosidade às OBRIGAÇÕES que dele decorrem. Roguemos ao Espírito Santo e à divina Mãe que nos iluminem. Peçamos-lhes que desenvolvam em nossas almas sentimentos de gratidão e de humildade, na lembrança da graça de nossa redenção. Veni, Sancte Spiritus! Ave, Maria. I. NÓS PERTENCEMOS A JESUS CRISTO NA QUALIDADE DE ESCRAVOS “Antes do batismo, escreve São Luís Maria de Montfort, éramos escravos do diabo; o batismo nos tornou os verdadeiros escravos de Jesus Cristo.” (V. D., n. 68 e 73.) Em consequência do erro de Adão, cabeça do gênero humano, chegamos ao mundo com uma alma manchada pelo pecado original, isto é, privada da graça santificadora, da participação na própria vida de Deus. Essa privação da vida sobrenatural faz com que nasçamos submissos à influência do demônio. Ele é o senhor em nós, um senhor tirânico, que não possui nenhum direito, mas que ocupa seu espaço. É por isso que, antes de derramar a água santa do batismo sobre nossa cabeça, o sacerdote realiza os exorcismos contra Satanás: “Sai desta criança, espírito imundo, e deixa lugar ao Espírito Santo!” Por duas ou três vezes, a mesma ordem é reiterada: Sai! Vai-te! Não és mais o senhor aqui. Retira-te, espírito do mal, e deixa lugar ao Espírito Santo. Em virtude dessas palavras, unidas ao rito essencial, o demônio é obrigado a se retirar; e Deus, Trindade santa, faz em nossa alma sua entrada silenciosa e santificadora. A vida sobrenatural, que fora dada ao nosso primeiro pai, e que ele havia perdido para si e para seus descendentes por sua grave desobediência, é misericordiosamente devolvida a nós nesse instante. Tornamo-nos filhos de Deus. Satanás não poderá exercer sua tirania, a menos que o obriguemos a retornar, cometendo o pecado mortal. Que os homens que vivem sem a graça do batismo sejam escravos do demônio, podemos nos convencer disto ao refletir sobre o que era o mundo pagão antes da vinda de Nosso Senhor, e sobre o que ele é ainda hoje, depois de dezenove séculos de pregação evangélica. Satanás reinava e reina ainda como senhor absoluto. Que estragos provoca ele nas almas! Que degradação produz até nos corpos! Mesmo em nossos velhos países cristãos, que retornam, em grande parte, ao paganismo, ou – pecado ainda mais grave – que professam abertamente o ateísmo, não vemos Satanás triunfar novamente, e multiplicar por milhares e milhares o número de seus escravos? É uma verdade experimentada que nos tornamos escravos de nosso sedutor. “A ordem da justiça divina é assim constituída,” ensina São Tomás de Aquino, “que se alguém cede à sugestão de outro para pecar, deve submeter-se ao poder desse outro para ser punido”, segundo esta palavra de São Pedro em sua segunda epístola: a quo quis superatus est, hujus et servus est.” (2Pd 2, 19.) Somos escravos daquele por quem nos deixamos vencer. É assim que Satanás se torna o tirano de toda alma da qual Deus não é mais o Senhor. Como devemos, então, estimar a graça de nosso batismo! Ao nos arrancar da escravidão de obrigação do demônio, ela nos torna os verdadeiros escravos de Jesus Cristo. Pois a vida divina não é então derramada em nossa alma senão em virtude dos méritos da Paixão e da morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. Adão, abusando de sua liberdade, pôde desobedecer a Deus e ofendê-lo gravemente; todavia, depois do pecado cometido, ele não podia justificar a si mesmo. Impotente para oferecer uma reparação adequada, igual à ofensa, ele arrastava consigo toda a sua descendência à danação. Foi então que, por uma misericordiosa condescendência, o Filho de Deus se ofereceu ao seu Pai para satisfazer a Justiça divina, infinitamente ofendida. Ele se fez homem na plenitude dos tempos. Durante os trinta e três anos de sua vida sobre a terra, ele rezou, trabalhou, lutou, sofreu para arrancar nossas almas da escravidão do demônio. Sendo todas as suas ações e sofrimentos, e principalmente sua morte na cruz, de um valor infinito, ele pagou nossa dívida. Ele nos resgatou por um alto preço, “não a preço de coisas corruptíveis, de ouro ou de prata, mas a preço de todo o seu sangue.” (1Pd 1, 18-19.) Somos sua conquista, seu povo adquirido, sua herança, seu bem, sua propriedade. Pertencemos-lhe inteiramente. Estamos divinamente marcados pelo selo de seu domínio. Eis que nos tornamos “seus verdadeiros escravos” por meio de um prodígio inaudito de seu amor, pois foi seu amor que o fez encarnar e aceitar morrer por nós. Como testemunhar-lhe melhor nossa gratidão senão derramando nosso espírito, nosso coração, toda a nossa alma na sabedoria desse maravilhoso plano redentor? É precisamente isto que nos pede São Luís Maria de Montfort, quando propõe aos batizados, em resposta ao seu inteiro pertencimento a Jesus Cristo, que se consagrem ao seu serviço por meio de uma dependência total, espontânea e livre, com base unicamente no amor. II. Tal atitude de nossa parte parecerá ainda mais atraente, se considerarmos, agora, as OBRIGAÇÕES que decorrem de nossa bem-aventurada condição de escravos de Jesus Cristo. Roguemos novamente ao Espírito Santo. Não pertencendo mais a nós, mas inteiramente ao nosso divino Redentor, fica claro que devemos viver, trabalhar e produzir frutos somente para ele. Seus direitos de propriedade sobre nossas obras são a consequência de seus direitos sobre nossa pessoa. O dono do campo é o dono dos frutos que esse campo produz. “É por essa razão,” diz-nos Montfort (V. D., n. 68), “que o Espírito Santo nos compara: a árvores plantadas ao longo das águas da graça, no campo da Igreja, que devem dar seus frutos em seu tempo; às varas de uma vinha da qual Jesus Cristo é a vide, que devem produzir boas uvas; a um rebanho do qual Jesus Cristo é o Pastor, que deve ser multiplicado e produzir leite; a uma boa terra da qual Deus é o lavrador e na qual a semente se multiplica e produz na espiga trinta vezes, sessenta vezes, cem vezes o grão confiado ao solo.” Essas belas comparações bíblicas nos mostram, com efeito, muito claramente, a obrigação de produzir obras de santidade e a propriedade de Jesus sobre essas obras desde que elas se abrem e desabrocham em nossas almas. Os frutos do campo pertencem a ele, assim como os cachos da vinha, o leite do rebanho e o bom grão multiplicado. Tudo lhe pertence: o campo, a vinha, o rebanho, a terra, assim como nossas pessoas. Nossa felicidade deve ser fazer valer seus bens, para o enriquecimento de sua glória e para o louvor de sua graça, que ele infunde incessantemente em nossas almas. A imagem da vinha, tão amada por Nosso Senhor, é das mais significativas. Jesus Cristo é a “Videira” que mergulha suas raízes nas profundezas da Trindade, e nós somos os galhos cheios de seiva divina. Os cachos de uva são o bem e a glória da vinha. Quanto mais pesados e coloridos são esses cachos, mais glorificam a seiva vivificante que sobe da videira e chega até as extremidades dos mais longínquos galhos. A ninguém sucede pensar que os cachos que pendem dos ramos pertencem a si mesmos, independentemente da vinha que os suporta e produz. Assim nossas obras, frutos da graça, pertencem em primeiro lugar a Jesus Cristo. Quanto mais essas obras se mostram impregnadas de seiva divina, embebidas e como que saturadas de santidade, mais também elas reivindicam a honra de ser a riqueza e a glória de sua incessante ação em nós. Nossas obras sobrenaturais e meritórias são de tal modo o bem de Nosso Senhor, que “Jesus amaldiçoou a figueira seca e proferiu a condenação contra o servo inútil que não fizera valer seu talento” (V. D., n. 68). A árvore era o bem do Senhor, assim como o escravo e o talento concedido; o Senhor tinha, pois, o direito de esperar frutos de sua árvore e os lucros do trabalho de seu escravo. Se ele não os colhe nem os recebe, vê-se frustrado com rigor de justiça, e é por isso que amaldiçoa e condena. “Tudo isto,” acrescenta São Luís Maria de Montfort, “prova-nos que Jesus Cristo deseja receber alguns frutos de nossas frágeis pessoas, conhecer nossas boas obras, porque essas boas obras lhe pertencem unicamente (nossa cooperação com a graça sendo ela mesma o resultado de uma graça): creati in operibus bonis in Christo Jesu, fomos criados para realizar boas obras em Jesus Cristo.” Nossa regeneração é, com efeito, uma criação nova no Cristo, cujo fim é nos fazer produzir obras novas que Deus espera de nós e que são em nós o fruto de sua graça. Assim, “Jesus Cristo é o único princípio e deve ser o único fim de todas as nossas boas obras.” (V. D., n. 68.) Pertencemos-lhe inteiramente. ---- Dessa doutrina, Montfort não hesita em extrair a conclusão seguinte, a saber, que devemos servir nosso divino Redentor e Senhor “não somente como servos que recebem sua paga, mas como escravos de amor”. (n. 68.) Visto que somos “seus verdadeiros escravos” no sentido pleno do termo, seria manifestar-lhe nossa mais amorosa gratidão entregar-nos assim ao seu serviço, para honrá-lo pertencendo a ele. Não temamos ostentar confiantemente, assim como fez o apóstolo São Paulo (Rom 1, 1), esse nobre título de escravos de Jesus Cristo. “Escravos”, e não simplesmente “servos”. O servo só depende parcialmente de seu senhor: ele trabalha pela contrapartida dos rendimentos, e por um tempo limitado. Por isso, não se pode chamá-lo de servo de amor. Nós desejamos, ao contrário, dar-nos inteiramente e para sempre, respeitando nosso inteiro e eterno pertencimento, reconhecido e amado. Desejamos que nada possa limitar nossa doação, nem medi-la, restringi-la ou condicioná-la. Não se trata, aqui, senão da escravidão por vontade, a qual procede do coração; e a palavra “escravo”, como a entendemos, não é de modo algum oposta a “livre”, mas somente a “Senhor”. Escravos de um Senhor que se chama Nosso Senhor Jesus Cristo, o que pode haver de mais espontâneo, de mais livre, de mais impregnado de amor profundo? Nunca o amaremos ou pertenceremos a ele demais; é por isso que prosseguimos utilizando a palavra mais forte em nossas línguas humanas, para exprimir-lhe nossa total e absoluta dependência. Compreendemos, com isso, a incansável insistência da Igreja em terminar todas as suas Orações litúrgicas, todas as suas implorações de graças, recorrendo à fórmula que relembra e honra seus direitos de Redentor: Per Dominum nostrum Jesum Christum… Por Jesus Cristo, Nosso Senhor e Mestre. Se o reconhecemos “Senhor e Mestre” (e é o único Senhor e Mestre: Tu solus Dominus… Jesu Christe, dizemos na Glória da missa), é preciso que a esse título corresponda o nosso título de escravos, assim como ao título de “pai” corresponde o de “filho”. Um chama o outro; são inseparáveis. Na manhã da Anunciação, quando a Virgem de Nazaré aceitou essa divina Maternidade corredentora que o enviado do Céu lhe propunha, não começou por inclinar toda a sua pessoa diante dos direitos de Deus? Ela não hesitou em se proclamar sua escrava: Ecce ancilla Domini, isto é, segundo a força do texto original, não somente a serva, mas a escrava de seu Senhor e único Mestre, Deus. E de modo semelhante, desde a primeira estrofe de seu cântico do Magnificat: Minh’alma engrandece ao Senhor… pois contemplou a humildade de sua escrava. Ó esplendor de humildade! Maria pronuncia essas palavras, quando se vê elevada à transcendente dignidade de Mãe de Deus. Já, pela graça de sua Imaculada Conceição, ela era sua Filha amada, a mais privilegiada e a mais agraciada; muito acima de todas as outras criaturas angelicais ou humanas. E eis que ela se afirma sua escrava. Ela é, pois, ao mesmo tempo a Filha, a Mãe e a Escrava de Deus. Prova evidente de que essas palavras e esses títulos se harmonizam. E se se harmonizam em Maria, por que não se harmonizariam em nós as palavras e os títulos de filhos de Deus e de escravos de Jesus Cristo? Filhos do Pai dos Céus pela graça de nosso batismo; escravos de Jesus Cristo pelo reconhecimento de seus direitos de Redentor: essa é nossa amorosa resposta ao infinito benefício do preço de seu sangue. Sendo seus verdadeiros escravos, oferecemo-nos a “servi-lo nessa qualidade, pela única honra de pertencer a ele”. (V. D., n. 73.) Conformamo-nos, assim, ao ensinamento do Catecismo do Concílio de Trento, quando prescreve aos pastores que conduzam aos fiéis a relembrar e crer que estão ligados e consagrados a Nosso Senhor Jesus Cristo como escravos ao seu Redentor e Senhor: non secus ac mancipia Redemptori nostro et Domino. (V. D., n. 72 e 129.) Os dois termos “Redentor e Senhor” são unidos propositadamente, para mostrar que nosso pertencimento ao Cristo decorre diretamente dos direitos que sua Redenção lhe confere. Concluamos com São Luís Maria de Montfort: “Ou importa que os cristãos sejam escravos do diabo, ou escravos de Jesus Cristo.” (V. D., n. 3.) Não há meio-termo. Escravidão de obrigação, de um lado; escravidão de vontade, do outro. Ambas começando durante a vida e consumadas após a morte. No inferno, os reprovados são os eternos escravos do ódio de Satanás. No Céu, os eleitos são os eternos escravos de amor de Deus: o apóstolo São João os viu reunidos de todas as nações da terra e gloriosamente marcados na fronte com o selo do Cordeiro imolado (Apoc 7, 2-12). ---- Conhecendo, pois, agora, o que somos em relação a Jesus Cristo, amaremos nosso fundamental pertencimento de resgatados. Amaremos o termo que o exprime: é o da humildade na verdade. As almas verdadeiramente humildes não experimentam qualquer dificuldade em assumi-lo, pois ele vai ao encontro de sua necessidade de depender, de servir e de doar-se. As objeções sobrevêm somente se nos colocamos diante dos homens e de nós mesmos, enquanto importaria colocar-se unicamente diante de Deus, como fez a Virgem em Nazaré. Se olharmos para os homens, constataremos apenas violências e ultrajes à dignidade humana. Se nos detivermos em nós mesmos, estaremos às voltas com pensamentos de egoísmo e de amor-próprio. Olhemos para o alto, bem acima dos homens e de nós mesmos! Olhemos o adorável e amável Jesus, a Sabedoria eterna e encarnada, que nos comprou ao preço de todo o seu sangue. Rendamos-lhe graças por ele ter aniquilado a si mesmo, assumindo a forma de um escravo, para nos tirar da cruel escravidão do demônio. Peçamos-lhe, pela santa Mãe, a contrição e o perdão de nossas faltas, e ofereçamo-nos generosamente a todas as renúncias que exige nosso divino pertencimento. ORAÇÕES Ladainha do Espírito Santo Senhor, tem piedade de nós. Jesus Cristo, tem piedade de nós. Divino Espírito Santo, ouve-nos. Espírito Paráclito, atende-nos. Deus Pai dos céus, tem piedade de nós. Deus Filho, redentor do mundo, tem piedade de nós. Deus Espírito Santo, tem piedade de nós. Santíssima Trindade, que és um só Deus, tem piedade de nós. Espírito da verdade, tem piedade de nós. Espírito da sabedoria, tem piedade de nós. Espírito da inteligência, tem piedade de nós. Espírito da fortaleza, tem piedade de nós. Espírito da piedade, tem piedade de nós. Espírito do bom conselho, tem piedade de nós. Espírito da ciência, tem piedade de nós. Espírito do santo temor, tem piedade de nós. Espírito da caridade, tem piedade de nós. Espírito da alegria, tem piedade de nós. Espírito da paz, tem piedade de nós. Espírito das virtudes, tem piedade de nós. Espírito de toda graça, tem piedade de nós. Espírito da adoção dos filhos de Deus, tem piedade de nós. Purificador das nossas almas, tem piedade de nós. Santificador e guia da Igreja Católica, tem piedade de nós. Distribuidor dos dons celestes, tem piedade de nós. Conhecedor dos pensamentos e das intenções do coração, tem piedade de nós. Doçura dos que começam a te servir, tem piedade de nós. Coroa dos perfeitos, tem piedade de nós. Alegria dos anjos, tem piedade de nós. Luz dos patriarcas, tem piedade de nós. Inspiração dos profetas, tem piedade de nós. Palavra e sabedoria dos apóstolos, tem piedade de nós. Vitória doa mártires, tem piedade de nós. Ciência dos confessores, tem piedade de nós. Pureza das virgens, tem piedade de nós. Unção de todos os santos, tem piedade de nós. Sede-nos propício, perdoa-nos, Senhor. Sede-nos propício, atende-nos, Senhor. De todo o pecado, livra-nos, Senhor. De todas as tentações e ciladas do demônio, livra-nos, Senhor. De toda a presunção e desesperação, livra-nos, Senhor. Do ataque à verdade conhecida, livra-nos, Senhor. Da inveja da graça fraterna, livra-nos, Senhor. De toda a obstinação e impenitência, livra-nos, Senhor. De toda a negligência e tepor do espírito, livra-nos, Senhor. De toda a impureza da mente e do corpo, livra-nos, Senhor. De todas as heresias e erros, livra-nos, Senhor. De todo o mau espírito, livra-nos, Senhor. Da morte má e eterna, livra-nos, Senhor. Pela tua eterna procedência do Pai e do Filho, livra-nos, Senhor. Pela milagrosa conceição do Filho de Deus, livra-nos, Senhor. Pela tua descida sobre Jesus Cristo batizado, livra-nos, Senhor. Pela tua santa aparição na transfiguração do Senhor, livra-nos, Senhor. Pela tua vinda sobre os discípulos do Senhor, livra-nos, Senhor. No dia do juízo, livra-nos, Senhor. Ainda que pecadores, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que nos perdoes, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes vivificar e santificar todos os membros da Igreja, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes conceder-nos o dom da verdadeira piedade, devoção e oração, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes inspirar-nos sinceros afetos de misericórdia e de caridade, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes criar em nós um espírito novo e um coração puro, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes conceder-nos verdadeira paz e tranquilidade no coração, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes fazer-nos dignos e fortes, para suportar as perseguições pela justiça, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes confirmar-nos em tua graça, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes receber-nos no número dos teus eleitos, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes ouvir-nos, nós vos rogamos, ouví-nos. Espírito de Deus, nós vos rogamos, ouví-nos. Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, envia-nos o Espírito Santo. Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, manda-nos o Espírito prometido do Pai. Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, dá-nos o Espírito bom. Espírito Santo, ouví-nos. Espírito Consolador, atendei-nos. ℣. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado. ℟. E renovareis a face da terra. Oremos: Deus, que instruístes o coração de vossos fiéis, com a luz do Espírito Santo, concedei-nos que, no mesmo Espírito, conheçamos o que é reto, e gozemos sempre as suas consolações. Por Cristo, Nosso Senhor. Amém. Ladainha de Nossa Senhora Senhor, tende piedade de nós. Cristo, tende piedade de nós. Senhor, tende piedade de nós. Santa Maria, rogai por nós. Santa Mãe de Deus, rogai por nós. Santa Virgem das Virgens, rogai por nós. Mãe de Cristo, rogai por nós. Mãe da Igreja, rogai por nós. Mãe de misericórdia, rogai por nós. Mãe da divina graça, rogai por nós. Mãe da esperança, rogai por nós. Mãe puríssima, rogai por nós. Mãe castíssima, rogai por nós. Mãe sempre virgem, rogai por nós. Mãe imaculada, rogai por nós. Mãe amável, rogai por nós. Mãe admirável, rogai por nós. Mãe do bom conselho, rogai por nós. Mãe do Criador, rogai por nós. Mãe do Salvador, rogai por nós. Virgem prudentíssima, rogai por nós. Virgem venerável, rogai por nós. Virgem louvável, rogai por nós. Virgem poderosa, rogai por nós. Virgem clemente, rogai por nós. Virgem fiel, rogai por nós. Espelho de justiça, rogai por nós. Sede de sabedoria, rogai por nós. Causa da nossa alegria, rogai por nós. Vaso espiritual, rogai por nós. Vaso honorífico, rogai por nós. Vaso insigne de devoção, rogai por nós. Rosa mística, rogai por nós. Torre de Davi, rogai por nós. Torre de marfim, rogai por nós. Casa de ouro, rogai por nós. Arca da aliança, rogai por nós. Porta do céu, rogai por nós. Estrela da manhã, rogai por nós. Saúde dos enfermos, rogai por nós. Refúgio dos pecadores, rogai por nós. Conforto dos migrantes, rogai por nós. Consoladora dos aflitos, rogai por nós. Auxílio dos cristãos, rogai por nós. Rainha dos anjos, rogai por nós. Rainha dos patriarcas, rogai por nós. Rainha dos profetas, rogai por nós. Rainha dos apóstolos, rogai por nós. Rainha dos mártires, rogai por nós. Rainha dos confessores, rogai por nós. Rainha das virgens, rogai por nós. Rainha de todos os santos, rogai por nós. Rainha concebida sem pecado original, rogai por nós. Rainha assunta ao céu, rogai por nós. Rainha do santo rosário, rogai por nós. Rainha da família, rogai por nós. Rainha da paz, rogai por nós. Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, perdoai-nos, Senhor. Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, ouvi-nos, Senhor. Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós. ℣. Rogai por nós, Santa Mãe de Deus. ℟. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo. Oremos: Senhor Deus, nós Vos suplicamos que concedais aos vossos servos perpétua saúde de alma e de corpo; e que, pela gloriosa intercessão da bem-aventurada sempre Virgem Maria, sejamos livres da presente tristeza e gozemos da eterna alegria. Por Cristo Nosso Senhor. Amém. Ave maris stella (Ave, do mar Estrela) (Latim) 1. Ave maris stella, Dei Mater alma, Atque semper Virgo, Felix cæli porta. 2. Sumens illud Ave Gabrielis ore, Funda nos in pace, Mutans Hevæ nomen. 3. Solve vincla reis, Profer lumen cæcis, Mala mostra pelle, Bona cuncta posce. 4. Monstra te esse matrem, Sumat per te preces, Qui pro nobis natus Tulit esse tuus. 5. Virgo singularis, Inter omnes mitis, Nos, culpis solutos, Mites fac et castos. 6. Vitam præsta puram Iter para tutum, Ut, videntes Jesum, Semper collætemur. 7. Sit laus Deo Patri, Summo Christo decus, Spiritui Sancto, Tribus honor unus. Amen. (Vernáculo) 1. Ave, do mar Estrela De Deus mãe bela, Sempre virgem, da morada Celeste Feliz entrada. 2. Ó tu que ouviste da boca Do anjo a saudação; Dá-nos a paz e quietação; E o nome da Eva troca. 3. As prisões aos réus desata. E a nós cegos alumia; De tudo que nos maltrata Nos livra, o bem nos granjeia. 4. Ostenta que és mãe, fazendo Que os rogos do povo seu Ouça aquele que, nascendo Por nós, quis ser filho teu. 5. Ó virgem especiosa, Toda cheia de ternura, Extintos nossos pecados Dá-nos pureza e brandura, 6. Dá-nos uma vida pura, Põe-nos em via segura, Para que a Jesus gozemos, E sempre nos alegremos. 7. A Deus Pai veneremos: A Jesus Cristo também: E ao Espírito Santo; demos Aos três um louvor. Amém. Ladainha da Humildade Senhor, tende piedade de nós. Cristo, tende piedade de nós. Senhor, tende piedade de nós. Jesus manso e humilde de coração, ouvi-nos. Jesus manso e humilde de coração, atendei-nos. Jesus manso e humilde de coração, fazei o nosso coração semelhante ao vosso. Do desejo de ser estimado, livrai-me Jesus. Do desejo de ser amado, livrai-me Jesus. Do desejo de ser buscado, livrai-me Jesus. Do desejo de ser louvado, livrai-me Jesus. Do desejo de ser honrado, livrai-me Jesus. Do desejo de ser preferido, livrai-me Jesus. Do desejo de ser consultado, livrai-me Jesus. Do desejo de ser aprovado, livrai-me Jesus. Do desejo de ser adulado, livrai-me Jesus. Do temor de ser humilhado, livrai-me Jesus. Do temor de ser desprezado, livrai-me Jesus. Do temor de ser rejeitado, livrai-me Jesus. Do temor de ser caluniado, livrai-me Jesus. Do temor de ser esquecido, livrai-me Jesus. Do temor de ser ridicularizado, livrai-me Jesus. Do temor de ser escarnecido, livrai-me Jesus. Do temor de ser injuriado, livrai-me Jesus. Que os outros sejam mais amados do que eu, Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo! Que os outros sejam mais estimados do que eu, Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo! Que os outros possam crescer na opinião do mundo e que eu possa diminuir, Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo! Que aos outros seja concedida mais confiança no seu trabalho e que eu seja deixado de lado, Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo! Que os outros sejam louvados e eu esquecido, Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo! Que os outros possam ser preferidos a mim em tudo, Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo! Que os outros possam ser mais Santos do que eu, contanto que eu pelo menos me torne santo como puder, Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo! Ó Maria, Mãe dos humildes, rogai por nós. São José, protetor das almas humildes, rogai por nós. São Miguel, que fostes o primeiro a lutar contra o orgulho e o primeiro a abatê-lo, rogai por nós. Ó justos todos, santificados a partir do espírito de humildade, rogai por nós. Oremos: Ó Deus que, através do ensinamento e do exemplo do Vosso Filho Jesus, apresentastes a humildade como chave que abre os tesouros da graça (Cf. Tg 4, 6) e como fundamento de todas as outras virtudes - caminho certo para o céu - concedei-nos pela intercessão da Bem-aventurada Virgem Maria, a mais humilde e a mais santa das criaturas, aceitar agradecendo todas as humilhações que Vossa Divina Providência nos oferecer. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, que convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo. Amém. Repetir ao longo do dia: “Senhor, que eu veja!” |
Dia 15: Somos grandes feridosÉ-nos permitido, agora, dedicar-nos ao conhecimento de nossas misérias. Há, primeiro, aquelas que derivam em linha direta do pecado original. Esse pecado deixou em nosso ser natural FERIDAS profundas. Consideremo-las uma após a outra. Quanto mais as conhecermos, mais nos dedicaremos a aplicar-lhes os REMÉDIOS da ascese cristã.Continuemos a invocar o Espírito Santo e sua Esposa imaculada. Em razão de sua preservação do pecado original, Maria – muito mais profundamente do que nós – é capaz de compreender nossa miséria moral; e toda a sua maternal compaixão só pede para nos socorrer. I. As FERIDAS do pecado original. Adão, no estado de inocência, não possuía somente a graça santificante em sua alma; ele gozava ainda, por uma abundância de graça, privilégios magníficos que aperfeiçoavam sua natureza e o tornavam mais apto a viver com segurança e alegria seu papel de cabeça do gênero humano. Esses privilégios – dons absolutamente gratuitos – eram a ciência infusa, que o aproximava dos anjos; o domínio sobre as paixões, isto é, a isenção da concupiscência ou da inclinação ao mal; a impassibilidade, isto é, a exclusão da enfermidade e de todo sofrimento; a imortalidade, isto é, a isenção da morte corporal. Tendo transcorrido o tempo da prova, Adão devia passar sem dificuldade do paraíso terrestre ao paraíso celestial. Mas, por sua desobediência grave, ele perdeu de uma só vez a graça santificante e todos os privilégios que Deus lhe havia concedido. O sacramento do batismo nos devolve a graça santificante com o direito à felicidade do Céu; mas não nos restitui os dons preternaturais que a acompanhavam. Permanecemos, assim, num estado de decadência, de desgraça, de empobrecimento, sofrendo em nossa natureza o que denominamos as feridas do pecado original: a ignorância, a concupiscência, o sofrimento e a morte. As FERIDAS do pecado original. Adão, no estado de inocência, possuía a graça santificante e privilégios gratuitos que aperfeiçoavam sua natureza: ciência infusa, domínio sobre as paixões (isenção da concupiscência), impassibilidade (isenção do sofrimento) e imortalidade corporal. Pela grave desobediência, perdeu de uma só vez a graça e esses privilégios. O batismo nos devolve a graça santificante e o direito ao Céu, mas não os dons preternaturais. Permanecemos em estado de decadência, afetados pelas feridas do pecado original: ignorância, concupiscência, sofrimento e morte. Ignorância: Substituiu a ciência infusa. Adão possuía revelações sobrenaturais e conhecimentos úteis à vida. Perdida essa ciência, resta-nos a adquirida, alcançada pelo esforço. Nascemos sem saber nada; tudo deve nos chegar pelos sentidos, exigindo contínuo trabalho. A maioria dos batizados resiste a se instruir nas verdades da fé. Mesmo os que se aplicam ao conhecimento de Deus enfrentam obscuridades. Estudam às cegas uma ciência infinita. Santo Agostinho, apesar de seu gênio, suplicava a Deus luzes para entender as Escrituras. Concupiscência: Juntamente com a perda da graça, desapareceu o domínio sobre as paixões. A vontade, antes fortalecida, hoje cede facilmente aos impulsos desordenados dos sentidos externos (curiosidade, sensualidade, etc.) e internos (imaginação, sensibilidade). É a tirania da concupiscência, atração violenta pelo prazer proibido. A vontade pode resistir, mas é fraca, instável e rebelde à submissão. São Paulo descreve essa luta interior: “Não faço o bem que quero, mas o mal que não quero… Vejo nos meus membros outra lei… Infeliz de mim! Quem me livrará deste corpo de morte?” (Rm 7, 19-25). Sofrimento e morte: São consequências inelutáveis. Devemos trabalhar com fadiga, sofrer doenças e enfermidades e voltar à terra. Mas, com a graça redentora, o sofrimento pode ser santificado e a morte suavizada. Segundo Montfort, a morte dos fiéis escravos de Maria é doce e tranquila, pois ordinariamente recebem a assistência da Virgem, que os conduz às alegrias eternas. (V. D., n. 200.) II. Os REMÉDIOS da ascese cristã. Conhecendo as feridas de nossa natureza humana, importa não somente crer no dogma do pecado original, mas, em consequência disso, cultivar habitualmente uma grande humildade de espírito. Ela é o primeiro remédio contra nossa miséria nativa: não é concebível que seres decaídos se exaltem. Nossa natureza não está corrompida em si mesma; mesmo decaída, conserva o livre-arbítrio e a capacidade de algum bem. Mas somos enfraquecidos, empobrecidos, privados de dons que lhe eram próprios. Essa privação, por si mesma, é um mal e uma desordem. Ainda que pessoalmente não sejamos culpados, devemos nos humilhar. Essa atitude nos ajudará a identificar as tendências perniciosas que predominam em nós e se opõem à prática das virtudes: os defeitos dominantes, enraizados nas três grandes cobiças: orgulho, cobiça da carne e cobiça dos olhos. O orgulho leva ao amor exagerado de si e se manifesta como: • Egoísmo: o eu é o centro; só pensa em si, não ouve os outros. • Vaidade: busca elogios, fala de si, ostenta talentos e sucessos. • Presunção: confiança excessiva em si, recusa de advertências, impaciência diante de resistências. • Ambição e desejo de dominar: busca honras e cargos; cerca-se de aduladores, inveja e critica os outros. Esse defeito se opõe frontalmente ao espírito de humildade. A cobiça da carne leva ao amor desordenado pelo corpo: • Preguiça: recusa do esforço, busca constante de conforto. • Gula: abuso dos prazeres lícitos da comida e bebida, excesso ou refinamento exagerado. • Afeições sensíveis: vínculos afetivos buscados por si mesmos, sem vigilância sobre os sentidos, que facilmente conduzem do sensível ao sensual e ao carnal. A cobiça dos olhos inclina à avareza: • Apego excessivo aos bens, medo de faltar, recusa em ajudar os outros. • Economia sem confiança em Deus, olhos voltados à terra como se aqui fôssemos permanecer sempre. Esses defeitos não são pecados em si, mas nos fazem cometer muitas faltas veniais e, se alimentados, podem conduzir a pecados graves e a hábitos viciosos. Somam-se, então, às feridas do pecado original, as consequências dos pecados pessoais. ---- O preceito evangélico da renúncia se impõe. Importa-nos, segundo Montfort, “renunciar às operações das faculdades de nossa alma” (VD, n. 81). Quanto à INTELIGÊNCIA, devemos renunciar: • à ignorância religiosa, esforçando-nos por conhecer Deus, nosso fim último, e os meios para alcançá-lo. É insensato negligenciar a ciência da salvação, quando se busca tanto as ciências humanas. • à vã curiosidade, que se entrega, de modo excessivo, a leituras agradáveis e frívolas — romances, jornais, revistas da moda —, que nada edificam a alma e fazem o inútil passar à frente do necessário, prejudicando o bom uso do tempo. • ao orgulho do espírito, que se recusa a se submeter aos ensinamentos da fé, ao Magistério e à obediência aos superiores. Discutimos, criticamos, confiamos apenas em nosso próprio julgamento e desprezamos o dos outros, semeando a divisão em vez da paz. Quanto à VONTADE, que é a faculdade mestra: • renunciar a seguir as exigências das faculdades inferiores, submetendo-a perfeitamente à vontade de Deus. Isso supõe sacrifícios, especialmente dos gostos, caprichos e interesses naturais. • renunciar à irreflexão, que nos leva a agir por impulso, sem nos perguntarmos o que Deus quer de nós. • renunciar à displicência, indecisão e à falta de força moral, que paralisam a vontade. Importa cultivar convicções de fé, que fortalecem e dirigem a vontade ao bem. • renunciar ao medo do fracasso, pois ele revela falta de confiança em Deus e diminui nossas forças. Com a graça, temos segurança nos bons resultados. • renunciar ao respeito humano, que, por medo de críticas ou zombarias, nos desvia da consideração do julgamento divino, único que conta, e enfraquece nossa vontade. Devemos resistir com força aos maus exemplos, pois eles nos atraem conforme nossas tendências naturais. Aprendemos, nos dias preliminares, que devemos imitar Nosso Senhor e não o mundo. ---- É preciso, além disso, diz-nos Montfort, “renunciar às operações dos sentidos de nosso corpo”, ou seja, “devemos ver como se não víssemos, ouvir como se não ouvíssemos, nos servir das coisas deste mundo como se não o fizéssemos” (VD, n. 81). Essa é a doutrina de São Paulo em 1Cor 7, 29-31. Devemos renunciar: • aos olhares gravemente culpados, comandados por maus desejos. Nosso Senhor os reprova energicamente: “Se o teu olho direito é para ti causa de queda, arranca-o…” (Mt 5, 29). Não se trata de ferir o corpo, mas de afastar-se daquilo que é ocasião de escândalo. • aos olhares curiosos, que suscitam tentações, enchem a memória de imagens, distraem a alma, sobretudo na oração. Purifiquemos os olhos, fixando-os no que eleva a alma e bendiz o Criador. Quanto ao ouvido, renunciemos: • às palavras contrárias à pureza ou à caridade. Se não pudermos evitá-las, ao menos não lhes demos atenção, nem prolonguemos conversas já nocivas em si mesmas. Conversas desonestas provocam desejos maus; as contrárias à caridade levam a murmurações, críticas e prejuízo à reputação do próximo. Devemos amar as conversas iluminadas, benevolentes, edificantes. Dessa forma, usaremos do mundo como se não usássemos, conscientes de sua caducidade. É o que São Paulo chama de “morrer todos os dias”: Quotidie morior (1Cor 15, 31). Jesus já dizia: “Se o grão de trigo, que cai na terra, não morrer, fica infecundo…” (Jo 12, 24). Se não morrermos para nós mesmos, explica Montfort, e se nossas devoções não nos levam a essa morte necessária e fecunda: • não produziremos frutos para a vida eterna; • nossas obras serão manchadas por amor-próprio e vontade própria; • Deus abominará até os maiores sacrifícios que possamos fazer. No momento da morte, poderemos nos encontrar sem virtudes e méritos, sem o puro amor, que só é comunicado às almas mortas para si mesmas, cuja vida está escondida com Jesus Cristo em Deus (VD, n. 81). ---- Tenhamos, pois, a coragem, com a graça divina, de não recuar diante do austero preceito da negação de si mesmo: ele é a condição primeira e indispensável de nossa caminhada após o divino Mestre. Mas, como a graça divina não nos é dada senão por Maria, as meditações que seguirão – ainda continuando a descobrir nossas misérias – nos mostrarão que poderoso socorro é a Santíssima Virgem, quando sabemos fazer bom uso de seu papel providencial de Mediadora. Longe de nos apoiar somente sobre nossos esforços pessoais, nos dedicaremos a recorrer continuamente à sua ajuda e intercessão. Assim, cultivaremos e desenvolveremos em nós a virtude da humildade; e Maria estará presente para fortificar nossa vontade na luta contra nós mesmos e contra os inimigos que se opõem ao nosso progresso espiritual. ORAÇÕES Ladainha do Espírito Santo Senhor, tem piedade de nós. Jesus Cristo, tem piedade de nós. Divino Espírito Santo, ouve-nos. Espírito Paráclito, atende-nos. Deus Pai dos céus, tem piedade de nós. Deus Filho, redentor do mundo, tem piedade de nós. Deus Espírito Santo, tem piedade de nós. Santíssima Trindade, que és um só Deus, tem piedade de nós. Espírito da verdade, tem piedade de nós. Espírito da sabedoria, tem piedade de nós. Espírito da inteligência, tem piedade de nós. Espírito da fortaleza, tem piedade de nós. Espírito da piedade, tem piedade de nós. Espírito do bom conselho, tem piedade de nós. Espírito da ciência, tem piedade de nós. Espírito do santo temor, tem piedade de nós. Espírito da caridade, tem piedade de nós. Espírito da alegria, tem piedade de nós. Espírito da paz, tem piedade de nós. Espírito das virtudes, tem piedade de nós. Espírito de toda graça, tem piedade de nós. Espírito da adoção dos filhos de Deus, tem piedade de nós. Purificador das nossas almas, tem piedade de nós. Santificador e guia da Igreja Católica, tem piedade de nós. Distribuidor dos dons celestes, tem piedade de nós. Conhecedor dos pensamentos e das intenções do coração, tem piedade de nós. Doçura dos que começam a te servir, tem piedade de nós. Coroa dos perfeitos, tem piedade de nós. Alegria dos anjos, tem piedade de nós. Luz dos patriarcas, tem piedade de nós. Inspiração dos profetas, tem piedade de nós. Palavra e sabedoria dos apóstolos, tem piedade de nós. Vitória doa mártires, tem piedade de nós. Ciência dos confessores, tem piedade de nós. Pureza das virgens, tem piedade de nós. Unção de todos os santos, tem piedade de nós. Sede-nos propício, perdoa-nos, Senhor. Sede-nos propício, atende-nos, Senhor. De todo o pecado, livra-nos, Senhor. De todas as tentações e ciladas do demônio, livra-nos, Senhor. De toda a presunção e desesperação, livra-nos, Senhor. Do ataque à verdade conhecida, livra-nos, Senhor. Da inveja da graça fraterna, livra-nos, Senhor. De toda a obstinação e impenitência, livra-nos, Senhor. De toda a negligência e tepor do espírito, livra-nos, Senhor. De toda a impureza da mente e do corpo, livra-nos, Senhor. De todas as heresias e erros, livra-nos, Senhor. De todo o mau espírito, livra-nos, Senhor. Da morte má e eterna, livra-nos, Senhor. Pela tua eterna procedência do Pai e do Filho, livra-nos, Senhor. Pela milagrosa conceição do Filho de Deus, livra-nos, Senhor. Pela tua descida sobre Jesus Cristo batizado, livra-nos, Senhor. Pela tua santa aparição na transfiguração do Senhor, livra-nos, Senhor. Pela tua vinda sobre os discípulos do Senhor, livra-nos, Senhor. No dia do juízo, livra-nos, Senhor. Ainda que pecadores, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que nos perdoes, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes vivificar e santificar todos os membros da Igreja, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes conceder-nos o dom da verdadeira piedade, devoção e oração, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes inspirar-nos sinceros afetos de misericórdia e de caridade, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes criar em nós um espírito novo e um coração puro, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes conceder-nos verdadeira paz e tranquilidade no coração, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes fazer-nos dignos e fortes, para suportar as perseguições pela justiça, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes confirmar-nos em tua graça, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes receber-nos no número dos teus eleitos, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes ouvir-nos, nós vos rogamos, ouví-nos. Espírito de Deus, nós vos rogamos, ouví-nos. Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, envia-nos o Espírito Santo. Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, manda-nos o Espírito prometido do Pai. Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, dá-nos o Espírito bom. Espírito Santo, ouví-nos. Espírito Consolador, atendei-nos. ℣. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado. ℟. E renovareis a face da terra. Oremos: Deus, que instruístes o coração de vossos fiéis, com a luz do Espírito Santo, concedei-nos que, no mesmo Espírito, conheçamos o que é reto, e gozemos sempre as suas consolações. Por Cristo, Nosso Senhor. Amém. Ladainha de Nossa Senhora Senhor, tende piedade de nós. Cristo, tende piedade de nós. Senhor, tende piedade de nós. Santa Maria, rogai por nós. Santa Mãe de Deus, rogai por nós. Santa Virgem das Virgens, rogai por nós. Mãe de Cristo, rogai por nós. Mãe da Igreja, rogai por nós. Mãe de misericórdia, rogai por nós. Mãe da divina graça, rogai por nós. Mãe da esperança, rogai por nós. Mãe puríssima, rogai por nós. Mãe castíssima, rogai por nós. Mãe sempre virgem, rogai por nós. Mãe imaculada, rogai por nós. Mãe amável, rogai por nós. Mãe admirável, rogai por nós. Mãe do bom conselho, rogai por nós. Mãe do Criador, rogai por nós. Mãe do Salvador, rogai por nós. Virgem prudentíssima, rogai por nós. Virgem venerável, rogai por nós. Virgem louvável, rogai por nós. Virgem poderosa, rogai por nós. Virgem clemente, rogai por nós. Virgem fiel, rogai por nós. Espelho de justiça, rogai por nós. Sede de sabedoria, rogai por nós. Causa da nossa alegria, rogai por nós. Vaso espiritual, rogai por nós. Vaso honorífico, rogai por nós. Vaso insigne de devoção, rogai por nós. Rosa mística, rogai por nós. Torre de Davi, rogai por nós. Torre de marfim, rogai por nós. Casa de ouro, rogai por nós. Arca da aliança, rogai por nós. Porta do céu, rogai por nós. Estrela da manhã, rogai por nós. Saúde dos enfermos, rogai por nós. Refúgio dos pecadores, rogai por nós. Conforto dos migrantes, rogai por nós. Consoladora dos aflitos, rogai por nós. Auxílio dos cristãos, rogai por nós. Rainha dos anjos, rogai por nós. Rainha dos patriarcas, rogai por nós. Rainha dos profetas, rogai por nós. Rainha dos apóstolos, rogai por nós. Rainha dos mártires, rogai por nós. Rainha dos confessores, rogai por nós. Rainha das virgens, rogai por nós. Rainha de todos os santos, rogai por nós. Rainha concebida sem pecado original, rogai por nós. Rainha assunta ao céu, rogai por nós. Rainha do santo rosário, rogai por nós. Rainha da família, rogai por nós. Rainha da paz, rogai por nós. Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, perdoai-nos, Senhor. Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, ouvi-nos, Senhor. Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós. ℣. Rogai por nós, Santa Mãe de Deus. ℟. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo. Oremos: Senhor Deus, nós Vos suplicamos que concedais aos vossos servos perpétua saúde de alma e de corpo; e que, pela gloriosa intercessão da bem-aventurada sempre Virgem Maria, sejamos livres da presente tristeza e gozemos da eterna alegria. Por Cristo Nosso Senhor. Amém. Ave maris stella (Ave, do mar Estrela) (Latim) 1. Ave maris stella, Dei Mater alma, Atque semper Virgo, Felix cæli porta. 2. Sumens illud Ave Gabrielis ore, Funda nos in pace, Mutans Hevæ nomen. 3. Solve vincla reis, Profer lumen cæcis, Mala mostra pelle, Bona cuncta posce. 4. Monstra te esse matrem, Sumat per te preces, Qui pro nobis natus Tulit esse tuus. 5. Virgo singularis, Inter omnes mitis, Nos, culpis solutos, Mites fac et castos. 6. Vitam præsta puram Iter para tutum, Ut, videntes Jesum, Semper collætemur. 7. Sit laus Deo Patri, Summo Christo decus, Spiritui Sancto, Tribus honor unus. Amen. (Vernáculo) 1. Ave, do mar Estrela De Deus mãe bela, Sempre virgem, da morada Celeste Feliz entrada. 2. Ó tu que ouviste da boca Do anjo a saudação; Dá-nos a paz e quietação; E o nome da Eva troca. 3. As prisões aos réus desata. E a nós cegos alumia; De tudo que nos maltrata Nos livra, o bem nos granjeia. 4. Ostenta que és mãe, fazendo Que os rogos do povo seu Ouça aquele que, nascendo Por nós, quis ser filho teu. 5. Ó virgem especiosa, Toda cheia de ternura, Extintos nossos pecados Dá-nos pureza e brandura, 6. Dá-nos uma vida pura, Põe-nos em via segura, Para que a Jesus gozemos, E sempre nos alegremos. 7. A Deus Pai veneremos: A Jesus Cristo também: E ao Espírito Santo; demos Aos três um louvor. Amém. Ladainha da Humildade Senhor, tende piedade de nós. Cristo, tende piedade de nós. Senhor, tende piedade de nós. Jesus manso e humilde de coração, ouvi-nos. Jesus manso e humilde de coração, atendei-nos. Jesus manso e humilde de coração, fazei o nosso coração semelhante ao vosso. Do desejo de ser estimado, livrai-me Jesus. Do desejo de ser amado, livrai-me Jesus. Do desejo de ser buscado, livrai-me Jesus. Do desejo de ser louvado, livrai-me Jesus. Do desejo de ser honrado, livrai-me Jesus. Do desejo de ser preferido, livrai-me Jesus. Do desejo de ser consultado, livrai-me Jesus. Do desejo de ser aprovado, livrai-me Jesus. Do desejo de ser adulado, livrai-me Jesus. Do temor de ser humilhado, livrai-me Jesus. Do temor de ser desprezado, livrai-me Jesus. Do temor de ser rejeitado, livrai-me Jesus. Do temor de ser caluniado, livrai-me Jesus. Do temor de ser esquecido, livrai-me Jesus. Do temor de ser ridicularizado, livrai-me Jesus. Do temor de ser escarnecido, livrai-me Jesus. Do temor de ser injuriado, livrai-me Jesus. Que os outros sejam mais amados do que eu, Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo! Que os outros sejam mais estimados do que eu, Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo! Que os outros possam crescer na opinião do mundo e que eu possa diminuir, Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo! Que aos outros seja concedida mais confiança no seu trabalho e que eu seja deixado de lado, Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo! Que os outros sejam louvados e eu esquecido, Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo! Que os outros possam ser preferidos a mim em tudo, Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo! Que os outros possam ser mais Santos do que eu, contanto que eu pelo menos me torne santo como puder, Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo! Ó Maria, Mãe dos humildes, rogai por nós. São José, protetor das almas humildes, rogai por nós. São Miguel, que fostes o primeiro a lutar contra o orgulho e o primeiro a abatê-lo, rogai por nós. Ó justos todos, santificados a partir do espírito de humildade, rogai por nós. Oremos: Ó Deus que, através do ensinamento e do exemplo do Vosso Filho Jesus, apresentastes a humildade como chave que abre os tesouros da graça (Cf. Tg 4, 6) e como fundamento de todas as outras virtudes - caminho certo para o céu - concedei-nos pela intercessão da Bem-aventurada Virgem Maria, a mais humilde e a mais santa das criaturas, aceitar agradecendo todas as humilhações que Vossa Divina Providência nos oferecer. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, que convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo. Amém. Repetir ao longo do dia: “Senhor, que eu veja!” |
Dia 16: Somos pobres pecadoresConsideraremos hoje nossa miséria de pobres pecadores, isto é, as faltas que cometemos no passado e as que cometemos ainda no presente. Esse exame de nossa consciência nos fará reconhecer o quanto somos indignos de nos aproximar diretamente e por nós mesmos da santa e augusta Majestade de Deus; o quanto, também, devemos sentir profundamente a necessidade de recorrer a Maria Mediadora, misericordiosamente colocada entre nossa miséria de pecadores e a santidade divina.Para nosso maior auxílio, percorreremos nossas faltas segundo ofendem mais especialmente uma ou outra das três adoráveis Pessoas da Trindade: nossas ingratidões para com o Pai, nossas infidelidades para com o Filho, nossa mornidão para com o Espírito Santo. Humilhados e contritos, ficaremos felizes por encontrar, então, o rosto acolhedor Daquela cuja misericórdia nunca faltou a ninguém. É sua Mediação que obtém para nós as graças do perdão e as graças mais excelentes de nossa união a Jesus Cristo. Repitamos-lhe, para começar, a invocação familiar: “Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pobres pecadores.” I. NOSSA MISÉRIA DE POBRES PECADORES. Reconheçamos primeiro nossas ingratidões para com o Pai. Ele é nosso primeiro e maior benfeitor. Dele recebemos a vida de natureza e a vida de graça. Ele nos criou, nos mantém na existência, nos deu alma, corpo, faculdades, potências de conhecer e de amar. Santa Clara de Assis, ao morrer, murmurava: “Ó Deus, bendito sejais por ter-me criado!”. A graça santificadora do batismo é um benefício ainda mais elevado: por ela, participamos da vida íntima de Deus, conhecendo-o e amando-o como ele se conhece e se ama. O Pai nos deu seu próprio Filho para conquistar-nos essa graça. Como respondemos? Fomos filhos ingratos e negligentes, como o filho pródigo? Quantas faltas graves terão manchado nossa alma? Ainda que perdoadas, humilham-nos diante da infinita santidade de nosso Pai. Nossas infidelidades para com o Filho tornam-nos ainda mais culpados. Ele é nosso Redentor, e por sua Paixão e morte conquistou-nos a graça de sermos filhos de Deus. Incorporou-nos a si, fez-nos membros de seu Corpo, alimentando-nos com sua própria vida, especialmente pela Eucaristia. Esse dom supremo, deixado na véspera da Paixão, é prova de seu amor extremo. Quantas vezes prometemos-lhe fidelidade? E quantas vezes o traímos, cortando o influxo da graça por pecados graves? Ele, misericordiosamente, nos perdoa e devolve sua vida, mas devemos lamentar nossa separação, nosso desprezo por seu amor, sua cruz, sua Eucaristia. Quão indignos somos de sua ternura! Reconheçamos ainda nossa mornidão para com o Espírito Santo, hóspede da alma em graça, artesão de nossa santificação. Ele inspira, ilumina, move ao bem, convida ao recolhimento e à caridade. As faltas graves o fazem partir; as veniais o contristam; a solidão espiritual a que o relegamos provoca seus gemidos. Quantas vezes o abandonamos por distrações, por preces apressadas, confissões e comunhões mal preparadas? Quantas resistências às suas inspirações? Isso nos leva à tibieza, ao contentamento na mediocridade, sem progresso, sem energia, sem desejo de melhorar. Reconhecendo nossa miséria, saibamos que somos indignos de nos aproximar sozinhos da Santíssima Trindade. Louvemos o Plano redentor que nos deu Jesus como Mediador junto ao Pai, e Maria como Mediadora junto ao Filho. Por Maria, que conheceremos melhor na segunda Semana, não temeremos nos unir a Jesus, sob ação do Espírito Santo. Por Jesus, estaremos unidos ao Pai no amor desse mesmo Espírito. Reconheçamos nossa necessidade de uma Mediadora junto ao próprio Mediador. II. PRECISAMOS DE MARIA MEDIADORA. Jesus Cristo é nosso Mediador de redenção e de justiça junto ao Pai. Maria é nossa Mediadora de intercessão e de misericórdia junto ao Filho. É por meio de Jesus, apoiados e revestidos por seus méritos, que acedemos ao Pai e oramos com toda a Igreja. Quando rezamos o Pater, é com o coração e os lábios do Filho que fazemos subir essa prece. Ele nos ensinou a chamar Deus de “Pai”, pois sua redenção nos conquistou a filiação divina. Assim, não nos apoiamos em nós mesmos, mas somente em Jesus. Negligenciar essa mediação e querer nos aproximar diretamente da Majestade do Pai seria, diz Montfort, “faltar com humildade, faltar com respeito para com um Deus tão elevado e tão santo; seria fazer menos caso desse Rei dos reis do que faríamos de um rei ou um príncipe da terra, do qual não desejaríamos nos aproximar sem algum amigo que falasse em nosso favor”. (V. D., n. 83.) Mas nossa miséria é tamanha que, mesmo junto de Jesus, ainda precisamos de Maria. Embora semelhante a nós, Jesus é Deus, igual ao Pai, Santo dos santos, tão digno de respeito quanto o Pai. Sua caridade o fez nosso fiador e mediador, mas isso não diminui sua majestade. Assim, diz São Bernardo com Montfort: “necessitamos de um mediador junto ao próprio Mediador, e que a divina Maria é a mais capaz de cumprir esse ofício caridoso”. A primeira e melhor razão está no próprio mistério da Encarnação: foi por Maria que Jesus veio até nós; por Maria devemos ir até Ele. Em Belém, os pastores o encontram por meio de sua Mãe. Os Magos o adoram nos braços dela. Em toda sua vida — da Apresentação no Templo ao Calvário — Jesus se oferece ao Pai e se dá ao mundo por meio de Maria. Nossa miséria nos deve levar a implorar com ousadia a intercessão de Maria. Ela é boa, acolhedora, acessível. “Nada há nela de austero nem de desencorajador… vendo-a, vemos nossa natureza pura.” É uma criatura como nós. “Ela não é o sol… mas é bela e doce como a lua, que recebe sua luz do sol para torná-la conforme ao nosso pequeno alcance.” Ela é tão caridosa que não rejeita nenhum pecador que recorre a ela com confiança e perseverança. “Nunca se ouviu dizer que alguém tenha recorrido à Santa Virgem e tenha sido por ela rejeitado.” Ela é tão poderosa que seus pedidos nunca foram negados. Basta que se apresente diante de seu Filho para que este conceda e acolha; é sempre amorosamente vencido pelo seio, pelas entranhas e pelas preces de sua caríssima Mãe. (V. D., n. 85.) ---- Precisamos de Maria Mediadora – Continuação Encontramos, às vezes, certas almas orgulhosas, até em sua piedade, que dizem não ter necessidade de passar pela Santa Virgem, nem de recorrer à sua intercessão; dirigem-se diretamente a Nosso Senhor. É preciso desculpá-las: falta-lhes luz sobre Maria e sobre si mesmas. Não refletiram sobre o lugar central de Maria no plano divino como Mãe de Deus e Corredentora. Nunca sondaram, sobretudo, o fundo de suas próprias misérias. Um pouco de humildade abrir-lhes-ia os olhos. Encontramos também outras almas – humildes e belas – que sempre amaram a Santa Virgem, mas que, com o tempo, acostumaram-se a se dirigir mais frequentemente a Nosso Senhor, a falar-lhe familiarmente e a provar da intimidade de sua união com ele. Experimentam, então, certos temores: perguntam-se se ainda estão no bom caminho, se amam a Santa Virgem como antes. Pedem conselho. É preciso tranquilizá-las: nessas almas amorosas e dóceis, Maria Mediadora cumpriu sua obra de santificação. Despojou-as do amor-próprio e da própria vontade; revestiu-as de suas virtudes; colocou-as em intimidade direta com Nosso Senhor. Depois, ela não se retirou – pois nunca se retira –, mas como que se apagou, se eclipsou, pôs-se na sombra, para deixar essas almas saborearem melhor as alegrias da união com seu divino Filho. Esse é o testemunho da reclusa carmelita do beguinário de Gante, Maria de Santa Teresa (†1677), alma privilegiada. Espantando-se por não mais sentir com tanta frequência a presença da amável Maria e suas instruções, tinha a convicção de que seu amor permanecia mais terno e filial do que nunca. Veio-lhe esta resposta interior: “Quando a amável Mãe estava constantemente junto de ti e te guiava no caminho de suas virtudes, era a fim de te preparar para a união perfeita com seu caríssimo Filho. Agora que essa união se cumpriu, ela se mantém afastada e te deixa conversar sozinha com ele…” Essa alma gozava da união mística. Ainda não chegamos a esse ponto. Enquanto estamos às voltas com nossas misérias, sentimos profundamente a necessidade de recorrer a Maria, de sempre passar por sua intercessão para ir a Jesus. Quando recitamos as Ave-Marias do Rosário, bendizemos primeiro Maria: “bendita sois vós entre as mulheres”, para melhor bendizer, em seguida, seu Filho: “bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus”. “A mais forte inclinação de Maria”, diz Montfort, “é nos unir a Jesus Cristo, seu Filho; e a mais forte inclinação do Filho é que nos dirijamos a ele por meio de sua santa Mãe.” (V. D., n. 75.) Oferecemos honra e prazer ao Senhor quando seguimos o caminho virginal que ele mesmo quis tomar para vir até nós. Maria atrai pelo encanto de sua bondade maternal, mas não retém jamais uma só alma. E é notável que as almas verdadeiramente marianas são sempre almas eucarísticas. A maravilha de Lourdes se realiza nelas: em nenhum lugar, como ali, onde multidões do mundo inteiro se dirigem, Jesus-Hóstia é mais amado, mais aclamado, mais glorificado. Maria ali exerce com esplendor seu papel de Mediadora. ---- No início da fórmula de Consagração, que nos preparamos a professar ou a renovar, São Luís Maria de Montfort nos faz seguir o caminho da mediação mariana. Após oferecer a Jesus Cristo, Sabedoria eterna e encarnada, a homenagem de sua adoração e gratidão, ele se humilha e nos convida a nos humilharmos com ele, reconhecendo nossa miséria de pobres pecadores: “Mas, ai de mim! Ingrato e infiel que sou, não conservei (ó Jesus) os votos e as promessas que vos fiz tão solenemente em meu batismo, não cumpri minhas obrigações; não mereço ser chamado vosso filho nem vosso escravo.” Vosso filho, porque tantas vezes, talvez, perdemos, por nossas faltas, a graça santificante. Vosso escravo, porque quisemos nos emancipar e nos subtrair aos direitos de vossa Redenção. Por isso, “como não há nada em mim que não mereça vossa rejeição e vossa cólera, não ouso mais me aproximar, por mim mesmo, de vossa santa e augusta Majestade”. É a homenagem da satisfação, brotando de um coração contrito, humilhado diante das faltas passadas e da miséria presente. Então vem o pedido: a imploração das graças, aos pés de Maria Mediadora: “É por isso que recorro à intercessão e à misericórdia de vossa Santíssima Mãe, que me destes como Mediadora junto a vós; e é por meio dela que espero obter de vós a contrição e o perdão de meus pecados”, isto é, a graça que primeiro cura e purifica a alma; depois, “a aquisição e a conservação da Sabedoria”, isto é, a graça que transforma progressivamente, até fazer possuir constantemente o amável e adorável Jesus, com todos os tesouros encerrados em sua divina Pessoa. Com que confiança e perseverança devemos implorar tais graças pela intercessão e misericórdia de nossa celeste Mediadora! Que consolação para nossa miséria de pobres pecadores! ORAÇÕES Ladainha do Espírito Santo Senhor, tem piedade de nós. Jesus Cristo, tem piedade de nós. Divino Espírito Santo, ouve-nos. Espírito Paráclito, atende-nos. Deus Pai dos céus, tem piedade de nós. Deus Filho, redentor do mundo, tem piedade de nós. Deus Espírito Santo, tem piedade de nós. Santíssima Trindade, que és um só Deus, tem piedade de nós. Espírito da verdade, tem piedade de nós. Espírito da sabedoria, tem piedade de nós. Espírito da inteligência, tem piedade de nós. Espírito da fortaleza, tem piedade de nós. Espírito da piedade, tem piedade de nós. Espírito do bom conselho, tem piedade de nós. Espírito da ciência, tem piedade de nós. Espírito do santo temor, tem piedade de nós. Espírito da caridade, tem piedade de nós. Espírito da alegria, tem piedade de nós. Espírito da paz, tem piedade de nós. Espírito das virtudes, tem piedade de nós. Espírito de toda graça, tem piedade de nós. Espírito da adoção dos filhos de Deus, tem piedade de nós. Purificador das nossas almas, tem piedade de nós. Santificador e guia da Igreja Católica, tem piedade de nós. Distribuidor dos dons celestes, tem piedade de nós. Conhecedor dos pensamentos e das intenções do coração, tem piedade de nós. Doçura dos que começam a te servir, tem piedade de nós. Coroa dos perfeitos, tem piedade de nós. Alegria dos anjos, tem piedade de nós. Luz dos patriarcas, tem piedade de nós. Inspiração dos profetas, tem piedade de nós. Palavra e sabedoria dos apóstolos, tem piedade de nós. Vitória doa mártires, tem piedade de nós. Ciência dos confessores, tem piedade de nós. Pureza das virgens, tem piedade de nós. Unção de todos os santos, tem piedade de nós. Sede-nos propício, perdoa-nos, Senhor. Sede-nos propício, atende-nos, Senhor. De todo o pecado, livra-nos, Senhor. De todas as tentações e ciladas do demônio, livra-nos, Senhor. De toda a presunção e desesperação, livra-nos, Senhor. Do ataque à verdade conhecida, livra-nos, Senhor. Da inveja da graça fraterna, livra-nos, Senhor. De toda a obstinação e impenitência, livra-nos, Senhor. De toda a negligência e tepor do espírito, livra-nos, Senhor. De toda a impureza da mente e do corpo, livra-nos, Senhor. De todas as heresias e erros, livra-nos, Senhor. De todo o mau espírito, livra-nos, Senhor. Da morte má e eterna, livra-nos, Senhor. Pela tua eterna procedência do Pai e do Filho, livra-nos, Senhor. Pela milagrosa conceição do Filho de Deus, livra-nos, Senhor. Pela tua descida sobre Jesus Cristo batizado, livra-nos, Senhor. Pela tua santa aparição na transfiguração do Senhor, livra-nos, Senhor. Pela tua vinda sobre os discípulos do Senhor, livra-nos, Senhor. No dia do juízo, livra-nos, Senhor. Ainda que pecadores, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que nos perdoes, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes vivificar e santificar todos os membros da Igreja, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes conceder-nos o dom da verdadeira piedade, devoção e oração, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes inspirar-nos sinceros afetos de misericórdia e de caridade, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes criar em nós um espírito novo e um coração puro, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes conceder-nos verdadeira paz e tranquilidade no coração, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes fazer-nos dignos e fortes, para suportar as perseguições pela justiça, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes confirmar-nos em tua graça, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes receber-nos no número dos teus eleitos, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes ouvir-nos, nós vos rogamos, ouví-nos. Espírito de Deus, nós vos rogamos, ouví-nos. Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, envia-nos o Espírito Santo. Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, manda-nos o Espírito prometido do Pai. Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, dá-nos o Espírito bom. Espírito Santo, ouví-nos. Espírito Consolador, atendei-nos. ℣. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado. ℟. E renovareis a face da terra. Oremos: Deus, que instruístes o coração de vossos fiéis, com a luz do Espírito Santo, concedei-nos que, no mesmo Espírito, conheçamos o que é reto, e gozemos sempre as suas consolações. Por Cristo, Nosso Senhor. Amém. Ladainha de Nossa Senhora Senhor, tende piedade de nós. Cristo, tende piedade de nós. Senhor, tende piedade de nós. Santa Maria, rogai por nós. Santa Mãe de Deus, rogai por nós. Santa Virgem das Virgens, rogai por nós. Mãe de Cristo, rogai por nós. Mãe da Igreja, rogai por nós. Mãe de misericórdia, rogai por nós. Mãe da divina graça, rogai por nós. Mãe da esperança, rogai por nós. Mãe puríssima, rogai por nós. Mãe castíssima, rogai por nós. Mãe sempre virgem, rogai por nós. Mãe imaculada, rogai por nós. Mãe amável, rogai por nós. Mãe admirável, rogai por nós. Mãe do bom conselho, rogai por nós. Mãe do Criador, rogai por nós. Mãe do Salvador, rogai por nós. Virgem prudentíssima, rogai por nós. Virgem venerável, rogai por nós. Virgem louvável, rogai por nós. Virgem poderosa, rogai por nós. Virgem clemente, rogai por nós. Virgem fiel, rogai por nós. Espelho de justiça, rogai por nós. Sede de sabedoria, rogai por nós. Causa da nossa alegria, rogai por nós. Vaso espiritual, rogai por nós. Vaso honorífico, rogai por nós. Vaso insigne de devoção, rogai por nós. Rosa mística, rogai por nós. Torre de Davi, rogai por nós. Torre de marfim, rogai por nós. Casa de ouro, rogai por nós. Arca da aliança, rogai por nós. Porta do céu, rogai por nós. Estrela da manhã, rogai por nós. Saúde dos enfermos, rogai por nós. Refúgio dos pecadores, rogai por nós. Conforto dos migrantes, rogai por nós. Consoladora dos aflitos, rogai por nós. Auxílio dos cristãos, rogai por nós. Rainha dos anjos, rogai por nós. Rainha dos patriarcas, rogai por nós. Rainha dos profetas, rogai por nós. Rainha dos apóstolos, rogai por nós. Rainha dos mártires, rogai por nós. Rainha dos confessores, rogai por nós. Rainha das virgens, rogai por nós. Rainha de todos os santos, rogai por nós. Rainha concebida sem pecado original, rogai por nós. Rainha assunta ao céu, rogai por nós. Rainha do santo rosário, rogai por nós. Rainha da família, rogai por nós. Rainha da paz, rogai por nós. Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, perdoai-nos, Senhor. Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, ouvi-nos, Senhor. Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós. ℣. Rogai por nós, Santa Mãe de Deus. ℟. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo. Oremos: Senhor Deus, nós Vos suplicamos que concedais aos vossos servos perpétua saúde de alma e de corpo; e que, pela gloriosa intercessão da bem-aventurada sempre Virgem Maria, sejamos livres da presente tristeza e gozemos da eterna alegria. Por Cristo Nosso Senhor. Amém. Ave maris stella (Ave, do mar Estrela) (Latim) 1. Ave maris stella, Dei Mater alma, Atque semper Virgo, Felix cæli porta. 2. Sumens illud Ave Gabrielis ore, Funda nos in pace, Mutans Hevæ nomen. 3. Solve vincla reis, Profer lumen cæcis, Mala mostra pelle, Bona cuncta posce. 4. Monstra te esse matrem, Sumat per te preces, Qui pro nobis natus Tulit esse tuus. 5. Virgo singularis, Inter omnes mitis, Nos, culpis solutos, Mites fac et castos. 6. Vitam præsta puram Iter para tutum, Ut, videntes Jesum, Semper collætemur. 7. Sit laus Deo Patri, Summo Christo decus, Spiritui Sancto, Tribus honor unus. Amen. (Vernáculo) 1. Ave, do mar Estrela De Deus mãe bela, Sempre virgem, da morada Celeste Feliz entrada. 2. Ó tu que ouviste da boca Do anjo a saudação; Dá-nos a paz e quietação; E o nome da Eva troca. 3. As prisões aos réus desata. E a nós cegos alumia; De tudo que nos maltrata Nos livra, o bem nos granjeia. 4. Ostenta que és mãe, fazendo Que os rogos do povo seu Ouça aquele que, nascendo Por nós, quis ser filho teu. 5. Ó virgem especiosa, Toda cheia de ternura, Extintos nossos pecados Dá-nos pureza e brandura, 6. Dá-nos uma vida pura, Põe-nos em via segura, Para que a Jesus gozemos, E sempre nos alegremos. 7. A Deus Pai veneremos: A Jesus Cristo também: E ao Espírito Santo; demos Aos três um louvor. Amém. Ladainha da Humildade Senhor, tende piedade de nós. Cristo, tende piedade de nós. Senhor, tende piedade de nós. Jesus manso e humilde de coração, ouvi-nos. Jesus manso e humilde de coração, atendei-nos. Jesus manso e humilde de coração, fazei o nosso coração semelhante ao vosso. Do desejo de ser estimado, livrai-me Jesus. Do desejo de ser amado, livrai-me Jesus. Do desejo de ser buscado, livrai-me Jesus. Do desejo de ser louvado, livrai-me Jesus. Do desejo de ser honrado, livrai-me Jesus. Do desejo de ser preferido, livrai-me Jesus. Do desejo de ser consultado, livrai-me Jesus. Do desejo de ser aprovado, livrai-me Jesus. Do desejo de ser adulado, livrai-me Jesus. Do temor de ser humilhado, livrai-me Jesus. Do temor de ser desprezado, livrai-me Jesus. Do temor de ser rejeitado, livrai-me Jesus. Do temor de ser caluniado, livrai-me Jesus. Do temor de ser esquecido, livrai-me Jesus. Do temor de ser ridicularizado, livrai-me Jesus. Do temor de ser escarnecido, livrai-me Jesus. Do temor de ser injuriado, livrai-me Jesus. Que os outros sejam mais amados do que eu, Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo! Que os outros sejam mais estimados do que eu, Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo! Que os outros possam crescer na opinião do mundo e que eu possa diminuir, Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo! Que aos outros seja concedida mais confiança no seu trabalho e que eu seja deixado de lado, Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo! Que os outros sejam louvados e eu esquecido, Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo! Que os outros possam ser preferidos a mim em tudo, Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo! Que os outros possam ser mais Santos do que eu, contanto que eu pelo menos me torne santo como puder, Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo! Ó Maria, Mãe dos humildes, rogai por nós. São José, protetor das almas humildes, rogai por nós. São Miguel, que fostes o primeiro a lutar contra o orgulho e o primeiro a abatê-lo, rogai por nós. Ó justos todos, santificados a partir do espírito de humildade, rogai por nós. Oremos: Ó Deus que, através do ensinamento e do exemplo do Vosso Filho Jesus, apresentastes a humildade como chave que abre os tesouros da graça (Cf. Tg 4, 6) e como fundamento de todas as outras virtudes - caminho certo para o céu - concedei-nos pela intercessão da Bem-aventurada Virgem Maria, a mais humilde e a mais santa das criaturas, aceitar agradecendo todas as humilhações que Vossa Divina Providência nos oferecer. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, que convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo. Amém. Repetir ao longo do dia: “Senhor, que eu veja!” |
Dia 17: Permanecemos fracos e frágeisNão chegamos ainda ao termo do conhecimento de nossas misérias. São Luís Maria de Montfort (V. D., n. 87) nos pede ainda que consideremos o quanto “é difícil, dada nossa fraqueza e fragilidade, conservar em nós as graças e os tesouros que recebemos de Deus”, se não os confiamos à Santíssima Virgem.É preciso, com efeito, lutar constantemente contra nós mesmos, contra a malícia e a astúcia dos demônios, contra a corrupção do mundo. Importa, pois: 1º RECONHECER nossa fraqueza e fragilidade, face a inimigos que nunca se desarmam; 2º RENUNCIAR a nos pensar capazes de conservar, por nossos próprios meios, os tesouros recebidos de Deus. Confiando-os a Maria, essa boa Mãe nos ajudará poderosamente a triunfar sobre nossos inimigos, e assegurará nossa perseverança. Essa é a imensa vantagem que nos oferece nossa doação total entre suas mãos. Oremos a ela com um novo ímpeto de fervor: Ave, Maria! I. Reconheçamos primeiro a grande dificuldade de conservar em nós os tesouros que recebemos de Deus. Esses tesouros são a graça santificante, nossas virtudes, os méritos de nossas boas obras. “Eles valem mais, diz Montfort, do que o Céu e a terra”, isto é, toda a criação material, visto que nos asseguram a eterna beatitude. É certo que teremos sempre de lutar contra nós mesmos. Nossas meditações precedentes o provaram abundantemente. Nosso corpo corruptível, se não é duramente tratado, busca seu bem-estar fora de todo espírito de mortificação. Nossa alma, abandonada a si mesma, é fraca e inconstante: qualquer insignificância a perturba e abate. Se não ficamos atentos, nossas melhores resoluções se dissipam, e vemo-nos novamente a vegetar em vez de progredir. Como não temer, então, perder o que trabalhosamente adquirimos? Na primeira ocasião que se apresentar, nossa pobre natureza humana saberá resistir? Lembremo-nos do exemplo do apóstolo Simão Pedro: ele prometera tudo, e com que fervor; e, diante das interrogações de uma serva, soçobra miseravelmente. O espírito está pronto para prometer, isto é, a alma, a vontade, com seus entusiasmos fáceis; mas a carne, isto é, a natureza humana, permanece tristemente frágil na presença de uma ocasião que a tenta. Não pensamos que isso poderá nos arrastar para longe. Detemo-nos, argumentamos; expomo-nos, assim, ao perigo, cultivamo-lo, brincamos com ele, presumimos de modo imprudente sobre nossa força, até que chega um momento em que a fraqueza da carne prevalece contra essa força do espírito, e caímos gravemente. Teria sido melhor, seguindo a recomendação de Nosso Senhor (Mt 26, 41), cercar-se de vigilância, não cair na armadilha, e recorrer à oração para ter a graça de resistir. Quantas vezes, talvez, apesar das experiências do passado, ignoramos essa advertência do divino Mestre, que nos alertava contra nossa fraqueza! ---- Devemos considerar também os demônios, “que são sutis ladrões, diz-nos Montfort: eles podem nos surpreender inesperadamente para nos roubar e saquear; espreitam noite e dia o momento favorável para isso; rodeiam incessantemente para nos devorar (1Pd 5, 8), e tirar de nós em um instante, por um pecado, tudo o que pudemos ganhar de graças, de méritos em vários anos. “Sua malícia, sua experiência, suas astúcias e seu número devem nos fazer temer infinitamente essa desgraça, visto que pessoas mais cheias de graças, mais ricas em virtudes, mais fundadas em experiência e mais elevadas em santidade foram surpreendidas, roubadas e pilhadas deploravelmente. “Ah!, prossegue ele, quantos cedros do Líbano e estrelas do firmamento vimos cair miseravelmente, e perder toda sua altura e claridade em pouco tempo!”. Alusão à palavra de Santo Agostinho, que dizia: “Vi caírem cedros do Líbano”, isto é, homens de uma virtude consumada, cuja queda pensava ser tão possível quanto a de um Jerônimo e de um João Crisóstomo.” A história da Igreja, com efeito, poderia nos lembrar de certas quedas retumbantes, que rasgaram sua túnica sem costura. Nós mesmos, em nosso meio mais ou menos próximo, não ficamos, às vezes, surpresos ao saber, de repente, do escândalo ocasionado por este ou aquele tão destacado, que pensávamos ao abrigo de semelhante desastre? “De onde vem essa mudança?” – interroga nosso santo missionário, que tinha uma longa experiência com as almas. E responde: “Não foi falta de graça, que não falta a ninguém, mas falta de humildade. Eles pensaram ser mais fortes e autossuficientes do que eram, acreditaram ser capazes de conservar seus tesouros; se fiaram e se apoiaram sobre si mesmos; pensaram que sua casa estava segura o bastante, e que seus cofres eram fortes o bastante para guardar o precioso tesouro da graça, e foi por causa desse apoio, mesmo imperceptível, que eles tinham em si mesmos (embora lhes parecesse que se apoiavam unicamente sobre a graça de Deus), que o Senhor justíssimo permitiu que fossem roubados, abandonando-os a si mesmos.” (V. D., n. 88.) Isso não lhes teria sucedido, se tivessem confiado seu tesouro à Santíssima Virgem, consagrando-se inteiramente a ela, como em breve diremos. ---- Por fim, mesmo depois de ter renunciado terminantemente a seguir o espírito do mundo, como fizemos, devemos nos proteger contra sua corrupção. Ela está mais contagiosa do que nunca. Em todo tempo, o mundo foi corrompido e corruptor; mais hoje ele expõe claramente sua corrupção, sem sombra de pudor, atacando, assim, a infância, a juventude, as almas cristãs que não tencionam de modo algum querer pertencer-lhe. Como fez dizer o Papa Pio XII por meio de uma Carta do Cardeal Prefeito da Sagrada Congregação do Concílio aos bispos do mundo inteiro, “ninguém ignora que, durante a estação estival, sobretudo, vemos, aqui e ali, coisas que não podem deixar de ofender os olhos e as almas daqueles que não põem em segundo plano ou não desprezam completamente a virtude cristã e o pudor humano. “Não somente nas praias, ou nos locais de veraneio, mas por toda parte, mesmo nas ruas das cidades e dos vilarejos, nos lugares privados e públicos, e amiúde quase nos templos consagrados a Deus, se exibe uma indigna e inconveniente moda do vestuário… Em particular, as vestimentas femininas são às vezes tais que parecem favorecer mais a impudicícia do que o pudor. “Chegamos ao ponto em que tudo o que se passa ou se exibe na vida privada ou em público, como depravação ou desonestidade, é relatado impudentemente nos jornais, nas publicações e revistas de todos os gêneros; enquanto nas incontáveis salas de cinema isso é exposto aos olhos de todos sobre a tela; de modo que não somente a fraca e displicente juventude, mas também a idade madura é profundamente impressionada por esses espetáculos imorais, tão perniciosos para os espíritos sãos. Que males decorrem deles, a que perigos expõem, e ninguém se dá conta disso.” No século V, o papa São Leão Magno denunciava a corrupção do mundo, num ponto em que se tornava como que necessário, dizia ele, que mesmo os corações religiosos fossem manchados, senão por sua lama, ao menos por sua poeira. Em nossos tempos, é sua lama que se propaga sobre a sociedade cristã inteira; “de modo que, acrescentava Montfort depois de ter citado esse texto, é uma espécie de milagre quando uma pessoa permanece firme no meio dessa torrente impetuosa sem ser arrastada, no meio desse mar revolto sem ser submerso, no meio desse ar empestado sem sofrer dano” (n. 89). Ai de mim! Que diria ele hoje, na presença dessa exposição de corrupção que a voz de Roma estigmatizava acima? Entretanto, acrescenta ele ainda, se for preciso um milagre, “é a Virgem unicamente fiel… que o fará em favor daqueles e daquelas que a servem da maneira correta” (n. 81), isto é, pela Consagração vivida para a qual nos preparamos. II. Renunciando, pois, a nos acreditar capazes de conservar, por nós mesmos, nossos tesouros de graça, confiá-los-emos a Maria. Essa boa Mãe nos ajudará poderosamente na luta contra nossos inimigos, e assegurará assim nossa perseverança. Por meio da Consagração que Montfort nos propõe, “confiamos à Santa Virgem, que é fiel, diz ele, tudo o que possuímos; constituímo-la depositária universal de todos os nossos bens de natureza e de graça. É na sua fidelidade que nos fiamos, é sobre seu poder que nos apoiamos, é sobre sua misericórdia e sua caridade que nos fundamos, a fim de que ela conserve e aumente nossas virtudes e méritos, apesar do diabo, do mundo e da carne, que se esforçam para roubá-los de nós. “Dizemos-lhe, como um bom filho à sua mãe, e um fiel servo à sua senhora: minha boa Mãe e Senhora, reconheço que até aqui recebi mais graças de Deus, por vossa intercessão, do que mereço; e minha funesta experiência me ensina que carrego esse tesouro em um vaso muito frágil e que sou fraco demais e miserável demais para conservá-las em mim mesmo; por vossa graça, recebei como depósito tudo o que possuo, e conservai-mo por vossa fidelidade e vosso poder. Se me guardardes, nada perderei; se me sustentardes, não cairei; se me protegerdes, estarei a salvo dos meus inimigos. “Isto é, acrescenta ele, o que diz São Bernardo em termos formais, para nos inspirar essa prática: Quando Maria vos sustenta, vós não caís; quando ela vos protege, não temeis; quando ela vos conduz, não vos cansais; quando ela vos é favorável, chegais até o porto de salvação. “São Boaventura parece dizer também a mesma coisa em termos mais formais: A Santa Virgem não é somente conservada na plenitude dos santos; mas ela conserva também e guarda os santos em sua plenitude, a fim de que esta não diminua; ela impede que seus méritos pereçam, que suas graças se percam, que os demônios os prejudiquem; enfim, ela impede que Nosso Senhor os castigue quando pecam.” (V. D., n. 174.) ---- Ouçamos agora Montfort exaltar a fidelidade da Santíssima Virgem. “Ela é a Virgem fiel que, por sua fidelidade a Deus, repara as perdas que produziu Eva, a infiel, por sua infidelidade, e que obtém a fidelidade a Deus e a perseverança àqueles e àquelas que se apegam a ela. É por isso que São João Damasceno a compara a uma âncora firme, que os segura e os impede de naufragar no mar agitado deste mundo, onde tantas pessoas perecem por não se prenderem a essa âncora firme. Prendemos, diz ele, as almas à vossa esperança, como a uma âncora firme. “Foi a Maria que os santos que se salvaram mais se apegaram, e apegaram os outros, a fim de perseverar na virtude. Felizes, pois, e mil vezes felizes os cristãos que agora se apegam fielmente e inteiramente a ela como a uma âncora firme. Os esforços da tempestade deste mundo não os farão submergir, nem perder seus tesouros celestiais. Felizes aqueles e aquelas que entram nela como na arca de Noé! As águas do dilúvio de pecados, que afogam tantas pessoas, não os prejudicarão, pois aqueles que estão em mim para trabalhar em sua salvação não pecarão, diz ela com a Sabedoria. Felizes os filhos infiéis da desventurada Eva que se apegam à Mãe e Virgem fiel, que permanece sempre fiel e jamais nega a si mesma, e que ama sempre os que a amam, não somente com um amor afetivo, mas com um amor efetivo e eficaz, impedindo-os, por uma grande abundância de graças, de recuar na virtude ou de cair no caminho, perdendo a graça de seu Filho. “Essa boa Mãe recebe sempre, por pura caridade, tudo o que lhe é confiado em depósito; e, depois de o ter recebido uma vez na qualidade de depositária, é obrigada por justiça, em virtude do contrato de depósito, a guardá-lo para nós; assim como uma pessoa a quem eu tivesse confiado mil escudos em depósito seria obrigada a guardá-los para mim, de modo que se, por sua negligência, meus mil escudos viessem a ser perdidos, ela seria justamente responsável por isso. Mas não, jamais a fiel Maria deixará se perder, por sua negligência, o que lhe tivermos confiado: o Céu e a terra passariam antes que ela fosse negligente e infiel para com os que se fiam nela… “Que os fiéis servos da Santa Virgem digam, pois, ousadamente, com São João Damasceno: Tendo confiança em vós, ó Mãe de Deus, serei salvo; tendo vossa proteção, não temerei nada; com vosso auxílio eu combaterei e porei em retirada meus inimigos, pois vossa devoção é uma arma de salvação que Deus dá àqueles que ele deseja salvar.” (V. D., n. 175, 176, 182.) ---- Como vemos, nossa inteira confiança em Maria não nos dispensa, de modo algum, de prosseguir na luta contra nós mesmos e contra os inimigos de nossa alma; mas que segurança ela nos assegura, e quanto facilita nossas renúncias, sempre penosas em si mesmas! Jamais nos desencorajemos. Nossa inconstância pode ser muito grande, e nossa fraqueza, extrema; razão a mais para entregar tudo às mãos de Maria e para continuar a trabalhar com sua ajuda para aumentar a cada dia nosso tesouro de méritos e de virtudes. Reconheçamo-lo; esta primeira Semana de nossos Exercícios não apresenta mais, doravante, sua austeridade do princípio: Maria Mediadora se encontra cada vez mais em nosso caminho, fiel e vigilante Guardiã. ORAÇÕES Ladainha do Espírito Santo Senhor, tem piedade de nós. Jesus Cristo, tem piedade de nós. Divino Espírito Santo, ouve-nos. Espírito Paráclito, atende-nos. Deus Pai dos céus, tem piedade de nós. Deus Filho, redentor do mundo, tem piedade de nós. Deus Espírito Santo, tem piedade de nós. Santíssima Trindade, que és um só Deus, tem piedade de nós. Espírito da verdade, tem piedade de nós. Espírito da sabedoria, tem piedade de nós. Espírito da inteligência, tem piedade de nós. Espírito da fortaleza, tem piedade de nós. Espírito da piedade, tem piedade de nós. Espírito do bom conselho, tem piedade de nós. Espírito da ciência, tem piedade de nós. Espírito do santo temor, tem piedade de nós. Espírito da caridade, tem piedade de nós. Espírito da alegria, tem piedade de nós. Espírito da paz, tem piedade de nós. Espírito das virtudes, tem piedade de nós. Espírito de toda graça, tem piedade de nós. Espírito da adoção dos filhos de Deus, tem piedade de nós. Purificador das nossas almas, tem piedade de nós. Santificador e guia da Igreja Católica, tem piedade de nós. Distribuidor dos dons celestes, tem piedade de nós. Conhecedor dos pensamentos e das intenções do coração, tem piedade de nós. Doçura dos que começam a te servir, tem piedade de nós. Coroa dos perfeitos, tem piedade de nós. Alegria dos anjos, tem piedade de nós. Luz dos patriarcas, tem piedade de nós. Inspiração dos profetas, tem piedade de nós. Palavra e sabedoria dos apóstolos, tem piedade de nós. Vitória doa mártires, tem piedade de nós. Ciência dos confessores, tem piedade de nós. Pureza das virgens, tem piedade de nós. Unção de todos os santos, tem piedade de nós. Sede-nos propício, perdoa-nos, Senhor. Sede-nos propício, atende-nos, Senhor. De todo o pecado, livra-nos, Senhor. De todas as tentações e ciladas do demônio, livra-nos, Senhor. De toda a presunção e desesperação, livra-nos, Senhor. Do ataque à verdade conhecida, livra-nos, Senhor. Da inveja da graça fraterna, livra-nos, Senhor. De toda a obstinação e impenitência, livra-nos, Senhor. De toda a negligência e tepor do espírito, livra-nos, Senhor. De toda a impureza da mente e do corpo, livra-nos, Senhor. De todas as heresias e erros, livra-nos, Senhor. De todo o mau espírito, livra-nos, Senhor. Da morte má e eterna, livra-nos, Senhor. Pela tua eterna procedência do Pai e do Filho, livra-nos, Senhor. Pela milagrosa conceição do Filho de Deus, livra-nos, Senhor. Pela tua descida sobre Jesus Cristo batizado, livra-nos, Senhor. Pela tua santa aparição na transfiguração do Senhor, livra-nos, Senhor. Pela tua vinda sobre os discípulos do Senhor, livra-nos, Senhor. No dia do juízo, livra-nos, Senhor. Ainda que pecadores, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que nos perdoes, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes vivificar e santificar todos os membros da Igreja, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes conceder-nos o dom da verdadeira piedade, devoção e oração, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes inspirar-nos sinceros afetos de misericórdia e de caridade, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes criar em nós um espírito novo e um coração puro, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes conceder-nos verdadeira paz e tranquilidade no coração, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes fazer-nos dignos e fortes, para suportar as perseguições pela justiça, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes confirmar-nos em tua graça, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes receber-nos no número dos teus eleitos, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes ouvir-nos, nós vos rogamos, ouví-nos. Espírito de Deus, nós vos rogamos, ouví-nos. Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, envia-nos o Espírito Santo. Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, manda-nos o Espírito prometido do Pai. Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, dá-nos o Espírito bom. Espírito Santo, ouví-nos. Espírito Consolador, atendei-nos. ℣. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado. ℟. E renovareis a face da terra. Oremos: Deus, que instruístes o coração de vossos fiéis, com a luz do Espírito Santo, concedei-nos que, no mesmo Espírito, conheçamos o que é reto, e gozemos sempre as suas consolações. Por Cristo, Nosso Senhor. Amém. Ladainha de Nossa Senhora Senhor, tende piedade de nós. Cristo, tende piedade de nós. Senhor, tende piedade de nós. Santa Maria, rogai por nós. Santa Mãe de Deus, rogai por nós. Santa Virgem das Virgens, rogai por nós. Mãe de Cristo, rogai por nós. Mãe da Igreja, rogai por nós. Mãe de misericórdia, rogai por nós. Mãe da divina graça, rogai por nós. Mãe da esperança, rogai por nós. Mãe puríssima, rogai por nós. Mãe castíssima, rogai por nós. Mãe sempre virgem, rogai por nós. Mãe imaculada, rogai por nós. Mãe amável, rogai por nós. Mãe admirável, rogai por nós. Mãe do bom conselho, rogai por nós. Mãe do Criador, rogai por nós. Mãe do Salvador, rogai por nós. Virgem prudentíssima, rogai por nós. Virgem venerável, rogai por nós. Virgem louvável, rogai por nós. Virgem poderosa, rogai por nós. Virgem clemente, rogai por nós. Virgem fiel, rogai por nós. Espelho de justiça, rogai por nós. Sede de sabedoria, rogai por nós. Causa da nossa alegria, rogai por nós. Vaso espiritual, rogai por nós. Vaso honorífico, rogai por nós. Vaso insigne de devoção, rogai por nós. Rosa mística, rogai por nós. Torre de Davi, rogai por nós. Torre de marfim, rogai por nós. Casa de ouro, rogai por nós. Arca da aliança, rogai por nós. Porta do céu, rogai por nós. Estrela da manhã, rogai por nós. Saúde dos enfermos, rogai por nós. Refúgio dos pecadores, rogai por nós. Conforto dos migrantes, rogai por nós. Consoladora dos aflitos, rogai por nós. Auxílio dos cristãos, rogai por nós. Rainha dos anjos, rogai por nós. Rainha dos patriarcas, rogai por nós. Rainha dos profetas, rogai por nós. Rainha dos apóstolos, rogai por nós. Rainha dos mártires, rogai por nós. Rainha dos confessores, rogai por nós. Rainha das virgens, rogai por nós. Rainha de todos os santos, rogai por nós. Rainha concebida sem pecado original, rogai por nós. Rainha assunta ao céu, rogai por nós. Rainha do santo rosário, rogai por nós. Rainha da família, rogai por nós. Rainha da paz, rogai por nós. Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, perdoai-nos, Senhor. Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, ouvi-nos, Senhor. Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós. ℣. Rogai por nós, Santa Mãe de Deus. ℟. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo. Oremos: Senhor Deus, nós Vos suplicamos que concedais aos vossos servos perpétua saúde de alma e de corpo; e que, pela gloriosa intercessão da bem-aventurada sempre Virgem Maria, sejamos livres da presente tristeza e gozemos da eterna alegria. Por Cristo Nosso Senhor. Amém. Ave maris stella (Ave, do mar Estrela) (Latim) 1. Ave maris stella, Dei Mater alma, Atque semper Virgo, Felix cæli porta. 2. Sumens illud Ave Gabrielis ore, Funda nos in pace, Mutans Hevæ nomen. 3. Solve vincla reis, Profer lumen cæcis, Mala mostra pelle, Bona cuncta posce. 4. Monstra te esse matrem, Sumat per te preces, Qui pro nobis natus Tulit esse tuus. 5. Virgo singularis, Inter omnes mitis, Nos, culpis solutos, Mites fac et castos. 6. Vitam præsta puram Iter para tutum, Ut, videntes Jesum, Semper collætemur. 7. Sit laus Deo Patri, Summo Christo decus, Spiritui Sancto, Tribus honor unus. Amen. (Vernáculo) 1. Ave, do mar Estrela De Deus mãe bela, Sempre virgem, da morada Celeste Feliz entrada. 2. Ó tu que ouviste da boca Do anjo a saudação; Dá-nos a paz e quietação; E o nome da Eva troca. 3. As prisões aos réus desata. E a nós cegos alumia; De tudo que nos maltrata Nos livra, o bem nos granjeia. 4. Ostenta que és mãe, fazendo Que os rogos do povo seu Ouça aquele que, nascendo Por nós, quis ser filho teu. 5. Ó virgem especiosa, Toda cheia de ternura, Extintos nossos pecados Dá-nos pureza e brandura, 6. Dá-nos uma vida pura, Põe-nos em via segura, Para que a Jesus gozemos, E sempre nos alegremos. 7. A Deus Pai veneremos: A Jesus Cristo também: E ao Espírito Santo; demos Aos três um louvor. Amém. Ladainha da Humildade Senhor, tende piedade de nós. Cristo, tende piedade de nós. Senhor, tende piedade de nós. Jesus manso e humilde de coração, ouvi-nos. Jesus manso e humilde de coração, atendei-nos. Jesus manso e humilde de coração, fazei o nosso coração semelhante ao vosso. Do desejo de ser estimado, livrai-me Jesus. Do desejo de ser amado, livrai-me Jesus. Do desejo de ser buscado, livrai-me Jesus. Do desejo de ser louvado, livrai-me Jesus. Do desejo de ser honrado, livrai-me Jesus. Do desejo de ser preferido, livrai-me Jesus. Do desejo de ser consultado, livrai-me Jesus. Do desejo de ser aprovado, livrai-me Jesus. Do desejo de ser adulado, livrai-me Jesus. Do temor de ser humilhado, livrai-me Jesus. Do temor de ser desprezado, livrai-me Jesus. Do temor de ser rejeitado, livrai-me Jesus. Do temor de ser caluniado, livrai-me Jesus. Do temor de ser esquecido, livrai-me Jesus. Do temor de ser ridicularizado, livrai-me Jesus. Do temor de ser escarnecido, livrai-me Jesus. Do temor de ser injuriado, livrai-me Jesus. Que os outros sejam mais amados do que eu, Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo! Que os outros sejam mais estimados do que eu, Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo! Que os outros possam crescer na opinião do mundo e que eu possa diminuir, Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo! Que aos outros seja concedida mais confiança no seu trabalho e que eu seja deixado de lado, Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo! Que os outros sejam louvados e eu esquecido, Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo! Que os outros possam ser preferidos a mim em tudo, Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo! Que os outros possam ser mais Santos do que eu, contanto que eu pelo menos me torne santo como puder, Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo! Ó Maria, Mãe dos humildes, rogai por nós. São José, protetor das almas humildes, rogai por nós. São Miguel, que fostes o primeiro a lutar contra o orgulho e o primeiro a abatê-lo, rogai por nós. Ó justos todos, santificados a partir do espírito de humildade, rogai por nós. Oremos: Ó Deus que, através do ensinamento e do exemplo do Vosso Filho Jesus, apresentastes a humildade como chave que abre os tesouros da graça (Cf. Tg 4, 6) e como fundamento de todas as outras virtudes - caminho certo para o céu - concedei-nos pela intercessão da Bem-aventurada Virgem Maria, a mais humilde e a mais santa das criaturas, aceitar agradecendo todas as humilhações que Vossa Divina Providência nos oferecer. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, que convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo. Amém. Repetir ao longo do dia: “Senhor, que eu veja!” |
Dia 18: Façamos valer nosso segredo de graçaA Consagração, que nos preparamos para professar ou renovar, não nos pede somente para renunciar – para o maior benefício de nossas almas – a querer conservar por nossos próprios meios os tesouros que recebemos de Deus, ela exige também muitas outras renúncias. Propondo-a à nossa livre escolha, São Luís Maria de Montfort não nos diz que ela é, entre todas as formas da verdadeira devoção à Santíssima Virgem, “a que mais nos conduz a essa morte para nós mesmos”? Por isso, ele a vê, com seu olhar de santo, “como sendo a melhor e a mais santificadora”. Ela é “um desses segredos de graça, desconhecido pela maioria”, para chegar “em pouco tempo, com suavidade e facilidade, a nos esvaziar de nós mesmos, a nos encher de Deus e nos tornar perfeitos” (n. 62).Ao terminar nossa primeira Semana, não podemos fazer nada melhor do que considerar as renúncias que exige nossa Consagração, e a riqueza de santificação que essas renúncias trazem às nossas almas. Roguemos ao Espírito santificador e à Virgem, Mediadora de todas as graças. Veni, sancte Spiritus! Ave, gratia plena. I. RENÚNCIAS QUE PEDE NOSSA CONSAGRAÇÃO. Entregando a Maria nosso corpo com todos os seus sentidos e membros, renunciamos a nos servir deles de modo diferente ao que ela mesma nos inspira a fazer. Essa ideia nos leva a sacrifícios imediatos mais generosamente consentidos. Quanto aos olhares, conversações, paladar, olfato, tato, não nos contentaremos em afastar o que seria mau ou rasteiro, mas orientaremos a atividade dos sentidos interiores para o que eleva e favorece a irradiação interior. Um olhar à imagem da Virgem, uma palavra sobre a felicidade de pertencer-lhe, pequenas privações oferecidas, a aceitação das estações como se apresentam: Maria está próxima, oferecendo suas graças mediante renúncias aceitas por amor. Se nossos membros são fortes, ofereçamos a ela as fadigas diárias; se doentes ou frágeis, nossa paciência e submissão terão maior mérito. Entregando a Maria nossa alma com todas as suas faculdades, o horizonte se amplia: inteligência, juízo, querer, imaginação, sensibilidade, memória – capacidades de luz, amor e devotamento, recursos de vida e imolação. Cabe à nossa generosidade abri-las à ação santificadora de Maria, pedindo que penetre como em seu domínio, levando-nos ao esquecimento de nós mesmos. Estimaremos ocupar nosso pensamento com a Virgem, meditar seu mistério, oferecer-lhe uma vontade forte contra o pecado, obediente às suas inspirações. Descobriremos, na natureza e nas coisas familiares, evocações de Maria – como fazia M. Olier – bendizendo-a e louvando-a em nosso cântico interior, longe das quimeras do tentador. Ordenaremos nossa sensibilidade segundo a direção de Maria. Como Rainha do coração, seu amor deve dirigir nossas afeições. Seremos livres para amar a todos, especialmente os pequenos, os pobres, os abandonados. Maria deseja que amemos com a bondade, doçura e misericórdia de Jesus. A sensibilidade se torna força de devotamento em favor dos mais necessitados. Quanto à memória, conservemo-la rica das lembranças dos benefícios recebidos de Maria. De quantas quedas ela nos reergueu, de quantos perigos nos livrou! Essas lembranças libertam de ressentimentos e isolamento. Na basílica de Nossa Senhora de Liesse, lê-se: “A Santa Virgem trouxe alegria à minha vida.” Testemunho de uma alma que, acima das adversidades, encontrou paz no amor de Maria. ---- Com nosso corpo e nossa alma, entregamos a Maria todos os bens que possuímos: bens exteriores de ordem temporal e, sobretudo, bens interiores de ordem espiritual. Os primeiros dizem respeito ao corpo; os segundos, à alma. Entregando a Maria nossos bens exteriores, renunciamos a considerá-los como nossos, reconhecendo que pertencem a ela por direito de nossa doação pessoal. Continuamos, aos olhos dos outros, a gerir nossos bens como antes, mas agora iluminados por nova luz: usamos os bens na dependência da vontade de Maria, com desapego, justiça, gratidão, moderação e caridade. Ao adquirirmos roupas, alimentos, remédios, livros, utensílios, devemos vê-los como vindos das mãos de Maria, agradecendo-lhe e oferecendo-lhe seu uso, considerando sua glória antes de nosso proveito. M. Olier seguia fielmente esse costume, consagrando a Maria até o uso do chapéu ou da roupa. Quando o omitia, sentia-se advertido por perdas e acidentes. Há uma virtude especial em oferecer tudo à Virgem, até os menores objetos: Maria realiza então em nós renúncias secretas, “com suavidade e facilidade”, como disse Montfort. A doação dos bens interiores exige ainda mais renúncias. Trata-se de toda a nossa vida espiritual e do valor de nossas boas ações passadas, presentes e futuras: seu valor de mérito, de oração e de sacrifício. O valor de mérito é inalienável: é o título com que compramos o Céu. Mas nas mãos de Maria ele está mais seguro, sendo por ela fielmente guardado e defendido. Entreguemo-lo com confiança. O valor de oração e de sacrifício pode ser oferecido a outros: podemos obter favores espirituais e temporais, alívio para os pecadores, os moribundos, as almas do Purgatório. As indulgências entram nesse domínio. Fazemos à Maria um abandono completo e incondicional desse valor: renunciamos a dispor dele, deixando-a agir conforme sua vontade, no maior desinteresse por nós mesmos. Dizia o cardeal Mercier: “Não existe ato mais abrangente que a alma pode dedicar a Deus e a Cristo (por Maria) do que esse ato de renúncia, tal como o entende São Luís Maria de Montfort… A devoção de Montfort vai mais longe: renuncia até mesmo à livre disposição de tudo o que, em nossa vida espiritual, é suscetível de ser objeto de renúncia… Somente Deus, para cada alma, pode medir seu alcance.” Que coroamento de todos os sacrifícios já consentidos! Agradeçamos a São Luís Maria de Montfort por nos ter legado tão grande segredo de graça! II. Para intensificar nossa gratidão, consideremos a riqueza de santificação que beneficia nossas almas. Ao fazermos nossas renúncias entre as mãos de Maria, exercemos de maneira perfeita a caridade para com Deus e o próximo. A caridade para com Deus se manifesta porque a Santíssima Virgem empregará nossa posse espiritual primeiramente para a maior glória de Deus — fim mais elevado e nobre, mas que raramente visamos. Montfort afirma: “Quase ninguém age para esse nobre fim, embora sejamos a ele obrigados; seja porque não sabemos onde está a maior glória de Deus, seja porque não a desejamos.” Enganamo-nos facilmente sobre o que pensamos ser a maior glória de Deus, e é difícil afastar todo interesse pessoal. Porém, “Maria conhece muito perfeitamente onde está a maior glória de Deus, e tudo faz pela maior glória de Deus.” Podemos estar certos de que todas as nossas ações, pensamentos e palavras serão por ela dirigidos à maior glória de Deus. Maria exerce, em nosso nome, essa caridade perfeita que antepõe os interesses de Deus aos nossos. “Pode-se encontrar algo de mais consolador para uma alma que ama Deus com um amor puro?” (V. D., n. 151.) Tal entrega gera um tesouro incalculável para a eternidade. Se a Santa Virgem quiser exercer também, em nosso nome, a caridade para com o próximo — conhecido ou desconhecido, da Igreja universal, das missões ou do Purgatório — perderemos algo? Ao contrário, a caridade é fonte de mérito, e, sendo nossos méritos inalienáveis, ganharemos um Céu mais glorioso. Diante disso, quão vã se torna a apreensão de uma longa permanência no Purgatório! Pois “uma alma fervorosa e generosa, que faz os interesses de Deus e do próximo estarem antes dos seus; que dá tudo a Deus sem reserva; que não respira senão a glória de Deus e o reino de Jesus Cristo por sua santa Mãe, será punida no outro mundo por sua liberalidade? Pelo contrário, afirma Montfort, essa alma será mais magnificamente recompensada neste mundo e no outro.” (V. D., n. 133.) Neste mundo, a Santíssima Virgem nunca se deixa vencer em amor e liberalidade: “ela se dá inteiramente e de maneira inefável àquele que lhe dá tudo. Ela o faz ser tragado no abismo de suas graças; orna-o com seus méritos; apoia-o com seu poder; ilumina-o com sua luz; abrasa-o com seu amor; comunica-lhe suas virtudes: sua humildade, sua fé, sua pureza, etc.; torna-se sua caução, seu suplemento, e seu valioso tudo para com Jesus.” (V. D., n. 144.) No outro mundo, a recompensa será sermos introduzidos mais rapidamente no paraíso, pois a caridade perfeita suprime ou atenua notavelmente o Purgatório. Além disso, ao aumentar nossos méritos, aumenta também nosso grau de glória no Céu. Que recompensa mais rica poderíamos desejar? Cumpre-se assim plenamente a palavra do Evangelho: “Dai, e dar-se-vos-á: uma medida boa, cheia, recalcada e acogulada…” (Lc 6, 38.) ---- Ofereçamos, pois, a Maria, com absoluta confiança, todas as renúncias que nos pede nossa Consagração. Digamos-lhe, desde já, o que repetiremos com mais fervor ao fim destes Exercícios preparatórios: que lhe “deixamos o inteiro e pleno direito de dispor de nós e de tudo o que nos pertence, sem exceção, segundo sua vontade, para a maior glória de Deus, neste mundo e na eternidade”. Caminharemos de luz em luz. As duas Semanas que seguem nos reservam claridades de ordem superior. ORAÇÕES Ladainha do Espírito Santo Senhor, tem piedade de nós. Jesus Cristo, tem piedade de nós. Divino Espírito Santo, ouve-nos. Espírito Paráclito, atende-nos. Deus Pai dos céus, tem piedade de nós. Deus Filho, redentor do mundo, tem piedade de nós. Deus Espírito Santo, tem piedade de nós. Santíssima Trindade, que és um só Deus, tem piedade de nós. Espírito da verdade, tem piedade de nós. Espírito da sabedoria, tem piedade de nós. Espírito da inteligência, tem piedade de nós. Espírito da fortaleza, tem piedade de nós. Espírito da piedade, tem piedade de nós. Espírito do bom conselho, tem piedade de nós. Espírito da ciência, tem piedade de nós. Espírito do santo temor, tem piedade de nós. Espírito da caridade, tem piedade de nós. Espírito da alegria, tem piedade de nós. Espírito da paz, tem piedade de nós. Espírito das virtudes, tem piedade de nós. Espírito de toda graça, tem piedade de nós. Espírito da adoção dos filhos de Deus, tem piedade de nós. Purificador das nossas almas, tem piedade de nós. Santificador e guia da Igreja Católica, tem piedade de nós. Distribuidor dos dons celestes, tem piedade de nós. Conhecedor dos pensamentos e das intenções do coração, tem piedade de nós. Doçura dos que começam a te servir, tem piedade de nós. Coroa dos perfeitos, tem piedade de nós. Alegria dos anjos, tem piedade de nós. Luz dos patriarcas, tem piedade de nós. Inspiração dos profetas, tem piedade de nós. Palavra e sabedoria dos apóstolos, tem piedade de nós. Vitória doa mártires, tem piedade de nós. Ciência dos confessores, tem piedade de nós. Pureza das virgens, tem piedade de nós. Unção de todos os santos, tem piedade de nós. Sede-nos propício, perdoa-nos, Senhor. Sede-nos propício, atende-nos, Senhor. De todo o pecado, livra-nos, Senhor. De todas as tentações e ciladas do demônio, livra-nos, Senhor. De toda a presunção e desesperação, livra-nos, Senhor. Do ataque à verdade conhecida, livra-nos, Senhor. Da inveja da graça fraterna, livra-nos, Senhor. De toda a obstinação e impenitência, livra-nos, Senhor. De toda a negligência e tepor do espírito, livra-nos, Senhor. De toda a impureza da mente e do corpo, livra-nos, Senhor. De todas as heresias e erros, livra-nos, Senhor. De todo o mau espírito, livra-nos, Senhor. Da morte má e eterna, livra-nos, Senhor. Pela tua eterna procedência do Pai e do Filho, livra-nos, Senhor. Pela milagrosa conceição do Filho de Deus, livra-nos, Senhor. Pela tua descida sobre Jesus Cristo batizado, livra-nos, Senhor. Pela tua santa aparição na transfiguração do Senhor, livra-nos, Senhor. Pela tua vinda sobre os discípulos do Senhor, livra-nos, Senhor. No dia do juízo, livra-nos, Senhor. Ainda que pecadores, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que nos perdoes, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes vivificar e santificar todos os membros da Igreja, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes conceder-nos o dom da verdadeira piedade, devoção e oração, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes inspirar-nos sinceros afetos de misericórdia e de caridade, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes criar em nós um espírito novo e um coração puro, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes conceder-nos verdadeira paz e tranquilidade no coração, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes fazer-nos dignos e fortes, para suportar as perseguições pela justiça, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes confirmar-nos em tua graça, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes receber-nos no número dos teus eleitos, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes ouvir-nos, nós vos rogamos, ouví-nos. Espírito de Deus, nós vos rogamos, ouví-nos. Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, envia-nos o Espírito Santo. Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, manda-nos o Espírito prometido do Pai. Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, dá-nos o Espírito bom. Espírito Santo, ouví-nos. Espírito Consolador, atendei-nos. ℣. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado. ℟. E renovareis a face da terra. Oremos: Deus, que instruístes o coração de vossos fiéis, com a luz do Espírito Santo, concedei-nos que, no mesmo Espírito, conheçamos o que é reto, e gozemos sempre as suas consolações. Por Cristo, Nosso Senhor. Amém. Ladainha de Nossa Senhora Senhor, tende piedade de nós. Cristo, tende piedade de nós. Senhor, tende piedade de nós. Santa Maria, rogai por nós. Santa Mãe de Deus, rogai por nós. Santa Virgem das Virgens, rogai por nós. Mãe de Cristo, rogai por nós. Mãe da Igreja, rogai por nós. Mãe de misericórdia, rogai por nós. Mãe da divina graça, rogai por nós. Mãe da esperança, rogai por nós. Mãe puríssima, rogai por nós. Mãe castíssima, rogai por nós. Mãe sempre virgem, rogai por nós. Mãe imaculada, rogai por nós. Mãe amável, rogai por nós. Mãe admirável, rogai por nós. Mãe do bom conselho, rogai por nós. Mãe do Criador, rogai por nós. Mãe do Salvador, rogai por nós. Virgem prudentíssima, rogai por nós. Virgem venerável, rogai por nós. Virgem louvável, rogai por nós. Virgem poderosa, rogai por nós. Virgem clemente, rogai por nós. Virgem fiel, rogai por nós. Espelho de justiça, rogai por nós. Sede de sabedoria, rogai por nós. Causa da nossa alegria, rogai por nós. Vaso espiritual, rogai por nós. Vaso honorífico, rogai por nós. Vaso insigne de devoção, rogai por nós. Rosa mística, rogai por nós. Torre de Davi, rogai por nós. Torre de marfim, rogai por nós. Casa de ouro, rogai por nós. Arca da aliança, rogai por nós. Porta do céu, rogai por nós. Estrela da manhã, rogai por nós. Saúde dos enfermos, rogai por nós. Refúgio dos pecadores, rogai por nós. Conforto dos migrantes, rogai por nós. Consoladora dos aflitos, rogai por nós. Auxílio dos cristãos, rogai por nós. Rainha dos anjos, rogai por nós. Rainha dos patriarcas, rogai por nós. Rainha dos profetas, rogai por nós. Rainha dos apóstolos, rogai por nós. Rainha dos mártires, rogai por nós. Rainha dos confessores, rogai por nós. Rainha das virgens, rogai por nós. Rainha de todos os santos, rogai por nós. Rainha concebida sem pecado original, rogai por nós. Rainha assunta ao céu, rogai por nós. Rainha do santo rosário, rogai por nós. Rainha da família, rogai por nós. Rainha da paz, rogai por nós. Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, perdoai-nos, Senhor. Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, ouvi-nos, Senhor. Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós. ℣. Rogai por nós, Santa Mãe de Deus. ℟. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo. Oremos: Senhor Deus, nós Vos suplicamos que concedais aos vossos servos perpétua saúde de alma e de corpo; e que, pela gloriosa intercessão da bem-aventurada sempre Virgem Maria, sejamos livres da presente tristeza e gozemos da eterna alegria. Por Cristo Nosso Senhor. Amém. Ave maris stella (Ave, do mar Estrela) (Latim) 1. Ave maris stella, Dei Mater alma, Atque semper Virgo, Felix cæli porta. 2. Sumens illud Ave Gabrielis ore, Funda nos in pace, Mutans Hevæ nomen. 3. Solve vincla reis, Profer lumen cæcis, Mala mostra pelle, Bona cuncta posce. 4. Monstra te esse matrem, Sumat per te preces, Qui pro nobis natus Tulit esse tuus. 5. Virgo singularis, Inter omnes mitis, Nos, culpis solutos, Mites fac et castos. 6. Vitam præsta puram Iter para tutum, Ut, videntes Jesum, Semper collætemur. 7. Sit laus Deo Patri, Summo Christo decus, Spiritui Sancto, Tribus honor unus. Amen. (Vernáculo) 1. Ave, do mar Estrela De Deus mãe bela, Sempre virgem, da morada Celeste Feliz entrada. 2. Ó tu que ouviste da boca Do anjo a saudação; Dá-nos a paz e quietação; E o nome da Eva troca. 3. As prisões aos réus desata. E a nós cegos alumia; De tudo que nos maltrata Nos livra, o bem nos granjeia. 4. Ostenta que és mãe, fazendo Que os rogos do povo seu Ouça aquele que, nascendo Por nós, quis ser filho teu. 5. Ó virgem especiosa, Toda cheia de ternura, Extintos nossos pecados Dá-nos pureza e brandura, 6. Dá-nos uma vida pura, Põe-nos em via segura, Para que a Jesus gozemos, E sempre nos alegremos. 7. A Deus Pai veneremos: A Jesus Cristo também: E ao Espírito Santo; demos Aos três um louvor. Amém. Ladainha da Humildade Senhor, tende piedade de nós. Cristo, tende piedade de nós. Senhor, tende piedade de nós. Jesus manso e humilde de coração, ouvi-nos. Jesus manso e humilde de coração, atendei-nos. Jesus manso e humilde de coração, fazei o nosso coração semelhante ao vosso. Do desejo de ser estimado, livrai-me Jesus. Do desejo de ser amado, livrai-me Jesus. Do desejo de ser buscado, livrai-me Jesus. Do desejo de ser louvado, livrai-me Jesus. Do desejo de ser honrado, livrai-me Jesus. Do desejo de ser preferido, livrai-me Jesus. Do desejo de ser consultado, livrai-me Jesus. Do desejo de ser aprovado, livrai-me Jesus. Do desejo de ser adulado, livrai-me Jesus. Do temor de ser humilhado, livrai-me Jesus. Do temor de ser desprezado, livrai-me Jesus. Do temor de ser rejeitado, livrai-me Jesus. Do temor de ser caluniado, livrai-me Jesus. Do temor de ser esquecido, livrai-me Jesus. Do temor de ser ridicularizado, livrai-me Jesus. Do temor de ser escarnecido, livrai-me Jesus. Do temor de ser injuriado, livrai-me Jesus. Que os outros sejam mais amados do que eu, Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo! Que os outros sejam mais estimados do que eu, Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo! Que os outros possam crescer na opinião do mundo e que eu possa diminuir, Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo! Que aos outros seja concedida mais confiança no seu trabalho e que eu seja deixado de lado, Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo! Que os outros sejam louvados e eu esquecido, Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo! Que os outros possam ser preferidos a mim em tudo, Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo! Que os outros possam ser mais Santos do que eu, contanto que eu pelo menos me torne santo como puder, Ó Jesus, concedei-me a graça de desejá-lo! Ó Maria, Mãe dos humildes, rogai por nós. São José, protetor das almas humildes, rogai por nós. São Miguel, que fostes o primeiro a lutar contra o orgulho e o primeiro a abatê-lo, rogai por nós. Ó justos todos, santificados a partir do espírito de humildade, rogai por nós. Oremos: Ó Deus que, através do ensinamento e do exemplo do Vosso Filho Jesus, apresentastes a humildade como chave que abre os tesouros da graça (Cf. Tg 4, 6) e como fundamento de todas as outras virtudes - caminho certo para o céu - concedei-nos pela intercessão da Bem-aventurada Virgem Maria, a mais humilde e a mais santa das criaturas, aceitar agradecendo todas as humilhações que Vossa Divina Providência nos oferecer. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, que convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo. Amém. Repetir ao longo do dia: “Senhor, que eu veja!” |
3ª parte |
Orientações da Terceira ParteEntremos com alegria nesta terceira parte, dedicada ao conhecimento da Santíssima Virgem. Trabalho amável e exaltante, impede-nos de nos demorarmos em demasia na consideração de nossas misérias. Ganhamos incomparavelmente ao olhar para Maria, a criatura mais amada de Deus, e que, por isso mesmo, jamais devemos temer amar em excesso.Se Maria não é tão amada quanto deveria ser, é porque não é suficientemente conhecida. Muitos de seus filhos lhe testemunham apenas uma devoção limitada; amá-la-iam mais, se tivessem mais luz. Agradeçamos ao Padre de Montfort por nos ter dado seu Tratado mariano, cuja profunda doutrina nos conduz à mais luminosa maneira de amar Maria e de nos entregarmos inteiramente à sua ação materna. Com ele consideraremos, nesta primeira meditação, o lugar da Santíssima Virgem no plano divino redentor: ela está no centro, com Jesus e na dependência de Jesus. Deus quis cumprir a Encarnação por meio de Maria, e quer ainda realizar por meio de Maria a santificação das almas. À luz dessa revelação, perguntemo-nos que lugar desejamos dar à Santíssima Virgem em nossa vida interior. Recitemos todos os dias, como na primeira Semana, as ladainhas do Espírito Santo, Ladainha de Nossa Senhora, e a Ave, maris Stella. Além disso, recomenda-se recitar um rosário completo, ou pelo menos um terço, para obter do Espírito Santo a graça do conhecimento de sua Esposa Imaculada. (V. D., n. 229.) |
Dia 19: Seu lugar no plano redentorI. DEUS QUIS CUMPRIR A ENCARNAÇÃO POR INTERMÉDIO DE MARIA. Montfort mostra-nos as três Pessoas divinas fixando sobre Maria a escolha de seu eterno conselho:“Deus Pai deu seu Filho único ao mundo por intermédio de Maria. Por mais que tenham suspirado os patriarcas, por mais que tenham pedido os profetas e os santos da antiga Lei, durante milênios, para ter esse tesouro, somente Maria o mereceu e achou graça diante de Deus (Lc 1, 30), pela força de suas preces e pela elevação de suas virtudes. O mundo era indigno, diz Santo Agostinho, de receber o Filho de Deus imediatamente das mãos do Pai; deu-o a Maria, a fim de que o mundo o recebesse por meio dela. “Deus Filho se fez homem por nossa salvação, mas em Maria (em seu ventre virginal) e por Maria (por sua cooperação voluntária e amorosa). “(Foi por isso que) Deus Espírito Santo formou Jesus Cristo em Maria, mas depois de ter-lhe pedido seu consentimento por intermédio de um dos primeiros ministros de sua corte”. (V. D., n. 16.) Que excessos de deferência! Entre todas as filhas de Israel, somente Maria de Nazaré é o objeto dos olhares divinos. O Pai foi amorosamente vencido por suas preces. O Filho escolheu, para encarnar, o caminho mariano de preferência a todos os outros. O Espírito Santo não realizará essa grande obra sem antes obter o consentimento da Virgem. Que visão profunda, nessas poucas linhas, da predestinação da Virgem! Ao lado de Jesus, predestinado a ser o Verbo encarnado, Maria, desde toda a eternidade, aparece predestinada a ser sua Mãe, a verdadeira Mãe de Deus. Trata-se de uma predestinação superior à de toda criatura, não apenas em grau, mas em ordem. Que magnífico anúncio da maravilha que será a união ativa e contínua de Jesus e Maria na obra redentora! ---- E eis que se cumpriu o mistério: “Deus Pai comunicou a Maria sua fecundidade, tanto quanto era possível a uma pura criatura, para dar-lhe o poder de produzir seu Filho e todos os membros de seu Corpo místico.” A Virgem gera, neste mundo e segundo a natureza humana, o mesmo Filho que o Pai gera eternamente e segundo a natureza divina. Como Ele, ela pode dizer ao Verbo encarnado: Tu és meu Filho. O termo das duas gerações é o mesmo. Maria participa, assim, da fecundidade do Pai, “tanto quanto era possível a uma pura criatura”. Além disso, o Verbo encarnado, vindo a nós como Redentor, é inseparável de seus resgatados. Ele tomou, pois, em Maria, um Corpo místico, formado por todos os que crerem nele e quiserem viver de sua vida. Maria, intimamente associada a Ele, produz ao mesmo tempo o corpo físico de Jesus e seu Corpo místico. Mistério de amor insondável. “Deus Filho desceu ao seu ventre virginal, como o novo Adão ao seu paraíso terrestre, para encontrar nele seu contentamento e operar secretamente maravilhas de graça.” Que superabundância de vida divina seu amor filial derramou sobre sua santa Mãe imaculada! “Deus feito homem encontrou sua liberdade ao se ver aprisionado em seu ventre; fez brilhar sua força ao se deixar carregar por essa jovem; encontrou sua glória e a glória de seu Pai ao esconder seus esplendores de todas as criaturas deste mundo, para revelá-las somente a Maria. Glorificou sua independência e sua majestade ao depender dessa amável Virgem em sua concepção, em seu nascimento, em sua apresentação no Templo, em sua vida escondida de trinta anos, até à sua morte, a qual ela devia assistir, para fazer com ela um só sacrifício, e para ser imolado por seu consentimento ao Pai eterno, como outrora Isaac pelo consentimento de Abraão à vontade de Deus. Foi ela quem o amamentou, alimentou, sustentou, criou e sacrificou por nós. Ó admirável e incompreensível dependência de um Deus!” (n. 18.) Durante nossa terceira Semana, meditaremos largamente sobre essa admirável e incompreensível dependência de Deus feito homem. Ela é a causa exemplar de nossa Consagração da Santa Escravidão. Poderemos algum dia dar a Maria, em nossa vida espiritual, um lugar tão grande quanto o que lhe deu o Verbo encarnado em todas as etapas de sua vida terrena? “Sendo Deus Espírito Santo estéril em Deus, isto é, não produzindo outra pessoa divina, tornou-se fecundo por Maria, que desposou. Foi com ela e nela que produziu sua obra-prima, que é um Deus feito homem, e que ele produz todos os dias, até o fim do mundo, os predestinados e membros do corpo desse Cabeça adorável…” (n. 20.) O Espírito Santo, Amor recíproco do Pai e do Filho, laço vivo de sua ardente dileção, une na unidade indivisível da natureza divina a Trindade das Pessoas. Mas, por intermediação da Santíssima Virgem, da qual ele quer se servir, exerce sua fecundidade fora da Trindade, produzindo nela e por ela a humanidade santa do Verbo encarnado e os membros de seu Corpo místico. Maria é, assim, chamada Esposa do Espírito Santo; pode haver união mais íntima? Na Oração abrasada, Montfort dirá magnificamente ao Espírito Santo: “Espírito Santo, lembrai-vos de produzir e formar filhos de Deus, com vossa divina e fiel Esposa Maria. Formastes a Cabeça dos predestinados com ela e nela; é com ela e nela que deveis formar todos os seus membros. Não gerais nenhuma pessoa divina na Divindade; mas somente vós formais todas as pessoas divinas fora da Divindade; e todos os santos, que existiram e existirão até o fim do mundo, são obras de vosso amor unido a Maria.” Se refletirmos sobre essa inefável conduta das três Pessoas divinas escolhendo Maria para dar Jesus às almas e uni-las a Ele, como não reconhecer lealmente que amar Maria de todo o coração não nos impede de centrar nossa vida espiritual sobre a Trindade? Imitamos a conduta das três Pessoas divinas; damos a Maria o lugar que o próprio Deus quis lhe dar. Nosso amor por ela não pode se desviar. II. QUANTO À SANTIFICAÇÃO DAS ALMAS, prolongamento da Encarnação, DEUS QUER TAMBÉM CUMPRI-LA POR INTERMÉDIO DA SANTÍSSIMA VIRGEM: Sua conduta não muda e não mudará até a consumação dos séculos. Por isso, Montfort nos mostra agora as três Pessoas divinas derramando sobre Maria tudo o que possuem, para que nós mesmos sejamos enriquecidos por seu intermédio. “Deus Pai fez uma reunião de todas as águas, que chamou mar; fez uma reunião de todas as suas graças, que chamou Maria. Esse grande Deus tem um tesouro riquíssimo, onde encerrou tudo o que há de belo, de luminoso, de raro e de precioso, até seu próprio Filho; e esse tesouro imenso não é outro senão Maria, chamada pelos santos o tesouro do Senhor, da plenitude do qual os homens são enriquecidos.” (n. 23.) Desde o instante de sua Concepção imaculada, Ele a dotou de uma plenitude de graça santificante, diante da qual empalidece o esplendor sobrenatural de todos os anjos e de todos os santos. Essa plenitude inicial, que sempre aumentará, continha já “tudo o que há de belo, de luminoso, de raro, de precioso”, isto é, todas as riquezas de santificação, todas as graças gerais e particulares concedidas às outras criaturas, todo esse interior de beleza, de caridade, de heroísmo, todas essas profundezas de amor e de ternura que admiramos nos amados do Senhor. Ela não fez, no entanto, senão preparar uma graça de ordem superior e especial a Maria, a graça única da Maternidade divina. O Pai, encerrando em Maria “até seu próprio Filho”, cobriu-a de uma riqueza tamanha que nenhuma criatura pode receber riqueza maior. A Virgem carrega em si a Pessoa divina do Verbo encarnado. Esse contato com a humanidade e a divindade de Jesus faz afluir em ondas intensas na bem-aventurada Mãe, cujas disposições são tão perfeitas, uma vida sobrenatural, por assim dizer, sem limite. É uma plenitude de superabundância. Mesmo a imensidão do mar — única comparação possível — pode nos dar apenas uma fraca ideia dessa plenitude. Maria é, pois, esse tesouro imenso do Senhor, do qual todos os cristãos, sacerdotes e fiéis, que se sucederão sobre a terra, e todos os apóstolos, mártires, confessores da fé, virgens e santos de todos os tempos poderão se munir, sem medo de esgotá-lo. Essa é a vontade tão amorosa do Pai dos Céus. ---- “Deus Filho comunicou à sua Mãe tudo o que ele adquiriu por sua vida e sua morte, seus méritos infinitos e suas virtudes admiráveis; e a constituiu como tesoureira de tudo o que seu Pai lhe deu como herança. É por meio dela que ele aplica seus méritos aos seus membros, que ele comunica suas virtudes e distribui suas graças. Ela é seu canal misterioso, seu aqueduto, por onde ele faz passar docemente e abundantemente suas misericórdias.” (n. 24.) Esse papel de Maria na distribuição das graças da Redenção é consequência do papel que teve em sua aquisição, tendo Jesus “escolhido-a como companheira indissolúvel de sua vida e de sua morte.” (n. 74.) O Salvador podia, sem dúvida, dispensar qualquer auxiliar na obra redentora; mas agradou-lhe, segundo o plano eterno, associar a Virgem às suas dores. Um só decreto decidiu, ao mesmo tempo, a Encarnação e a Maternidade divina; Cristo e a Virgem foram inseparáveis na obra de nossa salvação. O que Jesus mereceu por justiça, Maria o mereceu por afinidade. Agora, associada ao seu triunfo e ao seu poder soberano, gozando com ele da herança celestial, ele a constituiu, para nós, tesoureira de todos os bens dessa herança. Nenhuma aplicação de seus méritos redentores, nenhuma comunicação de suas virtudes e graças se faz sem Maria. Ela é seu canal misterioso, seu aqueduto por onde ele faz passar docemente — maternalmente, poder-se-ia dizer — e abundantemente suas misericórdias, pois nada pode recusar aos pedidos que ela lhe faz por nós, pobres filhos. Maria obtém, como diz São Bernardo (Serm. 98), “aos cativos a libertação, aos enfermos a cura, aos aflitos a consolação, aos pecadores o perdão, aos justos a graça sempre crescente.” As belas orações do Memorare e do Salve, Regina devem ter brotado da meditação dessa doutrina. ---- “Deus Espírito Santo comunicou a Maria, sua fiel Esposa, seus dons inefáveis, e escolheu-a como dispensadora de tudo o que possui; de modo que ela distribui a quem deseja, tanto quanto deseja, como e quando deseja, todos os seus dons e suas graças; pois não se dá nenhum dom celeste aos homens sem que passe por suas mãos virginais.” (n. 25.) Como o Espírito Santo não teria ornado a alma de Maria com a plenitude de seus dons desde o instante de sua criação? Esse Espírito de amor logo a tomou por Esposa, devendo “produzir nela e por ela Jesus Cristo e seus membros.” (n. 21.) Por isso, na manhã da Anunciação, o anjo responde à interrogação da Virgem: “O Espírito Santo sobrevirá em ti…”, como princípio fecundante dessa divina Maternidade virginal. Desde o primeiro instante, ele já tinha vindo depositar entre seus presentes de bodas todas as joias que possui enquanto Espírito santificador: seus dons inefáveis e suas graças de santidade crescente. Maria, gozando então milagrosamente da ciência infusa, consentiu com toda a força de sua inteligência e de sua vontade com essa incomparável união de amor. Depois, o Espírito Santo não cessou de enriquecê-la, a ponto de querer, no dia do Pentecostes, que ela fosse a dispensadora visível de seus dons e graças de santificação, e dos carismas que os acompanham. Por meio dela, presente no meio do Cenáculo, ele se derramou sobre os Apóstolos e sobre os fiéis que compunham, então, o berço da Igreja nascente. Desde esse dia, todas as santificações visíveis, todos os Pentecostes que se cumprem no íntimo das almas, se fazem por sua ação unida à do Espírito Santo. Essa união é tão grande que Maria pode livremente dar a quem desejar: tanto a uma Teresa de Lisieux quanto a um Charles de Foucauld ou a um Alphonse Ratisbonne; quanto desejar, pois não há limite à sua generosidade: quantas graças de luz distribuiu ela a São Bernardo, a São Francisco de Sales, a São Luís Maria de Montfort, e a tantos outros; como desejar, isto é, da maneira que julgar mais eficaz para atingir e ganhar os corações, seja por meio de suas aparições, seus milagres, ou pelo sentimento de sua presença na alma obediente; quando desejar: encontramo-la trabalhando em todas as épocas da Igreja, mas é manifesto que nestes tempos que são os nossos, sua ação se afirma com um poder extraordinário. Não se dá, assim, nenhum favor celestial aos homens, sem que passe por suas mãos virginais. III. Essa adorável conduta das três divinas Pessoas em relação a Maria, no cumprimento do mistério da Encarnação e na obra da santificação das almas, mostra claramente o LUGAR da Virgem no plano redentor. Cumprindo a eterna e misericordiosa vontade de Deus, ela está no CENTRO com Jesus e na dependência de Jesus. Esse é o mesmo lugar que todas as almas cristãs deveriam dar-lhe em sua vida interior. Felicitemo-nos por querer conceder-lho. A maior parte dos fiéis de nossas paróquias se contenta em cumprir seus deveres de cristãos, sem manifestar-lhe uma devoção especial. Desejosos de obedecer aos mandamentos de Deus e da Igreja, vigiam para evitar o pecado mortal ou, ao menos, para recorrer ao sacramento da Penitência. Oram de tempos em tempos à Santa Virgem, especialmente aos domingos e nas festas, assistindo aos Ofícios. Reconhecem-na como Mãe de Deus, mas nenhum testemunho pessoal brota da alma, nenhuma chama de devoção ilumina seu caminho, indicando um contato de gratidão com Aquela que detém todas as graças e que só espera comunicá-las segundo nossas necessidades e preces. É dar-lhe pouco, e isto por falta de esclarecimento. Outros fiéis recorrem com mais frequência à Santíssima Virgem. Oram a ela de manhã e à noite, recitam seu terço, às vezes o Rosário, e seu pequeno Ofício. Alegram-se com suas festas, mesmo as não solenizadas. Os meses de maio e outubro são para eles meses de fervor amoroso. Comprazem-se na leitura de livros marianos, na escuta de sermões sobre seus mistérios, cuidam de seus altares e capelas, participam de peregrinações e congressos em sua honra. Essa é a devoção das elites cristãs, das almas religiosas e sacerdotais. Ela é boa, santa e louvável; concede a Maria um grande lugar na piedade. Muitos se contentam com ela. Há, entretanto, os que desejam ir além. Por mais louvável que seja essa devoção, é preciso reconhecer que ela concede a Maria apenas uma parte do tempo, das preces e das boas obras. Tais práticas exteriores e transitórias não se harmonizam com o lugar que Maria ocupa no plano divino. Por isso, se desejamos imitar a conduta das três Pessoas divinas em relação a Maria, devemos chegar à DOAÇÃO TOTAL de nós mesmos e à VIDA DE UNIÃO em todos os instantes que dela decorre. É preciso — e meditaremos sobre isso nos próximos dias — escolher Maria como Mãe e Senhora de toda nossa vida sobrenatural, como o Verbo encarnado a escolheu como sua Mãe e Cooperadora na obra da salvação. É preciso entregar-lhe tudo o que nos é possível, sem restrição nem reserva; como Deus Pai lhe comunicou todas as suas graças, Deus Filho todos os seus méritos, Deus Espírito Santo todos os seus dons inefáveis, certos de que o que damos é pouco em comparação com o que eles lhe deram. Essa é a CONSAGRAÇÃO a Maria, tão recomendada por Pio XII, que a definiu como “uma doação total de si por toda a vida e pela eternidade; não uma doação de pura forma ou de puro sentimento, mas um dom efetivo, realizado na intensidade da vida mariana e cristã.” Essa definição, escrevia Mons. Théas, harmoniza-se perfeitamente com a doutrina de São Luís Maria de Montfort, e não poderíamos melhor responder ao desejo do Papa do que adotando, para nos consagrar a Maria, a fórmula de São Luís Maria de Montfort. Doação total que entrega a Maria nossa pessoa e todos os nossos bens, naturais e sobrenaturais; que lhe deixa inteiro e pleno direito de dispor deles segundo sua vontade, para a maior glória de Deus, neste mundo e na eternidade. Não se trata mais de consagrar-lhe uma parte do tempo, uma parte das boas obras; não é somente uma prece, um Lembrai-vos, um terço noturno, uma esmola, um sacrifício ocasional, uma peregrinação, uma festa celebrada. Doravante, não haverá prece, trabalho, fadiga, sofrimento, ato de virtude, ocasião de mérito que não lhe seja previamente dado, confiado, com generosidade de um amor sem limite. Doação total que culmina na vida de união de todos os instantes. Tendo escolhido Maria como Mãe e Senhora, entregamos-lhe a condução de nossa vida espiritual, oferecendo-lhe nossa obediência, uma dependência amada, jamais interrompida. Como ela formou Jesus Cristo, nossa Cabeça, formará também a nós, seus membros vivos e semelhantes. Assim, damos-lhe verdadeiramente o lugar central que lhe pertence no plano divino de nossa redenção e santificação. Essa Consagração é oferecida à livre escolha de cada um. Não é imposta; mas se impõe por si mesma, quando a luz brilha sobre uma alma reta e generosa, que compreendeu que jamais incluirá em demasia a Santa Virgem em sua vida interior. Por isso, em todas as famílias religiosas e dioceses do mundo, almas a acolhem com gratidão e alegria. É uma questão de santificação pessoal, sem limites possíveis. Avancemos com confiança em nossa Preparação. ORAÇÕES Ladainha do Espírito Santo Senhor, tem piedade de nós. Jesus Cristo, tem piedade de nós. Divino Espírito Santo, ouve-nos. Espírito Paráclito, atende-nos. Deus Pai dos céus, tem piedade de nós. Deus Filho, redentor do mundo, tem piedade de nós. Deus Espírito Santo, tem piedade de nós. Santíssima Trindade, que és um só Deus, tem piedade de nós. Espírito da verdade, tem piedade de nós. Espírito da sabedoria, tem piedade de nós. Espírito da inteligência, tem piedade de nós. Espírito da fortaleza, tem piedade de nós. Espírito da piedade, tem piedade de nós. Espírito do bom conselho, tem piedade de nós. Espírito da ciência, tem piedade de nós. Espírito do santo temor, tem piedade de nós. Espírito da caridade, tem piedade de nós. Espírito da alegria, tem piedade de nós. Espírito da paz, tem piedade de nós. Espírito das virtudes, tem piedade de nós. Espírito de toda graça, tem piedade de nós. Espírito da adoção dos filhos de Deus, tem piedade de nós. Purificador das nossas almas, tem piedade de nós. Santificador e guia da Igreja Católica, tem piedade de nós. Distribuidor dos dons celestes, tem piedade de nós. Conhecedor dos pensamentos e das intenções do coração, tem piedade de nós. Doçura dos que começam a te servir, tem piedade de nós. Coroa dos perfeitos, tem piedade de nós. Alegria dos anjos, tem piedade de nós. Luz dos patriarcas, tem piedade de nós. Inspiração dos profetas, tem piedade de nós. Palavra e sabedoria dos apóstolos, tem piedade de nós. Vitória doa mártires, tem piedade de nós. Ciência dos confessores, tem piedade de nós. Pureza das virgens, tem piedade de nós. Unção de todos os santos, tem piedade de nós. Sede-nos propício, perdoa-nos, Senhor. Sede-nos propício, atende-nos, Senhor. De todo o pecado, livra-nos, Senhor. De todas as tentações e ciladas do demônio, livra-nos, Senhor. De toda a presunção e desesperação, livra-nos, Senhor. Do ataque à verdade conhecida, livra-nos, Senhor. Da inveja da graça fraterna, livra-nos, Senhor. De toda a obstinação e impenitência, livra-nos, Senhor. De toda a negligência e tepor do espírito, livra-nos, Senhor. De toda a impureza da mente e do corpo, livra-nos, Senhor. De todas as heresias e erros, livra-nos, Senhor. De todo o mau espírito, livra-nos, Senhor. Da morte má e eterna, livra-nos, Senhor. Pela tua eterna procedência do Pai e do Filho, livra-nos, Senhor. Pela milagrosa conceição do Filho de Deus, livra-nos, Senhor. Pela tua descida sobre Jesus Cristo batizado, livra-nos, Senhor. Pela tua santa aparição na transfiguração do Senhor, livra-nos, Senhor. Pela tua vinda sobre os discípulos do Senhor, livra-nos, Senhor. No dia do juízo, livra-nos, Senhor. Ainda que pecadores, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que nos perdoes, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes vivificar e santificar todos os membros da Igreja, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes conceder-nos o dom da verdadeira piedade, devoção e oração, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes inspirar-nos sinceros afetos de misericórdia e de caridade, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes criar em nós um espírito novo e um coração puro, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes conceder-nos verdadeira paz e tranquilidade no coração, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes fazer-nos dignos e fortes, para suportar as perseguições pela justiça, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes confirmar-nos em tua graça, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes receber-nos no número dos teus eleitos, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes ouvir-nos, nós vos rogamos, ouví-nos. Espírito de Deus, nós vos rogamos, ouví-nos. Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, envia-nos o Espírito Santo. Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, manda-nos o Espírito prometido do Pai. Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, dá-nos o Espírito bom. Espírito Santo, ouví-nos. Espírito Consolador, atendei-nos. ℣. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado. ℟. E renovareis a face da terra. Oremos: Deus, que instruístes o coração de vossos fiéis, com a luz do Espírito Santo, concedei-nos que, no mesmo Espírito, conheçamos o que é reto, e gozemos sempre as suas consolações. Por Cristo, Nosso Senhor. Amém. Ladainha de Nossa Senhora Senhor, tende piedade de nós. Cristo, tende piedade de nós. Senhor, tende piedade de nós. Santa Maria, rogai por nós. Santa Mãe de Deus, rogai por nós. Santa Virgem das Virgens, rogai por nós. Mãe de Cristo, rogai por nós. Mãe da Igreja, rogai por nós. Mãe de misericórdia, rogai por nós. Mãe da divina graça, rogai por nós. Mãe da esperança, rogai por nós. Mãe puríssima, rogai por nós. Mãe castíssima, rogai por nós. Mãe sempre virgem, rogai por nós. Mãe imaculada, rogai por nós. Mãe amável, rogai por nós. Mãe admirável, rogai por nós. Mãe do bom conselho, rogai por nós. Mãe do Criador, rogai por nós. Mãe do Salvador, rogai por nós. Virgem prudentíssima, rogai por nós. Virgem venerável, rogai por nós. Virgem louvável, rogai por nós. Virgem poderosa, rogai por nós. Virgem clemente, rogai por nós. Virgem fiel, rogai por nós. Espelho de justiça, rogai por nós. Sede de sabedoria, rogai por nós. Causa da nossa alegria, rogai por nós. Vaso espiritual, rogai por nós. Vaso honorífico, rogai por nós. Vaso insigne de devoção, rogai por nós. Rosa mística, rogai por nós. Torre de Davi, rogai por nós. Torre de marfim, rogai por nós. Casa de ouro, rogai por nós. Arca da aliança, rogai por nós. Porta do céu, rogai por nós. Estrela da manhã, rogai por nós. Saúde dos enfermos, rogai por nós. Refúgio dos pecadores, rogai por nós. Conforto dos migrantes, rogai por nós. Consoladora dos aflitos, rogai por nós. Auxílio dos cristãos, rogai por nós. Rainha dos anjos, rogai por nós. Rainha dos patriarcas, rogai por nós. Rainha dos profetas, rogai por nós. Rainha dos apóstolos, rogai por nós. Rainha dos mártires, rogai por nós. Rainha dos confessores, rogai por nós. Rainha das virgens, rogai por nós. Rainha de todos os santos, rogai por nós. Rainha concebida sem pecado original, rogai por nós. Rainha assunta ao céu, rogai por nós. Rainha do santo rosário, rogai por nós. Rainha da família, rogai por nós. Rainha da paz, rogai por nós. Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, perdoai-nos, Senhor. Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, ouvi-nos, Senhor. Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós. ℣. Rogai por nós, Santa Mãe de Deus. ℟. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo. Oremos: Senhor Deus, nós Vos suplicamos que concedais aos vossos servos perpétua saúde de alma e de corpo; e que, pela gloriosa intercessão da bem-aventurada sempre Virgem Maria, sejamos livres da presente tristeza e gozemos da eterna alegria. Por Cristo Nosso Senhor. Amém. Ave maris stella (Ave, do mar Estrela) (Latim) 1. Ave maris stella, Dei Mater alma, Atque semper Virgo, Felix cæli porta. 2. Sumens illud Ave Gabrielis ore, Funda nos in pace, Mutans Hevæ nomen. 3. Solve vincla reis, Profer lumen cæcis, Mala mostra pelle, Bona cuncta posce. 4. Monstra te esse matrem, Sumat per te preces, Qui pro nobis natus Tulit esse tuus. 5. Virgo singularis, Inter omnes mitis, Nos, culpis solutos, Mites fac et castos. 6. Vitam præsta puram Iter para tutum, Ut, videntes Jesum, Semper collætemur. 7. Sit laus Deo Patri, Summo Christo decus, Spiritui Sancto, Tribus honor unus. Amen. (Vernáculo) 1. Ave, do mar Estrela De Deus mãe bela, Sempre virgem, da morada Celeste Feliz entrada. 2. Ó tu que ouviste da boca Do anjo a saudação; Dá-nos a paz e quietação; E o nome da Eva troca. 3. As prisões aos réus desata. E a nós cegos alumia; De tudo que nos maltrata Nos livra, o bem nos granjeia. 4. Ostenta que és mãe, fazendo Que os rogos do povo seu Ouça aquele que, nascendo Por nós, quis ser filho teu. 5. Ó virgem especiosa, Toda cheia de ternura, Extintos nossos pecados Dá-nos pureza e brandura, 6. Dá-nos uma vida pura, Põe-nos em via segura, Para que a Jesus gozemos, E sempre nos alegremos. 7. A Deus Pai veneremos: A Jesus Cristo também: E ao Espírito Santo; demos Aos três um louvor. Amém. Reze um Rosário completo ou ao menos um terço. |
Dia 20: Mãe do Cristo totalSão Luís Maria de Montfort já nos deixou entrever a grandeza dessa Maternidade única da Santíssima Virgem, ao mostrar-nos Deus Pai e Deus Espírito Santo dando a Maria o poder de gerar Jesus Cristo, Verbo encarnado, e todos os membros de seu Corpo místico. (n. 17 e 20.)Este é o momento de dedicar nossa meditação a esse mistério de graça, tão pouco conhecido por um grande número de almas, mesmo devotadas a Maria. Peçamos suas luzes ao Espírito Santo, para bem compreender que não há em Maria senão uma só Maternidade. Temos o costume, e com razão, de distinguir sua Maternidade divina e sua Maternidade espiritual; mas, na realidade, essa dupla Maternidade se resume a uma só: Maria é a Mãe do Cristo total, ou seja, ao mesmo tempo Mãe de Jesus Redentor e de seus resgatados, contidos nele espiritualmente. Essa maternidade completa de Maria se desdobrou em três fases: no dia da Anunciação, a Virgem nos CONCEBEU no Cristo para a vida sobrenatural; durante os trinta e três anos da existência terrena do Salvador, ela nos CARREGOU em seu Coração doloroso; sobre o Calvário, perto da Cruz de seu divino Filho que expirava, ela nos GEROU com o preço de seus sofrimentos corredentores. Que amor ilimitado devemos-lhe em gratidão ao que ela quis suportar para nos dar a vida! Ave, Maria. I. O que importa compreender bem, em primeiro lugar, é que a Santíssima Virgem concebeu de modo muito perfeito o Cristo, no dia da Anunciação. Em virtude das luzes que inundavam sua alma, ela o concebeu, não somente de maneira corporal em seu ventre, mas antes de tudo de maneira espiritual em sua inteligência e em seu coração. Ela o concebia enquanto Redentor unido aos seus resgatados e comunicando-lhes a vida sobrenatural. No momento de consentir com tal Maternidade, Maria não podia ignorar que a obra redentora seria dolorosa. Ela já gozava então de sua ciência infusa de Imaculada. Durante sua permanência no Templo de Jerusalém, uma ciência adquirida dos Livros santos fizera-lhe conhecer todos os detalhes concernentes ao Messias anunciado pelos Profetas: não um Messias glorioso, conquistador de um reino terrestre, mas um Homem de dores, vindo resgatar por meio de seu sangue a humanidade culpada. As palavras tão significativas do anjo repetiam-no ainda: “Eis que conceberás no teu ventre, e darás à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus” (Lc 1, 31), que significa Salvador… Acrescentemos a incursão do Espírito Santo que sobreveio nela nesse minuto inesquecível, para operar o prodígio de sua Maternidade virginal. Tudo contribuía, então, para inundar sua alma de luzes intensas sobre o destino Daquele que seria seu Filho. Ela sabia que dava ao mundo uma Vítima. Sabia que ela mesma se tornava Mãe de dores. Prévia e generosamente, ela aceitava todos os sofrimentos de Jesus e unia a eles os seus. Com pleno conhecimento de causa, ela concebia, então, Jesus, enquanto Redentor, isto é, com todos os que crerem nele e se beneficiarem das graças de sua Redenção. Foi assim que em Nazaré a Virgem concebeu de modo muito perfeito o Cristo, com toda a sua alma, inteligência e vontade, antes mesmo de dar-lhe corpo em sua carne e em seu sangue. Prius mente quam corpore, disseram os Padres da Igreja. É por isso que não seria exato dizer que ela concebia Jesus corporalmente, e nós, espiritualmente. É preciso dizer que ela concebia Jesus em sua plenitude, ao mesmo tempo corporalmente e espiritualmente: corporalmente, enquanto homem, o Homem-Deus com seu corpo natural ou físico; espiritualmente, enquanto Salvador dos homens, com seu corpo espiritual ou místico. E essa concepção espiritual, que abrangia a todos nós, precedeu a outra, Maria sendo então, nas mãos de Deus, não um instrumento cego, mas um instrumento livre, que dá seu consentimento com a clara intelecção do mistério. Maternidade única, Maternidade transcendente; nenhuma outra pode ser comparada a ela. E eis a primeira fase da Maternidade ao mesmo tempo divina e espiritual de Maria. A Virgem da Anunciação começou a se tornar nossa Mãe desde o instante em que se tornava a Mãe de Jesus Redentor. Estávamos presentes no seu pensamento e no seu amor. Importa-nos refletir sobre isso. II. Na noite de Natal, no estábulo de Belém, Maria dá à luz Jesus; mas não dará à luz seus resgatados senão sobre o Calvário. Assim ordenou o Pai. Pois a morte dolorosa do Salvador era necessária para que recebêssemos a vida. A divina Vítima não reconciliou os homens com o Pai e não os tornou participantes de sua filiação senão por meio de seu sacrifício sangrento. Nada nos faz compreender melhor como a Maternidade da Santa Virgem é uma Maternidade corredentora, como somos verdadeiramente os filhos de suas dores. Durante trinta e três anos, ela vai se afligir e sofrer por nós. Todas as suas ações, unidas às do seu divino Filho, contribuirão para a salvação de nossas almas. Quando apresenta ao Templo de Jerusalém seu recém-nascido de quarenta dias, não ignora que essa oferta é o prelúdio da oferta da Cruz. Simeão diz-lho, pois entrevia desde então o gládio que traspassaria seu coração materno. Quando parte do Egito à noite, para escapar da fúria de Herodes, seus olhos descobrem, no pequeno ser que repousa em seus braços, a Vítima destinada a uma morte violenta. Mais tarde, ao encontrar Jesus no Templo, os três dias de busca angustiada foram para sua alma uma preparação providencial para os três dias de solidão da Paixão. Quando Jesus trabalhava a madeira e o ferro na oficina de Nazaré, como não pensar na cruz e nos pregos do Gólgota? Os Profetas anunciaram as mãos e os pés traspassados do Salvador (Sl 21, 17). Durante os anos da vida pública, quanto não deve ter sofrido diante do desdém e desprezo de seus compatriotas de Nazaré, que o expulsaram da cidade (Lc 4); da ingratidão dos ribeirinhos do lago de Genesaré, testemunhas de tantos milagres; da deserção de muitos discípulos após a multiplicação dos pães (Jo 6); da inveja tenaz dos fariseus; da vontade resoluta dos chefes religiosos de matá-lo? Como não pressentir a aproximação da Páscoa sangrenta? Assim, em cada dia e em cada hora, a Virgem podia dizer: sofro e imolo-me com meu Jesus pelos filhos que carrego em meu espírito e em meu coração. Por eles, colaboro com a obra redentora. Ela é a Mulher forte que atravessa com um coração magnânimo esses longos anos da gestação de nossas almas. É-nos agradável pensar que a Virgem tinha presentes ao seu pensamento e ao seu amor os fiéis da Igreja de seu divino Filho. Em Belém, via nos pastores as almas simples e retas que viriam ao Cristo. Os magos representavam as multidões longínquas, desejosas de verdade e salvação. No Egito, os adoradores dos ídolos a faziam pensar na imensa massa de pagãos que ainda desconhecem o Evangelho. Na tranquilidade de Nazaré, Maria pensava nos futuros habitantes dos claustros, nos contempladores, místicos, virgens, em todos os corações amorosos que viriam beber na mesma fonte de vida onde ela saciava a sede de seu coração. Nas bodas de Caná, entrevia o cortejo das almas eucarísticas; e na pessoa dos Apóstolos, na Quinta-Feira Santa, via a sucessão dos sacerdotes e pontífices, continuadores das obras de seu Filho. Mas sempre, e principalmente na Paixão, seus olhos não se desviavam dos pecadores, dos que, após a Cruz e os sacramentos, continuariam a cometer a iniquidade. Como esses tornavam dolorosa sua gestação! Conseguiria arrancá-los do inferno? Gerá-los-ia para a vida eterna? Para quantos o sangue de seu Filho seria inutilmente derramado? Sim, os pecadores, todos os pobres pecadores — os ladrões penitentes, as Madalenas arrependidas, os pródigos de todos os séculos que retornariam à casa do Pai, e aqueles que jamais desejariam voltar — tornavam cada vez mais pesado o fardo de sua Maternidade. Diante do aparente fracasso das pregações e dos milagres do Salvador, ela compreendia quanto era necessário de preces, privações, aflições, trabalhos, fadigas; quanto custaria de sangue e de lágrimas o resgate de uma só alma no pecado. A traição de Judas, o julgamento de Caifás, o escárnio de Herodes, os tormentos da flagelação e da coroação de espinhos, a condenação à morte, a subida do caminho doloroso diziam-no cruelmente. III. Eis-nos precisamente no parto do Calvário. O de Belém só conhecera a alegria do êxtase. Não poderia ser de outro modo. Como a estrela projeta sua luz, assim a Virgem produzira ao mundo seu Primogênito. Esse Primogênito era sem pecado. Ele era o Homem-Deus, o Verbo feito carne, a fonte de toda graça, o princípio de toda santificação e santidade. Ele era a causa meritória da Imaculada Conceição de sua Mãe. Agora, ele a agraciava ainda mais, fazendo-a entrar na família de Deus pelos laços de uma verdadeira consanguinidade. Sem abandonar sua humildade, incorporando-a até mais, Maria não podia senão estremecer com um júbilo que jamais conhecerão os corações reunidos dos maiores extáticos. Que contraste, agora, entre a radiosa noite de Natal e o dia tenebroso do Calvário! Nessas trevas que se acumulam acima da Cruz e sobre a terra inteira, Maria pode ver outra coisa além da imagem do pecado? Não é o inferno a noite eterna? Tudo, aliás, sobre o monte do Gólgota, não lhe apresenta o espectro do pecado? Os judeus que caçoam e blasfemam, os soldados que cumprem friamente seu cínico serviço, e sobretudo a divina Vítima, seu Filho que se tornara irreconhecível, coberto, dos pés à cabeça, da imunda lepra de nossos pecados. Ei-lo feito “pecado”, a fim de expiar sobre sua carne inocente nossos crimes incontáveis, nossas ofensas à Majestade e à Santidade de Deus. Das chagas de Jesus crucificado, de sua alma sofredora e orante, sobe ao Céu uma virtude redentora, elevada ao seu grau supremo. Ela vai diretamente ao coração do Pai, para recair em seguida sobre a terra em graças incontáveis de reconciliação e de perdão. Maria acolhe todas essas graças em sua alma consternada e distribui-as à humanidade inteira. Ela oferece por nós sua própria vida e seus sofrimentos, ao mesmo tempo em que oferece a vida e os sofrimentos de Jesus. Ela nos gera para a vida divina de seu Filho que expira. Eram necessários os sofrimentos e a morte do Filho para nos comunicar essa vida. Eram necessários as dores e o martírio da Mãe, a transfixação de sua alma, para o nosso nascimento sobrenatural. Todos os membros do Corpo místico nasceram verdadeiramente ao pé da Cruz. Maria coloca-nos no mundo em conformidade com a grande lei formulada por Deus na noite da queda de nossos primeiros pais: in dolore paries — darás à luz com dor. (Gn 3, 16.) Por isso, Jesus crucificado esperou o momento em que sua obra redentora se consuma, para proclamar a Maternidade total de Maria. Essa Maternidade, que permanecera até então no segredo do mistério da Encarnação, encontra no Calvário seu cumprimento perfeito. Jesus a consagra solenemente. Ele quer, assim, dar à sua palavra e à realidade que ela designa uma gravidade tamanha que será impossível a nós, seus resgatados, refletir seriamente sobre isso sem apreciar imediatamente, como convém, o insigne benefício de nossa regeneração. “Mulher”, diz a Maria o Salvador agonizante — Mulier, isto é, Mãe Corredentora, minha associada, minha colaboradora, a companheira de minha vida e de minha morte, a Mulher predita no paraíso terrestre para esmagar comigo a cabeça da serpente infernal; Mulher, nova Eva, verdadeira Mãe dos vivos, sim, todos os homens, na pessoa do meu discípulo, são vossos filhos, todos os puros e os purificados, lavados em meu sangue, banhados de vossas lágrimas. Inocentes ou penitentes, reconheço-os como meus irmãos amados, porque, por meio de meu Espírito Santo, comunicais e comunicareis a eles, até o fim dos tempos, essa vida que recebo de meu Pai. — João, meu discípulo, e meus sacerdotes, e meus apóstolos, e todos os fiéis de minha Igreja, eis Maria vossa Mãe. Ao me conceber em Nazaré, ela concebia o Corpo espiritual do qual sou a Cabeça. Foi por isso que ela vos carregou em seu Coração doloroso durante os anos de minha vida terrena. Agora que vou morrer, ela vos gera para esta vida de graça que minha Paixão e sua Compaixão conquistam para vós. ---- Assim, a Santíssima Virgem é verdadeiramente Mãe da Igreja, Corpo místico de Jesus Cristo. Ela é a Mãe de todos os homens, sem exceção. Mãe até mesmo dos pagãos, ainda que de maneira muito imperfeita, no sentido de que ela, e somente ela, é chamada a gerá-los um dia para a vida sobrenatural. Do alto do Céu, onde reina hoje, Maria obtém-lhes, por sua intercessão, as graças atuais, as graças de aproximação, que os dispõem à luz da fé e à justificação. Ela é a Mãe dos cristãos que vivem em estado de pecado mortal, porque os gerou para a vida da graça santificadora no dia do batismo, e porque procura sempre obter para eles as graças que desenvolvem a fé e a esperança, e os prepara, assim, para a conversão. Eles não têm mais a caridade, porque não têm mais a graça santificadora; mas a fé e a esperança podem subsistir ainda, e é isto que torna possível a sua conversão. Quanto aos batizados que permanecem na graça e na caridade, Maria é sua Mãe de modo muito perfeito, atenta ao seu contínuo e progressivo crescimento na prática de suas virtudes. Em seu Tratado da Verdadeira Devoção, o Padre de Montfort quis considerar somente estes, os predestinados. Como veremos na meditação que segue, ele examina a Maternidade espiritual de Maria em relação aos eleitos, isto é, àqueles que a Virgem gerará para a vida da glória. E isto é muito adequado; pois, na realidade, somente esses contam. Portanto, somente dos pecadores, saídos deste mundo na impenitência final, ela não é Mãe. Ela foi, mas não é mais. Como Raquel, e mais do que Raquel chorando seus filhos mortos, Maria permanece inconsolável: Renuit consolari, quia non sunt. (Mt 2, 18.) Eles não existem mais para ela, estão eternamente mortos. Quanto a fizeram sofrer sobre o Calvário! Quanto a nós, que desejamos viver eternamente, não esqueçamos jamais que somos o fruto de suas dores, nós, seus verdadeiros filhos, os irmãos de seu Primogênito. ORAÇÕES Ladainha do Espírito Santo Senhor, tem piedade de nós. Jesus Cristo, tem piedade de nós. Divino Espírito Santo, ouve-nos. Espírito Paráclito, atende-nos. Deus Pai dos céus, tem piedade de nós. Deus Filho, redentor do mundo, tem piedade de nós. Deus Espírito Santo, tem piedade de nós. Santíssima Trindade, que és um só Deus, tem piedade de nós. Espírito da verdade, tem piedade de nós. Espírito da sabedoria, tem piedade de nós. Espírito da inteligência, tem piedade de nós. Espírito da fortaleza, tem piedade de nós. Espírito da piedade, tem piedade de nós. Espírito do bom conselho, tem piedade de nós. Espírito da ciência, tem piedade de nós. Espírito do santo temor, tem piedade de nós. Espírito da caridade, tem piedade de nós. Espírito da alegria, tem piedade de nós. Espírito da paz, tem piedade de nós. Espírito das virtudes, tem piedade de nós. Espírito de toda graça, tem piedade de nós. Espírito da adoção dos filhos de Deus, tem piedade de nós. Purificador das nossas almas, tem piedade de nós. Santificador e guia da Igreja Católica, tem piedade de nós. Distribuidor dos dons celestes, tem piedade de nós. Conhecedor dos pensamentos e das intenções do coração, tem piedade de nós. Doçura dos que começam a te servir, tem piedade de nós. Coroa dos perfeitos, tem piedade de nós. Alegria dos anjos, tem piedade de nós. Luz dos patriarcas, tem piedade de nós. Inspiração dos profetas, tem piedade de nós. Palavra e sabedoria dos apóstolos, tem piedade de nós. Vitória doa mártires, tem piedade de nós. Ciência dos confessores, tem piedade de nós. Pureza das virgens, tem piedade de nós. Unção de todos os santos, tem piedade de nós. Sede-nos propício, perdoa-nos, Senhor. Sede-nos propício, atende-nos, Senhor. De todo o pecado, livra-nos, Senhor. De todas as tentações e ciladas do demônio, livra-nos, Senhor. De toda a presunção e desesperação, livra-nos, Senhor. Do ataque à verdade conhecida, livra-nos, Senhor. Da inveja da graça fraterna, livra-nos, Senhor. De toda a obstinação e impenitência, livra-nos, Senhor. De toda a negligência e tepor do espírito, livra-nos, Senhor. De toda a impureza da mente e do corpo, livra-nos, Senhor. De todas as heresias e erros, livra-nos, Senhor. De todo o mau espírito, livra-nos, Senhor. Da morte má e eterna, livra-nos, Senhor. Pela tua eterna procedência do Pai e do Filho, livra-nos, Senhor. Pela milagrosa conceição do Filho de Deus, livra-nos, Senhor. Pela tua descida sobre Jesus Cristo batizado, livra-nos, Senhor. Pela tua santa aparição na transfiguração do Senhor, livra-nos, Senhor. Pela tua vinda sobre os discípulos do Senhor, livra-nos, Senhor. No dia do juízo, livra-nos, Senhor. Ainda que pecadores, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que nos perdoes, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes vivificar e santificar todos os membros da Igreja, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes conceder-nos o dom da verdadeira piedade, devoção e oração, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes inspirar-nos sinceros afetos de misericórdia e de caridade, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes criar em nós um espírito novo e um coração puro, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes conceder-nos verdadeira paz e tranquilidade no coração, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes fazer-nos dignos e fortes, para suportar as perseguições pela justiça, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes confirmar-nos em tua graça, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes receber-nos no número dos teus eleitos, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes ouvir-nos, nós vos rogamos, ouví-nos. Espírito de Deus, nós vos rogamos, ouví-nos. Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, envia-nos o Espírito Santo. Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, manda-nos o Espírito prometido do Pai. Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, dá-nos o Espírito bom. Espírito Santo, ouví-nos. Espírito Consolador, atendei-nos. ℣. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado. ℟. E renovareis a face da terra. Oremos: Deus, que instruístes o coração de vossos fiéis, com a luz do Espírito Santo, concedei-nos que, no mesmo Espírito, conheçamos o que é reto, e gozemos sempre as suas consolações. Por Cristo, Nosso Senhor. Amém. Ladainha de Nossa Senhora Senhor, tende piedade de nós. Cristo, tende piedade de nós. Senhor, tende piedade de nós. Santa Maria, rogai por nós. Santa Mãe de Deus, rogai por nós. Santa Virgem das Virgens, rogai por nós. Mãe de Cristo, rogai por nós. Mãe da Igreja, rogai por nós. Mãe de misericórdia, rogai por nós. Mãe da divina graça, rogai por nós. Mãe da esperança, rogai por nós. Mãe puríssima, rogai por nós. Mãe castíssima, rogai por nós. Mãe sempre virgem, rogai por nós. Mãe imaculada, rogai por nós. Mãe amável, rogai por nós. Mãe admirável, rogai por nós. Mãe do bom conselho, rogai por nós. Mãe do Criador, rogai por nós. Mãe do Salvador, rogai por nós. Virgem prudentíssima, rogai por nós. Virgem venerável, rogai por nós. Virgem louvável, rogai por nós. Virgem poderosa, rogai por nós. Virgem clemente, rogai por nós. Virgem fiel, rogai por nós. Espelho de justiça, rogai por nós. Sede de sabedoria, rogai por nós. Causa da nossa alegria, rogai por nós. Vaso espiritual, rogai por nós. Vaso honorífico, rogai por nós. Vaso insigne de devoção, rogai por nós. Rosa mística, rogai por nós. Torre de Davi, rogai por nós. Torre de marfim, rogai por nós. Casa de ouro, rogai por nós. Arca da aliança, rogai por nós. Porta do céu, rogai por nós. Estrela da manhã, rogai por nós. Saúde dos enfermos, rogai por nós. Refúgio dos pecadores, rogai por nós. Conforto dos migrantes, rogai por nós. Consoladora dos aflitos, rogai por nós. Auxílio dos cristãos, rogai por nós. Rainha dos anjos, rogai por nós. Rainha dos patriarcas, rogai por nós. Rainha dos profetas, rogai por nós. Rainha dos apóstolos, rogai por nós. Rainha dos mártires, rogai por nós. Rainha dos confessores, rogai por nós. Rainha das virgens, rogai por nós. Rainha de todos os santos, rogai por nós. Rainha concebida sem pecado original, rogai por nós. Rainha assunta ao céu, rogai por nós. Rainha do santo rosário, rogai por nós. Rainha da família, rogai por nós. Rainha da paz, rogai por nós. Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, perdoai-nos, Senhor. Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, ouvi-nos, Senhor. Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós. ℣. Rogai por nós, Santa Mãe de Deus. ℟. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo. Oremos: Senhor Deus, nós Vos suplicamos que concedais aos vossos servos perpétua saúde de alma e de corpo; e que, pela gloriosa intercessão da bem-aventurada sempre Virgem Maria, sejamos livres da presente tristeza e gozemos da eterna alegria. Por Cristo Nosso Senhor. Amém. Ave maris stella (Ave, do mar Estrela) (Latim) 1. Ave maris stella, Dei Mater alma, Atque semper Virgo, Felix cæli porta. 2. Sumens illud Ave Gabrielis ore, Funda nos in pace, Mutans Hevæ nomen. 3. Solve vincla reis, Profer lumen cæcis, Mala mostra pelle, Bona cuncta posce. 4. Monstra te esse matrem, Sumat per te preces, Qui pro nobis natus Tulit esse tuus. 5. Virgo singularis, Inter omnes mitis, Nos, culpis solutos, Mites fac et castos. 6. Vitam præsta puram Iter para tutum, Ut, videntes Jesum, Semper collætemur. 7. Sit laus Deo Patri, Summo Christo decus, Spiritui Sancto, Tribus honor unus. Amen. (Vernáculo) 1. Ave, do mar Estrela De Deus mãe bela, Sempre virgem, da morada Celeste Feliz entrada. 2. Ó tu que ouviste da boca Do anjo a saudação; Dá-nos a paz e quietação; E o nome da Eva troca. 3. As prisões aos réus desata. E a nós cegos alumia; De tudo que nos maltrata Nos livra, o bem nos granjeia. 4. Ostenta que és mãe, fazendo Que os rogos do povo seu Ouça aquele que, nascendo Por nós, quis ser filho teu. 5. Ó virgem especiosa, Toda cheia de ternura, Extintos nossos pecados Dá-nos pureza e brandura, 6. Dá-nos uma vida pura, Põe-nos em via segura, Para que a Jesus gozemos, E sempre nos alegremos. 7. A Deus Pai veneremos: A Jesus Cristo também: E ao Espírito Santo; demos Aos três um louvor. Amém. Reze um Rosário completo ou ao menos um terço. |
Dia 21: Mãe dos predestinadosSem perder de vista a Maternidade divina de Maria, estritamente ligada à sua Maternidade espiritual, consideremos mais especialmente esta última em relação à formação dos predestinados, isto é, dos membros do Cristo que a Virgem deve um dia gerar para a glória, o que é a firme esperança de todos nós.Esse ponto de vista é muito caro ao Padre de Montfort. Se, na parte central de sua Consagração, ele nos faz escolher Maria “como nossa Mãe e Senhora”, Mater e Domina, é precisamente para que lhe deixemos toda liberdade para conduzir sua Maternidade de graça até seu bem-aventurado termo. Mãe, ela não deixa de nos transmitir a vida divina; Senhora, ela nos possui e nos molda à semelhança de seu Filho primogênito. Consideremo-la primeiramente no exercício de sua Maternidade em relação a nós, em colaboração com as três Pessoas divinas. Apreciemos melhor, na meditação do Quarto Dia, a realidade de sua Dominação no mais íntimo de nossas almas. Comentando um texto do Eclesiástico (24, 8), Montfort explica como a Santíssima Virgem recebeu a missão de dar ao Pai verdadeiros FILHOS, ao Filho, MEMBROS muito vivos, ao Espírito Santo, TEMPLOS de santidade ornados com suas virtudes sublimes. Peçamos a Maria que nos ajude a penetrar nesse mistério de nossa formação sobrenatural. Ave, Maria. I. “DEUS PAI deseja gerar filhos para si, por intermédio de Maria, até a consumação dos séculos, e diz-lhe esta palavra: In Jacob inhabita, isto é, fazei vossa morada em meus filhos e predestinados, simbolizados por Jacó, e não nos filhos do diabo e nos reprovados, simbolizados por Esaú.” (V. D., n. 29.) Permanecei de maneira permanente em seu interior, para continuar a comunicar-lhes minha vida divina, a graça santificante recebida no batismo. Eu quis que eles fossem vossos filhos, ao mesmo tempo que meus, associando-vos à minha fecundidade de amor, como vos associei à minha fecundidade natural. Haverá, pois, na geração espiritual, assim como na geração corporal, um pai e uma mãe, um Pai que é Deus e uma Mãe que é Maria. O Pai dos Céus não comunicará de outro modo sua vida divina. Nenhuma exceção se fará a essa disposição misericordiosa, admirável condescendência às inclinações do coração humano. Somente Maria, e até o fim dos séculos, poderá dar ao Pai seus verdadeiros filhos; e será sempre verdade que aquele “que não tem Maria como Mãe não tem Deus como Pai”. Reconheceremos os reprovados pelo sinal de que eles mesmos rejeitaram Maria, tal como os hereges, os homens de má doutrina, que têm ódio, desprezo ou indiferença pela Santíssima Virgem. Eles não desejam se conformar ao plano divino de nossa regeneração sobrenatural. “Ai de mim! – geme Montfort, Deus Pai não disse a Maria que fizesse sua morada neles, porque são Esaús.” (n. 30.) II. “DEUS FILHO quer se formar, e, por assim dizer, se encarnar todos os dias, por intermédio de sua cara Mãe, em seus membros, e diz-lhe: In Israel haereditare. Tende Israel por herança…”, isto é, os predestinados, que são os herdeiros de meu Reino celestial. Eu vos atribuo esta parte de escolha, reservando-me – segundo a vontade de meu Pai – ser o Juiz de todos, dos bons e dos maus. Nossa Senhora tem, pois, em sua propriedade pessoal, todos os que partirão deste mundo em estado de graça. A ela cabe moldá-los como membros do Cristo Jesus, seus membros sãos, robustos, vigorosos. “E como sua boa Mãe, vós os gerareis, alimentareis, criareis; e como sua Soberana, vós os conduzireis, governareis e defendereis.” (n. 31.) Assim é assegurada sua chegada, um dia, ao Céu, sua participação na glória eterna. Porque “Jesus Cristo, Cabeça dos homens, nasceu em Maria, os predestinados – que são os membros dessa Cabeça – devem também nascer nela por uma consequência necessária. Pois tanto na ordem da graça quanto na ordem da natureza, uma mesma mãe não põe no mundo a cabeça sem os membros, nem os membros sem a cabeça.” Maria, como vimos, é Mãe do Cristo total, de modo que “podemos aplicar a ela, com mais verdade do que São Paulo as aplica a si mesmo, estas palavras: Quos iterum parturio, donec formetur Christus in vobis (Gl 4, 19): gero todos os dias os filhos de Deus, até que Jesus Cristo, meu Filho, seja formado neles na plenitude de sua idade” sobre a terra, tendo cada um atingido sua medida de graça, seu grau de semelhança. E é aqui que Montfort relata o notável testemunho do Bispo de Hipona em seu Tratado sobre o Símbolo, dirigido aos catecúmenos (Liv. IV, cap. I): “Santo Agostinho, superando-se a si mesmo, e a tudo o que acabo de dizer, ensina que todos os predestinados, para se conformarem à imagem do Filho de Deus, estão neste mundo escondidos no seio da Santíssima Virgem, onde são guardados, alimentados, criados e desenvolvidos por essa boa Mãe, até que ela os gere para a glória, após a morte, que é propriamente o dia de seu nascimento, como a Igreja denomina a morte dos justos.” (n. 33.) Na noite de Natal, Maria se separou do corpo físico de Jesus, mas não de seu Corpo místico; e não se separará dele enquanto viver um predestinado sobre a terra. Nossa vida inteira de graça santificante é, assim, se a compreendemos bem, uma morada contínua em Maria, no seio de Maria, in sinu Mariae: infância, crescimento, maturidade espiritual. Extraímos nossa vida divina do belo interior de onde Jesus extraiu sua vida humana, do ventre que ele santificou e onde deixou para nós graças inesgotáveis. Não é esse o mistério da Encarnação vivido pelos eleitos? Infelizmente, esse mistério de nossa sobrenatural formação em Maria continua pouco conhecido até mesmo pelos predestinados. A insistência de Montfort em relembrá-lo mostra a que ponto desejava nos ver tomar consciência dele. Apreciemos dedicar-lhe nossa meditação, e façamos as almas que buscam a luz conhecerem esse segredo de santidade. Como fez observar Mons. Suenens, há uma enorme diferença entre a devoção mariana ordinária e corrente e essa vida de união contínua respirada no seio de Maria. III. “DEUS ESPÍRITO SANTO quer formar para si, em Maria e por intermédio de Maria, eleitos, e diz-lhe: In electis meis mitte radices. Lançai, minha Amada e minha Esposa, as raízes de todas as vossas virtudes em meus eleitos, a fim de que eles cresçam de virtude em virtude e de graça em graça.” (n. 34.) Doce hóspede das almas interiores, o Espírito Santo vigia e assegura sua santificação progressiva, seu crescimento místico. Para essa obra de amor, recorre tanto mais a Maria porque ela mesma sempre foi “sua Amada e sua Esposa”. Na manhã da Anunciação, não sobreveio nela para tornar fecunda sua virgindade de Imaculada e permitir-lhe realizar a maravilha da Encarnação do Verbo em seu casto ventre? Com que dileção ornara sua alma com todas as florescências da graça santificante! E que prazer tinha, depois, em contemplar seu prodigioso progresso em todas as virtudes, sob o influxo de seus dons! Por isso, ele agora deseja vê-la se reproduzir misticamente no coração dos eleitos, pela alegria de encontrá-la ainda neste mundo. “Tanto me agradastes, quando vivíeis sobre a terra, na prática das mais sublimes virtudes, que desejo ainda vos encontrar sobre a terra, sem deixar de estar no Céu. Reproduzi-vos, para isto, em meus eleitos: que eu veja neles, com alegria, as raízes de vossa fé invencível, de vossa humildade profunda, de vossa mortificação universal, de vossa oração sublime, de vossa caridade ardente, de vossa esperança firme e de todas as vossas virtudes.” (n. 34.) A alma, de posse da graça santificante e desejosa de seu avanço espiritual, oferece a Maria o rico terreno onde ela pode lançar as raízes de suas virtudes. Segundo a cultura desse terreno, as virtudes vão crescer e desabrochar como flores, cada uma lembrando ao Espírito Santo alguma coisa da beleza interior de sua fiel Esposa. O essencial será, pois, ser uma alma muito viva, muito unida ao Cristo Jesus, dócil para se deixar cultivar pela divina Mãe. O progresso espiritual se acentuará sempre, até produzir uma santidade semelhante. “Que vossa fé, diz ainda a Maria o Espírito Santo, me dê fiéis; que vossa pureza me dê virgens; que vossa fecundidade me dê eleitos e templos” com interiores esplêndidos. (n. 34.) A graça santificante das virtudes e dos dons, tendo-se tornado maternal em Maria, chega a nós impregnada de todas as suavidades de sua alma santíssima. Felizes as almas assim santificadas! “Quando Maria lança suas raízes numa alma, produz maravilhas de graça que só ela pode produzir… Ela produz, com o Espírito Santo, a maior coisa que já existiu e que existirá, que é um Homem-Deus; e produzirá, consequentemente, as maiores coisas que existirão nos últimos tempos. A formação e a educação dos grandes santos que surgirão no fim do mundo estão-lhe reservadas…” (n. 35.) Pois então sobrevirão inesperados Pentecostes íntimos: “Quando o Espírito Santo encontra Maria em uma alma, voa até ela, entra plenamente nela, comunica-se a essa alma abundantemente e tanto quanto ela dá lugar à sua Esposa indissociável…” (n. 36.) Os eleitos deste mundo, santificados por essas admiráveis visitas do Espírito de amor, não são o triunfo da Maternidade de graça de Maria? ---- São Luís Maria de Montfort considera assim essa Maternidade, tal como desejaram as três Pessoas divinas: obra de geração, sem dúvida, mas também e mais profundamente longo trabalho de gestação, no curso do qual os predestinados são progressivamente incorporados ao Cristo-Cabeça e santificados até se tornarem semelhantes à sua Mãe, como era o Filho primogênito. Desse modo, tornam-se semelhantes ao próprio Jesus Cristo; por isso, o Pai os reconhece como seus verdadeiros filhos e os acolherá no último dia. Doutrina penetrante e saborosa, como testemunhava o Pe. Garrigou-Lagrange, O. P.: ela nos faz descobrir nossa filiação mariana mergulhando suas ascendências no mistério do Verbo encarnado, até nas profundezas da Trindade. Montfort banhou longamente nessa doutrina seu espírito e seu coração; é por isso que, avançando sempre de luz em luz, ele não pode deixar de concluir imediatamente pela evidente e plena Dominação da Virgem nas almas dos predestinados. Antes de segui-lo na exposição dessa Soberania maternal, não omitamos a Maria nossa felicidade por saber que vivemos nela, que crescemos nela, para sermos gerados, depois, para a alegria beatífica. Apreciemos descansar no pensamento de que, carregados em seu ventre virginal, somos os verdadeiros viventes esperando por seu nascimento definitivo. Em momento algum, e qualquer que seja o grau de santidade adquirida, podemos viver sem Maria. Ter consciência disso é nossa beatitude neste mundo. ORAÇÕES Ladainha do Espírito Santo Senhor, tem piedade de nós. Jesus Cristo, tem piedade de nós. Divino Espírito Santo, ouve-nos. Espírito Paráclito, atende-nos. Deus Pai dos céus, tem piedade de nós. Deus Filho, redentor do mundo, tem piedade de nós. Deus Espírito Santo, tem piedade de nós. Santíssima Trindade, que és um só Deus, tem piedade de nós. Espírito da verdade, tem piedade de nós. Espírito da sabedoria, tem piedade de nós. Espírito da inteligência, tem piedade de nós. Espírito da fortaleza, tem piedade de nós. Espírito da piedade, tem piedade de nós. Espírito do bom conselho, tem piedade de nós. Espírito da ciência, tem piedade de nós. Espírito do santo temor, tem piedade de nós. Espírito da caridade, tem piedade de nós. Espírito da alegria, tem piedade de nós. Espírito da paz, tem piedade de nós. Espírito das virtudes, tem piedade de nós. Espírito de toda graça, tem piedade de nós. Espírito da adoção dos filhos de Deus, tem piedade de nós. Purificador das nossas almas, tem piedade de nós. Santificador e guia da Igreja Católica, tem piedade de nós. Distribuidor dos dons celestes, tem piedade de nós. Conhecedor dos pensamentos e das intenções do coração, tem piedade de nós. Doçura dos que começam a te servir, tem piedade de nós. Coroa dos perfeitos, tem piedade de nós. Alegria dos anjos, tem piedade de nós. Luz dos patriarcas, tem piedade de nós. Inspiração dos profetas, tem piedade de nós. Palavra e sabedoria dos apóstolos, tem piedade de nós. Vitória doa mártires, tem piedade de nós. Ciência dos confessores, tem piedade de nós. Pureza das virgens, tem piedade de nós. Unção de todos os santos, tem piedade de nós. Sede-nos propício, perdoa-nos, Senhor. Sede-nos propício, atende-nos, Senhor. De todo o pecado, livra-nos, Senhor. De todas as tentações e ciladas do demônio, livra-nos, Senhor. De toda a presunção e desesperação, livra-nos, Senhor. Do ataque à verdade conhecida, livra-nos, Senhor. Da inveja da graça fraterna, livra-nos, Senhor. De toda a obstinação e impenitência, livra-nos, Senhor. De toda a negligência e tepor do espírito, livra-nos, Senhor. De toda a impureza da mente e do corpo, livra-nos, Senhor. De todas as heresias e erros, livra-nos, Senhor. De todo o mau espírito, livra-nos, Senhor. Da morte má e eterna, livra-nos, Senhor. Pela tua eterna procedência do Pai e do Filho, livra-nos, Senhor. Pela milagrosa conceição do Filho de Deus, livra-nos, Senhor. Pela tua descida sobre Jesus Cristo batizado, livra-nos, Senhor. Pela tua santa aparição na transfiguração do Senhor, livra-nos, Senhor. Pela tua vinda sobre os discípulos do Senhor, livra-nos, Senhor. No dia do juízo, livra-nos, Senhor. Ainda que pecadores, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que nos perdoes, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes vivificar e santificar todos os membros da Igreja, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes conceder-nos o dom da verdadeira piedade, devoção e oração, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes inspirar-nos sinceros afetos de misericórdia e de caridade, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes criar em nós um espírito novo e um coração puro, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes conceder-nos verdadeira paz e tranquilidade no coração, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes fazer-nos dignos e fortes, para suportar as perseguições pela justiça, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes confirmar-nos em tua graça, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes receber-nos no número dos teus eleitos, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes ouvir-nos, nós vos rogamos, ouví-nos. Espírito de Deus, nós vos rogamos, ouví-nos. Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, envia-nos o Espírito Santo. Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, manda-nos o Espírito prometido do Pai. Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, dá-nos o Espírito bom. Espírito Santo, ouví-nos. Espírito Consolador, atendei-nos. ℣. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado. ℟. E renovareis a face da terra. Oremos: Deus, que instruístes o coração de vossos fiéis, com a luz do Espírito Santo, concedei-nos que, no mesmo Espírito, conheçamos o que é reto, e gozemos sempre as suas consolações. Por Cristo, Nosso Senhor. Amém. Ladainha de Nossa Senhora Senhor, tende piedade de nós. Cristo, tende piedade de nós. Senhor, tende piedade de nós. Santa Maria, rogai por nós. Santa Mãe de Deus, rogai por nós. Santa Virgem das Virgens, rogai por nós. Mãe de Cristo, rogai por nós. Mãe da Igreja, rogai por nós. Mãe de misericórdia, rogai por nós. Mãe da divina graça, rogai por nós. Mãe da esperança, rogai por nós. Mãe puríssima, rogai por nós. Mãe castíssima, rogai por nós. Mãe sempre virgem, rogai por nós. Mãe imaculada, rogai por nós. Mãe amável, rogai por nós. Mãe admirável, rogai por nós. Mãe do bom conselho, rogai por nós. Mãe do Criador, rogai por nós. Mãe do Salvador, rogai por nós. Virgem prudentíssima, rogai por nós. Virgem venerável, rogai por nós. Virgem louvável, rogai por nós. Virgem poderosa, rogai por nós. Virgem clemente, rogai por nós. Virgem fiel, rogai por nós. Espelho de justiça, rogai por nós. Sede de sabedoria, rogai por nós. Causa da nossa alegria, rogai por nós. Vaso espiritual, rogai por nós. Vaso honorífico, rogai por nós. Vaso insigne de devoção, rogai por nós. Rosa mística, rogai por nós. Torre de Davi, rogai por nós. Torre de marfim, rogai por nós. Casa de ouro, rogai por nós. Arca da aliança, rogai por nós. Porta do céu, rogai por nós. Estrela da manhã, rogai por nós. Saúde dos enfermos, rogai por nós. Refúgio dos pecadores, rogai por nós. Conforto dos migrantes, rogai por nós. Consoladora dos aflitos, rogai por nós. Auxílio dos cristãos, rogai por nós. Rainha dos anjos, rogai por nós. Rainha dos patriarcas, rogai por nós. Rainha dos profetas, rogai por nós. Rainha dos apóstolos, rogai por nós. Rainha dos mártires, rogai por nós. Rainha dos confessores, rogai por nós. Rainha das virgens, rogai por nós. Rainha de todos os santos, rogai por nós. Rainha concebida sem pecado original, rogai por nós. Rainha assunta ao céu, rogai por nós. Rainha do santo rosário, rogai por nós. Rainha da família, rogai por nós. Rainha da paz, rogai por nós. Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, perdoai-nos, Senhor. Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, ouvi-nos, Senhor. Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós. ℣. Rogai por nós, Santa Mãe de Deus. ℟. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo. Oremos: Senhor Deus, nós Vos suplicamos que concedais aos vossos servos perpétua saúde de alma e de corpo; e que, pela gloriosa intercessão da bem-aventurada sempre Virgem Maria, sejamos livres da presente tristeza e gozemos da eterna alegria. Por Cristo Nosso Senhor. Amém. Ave maris stella (Ave, do mar Estrela) (Latim) 1. Ave maris stella, Dei Mater alma, Atque semper Virgo, Felix cæli porta. 2. Sumens illud Ave Gabrielis ore, Funda nos in pace, Mutans Hevæ nomen. 3. Solve vincla reis, Profer lumen cæcis, Mala mostra pelle, Bona cuncta posce. 4. Monstra te esse matrem, Sumat per te preces, Qui pro nobis natus Tulit esse tuus. 5. Virgo singularis, Inter omnes mitis, Nos, culpis solutos, Mites fac et castos. 6. Vitam præsta puram Iter para tutum, Ut, videntes Jesum, Semper collætemur. 7. Sit laus Deo Patri, Summo Christo decus, Spiritui Sancto, Tribus honor unus. Amen. (Vernáculo) 1. Ave, do mar Estrela De Deus mãe bela, Sempre virgem, da morada Celeste Feliz entrada. 2. Ó tu que ouviste da boca Do anjo a saudação; Dá-nos a paz e quietação; E o nome da Eva troca. 3. As prisões aos réus desata. E a nós cegos alumia; De tudo que nos maltrata Nos livra, o bem nos granjeia. 4. Ostenta que és mãe, fazendo Que os rogos do povo seu Ouça aquele que, nascendo Por nós, quis ser filho teu. 5. Ó virgem especiosa, Toda cheia de ternura, Extintos nossos pecados Dá-nos pureza e brandura, 6. Dá-nos uma vida pura, Põe-nos em via segura, Para que a Jesus gozemos, E sempre nos alegremos. 7. A Deus Pai veneremos: A Jesus Cristo também: E ao Espírito Santo; demos Aos três um louvor. Amém. Reze um Rosário completo ou ao menos um terço. |
Dia 22: Senhora dos predestinadosA Soberania de Maria no mais íntimo de nossas almas decorre de sua Maternidade de graça, compreendida em colaboração com as três Pessoas divinas, tal como Montfort acaba de expor.Tudo se concatena suavemente nesse delicioso mistério. Dediquemo-nos a prosseguir nessa meditação: reconhecendo a Maria essa benfazeja DOMINAÇÃO materna; PRIVILÉGIO insigne concedido por Deus; e que faz de nossas almas seu domínio de ESCOLHA. Veni, Sancte Spiritus! Ave, Maria. I. A DOMINAÇÃO MATERNA DE MARIA. Depois de ter exposto sua luminosa maneira de conceber a Maternidade de graça da Santíssima Virgem, Montfort logo acrescenta: “Devemos concluir evidentemente do que acabo de dizer que Maria recebeu de Deus uma grande dominação nas almas dos eleitos…” (n. 37.) Como poderia ela, com efeito, dar ao Pai celeste verdadeiros filhos, permanecer no santuário de sua alma para comunicar-lhes incessantemente a vida divina recebida no batismo, se não tivesse poder e autoridade sobre eles? Como poderia ela dar ao Cristo-Cabeça membros vivos, tendo cada um uma fisionomia particular e uma função especial no Corpo místico, e para isso formá-los, alimentá-los, criá-los, conduzi-los, defendê-los, e finalmente gerá-los para a vida eterna, se não possuísse sobre eles direitos incontestáveis? Como poderia ela, também, dar ao Espírito Santo eleitos e templos, maravilhas de santidade, e implantar-se, enraizar-se neles, reproduzir-se neles no esplendor de suas virtudes, se não tivesse uma dominação real até em suas profundezas mais secretas, lá onde se esconde a ação misteriosa do divino Paracleto? Em verdade, “Maria não pode fazer todas essas coisas, se não tiver direito e dominação em suas almas.” (n. 37.) É preciso, pois, afirmar – visto que é evidente – que a Santíssima Virgem, Geradora, Formadora e Santificadora dos predestinados, recebeu de Deus esse elevado poder espiritual. A Mãe das almas, viventes da vida de Jesus, deve ser também sua Senhora ou Soberana. Deve ter em suas mãos o poder de governá-las interiormente, ao longo de sua caminhada de graça neste mundo. II. São Luís Maria de Montfort chama essa Dominação interior “uma GRAÇA SINGULAR do Altíssimo.” (n. 37.) Deus, com efeito, reservou para si o domínio das almas. Somente ele pode reivindicar os direitos de Criador e de Santificador. Dotou-as do dom incomparável da liberdade e oferece-lhes, além disso, uma participação real em sua própria vida divina. Sem violência nenhuma, ele entra como Senhor em nosso interior; passeia, por assim dizer, no recinto de nossa inteligência e de nossa vontade. Aprecia permanecer naqueles que sabem acolhê-lo, encontra-se em nós como em sua casa, e sempre para o nosso maior bem. Pois, na medida em que nossa vontade se deixa conduzir pela sua, saboreamos as alegrias espirituais da ordem e da paz. O triunfo da liberdade humana é a completa obediência ao Mestre interior e divino. A santidade não é outra coisa senão o pleno acordo entre nossos pensamentos e nossos desejos e os pensamentos e os desejos de Deus. Então, Deus reina dentro de nós. E eis que Deus – sempre soberanamente independente e bastando a si mesmo – quis fazer Maria participar de seu Poder de dominação no interior das almas. A Virgem possui, a título de privilégio, todos os direitos de penetrar, ela também, em nosso íntimo, lá onde ninguém entra sem nosso consentimento. Ela entra à vontade e exerce sua ação benfazeja nesse santuário estritamente pessoal, onde se elaboram os atos de nossa inteligência e de nossa vontade, onde reside nossa liberdade, onde repousam o que chamamos de “segredos do coração”, nossos pensamentos e nossas afeições mais caros. Maria, não há dúvida, conhece esses segredos e essas atividades de nossa alma; e, no entanto, nossa morada não é violada, nem nossa liberdade é violentada. Bem ao contrário, pois a Virgem está de tal modo unida a Deus e a nós, que tudo se passa ainda entre Deus e nossa alma. “Graça singular do Altíssimo”, diz nosso santo. “Singular”, não somente porque é magnífica, mas porque é única. A Virgem é a única que possui esse domínio de nossas almas. Nem os santos do Céu e da terra, nem mesmo os bons anjos, nem, com maior razão, os demônios, têm o direito de penetrar em nosso interior, e ainda menos o de residir em nós como senhores. Somente Maria, depois de Deus, tem livre acesso a nós, como uma rainha em seu próprio palácio. ---- Por que a Santíssima Virgem possui esse domínio especial? Montfort resume em duas linhas a razão profunda desse favor singular: “Deus, diz ele, tendo dado a Maria poder sobre seu Filho único e natural, deu-lho também sobre seus filhos adotivos.” (n. 37.) Novamente, tocamos aqui as sublimidades da Maternidade divina. Essa Maternidade é o fundamento da Soberania de Maria, como é o fundamento de todas as suas grandezas. Por consequência dessa elevação, devida à generosidade divina, a Virgem recebeu poder, em primeiro lugar, sobre o próprio Filho de Deus, que se tornou seu próprio Filho por sua natureza, sem deixar de ser Deus. Ela recebeu do Altíssimo a virtude de formar seu corpo e de colocá-lo no mundo. Guardou, protegeu e defendeu sua infância. Em Nazaré, governou sua adolescência e idade madura. No Calvário, ofereceu sua vida em sacrifício; imolou seu Filho pela salvação do mundo. Jesus reconheceu esse poder; honrou-o e glorificou-o, submetendo-se voluntariamente a Maria. Obedeceu-lhe amorosamente, inclinou-se zelosamente diante de sua autoridade. Quis depender ainda de sua santa Mãe durante os anos da vida pública, como prova o primeiro milagre, realizado em Caná, na Galileia. Sempre escutou e atendeu seus pedidos e seus menores desejos. E na glória do Paraíso, conserva ainda, como veremos em breve em nossa terceira Semana, a submissão do mais perfeito de todos os filhos em relação à melhor de todas as mães. Maria distribui como lhe apraz os tesouros da Redenção. Ela permanece sendo a Medianeira de todas as graças, o que implica a perenidade de “seu poder sobre o Filho único e natural de Deus”. Segue, diz Montfort, que Maria tem, semelhantemente, “poder sobre os filhos adotivos de Deus”. A generosidade do Altíssimo não quis separar sua Maternidade humana de sua Maternidade divina: os privilégios de uma acarretam os privilégios da outra. Essa dedução é tanto mais rigorosa porque os numerosos filhos de Deus segundo a graça devem ser todos formados à imagem e semelhança do Filho único e natural. Sua predestinação não pode se cumprir senão pela conformidade de suas almas à alma santíssima de Jesus Cristo, a Sabedoria encarnada. Maria deve, pois, dar-lhes a semelhança ao ideal divino, a fim de fazer deles outros Cristos nos quais o Pai dos Céus encontrará e reconhecerá o retrato de seu Filho primogênito. Assim, o poder de Maria, Mãe de Deus, se estende e se exerce sobre o Cristo total, a Cabeça e os membros; e compreendemos melhor a primeira afirmação de Montfort, que a Virgem não pode dar a Cristo-Cabeça membros vivos, criá-los em perfeita saúde sobrenatural, curá-los, se estão doentes, devolvê-los à graça santificante, se vêm a cometer faltas graves, protegê-los e defendê-los contra inimigos sempre próximos; dar a cada um a estatura de santidade que lhe convém, sua idade de perfeição, sua função especial a exercer no corpo místico que é a Igreja, a fisionomia particular que lembrará um dos traços do semblante de Jesus: “Maria, diz ele, não pode fazer todas essas coisas se não tiver direito e dominação sobre suas almas.” (n. 37.) III. SEU DOMÍNIO DE ESCOLHA. Montfort insiste sobre a Soberania de Maria nas almas de seus filhos predestinados. Sem dúvida, ele reconhece, semelhantemente, seu poder também sobre seus corpos, visto que toda criação material é seu império; mas não se detém nesse poder, considerando-o “pouca coisa” (n. 37) em comparação ao seu poder sobre as almas. Se ele acrescenta que “Maria é a Rainha do Céu e da terra por graça, como Jesus é seu Rei por natureza e por conquista” (n. 38), é para chegar a uma conclusão que confirma a precedente, a saber, o Reino de Maria nos corações. A Realeza de Maria, assim como a do Cristo, é universal, estendendo-se sobre o mundo dos corpos e sobre o mundo dos espíritos; mas diferente é sua origem. Jesus é rei “por natureza”, isto é, por direito de nascimento, enquanto Verbo encarnado, e “por conquista”, enquanto Redentor. Maria é Rainha “por graça”, pela graça totalmente gratuita de sua Maternidade divina e pela graça muito meritória de sua colaboração na obra redentora. “Ora, como o Reino de Jesus Cristo consiste principalmente no coração ou no interior do homem, segundo esta palavra: o Reino de Deus está dentro de vós (Lc 17, 21); assim também, o Reino da Santíssima Virgem está principalmente no interior do homem, isto é, em sua alma; e é principalmente nas almas que ela é mais glorificada com seu Filho do que em todas as criaturas visíveis…” (n. 38.) Nossas almas são, pois, o elemento primeiro de sua Soberania. Elas formam seu domínio de escolha; Maria reina em plenitude lá onde se exerce e desabrocha sua Maternidade de graça. Por isso, Montfort nos pede para escolhê-la, não somente como nossa Mãe, mas também como nossa Senhora: Mater e Domina. Essa escolha repousa sobre realidades sobrenaturais misericordiosamente desejadas por Deus em nós. De modo tão verdadeiro quanto Maria é nossa Mãe, ela é, também, nossa Senhora: ela forma e faz crescer Jesus Cristo em nós, até que cheguemos à plenitude de sua idade sobre a terra, isto é, ao grau de santidade determinado para cada um de nós. Para esse fim, ela nos possui e nos governa interiormente. Sua ação se exerce até nas mais misteriosas profundezas de nosso ser. Sua dominação irradia no centro de nosso coração. Eis por que “podemos chamá-la, com os santos, a RAINHA DOS CORAÇÕES.” (n. 38.) Esse vocábulo é o equivalente e o sinônimo de Senhora das almas; apresenta a vantagem de ser mais bem compreendido e mais amado. É por isso que foi mantido para designar a associação dos escravos de amor de Maria. Ao título já tão amado de Mãe, somamos assim o título muito agradável de Rainha dos corações, isto é, de Soberana incontestável das almas que lhe são inteiramente entregues. Elas compreenderam que essa Soberania de Maria, sendo uma Soberania de amor, convoca e exige de nossa parte um serviço de amor, uma doação total na submissão filial mais amorosa, como veremos na meditação seguinte. Nosso Santo se mostra, até o fim, lógico consigo mesmo. Sua vontade deseja se doar na medida magnífica em que sua inteligência penetrou o mistério da Maternidade espiritual de Maria. Essa Maternidade ultrapassa infinitamente toda maternidade terrena. Nossas mães nos transmitem a vida de natureza, mas não são senhoras de nossas almas. Maria gera nossas almas para a vida sobrenatural, e detém-nas em sua posse para imprimir-lhes sua fisionomia de eternidade. O coração dos eleitos é seu domínio escolhido. ---- É seguramente uma graça muito especial que a Santa Virgem outorgou a esse filho privilegiado. Inspirou-o a considerar sua Maternidade de graça, não somente sob o aspecto da transmissão de vida, mas também e, sobretudo, quanto à dominação íntima que é sua consequência e seu desabrochar nos predestinados. Muitos autores se contentam em considerar Maria na sua qualidade de Mãe de todos os cristãos. Poucos a contemplam também sob o aspecto profundo de Senhora e Formadora dos eleitos. Esse conceito projeta, entretanto, uma luz singularmente penetrante sobre as belezas escondidas da Maternidade de Nossa Senhora. Revela-nos essa Maternidade se exercendo livremente no interior das almas santas, lá onde repousa e age esse Hóspede tão doce que é o divino Consolador. Faz-nos apreciar melhor o segredo da incessante colaboração da Virgem na ação santificadora do Espírito Santo. Em companhia desse Senhor íntimo, Maria se torna a Senhora absoluta dos predestinados. Mergulha em suas almas, como vimos, as raízes de suas sublimes virtudes, e faz-lhes produzir as maiores maravilhas de santidade. Estabelece dentro de nós seu Reino. Reina dentro de nós como Soberana onipotente e faz reinar seu divino Filho. Dediquemo-nos a reconhecer que a Mãe de nossas almas é, ao mesmo tempo, a Rainha de nossos corações. ORAÇÕES Ladainha do Espírito Santo Senhor, tem piedade de nós. Jesus Cristo, tem piedade de nós. Divino Espírito Santo, ouve-nos. Espírito Paráclito, atende-nos. Deus Pai dos céus, tem piedade de nós. Deus Filho, redentor do mundo, tem piedade de nós. Deus Espírito Santo, tem piedade de nós. Santíssima Trindade, que és um só Deus, tem piedade de nós. Espírito da verdade, tem piedade de nós. Espírito da sabedoria, tem piedade de nós. Espírito da inteligência, tem piedade de nós. Espírito da fortaleza, tem piedade de nós. Espírito da piedade, tem piedade de nós. Espírito do bom conselho, tem piedade de nós. Espírito da ciência, tem piedade de nós. Espírito do santo temor, tem piedade de nós. Espírito da caridade, tem piedade de nós. Espírito da alegria, tem piedade de nós. Espírito da paz, tem piedade de nós. Espírito das virtudes, tem piedade de nós. Espírito de toda graça, tem piedade de nós. Espírito da adoção dos filhos de Deus, tem piedade de nós. Purificador das nossas almas, tem piedade de nós. Santificador e guia da Igreja Católica, tem piedade de nós. Distribuidor dos dons celestes, tem piedade de nós. Conhecedor dos pensamentos e das intenções do coração, tem piedade de nós. Doçura dos que começam a te servir, tem piedade de nós. Coroa dos perfeitos, tem piedade de nós. Alegria dos anjos, tem piedade de nós. Luz dos patriarcas, tem piedade de nós. Inspiração dos profetas, tem piedade de nós. Palavra e sabedoria dos apóstolos, tem piedade de nós. Vitória doa mártires, tem piedade de nós. Ciência dos confessores, tem piedade de nós. Pureza das virgens, tem piedade de nós. Unção de todos os santos, tem piedade de nós. Sede-nos propício, perdoa-nos, Senhor. Sede-nos propício, atende-nos, Senhor. De todo o pecado, livra-nos, Senhor. De todas as tentações e ciladas do demônio, livra-nos, Senhor. De toda a presunção e desesperação, livra-nos, Senhor. Do ataque à verdade conhecida, livra-nos, Senhor. Da inveja da graça fraterna, livra-nos, Senhor. De toda a obstinação e impenitência, livra-nos, Senhor. De toda a negligência e tepor do espírito, livra-nos, Senhor. De toda a impureza da mente e do corpo, livra-nos, Senhor. De todas as heresias e erros, livra-nos, Senhor. De todo o mau espírito, livra-nos, Senhor. Da morte má e eterna, livra-nos, Senhor. Pela tua eterna procedência do Pai e do Filho, livra-nos, Senhor. Pela milagrosa conceição do Filho de Deus, livra-nos, Senhor. Pela tua descida sobre Jesus Cristo batizado, livra-nos, Senhor. Pela tua santa aparição na transfiguração do Senhor, livra-nos, Senhor. Pela tua vinda sobre os discípulos do Senhor, livra-nos, Senhor. No dia do juízo, livra-nos, Senhor. Ainda que pecadores, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que nos perdoes, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes vivificar e santificar todos os membros da Igreja, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes conceder-nos o dom da verdadeira piedade, devoção e oração, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes inspirar-nos sinceros afetos de misericórdia e de caridade, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes criar em nós um espírito novo e um coração puro, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes conceder-nos verdadeira paz e tranquilidade no coração, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes fazer-nos dignos e fortes, para suportar as perseguições pela justiça, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes confirmar-nos em tua graça, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes receber-nos no número dos teus eleitos, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes ouvir-nos, nós vos rogamos, ouví-nos. Espírito de Deus, nós vos rogamos, ouví-nos. Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, envia-nos o Espírito Santo. Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, manda-nos o Espírito prometido do Pai. Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, dá-nos o Espírito bom. Espírito Santo, ouví-nos. Espírito Consolador, atendei-nos. ℣. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado. ℟. E renovareis a face da terra. Oremos: Deus, que instruístes o coração de vossos fiéis, com a luz do Espírito Santo, concedei-nos que, no mesmo Espírito, conheçamos o que é reto, e gozemos sempre as suas consolações. Por Cristo, Nosso Senhor. Amém. Ladainha de Nossa Senhora Senhor, tende piedade de nós. Cristo, tende piedade de nós. Senhor, tende piedade de nós. Santa Maria, rogai por nós. Santa Mãe de Deus, rogai por nós. Santa Virgem das Virgens, rogai por nós. Mãe de Cristo, rogai por nós. Mãe da Igreja, rogai por nós. Mãe de misericórdia, rogai por nós. Mãe da divina graça, rogai por nós. Mãe da esperança, rogai por nós. Mãe puríssima, rogai por nós. Mãe castíssima, rogai por nós. Mãe sempre virgem, rogai por nós. Mãe imaculada, rogai por nós. Mãe amável, rogai por nós. Mãe admirável, rogai por nós. Mãe do bom conselho, rogai por nós. Mãe do Criador, rogai por nós. Mãe do Salvador, rogai por nós. Virgem prudentíssima, rogai por nós. Virgem venerável, rogai por nós. Virgem louvável, rogai por nós. Virgem poderosa, rogai por nós. Virgem clemente, rogai por nós. Virgem fiel, rogai por nós. Espelho de justiça, rogai por nós. Sede de sabedoria, rogai por nós. Causa da nossa alegria, rogai por nós. Vaso espiritual, rogai por nós. Vaso honorífico, rogai por nós. Vaso insigne de devoção, rogai por nós. Rosa mística, rogai por nós. Torre de Davi, rogai por nós. Torre de marfim, rogai por nós. Casa de ouro, rogai por nós. Arca da aliança, rogai por nós. Porta do céu, rogai por nós. Estrela da manhã, rogai por nós. Saúde dos enfermos, rogai por nós. Refúgio dos pecadores, rogai por nós. Conforto dos migrantes, rogai por nós. Consoladora dos aflitos, rogai por nós. Auxílio dos cristãos, rogai por nós. Rainha dos anjos, rogai por nós. Rainha dos patriarcas, rogai por nós. Rainha dos profetas, rogai por nós. Rainha dos apóstolos, rogai por nós. Rainha dos mártires, rogai por nós. Rainha dos confessores, rogai por nós. Rainha das virgens, rogai por nós. Rainha de todos os santos, rogai por nós. Rainha concebida sem pecado original, rogai por nós. Rainha assunta ao céu, rogai por nós. Rainha do santo rosário, rogai por nós. Rainha da família, rogai por nós. Rainha da paz, rogai por nós. Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, perdoai-nos, Senhor. Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, ouvi-nos, Senhor. Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós. ℣. Rogai por nós, Santa Mãe de Deus. ℟. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo. Oremos: Senhor Deus, nós Vos suplicamos que concedais aos vossos servos perpétua saúde de alma e de corpo; e que, pela gloriosa intercessão da bem-aventurada sempre Virgem Maria, sejamos livres da presente tristeza e gozemos da eterna alegria. Por Cristo Nosso Senhor. Amém. Ave maris stella (Ave, do mar Estrela) (Latim) 1. Ave maris stella, Dei Mater alma, Atque semper Virgo, Felix cæli porta. 2. Sumens illud Ave Gabrielis ore, Funda nos in pace, Mutans Hevæ nomen. 3. Solve vincla reis, Profer lumen cæcis, Mala mostra pelle, Bona cuncta posce. 4. Monstra te esse matrem, Sumat per te preces, Qui pro nobis natus Tulit esse tuus. 5. Virgo singularis, Inter omnes mitis, Nos, culpis solutos, Mites fac et castos. 6. Vitam præsta puram Iter para tutum, Ut, videntes Jesum, Semper collætemur. 7. Sit laus Deo Patri, Summo Christo decus, Spiritui Sancto, Tribus honor unus. Amen. (Vernáculo) 1. Ave, do mar Estrela De Deus mãe bela, Sempre virgem, da morada Celeste Feliz entrada. 2. Ó tu que ouviste da boca Do anjo a saudação; Dá-nos a paz e quietação; E o nome da Eva troca. 3. As prisões aos réus desata. E a nós cegos alumia; De tudo que nos maltrata Nos livra, o bem nos granjeia. 4. Ostenta que és mãe, fazendo Que os rogos do povo seu Ouça aquele que, nascendo Por nós, quis ser filho teu. 5. Ó virgem especiosa, Toda cheia de ternura, Extintos nossos pecados Dá-nos pureza e brandura, 6. Dá-nos uma vida pura, Põe-nos em via segura, Para que a Jesus gozemos, E sempre nos alegremos. 7. A Deus Pai veneremos: A Jesus Cristo também: E ao Espírito Santo; demos Aos três um louvor. Amém. Reze um Rosário completo ou ao menos um terço. |
Dia 23: Escravo de amor de MariaA evidente Soberania de Maria nas almas dos eleitos revestia aos olhos de Montfort tamanha importância que comandou e especificou sua Consagração. Se esse filho privilegiado da Virgem deseja se entregar a ela como seu escravo de amor, é porque a escolheu, muito sabiamente, como sua Mãe e Senhora. Uma relação implica a outra.Por que encontramos tantas almas, sinceras em sua devoção, que, no entanto, detêm-se diante dessa denominação de escravo de Maria? A resposta é simples: elas não compreenderam ainda até que ponto a Santíssima Virgem é verdadeiramente a Mãe e a Senhora de toda a sua vida sobrenatural, desde o instante do batismo. No dia em que compreendemos, na humildade da fé, o valor destas duas palavras: Mater e Domina, a segunda sendo o complemento da primeira, não há mais dificuldade em colocar nas mãos de Maria a doação total de nós mesmos, sem condição nem reserva. A realidade de sua Dominação íntima clama por nossa inteira doação de amor, a qual quer se exprimir pela palavra mais forte, a mais expressiva que possamos encontrar. É por isso que começamos por aprofundar, seguindo Montfort, a Maternidade de graça de Maria e a Soberania que decorre dela, nas almas dos predestinados, dos quais ela faz seu domínio escolhido. Prossigamos ainda hoje com esse luminoso trabalho, primeiramente reconhecendo nosso inteiro PERTENCIMENTO à Santíssima Virgem; depois, constatando com alegria que o escravo de amor de Maria quer ser seu FILHO sempre submisso e dependente. Agradeçamos a São Luís Maria de Montfort pelas abundantes luzes que ele projetou, assim, sobre nossa filiação mariana. Ave, Maria. I. PERTENCEMOS A MARIA NA QUALIDADE DE ESCRAVOS. Lembremo-nos da meditação do segundo Dia de nossa primeira Semana, sobre nosso total pertencimento a Jesus Cristo. Esse pertencimento decorre dos direitos de sua Redenção: Ele pagou por nossas almas com todo o seu sangue, um resgate infinito pela ofensa infinita do pecado. Estamos, pois, divinamente marcados com o selo de sua posse. Somos seu bem, sua propriedade, sua conquista, em estrito rigor de justiça. Tornamo-nos “seus verdadeiros escravos”, que não devem viver, trabalhar e frutificar senão para Ele. Ele é nosso Senhor e Mestre: Dominus noster; um Mestre infinitamente bom, que nos arrancou da servidão tirânica do demônio, e que respeita soberanamente nossa liberdade. Ele solicita que nos coloquemos livremente a seu serviço. Devemos, pois, nos alegrar por reconhecer esse total pertencimento e desejar, em retorno, servir esse bom Senhor, não apenas como servos mercenários, mas como escravos de amor, que se entregam sem interesse pessoal, somente pela honra de pertencer-lhe. (V. D., n. 68, 73.) Nessa mesma linha, Montfort acrescenta: “O que digo absolutamente de Jesus Cristo, digo-o relativamente da Santíssima Virgem.” (n. 74.) Ou seja, Maria também tem direito à nossa dependência amorosa e total, mas por outro motivo: Jesus é nosso Redentor por conquista; Maria, por graça, foi associada à Encarnação como Corredentora. O Salvador podia dispensar qualquer auxílio na obra da Redenção, mas foi plano eterno que a Virgem lhe fosse associada em tudo: “Tendo Jesus Cristo escolhido-a como a companheira indissolúvel de sua vida, de sua morte, de sua glória e de seu poder no Céu e sobre a terra, deu-lhe por graça, relativamente à sua Majestade, todos os mesmos direitos e privilégios que ele possui por natureza.” (V. D., n. 74.) Esses direitos não são apenas semelhantes, mas numericamente os mesmos. Convêm a Jesus por causa de si mesmo, e a Maria por causa de seu Filho. “Tendo os dois a mesma vontade e o mesmo poder, têm os mesmos súditos, servos e escravos.” (n. 74.) Maria é, pois, a Senhora de todos os resgatados: Domina nostra, como Jesus é Dominus noster. Somos seus escravos como somos de Jesus Cristo. Depende de nós reconhecer esse pertencimento e escolher Maria como Senhora, consagrando-nos ao seu serviço como escravos de amor. Seremos, então, mais perfeitamente, escravos de Jesus Cristo. Retomamos, assim, a meditação precedente sobre a Dominação de Maria nas almas dos predestinados. Se ela possui todos os resgatados, com maior razão exerce sua Dominação materna sobre aqueles de seus filhos que não querem tornar inútil o sangue do Redentor nem ignorar seus sofrimentos de Corredentora. Daqueles, ela é plenamente Senhora e Rainha. É, pois, uma felicidade confiar-lhe a condução da alma e entregar-lhe toda a nossa riqueza espiritual. Assim corresponderemos ao seu belo título de Rainha dos corações, e nossa denominação de “escravos de amor” apenas acentua a tão amada de “filhos da Santa Virgem”, como veremos na segunda parte desta meditação. II. O ESCRAVO DE AMOR DE MARIA DESEJA SER SEU FILHO SEMPRE SUBMISSO E DEPENDENTE. Consagrando-nos como escravos de amor à Santíssima Virgem, não deixamos de ser seus filhos. Desejamos, ao contrário, sê-lo de maneira mais perfeita do que nunca. Contudo, o termo “filho”, por mais justo e belo que seja, não basta aqui. É necessária uma expressão que venha do mais profundo de nossa alma livre e amorosa, correspondendo à Dominação que Maria exerce dentro de nós. Essa expressão, fruto de uma espontaneidade amorosa iluminada, só se traduz adequadamente pela palavra “escravo”, tão presente na Bíblia e nas orações da Igreja. O escravo é aquele que se encontra inteiramente, pessoa e bens, sob a posse e dependência de um senhor. Neste caso, sendo o Senhor o próprio Deus, revelando-se por Maria, só podemos experimentar uma intensa alegria ao nos proclamarmos escravos da Virgem — como ela mesma se proclamou escrava do Senhor. A palavra conserva, hoje como na Anunciação, a mesma viva realidade. Se Montfort se limitasse a se entregar a Maria apenas como filho, seu amor não corresponderia à plenitude de dominação que ele descobre nela. Ao se entregar como escravo por vontade, corresponde adequadamente ao duplo título de Maria: “Mãe” e “Senhora” das almas. Glorifica sua Maternidade ao se apresentar com toda a força de sua vontade à formação do Corpo místico do qual é membro. A palavra “escravo” não se opõe a “filho”; entre esses dois termos há a mesma conexão que existe entre “Senhora” e “Mãe”, títulos aplicados à Virgem. Em Maria, o título de Senhora inclui e intensifica o de Mãe: ela estende seu domínio de amor para dentro de nós, à medida que desabrocha sua Maternidade de graça. Do mesmo modo, em nós, o título de escravo supõe o de filho e o intensifica, adicionando a ideia de uma dependência sem limite e sem fim. Consagramo-nos escravos de Maria porque, sendo já seus filhos desde o batismo, queremos viver nossa filiação mariana da maneira mais perfeita, com submissão total da vontade, sem jamais desejar emancipação. O filho pode se libertar da autoridade materna; o escravo de amor da Virgem, mesmo adulto, deseja conservar eternamente a dependência e submissão da infância. A Virgem, sua Mãe, torna-se cada vez mais sua Senhora, em união com o Senhor interior, o Espírito Santo. Ela o governa, rege, dirige, protege e santifica continuamente, conduzindo sua Maternidade espiritual a bom termo. Por isso, o filho da Virgem que compreendeu o significado da palavra “Senhora”, unida à de “Mãe”, alegra-se de se entregar a ela como escravo de amor. Ele exclama, iluminado pela graça: “Ó minha divina Mãe, sede também, de maneira perfeita, minha Senhora. Vós que me gerastes filho do Pai, membro do Filho, templo do Espírito Santo, estendei agora em mim vossa dominação materna tão cheia de doçura. Sede a pacífica Soberana das faculdades de minha alma. Imprimi em mim a semelhança do Filho primogênito, o filho de Nazaré, que, segundo o Evangelho, quis permanecer amorosamente submisso a vós. Então, tornar-me-ei vosso perfeito filho, deixando-me conduzir em tudo e sempre por esse espírito de submissão de Jesus, até o tempo determinado pelo Pai dos Céus. Esse tempo será precisamente aquele em que me gerareis para a glória eterna.” ---- Essa lógica do amor é tanto mais rigorosa porque, para muitos cristãos, a Santíssima Virgem é sua Mãe sem ser, no mesmo grau, sua Senhora. O exercício de sua dominação está entravado. São, ai de mim!, muito numerosos os filhos de Nossa Senhora que se subtraem de sua influência formadora. Maria, contudo, não deixa de ser sua Mãe: ela permanece sendo a Mãe de todos os pobres pecadores, pois os gerou no batismo e os considera ainda como seus. Há sempre, também neles, um resto de vida e esperanças de ressurreição total. Mas sua dominação maternal encontra uma resistência mais ou menos obstinada. Ela os governa ainda, de certa forma, por incentivos de graças atuais, por chamados de misericórdia que preparam os caminhos para sua conversão. Ela os governará melhor no dia em que, retornando enfim à Casa do Pai de família, esses filhos pródigos se prestarem docilmente à sua ação santificante. Revertere ad Dominam tuam; et humiliare sub manu illius. Volta, pobre filho desviado, para tua Senhora, que é também tua verdadeira Mãe, e humilha-te sob o cetro de amor que te apresenta sua mão onipotente. Essa consideração faz compreender melhor o quanto a Virgem é plenamente Senhora daqueles entre seus filhos que vivem fielmente sua Consagração de escravos de amor. Longe de se subtraírem no que quer que seja à dominação materna de Maria, esforçam-se por acentuar a cada dia sua dependência e submissão filial. Dedicam-se a se tornar como criancinhas que não têm outra vontade senão a vontade de sua mãe, nem outro refúgio senão seus braços e seu coração. Sua total dependência e submissão deve conduzi-los infalivelmente ao desabrochamento do espírito de infância. Os fiéis escravos de amor de Maria são as almas santas, na força e no vigor de sua maturidade espiritual, que permanecem ou se tornam semelhantes às criancinhas. Obedecem em todas as coisas à sua divina Mãe e Senhora, e se deixam conduzir docilmente “por seu espírito, que é o Espírito Santo de Deus.” (V. D., n. 258.) São, então, os perfeitos filhos de Deus e de Maria. “Aqueles que são conduzidos pelo espírito de Deus, são filhos de Deus: Qui spiritu Dei aguntur, ii sunt filii Dei” (Rom 8, 14). “Aqueles que são conduzidos pelo espírito de Maria, são filhos de Maria, e, consequentemente, filhos de Deus.” (n. 258.) São os filhos de Deus e de Maria em perfeição, porque, “possuídos e governados” pelo Espírito Santo e pela Esposa do Espírito Santo, oferecem-lhe em toda circunstância obediência e submissão de amor. Nossa consagração não suprime nada, pois, do título de filho que o batismo imprime sobre nossas frontes; bem ao contrário, ela faz resplandecer esse título com um brilho novo. ---- Orgulhemo-nos humildemente por nos consagrar escravos de amor da Rainha dos corações. Repitamo-lo, essa doação continua sendo inteiramente livre. Montfort apresenta-a à nossa escolha entre diversas outras maneiras de testemunhar a Maria uma devoção verdadeira. Mas ele confessa não ter encontrado outra “que seja mais gloriosa a Deus, santificante para a alma e útil ao próximo” (n. 118). Foi para fazê-la conhecida que ele escreveu seu Tratado mariano, o qual ele desejaria ter redigido com seu sangue, no lugar de tinta, na esperança, diz ele, de que “cedo ou tarde a Santíssima Virgem tenha mais filhos, servos e escravos de amor do que nunca; e que, por meio disso, Jesus Cristo, seu querido Mestre, reine nos corações mais do que nunca”. (n. 112, 113.) Estimemo-la, pois, como uma graça enorme do Espírito Santo, que devemos merecer por meio de uma profunda humildade; pois são os humildes e os pequenos que apreciam e provam melhor esse “divino segredo dos eleitos”. Ó nosso Pai dos Céus! Ó Maria, Mãe e Senhora das almas! Rendemos graças por terdes escondido essas coisas aos sábios e prudentes do século, e porque as revelais aos vossos humildes filhos e escravos. ORAÇÕES Ladainha do Espírito Santo Senhor, tem piedade de nós. Jesus Cristo, tem piedade de nós. Divino Espírito Santo, ouve-nos. Espírito Paráclito, atende-nos. Deus Pai dos céus, tem piedade de nós. Deus Filho, redentor do mundo, tem piedade de nós. Deus Espírito Santo, tem piedade de nós. Santíssima Trindade, que és um só Deus, tem piedade de nós. Espírito da verdade, tem piedade de nós. Espírito da sabedoria, tem piedade de nós. Espírito da inteligência, tem piedade de nós. Espírito da fortaleza, tem piedade de nós. Espírito da piedade, tem piedade de nós. Espírito do bom conselho, tem piedade de nós. Espírito da ciência, tem piedade de nós. Espírito do santo temor, tem piedade de nós. Espírito da caridade, tem piedade de nós. Espírito da alegria, tem piedade de nós. Espírito da paz, tem piedade de nós. Espírito das virtudes, tem piedade de nós. Espírito de toda graça, tem piedade de nós. Espírito da adoção dos filhos de Deus, tem piedade de nós. Purificador das nossas almas, tem piedade de nós. Santificador e guia da Igreja Católica, tem piedade de nós. Distribuidor dos dons celestes, tem piedade de nós. Conhecedor dos pensamentos e das intenções do coração, tem piedade de nós. Doçura dos que começam a te servir, tem piedade de nós. Coroa dos perfeitos, tem piedade de nós. Alegria dos anjos, tem piedade de nós. Luz dos patriarcas, tem piedade de nós. Inspiração dos profetas, tem piedade de nós. Palavra e sabedoria dos apóstolos, tem piedade de nós. Vitória doa mártires, tem piedade de nós. Ciência dos confessores, tem piedade de nós. Pureza das virgens, tem piedade de nós. Unção de todos os santos, tem piedade de nós. Sede-nos propício, perdoa-nos, Senhor. Sede-nos propício, atende-nos, Senhor. De todo o pecado, livra-nos, Senhor. De todas as tentações e ciladas do demônio, livra-nos, Senhor. De toda a presunção e desesperação, livra-nos, Senhor. Do ataque à verdade conhecida, livra-nos, Senhor. Da inveja da graça fraterna, livra-nos, Senhor. De toda a obstinação e impenitência, livra-nos, Senhor. De toda a negligência e tepor do espírito, livra-nos, Senhor. De toda a impureza da mente e do corpo, livra-nos, Senhor. De todas as heresias e erros, livra-nos, Senhor. De todo o mau espírito, livra-nos, Senhor. Da morte má e eterna, livra-nos, Senhor. Pela tua eterna procedência do Pai e do Filho, livra-nos, Senhor. Pela milagrosa conceição do Filho de Deus, livra-nos, Senhor. Pela tua descida sobre Jesus Cristo batizado, livra-nos, Senhor. Pela tua santa aparição na transfiguração do Senhor, livra-nos, Senhor. Pela tua vinda sobre os discípulos do Senhor, livra-nos, Senhor. No dia do juízo, livra-nos, Senhor. Ainda que pecadores, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que nos perdoes, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes vivificar e santificar todos os membros da Igreja, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes conceder-nos o dom da verdadeira piedade, devoção e oração, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes inspirar-nos sinceros afetos de misericórdia e de caridade, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes criar em nós um espírito novo e um coração puro, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes conceder-nos verdadeira paz e tranquilidade no coração, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes fazer-nos dignos e fortes, para suportar as perseguições pela justiça, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes confirmar-nos em tua graça, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes receber-nos no número dos teus eleitos, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes ouvir-nos, nós vos rogamos, ouví-nos. Espírito de Deus, nós vos rogamos, ouví-nos. Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, envia-nos o Espírito Santo. Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, manda-nos o Espírito prometido do Pai. Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, dá-nos o Espírito bom. Espírito Santo, ouví-nos. Espírito Consolador, atendei-nos. ℣. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado. ℟. E renovareis a face da terra. Oremos: Deus, que instruístes o coração de vossos fiéis, com a luz do Espírito Santo, concedei-nos que, no mesmo Espírito, conheçamos o que é reto, e gozemos sempre as suas consolações. Por Cristo, Nosso Senhor. Amém. Ladainha de Nossa Senhora Senhor, tende piedade de nós. Cristo, tende piedade de nós. Senhor, tende piedade de nós. Santa Maria, rogai por nós. Santa Mãe de Deus, rogai por nós. Santa Virgem das Virgens, rogai por nós. Mãe de Cristo, rogai por nós. Mãe da Igreja, rogai por nós. Mãe de misericórdia, rogai por nós. Mãe da divina graça, rogai por nós. Mãe da esperança, rogai por nós. Mãe puríssima, rogai por nós. Mãe castíssima, rogai por nós. Mãe sempre virgem, rogai por nós. Mãe imaculada, rogai por nós. Mãe amável, rogai por nós. Mãe admirável, rogai por nós. Mãe do bom conselho, rogai por nós. Mãe do Criador, rogai por nós. Mãe do Salvador, rogai por nós. Virgem prudentíssima, rogai por nós. Virgem venerável, rogai por nós. Virgem louvável, rogai por nós. Virgem poderosa, rogai por nós. Virgem clemente, rogai por nós. Virgem fiel, rogai por nós. Espelho de justiça, rogai por nós. Sede de sabedoria, rogai por nós. Causa da nossa alegria, rogai por nós. Vaso espiritual, rogai por nós. Vaso honorífico, rogai por nós. Vaso insigne de devoção, rogai por nós. Rosa mística, rogai por nós. Torre de Davi, rogai por nós. Torre de marfim, rogai por nós. Casa de ouro, rogai por nós. Arca da aliança, rogai por nós. Porta do céu, rogai por nós. Estrela da manhã, rogai por nós. Saúde dos enfermos, rogai por nós. Refúgio dos pecadores, rogai por nós. Conforto dos migrantes, rogai por nós. Consoladora dos aflitos, rogai por nós. Auxílio dos cristãos, rogai por nós. Rainha dos anjos, rogai por nós. Rainha dos patriarcas, rogai por nós. Rainha dos profetas, rogai por nós. Rainha dos apóstolos, rogai por nós. Rainha dos mártires, rogai por nós. Rainha dos confessores, rogai por nós. Rainha das virgens, rogai por nós. Rainha de todos os santos, rogai por nós. Rainha concebida sem pecado original, rogai por nós. Rainha assunta ao céu, rogai por nós. Rainha do santo rosário, rogai por nós. Rainha da família, rogai por nós. Rainha da paz, rogai por nós. Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, perdoai-nos, Senhor. Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, ouvi-nos, Senhor. Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós. ℣. Rogai por nós, Santa Mãe de Deus. ℟. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo. Oremos: Senhor Deus, nós Vos suplicamos que concedais aos vossos servos perpétua saúde de alma e de corpo; e que, pela gloriosa intercessão da bem-aventurada sempre Virgem Maria, sejamos livres da presente tristeza e gozemos da eterna alegria. Por Cristo Nosso Senhor. Amém. Ave maris stella (Ave, do mar Estrela) (Latim) 1. Ave maris stella, Dei Mater alma, Atque semper Virgo, Felix cæli porta. 2. Sumens illud Ave Gabrielis ore, Funda nos in pace, Mutans Hevæ nomen. 3. Solve vincla reis, Profer lumen cæcis, Mala mostra pelle, Bona cuncta posce. 4. Monstra te esse matrem, Sumat per te preces, Qui pro nobis natus Tulit esse tuus. 5. Virgo singularis, Inter omnes mitis, Nos, culpis solutos, Mites fac et castos. 6. Vitam præsta puram Iter para tutum, Ut, videntes Jesum, Semper collætemur. 7. Sit laus Deo Patri, Summo Christo decus, Spiritui Sancto, Tribus honor unus. Amen. (Vernáculo) 1. Ave, do mar Estrela De Deus mãe bela, Sempre virgem, da morada Celeste Feliz entrada. 2. Ó tu que ouviste da boca Do anjo a saudação; Dá-nos a paz e quietação; E o nome da Eva troca. 3. As prisões aos réus desata. E a nós cegos alumia; De tudo que nos maltrata Nos livra, o bem nos granjeia. 4. Ostenta que és mãe, fazendo Que os rogos do povo seu Ouça aquele que, nascendo Por nós, quis ser filho teu. 5. Ó virgem especiosa, Toda cheia de ternura, Extintos nossos pecados Dá-nos pureza e brandura, 6. Dá-nos uma vida pura, Põe-nos em via segura, Para que a Jesus gozemos, E sempre nos alegremos. 7. A Deus Pai veneremos: A Jesus Cristo também: E ao Espírito Santo; demos Aos três um louvor. Amém. Reze um Rosário completo ou ao menos um terço. |
Dia 24: Mãe sempre presenteSeguimos nosso guia espiritual mostrando que da Maternidade de graça de Maria decorre sua Soberania nas almas. Ele afirma que a Virgem, unida às três Pessoas divinas na obra da santificação, “recebeu de Deus uma grande dominação na alma dos eleitos” (n. 37). Mãe dos predestinados, ela é também sua Soberana, com poder de conduzi-los e governá-los desde a concepção na graça até a glória eterna, formando-os como membros perfeitos de Cristo e permanecendo sua Rainha por toda a eternidade.Esse poder supõe não só o direito de entrar em nosso interior, mas de possuir-nos de modo permanente e atuante, com uma presença contínua. Trata-se da PRESENÇA DE AÇÃO de Maria no íntimo de nossas faculdades, cuja ação materna acompanha a ação do Espírito Santo, sendo movida por ela. (Não se deve confundir essa presença com a inabitação substancial das três Pessoas divinas; a presença de Maria é operativa). São Luís Maria de Montfort ilustra essa presença materna com a figura de Rebeca cuidando de Jacó, símbolo dos predestinados. Nos números 183 a 200 do Tratado, ele destaca o amor de Jacó por Rebeca como imagem do amor dos predestinados por Maria. Em seguida, nos números 201 a 212, descreve com alegria os bons Ofícios que a Santíssima Virgem presta a seus escravos de amor, especialmente durante e após sua Consagração. Consideremos, com ele, esses Ofícios maternos, recomendando a leitura meditativa dos números anteriores, sobretudo os que mostram a piedade filial diária dos predestinados para com Maria (n. 196-200). Invoquemos o Espírito Santo e sua Esposa imaculada. Veni, sancte Spiritus! Ave, maris Stella. I. NO TEMPO DA PREPARAÇÃO E DA PROFISSÃO DE SUA CONSAGRAÇÃO, MARIA CERCA COM AMOR SEUS ESCRAVOS FIÉIS. Ama-os por ser sua verdadeira Mãe, gerando-os para a graça no batismo. Ama-os ainda mais por eles a escolherem como Mãe e Senhora, reconhecendo sua filiação e total pertencimento. Maria é agradecida e lhes mostra mais afeição, vendo neles os predestinados: Jacob dilexi (Rom 9, 13). “Ela os ama ternamente, mais do que todas as mães juntas”, diz Montfort (n. 202). Seu amor é eficaz, ativo e efetivo, como o de Rebeca por Jacó, mas muito mais, desejando-lhes a bênção do Pai. Para isso: 1º “Procura ocasiões favoráveis para fazer-lhes o bem”, vendo tudo em Deus, dispondo os acontecimentos para poupá-los dos males e enriquecê-los com bens. Ela mesma administra seus interesses (n. 203). 2º “Dá-lhes bons conselhos”, como Rebeca a Jacó: Fili mi, acquiesce consiliis meis. Aconselha consagrar-lhe corpo e alma e seguir os ensinamentos de Jesus. Seja por inspirações diretas, seja por meio dos anjos, transmite suas luzes (n. 204). 3º Quando lhe entregamos tudo, Maria age como Rebeca com os cabritos: mata-os, despojando-nos do velho Adão, das inclinações naturais, do amor-próprio, da própria vontade, de todo apego; purifica-nos, prepara-nos ao gosto de Deus e para sua glória, que só ela conhece plenamente (n. 205). 4º Não se contenta em purificar; reveste-nos com as roupas de Jesus, de quem é tesoureira dos méritos e virtudes, comunicando-os conforme sua vontade (n. 206). “Orna-nos com os méritos de nossas próprias ações”, depois de purificadas. Conserva e aumenta o bem, tornando-o força e ornamento, preparando-nos para carregar o jugo do Senhor e realizar grandes obras. Dá-nos “um novo perfume e uma nova graça”, comunicando-nos seus próprios méritos e virtudes. Assim, seus servos estão “duplamente revestidos” com as vestes de seu Filho e as suas: Omnes domestici ejus vestiti sunt duplicibus (Prov 31, 21). Nada têm a temer do frio de Cristo, que os reprovados, nus e despojados, não suportarão. No julgamento, Jesus, buscando o brilho da brancura em nossas almas, não nos olhará com frieza, mas reconhecerá sua própria santidade e a de sua Mãe. 5º “Ela os faz obter a bênção do Pai celestial”, à qual só Jesus tem direito por natureza. Com as vestes preparadas por Maria, corpo e alma prontos, aproximam-se com confiança. O Pai ouve sua voz, sente suas mãos e o perfume das vestes, alegra-se com o que Maria preparou e, reconhecendo neles os méritos de Jesus e de Maria: 1. Dá-lhes a dupla bênção: do orvalho do Céu (graça) e da gordura da terra (sustento e bens). 2. Torna-os senhores dos reprovados — primazia que será manifesta plenamente na eternidade. 3. Abençoa quem os bendiz e amaldiçoa quem os maldiz ou persegue (n. 207). Esse é o amor eficaz de Maria: presença maternal sempre ativa, que toma a dianteira e pede nossa obediência. Nossa maior alegria deve ser obedecer-lhe, viver sob seu olhar, em sua companhia, pois somos objeto de sua predileção e obséquios. II. APÓS A CONSAGRAÇÃO, A SANTÍSSIMA VIRGEM CONTINUA PRODIGALIZANDO SEUS BONS OFÍCIOS AOS SEUS ESCRAVOS DE AMOR. 1º Ela provê tudo para o corpo e para a alma. Para o corpo, garante o pão cotidiano e os bens necessários. Para a alma, dá-lhes o Pão eucarístico — “seu Pão”, que ela formou e preparou — e o vinho misturado com o leite de suas mamas: Venite, comedite panem meum et bibite vinum quod miscui vobis (Prov 9, 5). Alimenta seus filhos com sua própria substância, transmitida ao Verbo Encarnado. A Eucaristia nos oferece a carne e o sangue que Jesus recebeu unicamente de Maria. Santa Teresinha dizia: “Minha branca Hóstia é o leite virginal”. Como Tesoureira e Dispensadora das graças do Altíssimo, Maria reserva uma porção abundante e escolhida para seus filhos e escravos, que são verdadeiramente “levados aos seus peitos”: Ad ubera portabimini (Is 66, 12). Com isso, carregam o jugo do Senhor com leveza e doçura (n. 208). 2º Maria conduz e dirige seus escravos. Como Jacó recorria à luz de Rebeca, também os escravos de Maria confiam em seus conselhos, provocando e facilitando sua intervenção oportuna. Ela é a Estrela do Mar que conduz ao porto seguro, mostrando o caminho, evitando perigos, sustentando na queda, reerguendo, repreendendo e até corrigindo amorosamente. Um filho obediente a Maria não se perde: Ipsam sequens, non devias — “Seguindo-a, não vos desviais”; Ipsa tenente, non corruis — “Se ela vos sustenta, não caís” (n. 209). Montfort reconhece (n. 167) que, mesmo errando materialmente, esse filho não se obstina no erro, mas o reconhece e o abandona. Que segurança bendita essa presença materna nos proporciona! 3º Maria defende e protege seus escravos contra os inimigos. Como Rebeca salvou Jacó do ódio de Esaú, Maria protege seus filhos das perseguições dos reprovados. Ela os esconde sob suas asas como a galinha protege os pintinhos, condescendendo com suas fraquezas, rodeando-os como exército em ordem de batalha: ut castrorum acies ordinata (Ct 6, 3). Um servo fiel de Maria, cercado por sua proteção e poder, tem ainda menos a temer que um homem protegido por cem mil soldados. Se necessário, ela envia legiões de anjos em seu socorro. Jamais se ouviu dizer que um servo fiel de Maria tenha sucumbido à malícia de seus inimigos (n. 210). Missionários na China, legionários e escravos de Maria, são exemplo vivo dessa presença protetora. 4º Maria intercede por seus fiéis escravos junto a Jesus. Depois de cumulá-los de favores e obter-lhes a bênção do Pai, une-os intimamente a Cristo e os conserva nessa união. Guarda-os para que não percam a graça nem caiam nas ciladas do inimigo, como vimos no quinto Dia da primeira Semana. Ela lhes obtém a perseverança final — “o maior bem que Maria obtém a seus fiéis escravos” (n. 211). Assim, ela os faz perseverar até o fim (n. 212). ---- Tal é a eficácia da intercessão onipotente de Maria: ela exige, como os demais bons Ofícios, uma contínua imitação de suas virtudes — o que Montfort chama de “guardar os caminhos da Santíssima Virgem”, com base em Provérbios 8, 32: Beati qui custodiunt vias meas. Nisso, os escravos de amor de Maria “são verdadeiramente felizes e carregam a marca infalível de sua predestinação”. “Eles são felizes neste mundo, durante sua vida, pela abundância das graças e das doçuras que ela lhes comunica de sua plenitude, e mais abundantemente do que aos outros que não a imitam de tão perto. “Eles são felizes em sua morte, que é doce e tranquila, e à qual Maria assiste ordinariamente, para conduzi-los pessoalmente às alegrias do Paraíso. “Por fim, eles serão felizes na eternidade, porque nunca qualquer dos seus servos, que imitou suas virtudes durante a vida, se perdeu.” (n. 200.) Maria permanece para eles essa ADJUTRIX PRAESENTISSIMA — “ajuda muito presente” — invocada na 12ª Estrela da Pequena Coroa. Repitamos com Montfort: “Ó Santa Virgem, minha boa Mãe, quão felizes são aqueles, repito-o com os êxtases de meu coração, quão felizes são aqueles e aquelas que guardam fielmente vossos caminhos, vossos conselhos e vossas ordens!” (n. 200.) ORAÇÕES Ladainha do Espírito Santo Senhor, tem piedade de nós. Jesus Cristo, tem piedade de nós. Divino Espírito Santo, ouve-nos. Espírito Paráclito, atende-nos. Deus Pai dos céus, tem piedade de nós. Deus Filho, redentor do mundo, tem piedade de nós. Deus Espírito Santo, tem piedade de nós. Santíssima Trindade, que és um só Deus, tem piedade de nós. Espírito da verdade, tem piedade de nós. Espírito da sabedoria, tem piedade de nós. Espírito da inteligência, tem piedade de nós. Espírito da fortaleza, tem piedade de nós. Espírito da piedade, tem piedade de nós. Espírito do bom conselho, tem piedade de nós. Espírito da ciência, tem piedade de nós. Espírito do santo temor, tem piedade de nós. Espírito da caridade, tem piedade de nós. Espírito da alegria, tem piedade de nós. Espírito da paz, tem piedade de nós. Espírito das virtudes, tem piedade de nós. Espírito de toda graça, tem piedade de nós. Espírito da adoção dos filhos de Deus, tem piedade de nós. Purificador das nossas almas, tem piedade de nós. Santificador e guia da Igreja Católica, tem piedade de nós. Distribuidor dos dons celestes, tem piedade de nós. Conhecedor dos pensamentos e das intenções do coração, tem piedade de nós. Doçura dos que começam a te servir, tem piedade de nós. Coroa dos perfeitos, tem piedade de nós. Alegria dos anjos, tem piedade de nós. Luz dos patriarcas, tem piedade de nós. Inspiração dos profetas, tem piedade de nós. Palavra e sabedoria dos apóstolos, tem piedade de nós. Vitória doa mártires, tem piedade de nós. Ciência dos confessores, tem piedade de nós. Pureza das virgens, tem piedade de nós. Unção de todos os santos, tem piedade de nós. Sede-nos propício, perdoa-nos, Senhor. Sede-nos propício, atende-nos, Senhor. De todo o pecado, livra-nos, Senhor. De todas as tentações e ciladas do demônio, livra-nos, Senhor. De toda a presunção e desesperação, livra-nos, Senhor. Do ataque à verdade conhecida, livra-nos, Senhor. Da inveja da graça fraterna, livra-nos, Senhor. De toda a obstinação e impenitência, livra-nos, Senhor. De toda a negligência e tepor do espírito, livra-nos, Senhor. De toda a impureza da mente e do corpo, livra-nos, Senhor. De todas as heresias e erros, livra-nos, Senhor. De todo o mau espírito, livra-nos, Senhor. Da morte má e eterna, livra-nos, Senhor. Pela tua eterna procedência do Pai e do Filho, livra-nos, Senhor. Pela milagrosa conceição do Filho de Deus, livra-nos, Senhor. Pela tua descida sobre Jesus Cristo batizado, livra-nos, Senhor. Pela tua santa aparição na transfiguração do Senhor, livra-nos, Senhor. Pela tua vinda sobre os discípulos do Senhor, livra-nos, Senhor. No dia do juízo, livra-nos, Senhor. Ainda que pecadores, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que nos perdoes, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes vivificar e santificar todos os membros da Igreja, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes conceder-nos o dom da verdadeira piedade, devoção e oração, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes inspirar-nos sinceros afetos de misericórdia e de caridade, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes criar em nós um espírito novo e um coração puro, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes conceder-nos verdadeira paz e tranquilidade no coração, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes fazer-nos dignos e fortes, para suportar as perseguições pela justiça, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes confirmar-nos em tua graça, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes receber-nos no número dos teus eleitos, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes ouvir-nos, nós vos rogamos, ouví-nos. Espírito de Deus, nós vos rogamos, ouví-nos. Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, envia-nos o Espírito Santo. Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, manda-nos o Espírito prometido do Pai. Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, dá-nos o Espírito bom. Espírito Santo, ouví-nos. Espírito Consolador, atendei-nos. ℣. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado. ℟. E renovareis a face da terra. Oremos: Deus, que instruístes o coração de vossos fiéis, com a luz do Espírito Santo, concedei-nos que, no mesmo Espírito, conheçamos o que é reto, e gozemos sempre as suas consolações. Por Cristo, Nosso Senhor. Amém. Ladainha de Nossa Senhora Senhor, tende piedade de nós. Cristo, tende piedade de nós. Senhor, tende piedade de nós. Santa Maria, rogai por nós. Santa Mãe de Deus, rogai por nós. Santa Virgem das Virgens, rogai por nós. Mãe de Cristo, rogai por nós. Mãe da Igreja, rogai por nós. Mãe de misericórdia, rogai por nós. Mãe da divina graça, rogai por nós. Mãe da esperança, rogai por nós. Mãe puríssima, rogai por nós. Mãe castíssima, rogai por nós. Mãe sempre virgem, rogai por nós. Mãe imaculada, rogai por nós. Mãe amável, rogai por nós. Mãe admirável, rogai por nós. Mãe do bom conselho, rogai por nós. Mãe do Criador, rogai por nós. Mãe do Salvador, rogai por nós. Virgem prudentíssima, rogai por nós. Virgem venerável, rogai por nós. Virgem louvável, rogai por nós. Virgem poderosa, rogai por nós. Virgem clemente, rogai por nós. Virgem fiel, rogai por nós. Espelho de justiça, rogai por nós. Sede de sabedoria, rogai por nós. Causa da nossa alegria, rogai por nós. Vaso espiritual, rogai por nós. Vaso honorífico, rogai por nós. Vaso insigne de devoção, rogai por nós. Rosa mística, rogai por nós. Torre de Davi, rogai por nós. Torre de marfim, rogai por nós. Casa de ouro, rogai por nós. Arca da aliança, rogai por nós. Porta do céu, rogai por nós. Estrela da manhã, rogai por nós. Saúde dos enfermos, rogai por nós. Refúgio dos pecadores, rogai por nós. Conforto dos migrantes, rogai por nós. Consoladora dos aflitos, rogai por nós. Auxílio dos cristãos, rogai por nós. Rainha dos anjos, rogai por nós. Rainha dos patriarcas, rogai por nós. Rainha dos profetas, rogai por nós. Rainha dos apóstolos, rogai por nós. Rainha dos mártires, rogai por nós. Rainha dos confessores, rogai por nós. Rainha das virgens, rogai por nós. Rainha de todos os santos, rogai por nós. Rainha concebida sem pecado original, rogai por nós. Rainha assunta ao céu, rogai por nós. Rainha do santo rosário, rogai por nós. Rainha da família, rogai por nós. Rainha da paz, rogai por nós. Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, perdoai-nos, Senhor. Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, ouvi-nos, Senhor. Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós. ℣. Rogai por nós, Santa Mãe de Deus. ℟. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo. Oremos: Senhor Deus, nós Vos suplicamos que concedais aos vossos servos perpétua saúde de alma e de corpo; e que, pela gloriosa intercessão da bem-aventurada sempre Virgem Maria, sejamos livres da presente tristeza e gozemos da eterna alegria. Por Cristo Nosso Senhor. Amém. Ave maris stella (Ave, do mar Estrela) (Latim) 1. Ave maris stella, Dei Mater alma, Atque semper Virgo, Felix cæli porta. 2. Sumens illud Ave Gabrielis ore, Funda nos in pace, Mutans Hevæ nomen. 3. Solve vincla reis, Profer lumen cæcis, Mala mostra pelle, Bona cuncta posce. 4. Monstra te esse matrem, Sumat per te preces, Qui pro nobis natus Tulit esse tuus. 5. Virgo singularis, Inter omnes mitis, Nos, culpis solutos, Mites fac et castos. 6. Vitam præsta puram Iter para tutum, Ut, videntes Jesum, Semper collætemur. 7. Sit laus Deo Patri, Summo Christo decus, Spiritui Sancto, Tribus honor unus. Amen. (Vernáculo) 1. Ave, do mar Estrela De Deus mãe bela, Sempre virgem, da morada Celeste Feliz entrada. 2. Ó tu que ouviste da boca Do anjo a saudação; Dá-nos a paz e quietação; E o nome da Eva troca. 3. As prisões aos réus desata. E a nós cegos alumia; De tudo que nos maltrata Nos livra, o bem nos granjeia. 4. Ostenta que és mãe, fazendo Que os rogos do povo seu Ouça aquele que, nascendo Por nós, quis ser filho teu. 5. Ó virgem especiosa, Toda cheia de ternura, Extintos nossos pecados Dá-nos pureza e brandura, 6. Dá-nos uma vida pura, Põe-nos em via segura, Para que a Jesus gozemos, E sempre nos alegremos. 7. A Deus Pai veneremos: A Jesus Cristo também: E ao Espírito Santo; demos Aos três um louvor. Amém. Reze um Rosário completo ou ao menos um terço. |
4ª parte |
Orientações da Quarta ParteA quarta parte de nossa Preparação é dedicada ao conhecimento de Jesus Cristo, a Sabedoria Eterna e Encarnada. Montfort, logo no início da fórmula de Consagração, designa sob o nome de “Sabedoria” a segunda Pessoa da Santíssima Trindade, o Filho gerado eternamente pelo Pai, que se fez homem no seio da Virgem Maria.Jesus Cristo, Verbo Encarnado, é a Sabedoria substancial e eterna, em quem estão todos os tesouros de graça e ciência da Divindade, revelados com os atrativos de sua Humanidade santa. Ele possui em plenitude todos os bens que o espírito e o coração humano podem desejar, saciando a fome e sede de Verdade, Bondade, Beleza e Beatitude. Montfort, desde sua juventude clerical, se apaixonou por essa Sabedoria. Compôs então sua primeira obra, “O Amor da Sabedoria Eterna”, para nos atrair a ela por seus encantos. Seguiremos com ele nesse olhar amoroso que contempla a Sabedoria antes e durante sua Encarnação, para entender por que Montfort não indica outro fim à Consagração senão a Posse da Sabedoria — isto é, da própria Pessoa de Jesus Cristo com todos os seus Bens ocultos sob esse nome suave: “Sabedoria”. Neste primeiro Dia, contemplaremos a Sabedoria Eterna: 1º em sua ORIGEM no seio de Deus; 2º na CRIAÇÃO do universo; 3º em seu DESEJO veemente de se dar aos homens após a queda de Adão. Como nas Semanas anteriores, recitaremos as ladainhas do Espírito Santo e a Ave, Maris Stella, acrescentando agora diariamente a ladainha do Santo Nome de Jesus ou do Sagrado Coração. Também se pode dizer a oração de Santo Agostinho (V. D., n. 67). Não temamos rezar demais nesta última Semana, destinada a ser a mais rica e fecunda. Repetir ao longo do dia: “Senhor, que eu Vos conheça!” LEMBRETE: Agende sua confissão, faltam apenas 7 dias para sua consagração. |
Dia 25: Ó Sabedoria Eterna!A origem da Sabedoria Eterna. “Ó profundidade e imensidão, ó incompreensibilidade da Sabedoria de Deus!” – exclama Montfort com São Paulo: O altitudo… Sapientiae… Dei! (Rm 11, 33), e com Isaías: Generationem ejus quis enarrabit? (Is 53, 8). “Qual o Anjo esclarecido o bastante e o homem temerário o bastante para tentar explicar, como se deve, sua origem? Aqui todos os olhos devem se fechar para não serem cegados por tão viva luz; toda língua deve se calar para não obscurecer tal beleza tentando descrevê-la; todo espírito deve se aniquilar e adorar, para não ser esmagado pela glória da divina Sabedoria.” (A.S.E., n. 15.)Somente os textos inspirados podem nos dar uma ideia dessa origem. Os Livros sapienciais preparam a Revelação plena do Novo Testamento. Ainda que seus autores, na fé do Antigo Testamento, não concebessem a Sabedoria como pessoa, descrevem-na com traços que convêm perfeitamente a uma. O Livro da Sabedoria (7, 25-26) nos diz: Ela é uma exalação do poder divino, e uma como pura emanação da claridade do Todo-Poderoso, e por isso não se pode encontrar nela a menor impureza. Porque ela é o clarão da luz eterna, e o espelho sem mácula da majestade de Deus, e a imagem da sua bondade. Essas expressões mostram sua origem misteriosa: proveniente de Deus, consubstancial a Ele, imaterial, infinitamente pura, simples, eficaz. O Livro dos Provérbios (8, 22-27) afirma que a Sabedoria foi criada, isto é, produzida desde o princípio, antes de tudo: O Senhor me possuiu no princípio de seus caminhos, desde o princípio, antes que criasse coisa alguma. Desde a eternidade fui constituída, e desde o princípio, antes que a terra fosse criada. Ainda não havia os abismos, e eu estava já concebida… Quando ele preparava os céus, eu estava presente… Aqui se descreve, poeticamente, a preexistência eterna da Sabedoria. Ao dizer que ela existia antes da terra e do abismo — referência ao Gênesis 1, 2 e ao Salmo 103 —, o autor confirma que a Sabedoria é anterior à criação. Ao dizer que ela foi “concebida”, antes da existência do mundo, insinua a ideia de geração. Ela recebeu de Deus o ser, desde sempre. A Sabedoria revela, assim, o segredo de sua origem: procedente de Deus, fundada n’Ele, distinta d’Ele, e eterna como Ele. ---- O apóstolo São Paulo, com a plena Revelação do mistério da Santíssima Trindade, aplica diretamente à Pessoa de Jesus Cristo os belos textos dos Livros sapienciais que falam da Sabedoria divina (cf. Cl 1, 15-16; Hb 1, 3). Como observa o Pe. Saint-Jure, “é preciso entendê-los, segundo a interpretação comum dos Padres, de Nosso Senhor Jesus Cristo, a Sabedoria encarnada.” (Do Conhecimento e do Amor de Nosso Senhor Jesus Cristo, Tomo I, cap. IV.) São João, o Vidente de Patmos, completa São Paulo, ao chamar de “Verbo” essa Sabedoria “saída da boca do Altíssimo”, preexistente a tudo, presente desde o início da Revelação. In principio erat Verbum… (Jo 1, 1): “No princípio existia o Verbo”, isto é, o Filho de Deus, a Sabedoria Eterna. Com esse nome, São João revela a geração sublime e espiritual que ele contemplava no seio da Trindade. O Pai, sendo objeto infinito de conhecimento, gera um Filho, que é seu Pensamento subsistente, Palavra interior, Imagem perfeita, idêntico em natureza, igual em perfeição — seu Verbo íntimo, inseparável, por quem exprime sua riqueza infinita. “No princípio era o Verbo”; ou seja, quando as coisas começaram, o Verbo já existia. Ele é eterno, pois precede o tempo. Nessa eternidade imóvel, “o Verbo habitava junto de Deus”, como a Ideia da divina Beleza contemplando a si mesma, como Pessoa distinta, partilhando da mesma vida divina. “E o Verbo era Deus”: consubstancial ao Pai, da mesma natureza que Deus. Nada de mais profundo poderia ser dito. Assim, os Livros santos convergem para mostrar a Sabedoria mergulhada na eternidade: ela procede de Deus, e é Deus. Adoremo-la, louvemo-la, glorifiquemo-la com São Luís Maria de Montfort. II. A SABEDORIA ETERNA NA CRIAÇÃO. “A Sabedoria começou a brilhar fora do seio de Deus… quando fez a luz, o Céu e a terra.” São João afirma: Omnia per ipsum facta sunt (Jo 1, 3) — tudo foi feito pelo Verbo, isto é, pela Sabedoria Eterna. Ela é a mãe e a artífice de todas as coisas: Horum omnium mater est. Omnium artifex Sapientia… (Sb 7, 12.21). Essa Beleza soberanamente reta, após criar o mundo, dispôs nele a ordem admirável que contemplamos: separou, compôs, contou e organizou tudo. Estendeu os céus, colocou o sol, a lua, as estrelas e os planetas em harmonia; assentou os fundamentos da terra, fixou limites ao mar e às ondas. Formou montanhas, pesou e balanceou até as fontes. Por fim, declara: “Eu estava com Deus, e regulava todas as coisas com uma justeza tão perfeita que era como um jogo que eu jogava para me divertir e divertir meu Pai”: Cum eo eram cuncta componens; et delectabar per singulos dies, ludens coram eo omni tempore, ludens in orbe terrarum (Pr 8, 30-31). Esse jogo inefável da Sabedoria se reflete nas criaturas do universo. Sem falar dos inúmeros anjos, das estrelas em suas grandezas, dos temperamentos humanos, vê-se a admirável variação nas estações e tempos, nos instintos dos animais, nas espécies vegetais, na beleza das flores, nos sabores dos frutos. Qui sapiens, et intelliget haec? (Sl 106, 43) — quem é sábio para compreender essas maravilhas? A Sabedoria revelou esses mistérios aos santos. Em suas vidas, vemos como eram arrebatados ao êxtase diante da beleza, delicadeza e ordem da divina Sabedoria nas menores criaturas: uma abelha, uma formiga, uma espiga, uma flor, um pequeno verme — tudo lhes causava encantamento. (A.S.E., n. 31-34) Admirar na natureza e nas estações as maravilhas da Eterna Sabedoria, aproveitar cada ocasião para louvá-la e bendizê-la com ímpeto do coração, é carregar em si uma alma de oração. ---- “Se o poder e a mansidão da Sabedoria Eterna tanto brilharam na criação, na beleza e na ordem do universo, ela brilhou muito mais na criação do homem, sua obra-prima admirável, imagem viva de sua beleza e perfeições, vaso de suas graças, tesouro de suas riquezas, representante único sobre a terra: Sapientia tua fecisti hominem, ut dominaretur omni creaturae quae a te facta est (Sb 9, 2).” (n. 35) São Luís Maria de Montfort descreve, para a glória dessa poderosa Artífice, a beleza e excelência original do homem: “Ela fez cópias brilhantes de seu entendimento, memória e vontade, e as deu à alma do homem, para que fosse o retrato vivo da Divindade. Acendeu-lhe no coração um incêndio de puro amor por Deus; formou-lhe um corpo luminoso, e nele encerrou todas as perfeições dos anjos e das criaturas.” “Tudo no homem era luz sem trevas, beleza sem feiúra, pureza sem mácula, ordem sem desordem. Tinha a luz da Sabedoria em seu espírito, com a qual conhecia perfeitamente o Criador e suas obras; tinha a graça de Deus em sua alma, pela qual era inocente e agradável ao Altíssimo; no corpo, possuía a imortalidade. No coração, o puro amor de Deus, sem temor da morte, amando-O continuamente e puramente por Ele mesmo. Estava tão divinamente unido a Deus que vivia fora de si, extasiado, sem paixões a vencer ou inimigos a combater. Ó generosidade da Sabedoria Eterna para com o homem! Ó maravilhoso estado do homem em sua inocência!” (n. 37-38) Mas o homem peca. Perde essa inocência, beleza, imortalidade. Perde todos os bens recebidos. Vê-se condenado à morte, expulso do paraíso e da presença de Deus. A justiça divina o persegue com sua posteridade; o Céu se fecha, o inferno se abre — e ninguém para abrir um e fechar o outro. Que fará a Sabedoria Eterna? III. A SABEDORIA ETERNA APÓS A QUEDA DO HOMEM. Ela se comove profundamente com a desgraça de Adão e seus descendentes. Vê, com pesar, seu vaso de honra quebrado, seu retrato rasgado, sua obra-prima destruída, seu representante na terra derrubado. Inclina com ternura o ouvido à voz gemente do homem, aos seus gritos. Compadece-se dos suores de seu rosto, das lágrimas de seus olhos, dos trabalhos de seus braços, da dor de seu coração e da aflição de sua alma. Montfort descreve essa amável Soberana como convocando novamente, por assim dizer, a Santíssima Trindade para reparar o homem, como já o havia feito para criá-lo. Nesse grande conselho, parece haver um combate entre a Sabedoria Eterna e a Justiça divina. A Sabedoria reconhece que o homem, por seu pecado, merece o mesmo castigo dos anjos rebeldes, mas implora piedade, pois ele pecou mais por fraqueza e ignorância do que por malícia. Argumenta que é um prejuízo imenso que tal obra-prima permaneça escrava de seu inimigo, e que milhões de homens se percam por causa de um só. Mostra os lugares celestes deixados vazios pela queda dos anjos, que devem ser preenchidos, e a glória que Deus receberá por toda a eternidade ao salvar o homem. A Justiça responde que o decreto de morte contra o homem e sua descendência foi proferido e deve ser executado sem misericórdia; que o homem foi ingrato aos benefícios recebidos, seguiu o demônio em sua rebelião e orgulho, e deve segui-lo também em seus castigos, pois o pecado exige punição. Diante disso, a Sabedoria Eterna, vendo que nada no universo pode expiar o pecado do homem, satisfazer a Justiça e acalmar a cólera divina, mas desejando salvar o homem por amor, encontra um meio admirável. Em espantoso e incompreensível excesso de amor, essa soberana e amável Princesa oferece-se a si mesma em sacrifício ao Pai: para pagar a Justiça, acalmar a cólera divina, libertar-nos da escravidão do demônio e do inferno, e conquistar-nos a bem-aventurança eterna. A oferta é aceita. O conselho é confirmado e decretado: a Sabedoria Eterna, o Filho de Deus, se fará homem, no tempo oportuno e nas circunstâncias determinadas. (n. 41-46) ---- Esperando o tempo de sua Encarnação, a Sabedoria Eterna manifesta de muitos modos sua amizade pelos descendentes de Adão e seu profundo desejo de lhes comunicar seus favores e de conviver com eles: “Minhas delícias são estar com os filhos dos homens” — Deliciae meae esse cum filiis hominum (Pr 8, 31). Assim, preserva da condenação os que têm fé em sua vinda. Conserva Adão, livrando-o por meio do arrependimento e da expiação. Quando o dilúvio destrói a terra por causa da descendência perversa de Caim, ela salva o mundo, guiando o justo Noé, sempre obediente a suas ordens. Antes e depois de Noé, forma os santos Patriarcas, guardiões e transmissores da Revelação primitiva. Quando as nações se entregam ao mal, ela prepara para si, em Abraão, um povo de crentes. Retira-o da Caldeia e o fixa em Canaã, a terra que testemunharia sua Encarnação. O Eclesiástico (cap. 24) a apresenta estabelecendo sua morada em Israel, entre o povo eleito: Em todos os povos, e entre todas as nações tive a primazia. Entre todos estes povos busquei um lugar de repouso, e uma morada na herança do Senhor. Então o Criador de tudo deu-me os seus preceitos, e aquele que me criou descansou no meu tabernáculo. E disse-me: Habita em Jacó, e possui a tua herança em Israel. Fui assim firmada em Sião, e repousei na cidade santa, e em Jerusalém está o meu poder. Estabelecida em Israel, a Sabedoria lança raízes no meio de um povo glorioso: Tomei raízes na porção do meu Deus, que é a sua herança. Ali, cresce magnificamente, produzindo frutos incomparáveis de santidade. Para descrevê-los, o autor sagrado usa comparações poéticas, atribuídas à própria Sabedoria: Elevei-me como o cedro do Líbano, e como o cipreste do monte Sião. Cresci como a palmeira de Cades, e como as plantas das rosas de Jericó. Elevei-me como uma formosa oliveira dos campos, e como o plátano nas praças junto da água. Em seguida, recorre aos perfumes vegetais mais refinados: Difundi um perfume como o cinamomo e o bálsamo aromático, e como mirra escolhida exalei suave cheiro. Perfumei a minha habitação, como de estoraque, gálbano, ônix e mirra, e como gota de incenso caída por si própria. E por fim, declara sua fecundidade prodigiosa: Estendi os meus ramos como o terebinto, e os meus ramos são ramos de honra e de glória. Como a vide lancei flores de um agradável cheiro; e as minhas flores dão fruto de honra e de honestidade. Dessa linhagem privilegiada, surgem personagens santos e ilustres: Moisés, Samuel, Elias, Eliseu; poetas de gênio que nos deixaram os Salmos e os Livros sapienciais; grandes videntes, cujos escritos proféticos são celebrados pela Igreja ao longo do Ano litúrgico. Entre os cinco Livros sapienciais, o da Sabedoria, composto no primeiro século antes de Cristo, prepara de modo imediato o Evangelho. Ele transborda em louvores à Sabedoria Eterna — suas excelências, belezas, amabilidades e o desejo que tem de conquistar o coração humano. Montfort afirma que este Livro foi escrito com esse fim: devemos considerá-lo como uma carta de uma amante ao seu amado, para ganhar-lhe a afeição. Os desejos que ela manifesta pelo coração do homem são tão ardentes, seus chamados tão amorosos, que, ao ouvi-la, dir-se-ia que não é a Soberana do Céu e da terra, mas alguém que precisa do homem para ser feliz. Para encontrar o homem, ela corre pelas estradas, sobe aos montes, vem às portas das cidades, entra nas praças, clama no meio das assembleias: “Ó homens! Ó filhos dos homens, é a vós que minha voz clama há tanto tempo: O viri, ad vos clamito, et vox mea ad filios hominum” (Pr 8, 4). “Sois vós que desejo, que procuro, que reclamo. Escutai, vinde a mim: quero vos tornar felizes…” E, se o homem ainda hesita por causa de seu brilho e majestade, ela o tranquiliza, dizendo que é de fácil acesso; que se deixa ver por quem a ama; que protege os que a desejam; que se mostra a eles primeiro, e que aquele que a busca logo ao amanhecer a encontrará sentada à sua porta. (A.S.E., n. 65, 66, 69) ---- Entretanto, apesar dos desejos calorosos da Sabedoria Eterna, milhares de anos se passaram antes de sua Encarnação, porque a resposta dos homens não tinha ainda força suficiente para atraí-la do seio do Pai. Os santos da antiga Lei suplicaram com insistência pelo Messias. Gemiam, choravam, exclamavam: Ó nuvens, chovei o Justo! Ó terra, germinai o Salvador! Ó Sabedoria, que saístes da boca do Altíssimo… vinde livrar-nos. Mas suas orações e sacrifícios não tinham o valor necessário para merecer essa “graça das graças”. Mesmo o povo eleito, advertido e admoestado pelos Profetas, tantas vezes se mostrou infiel. E o mundo pagão, como afirma Santo Agostinho, era indigno de receber o Filho de Deus diretamente das mãos do Pai. Somente Maria, a humilde Virgem, mereceu — pela força de suas orações e pela elevação de suas virtudes — ver o Verbo eterno, a Sabedoria Eterna, fazer-se homem em seu seio. Isso nos revela o Tesouro infinito que é essa divina Sabedoria e o ardente desejo que devemos ter de possuí-la, a exemplo de São Luís Maria de Montfort, que cantava: Digna Mãe de Deus, Virgem pura e fiel, Comunicai-me vossa fé; Com ela terei a Sabedoria, E todos os bens virão a mim. Sabedoria, vinde, pois, pela fé de Maria, Não pudestes resistir-lhe; Ela vos deu a vida, Ela vos fez encarnar. (Cânt. n. 74) ORAÇÕES Ladainha do Espírito Santo Senhor, tem piedade de nós. Jesus Cristo, tem piedade de nós. Divino Espírito Santo, ouve-nos. Espírito Paráclito, atende-nos. Deus Pai dos céus, tem piedade de nós. Deus Filho, redentor do mundo, tem piedade de nós. Deus Espírito Santo, tem piedade de nós. Santíssima Trindade, que és um só Deus, tem piedade de nós. Espírito da verdade, tem piedade de nós. Espírito da sabedoria, tem piedade de nós. Espírito da inteligência, tem piedade de nós. Espírito da fortaleza, tem piedade de nós. Espírito da piedade, tem piedade de nós. Espírito do bom conselho, tem piedade de nós. Espírito da ciência, tem piedade de nós. Espírito do santo temor, tem piedade de nós. Espírito da caridade, tem piedade de nós. Espírito da alegria, tem piedade de nós. Espírito da paz, tem piedade de nós. Espírito das virtudes, tem piedade de nós. Espírito de toda graça, tem piedade de nós. Espírito da adoção dos filhos de Deus, tem piedade de nós. Purificador das nossas almas, tem piedade de nós. Santificador e guia da Igreja Católica, tem piedade de nós. Distribuidor dos dons celestes, tem piedade de nós. Conhecedor dos pensamentos e das intenções do coração, tem piedade de nós. Doçura dos que começam a te servir, tem piedade de nós. Coroa dos perfeitos, tem piedade de nós. Alegria dos anjos, tem piedade de nós. Luz dos patriarcas, tem piedade de nós. Inspiração dos profetas, tem piedade de nós. Palavra e sabedoria dos apóstolos, tem piedade de nós. Vitória doa mártires, tem piedade de nós. Ciência dos confessores, tem piedade de nós. Pureza das virgens, tem piedade de nós. Unção de todos os santos, tem piedade de nós. Sede-nos propício, perdoa-nos, Senhor. Sede-nos propício, atende-nos, Senhor. De todo o pecado, livra-nos, Senhor. De todas as tentações e ciladas do demônio, livra-nos, Senhor. De toda a presunção e desesperação, livra-nos, Senhor. Do ataque à verdade conhecida, livra-nos, Senhor. Da inveja da graça fraterna, livra-nos, Senhor. De toda a obstinação e impenitência, livra-nos, Senhor. De toda a negligência e tepor do espírito, livra-nos, Senhor. De toda a impureza da mente e do corpo, livra-nos, Senhor. De todas as heresias e erros, livra-nos, Senhor. De todo o mau espírito, livra-nos, Senhor. Da morte má e eterna, livra-nos, Senhor. Pela tua eterna procedência do Pai e do Filho, livra-nos, Senhor. Pela milagrosa conceição do Filho de Deus, livra-nos, Senhor. Pela tua descida sobre Jesus Cristo batizado, livra-nos, Senhor. Pela tua santa aparição na transfiguração do Senhor, livra-nos, Senhor. Pela tua vinda sobre os discípulos do Senhor, livra-nos, Senhor. No dia do juízo, livra-nos, Senhor. Ainda que pecadores, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que nos perdoes, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes vivificar e santificar todos os membros da Igreja, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes conceder-nos o dom da verdadeira piedade, devoção e oração, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes inspirar-nos sinceros afetos de misericórdia e de caridade, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes criar em nós um espírito novo e um coração puro, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes conceder-nos verdadeira paz e tranquilidade no coração, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes fazer-nos dignos e fortes, para suportar as perseguições pela justiça, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes confirmar-nos em tua graça, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes receber-nos no número dos teus eleitos, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes ouvir-nos, nós vos rogamos, ouví-nos. Espírito de Deus, nós vos rogamos, ouví-nos. Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, envia-nos o Espírito Santo. Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, manda-nos o Espírito prometido do Pai. Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, dá-nos o Espírito bom. Espírito Santo, ouví-nos. Espírito Consolador, atendei-nos. ℣. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado. ℟. E renovareis a face da terra. Oremos: Deus, que instruístes o coração de vossos fiéis, com a luz do Espírito Santo, concedei-nos que, no mesmo Espírito, conheçamos o que é reto, e gozemos sempre as suas consolações. Por Cristo, Nosso Senhor. Amém. Ladainha do Santíssimo Nome de Jesus SENHOR, tende piedade de nós. JESUS CRISTO, tende piedade de nós. SENHOR, tende piedade de nós. JESUS CRISTO, ouvi-nos. JESUS CRISTO, atendei-nos. PAI CELESTE que sois DEUS, tende piedade de nós. FILHO Redentor do mundo, que sois DEUS, tende piedade de nós. ESPÍRITO SANTO, que sois Deus, tende piedade de nós. SANTÍSSIMA TRINDADE, que Sois um só DEUS, tende piedade de nós. JESUS Filho de DEUS vivo, tende piedade de nós. JESUS, esplendor do Pai, tende piedade de nós. JESUS, pureza da luz eterna, tende piedade de nós. JESUS, Rei da glória, tende piedade de nós. JESUS, sol de justiça, tende piedade de nós. JESUS, filho da Virgem MARIA, tende piedade de nós. JESUS amável, tende piedade de nós. JESUS admirável, tende piedade de nós. JESUS, DEUS forte, tende piedade de nós. JESUS, Pai do futuro século, tende piedade de nós. JESUS, Anjo do grande conselho, tende piedade de nós. JESUS poderosíssimo, tende piedade de nós. JESUS pacientíssimo, tende piedade de nós. JESUS obedientíssimo, tende piedade de nós. JESUS, manso e humilde de coração, tende piedade de nós. JESUS, amante da castidade, tende piedade de nós. JESUS, amador nosso, tende piedade de nós. JESUS, DEUS da Paz, tende piedade de nós. JESUS, autor da vida, tende piedade de nós. JESUS, exemplar das virtudes, tende piedade de nós. JESUS, zelador das almas, tende piedade de nós. JESUS, nosso DEUS, tende piedade de nós. JESUS, nosso refúgio, tende piedade de nós. JESUS, pai dos pobres, tende piedade de nós. JESUS, tesouro dos fiéis, tende piedade de nós. JESUS, boníssimo Pastor, tende piedade de nós. JESUS, luz verdadeira, tende piedade de nós. JESUS, Sabedoria eterna, tende piedade de nós. JESUS, bondade infinita, tende piedade de nós. JESUS, nosso caminho e nossa vida, tende piedade de nós. JESUS, alegria dos Anjos, tende piedade de nós. JESUS, Rei dos Patriarcas, tende piedade de nós. JESUS, Mestre dos Apóstolos, tende piedade de nós. JESUS, Doutor dos evangelistas, tende piedade de nós. JESUS, fortaleza dos Mártires, tende piedade de nós. JESUS, luz dos Confessores, tende piedade de nós. JESUS, pureza das virgens, tende piedade de nós. JESUS, coroa de todos os santos, tende piedade de nós. Sede-nos propício, perdoai-nos, JESUS. Sede-nos propício, ouvi-nos, JESUS. De todo o mal, livrai-nos, JESUS. De todo o pecado, livrai-nos, JESUS. De Vossa ira, livrai-nos, JESUS. Das ciladas do demônio, livrai-nos, JESUS. Do espírito da impureza, livrai-nos, JESUS. Da morte eterna, livrai-nos, JESUS. Do desprezo das Vossas inspirações, livrai-nos, JESUS. Pelo mistério da Vossa Santa Encarnação, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa natividade, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa infância, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa santíssima vida, livrai-nos, JESUS. Pelos Vossos trabalhos, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa agonia e pela Vossa paixão, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa cruz e pelo Vosso desamparo, livrai-nos, JESUS. Pelas Vossas angústias, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa morte e pela Vossa sepultura, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa ressurreição, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa ascensão, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa instituição da Santíssima Eucaristia, livrai-nos, JESUS. Pelas Vossas alegrias, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa glória, livrai-nos, JESUS. Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, perdoai-nos, JESUS. Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, ouvi-nos, JESUS. Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, tende piedade de nós, JESUS. JESUS, ouvi-nos. JESUS, atendei-nos. Oremos: Senhor JESUS Cristo, que dissestes: “Pedi e recebereis, buscai e achareis, batei e abrir-se-vos-á”; nós Vos suplicamos que concedei a nós, que Vos pedimos, os sentimentos afetivos de Vosso divino amor, a fim de que nós Vos amemos de todo o coração e que esse amor transcenda por nossas ações. Permiti que tenhamos sempre, Senhor, um igual temor e amor pelo Vosso Santo Nome, pois não deixais de governar aqueles que estabeleceis na firmeza do Vosso amor. Vós que viveis e reinais para todo o sempre. Amém. Ave maris stella (Ave, do mar Estrela) (Latim) 1. Ave maris stella, Dei Mater alma, Atque semper Virgo, Felix cæli porta. 2. Sumens illud Ave Gabrielis ore, Funda nos in pace, Mutans Hevæ nomen. 3. Solve vincla reis, Profer lumen cæcis, Mala mostra pelle, Bona cuncta posce. 4. Monstra te esse matrem, Sumat per te preces, Qui pro nobis natus Tulit esse tuus. 5. Virgo singularis, Inter omnes mitis, Nos, culpis solutos, Mites fac et castos. 6. Vitam præsta puram Iter para tutum, Ut, videntes Jesum, Semper collætemur. 7. Sit laus Deo Patri, Summo Christo decus, Spiritui Sancto, Tribus honor unus. Amen. (Vernáculo) 1. Ave, do mar Estrela De Deus mãe bela, Sempre virgem, da morada Celeste Feliz entrada. 2. Ó tu que ouviste da boca Do anjo a saudação; Dá-nos a paz e quietação; E o nome da Eva troca. 3. As prisões aos réus desata. E a nós cegos alumia; De tudo que nos maltrata Nos livra, o bem nos granjeia. 4. Ostenta que és mãe, fazendo Que os rogos do povo seu Ouça aquele que, nascendo Por nós, quis ser filho teu. 5. Ó virgem especiosa, Toda cheia de ternura, Extintos nossos pecados Dá-nos pureza e brandura, 6. Dá-nos uma vida pura, Põe-nos em via segura, Para que a Jesus gozemos, E sempre nos alegremos. 7. A Deus Pai veneremos: A Jesus Cristo também: E ao Espírito Santo; demos Aos três um louvor. Amém. Oração de Santo Agostinho Vós sois, ó Jesus, o Cristo, meu Pai santo, meu Deus misericordioso, meu Rei infinitamente grande; sois meu bom pastor, meu único mestre, meu auxílio cheio de bondade, meu bem-amado de uma beleza maravilhosa, meu pão vivo, meu sacerdote eterno, meu guia para a pátria, minha verdadeira luz, minha santa doçura, meu reto caminho, sapiência minha preclara, minha pura simplicidade, minha paz e concórdia; sois, enfim, toda a minha salvaguarda, minha herança preciosa, minha eterna salvação... Ó Jesus Cristo, amável Senhor, por que, em toda a minha vida, amei, por que desejei outra coisa senão vós? Onde estava eu quando não pensava em vós? Ah, que pelo menos a partir deste momento meu coração só deseje a vós e por vós se abrase, Senhor Jesus! Desejos de minha alma, correi, que já bastante tardastes; apressai-vos para o fim a que aspirais; procurai em verdade aquele que procurais. Ó Jesus, anátema seja quem não vos ama. Aquele que não vos ama seja repleto de amarguras. Ó doce Jesus, sede o amor, as delícias, a admiração de todo coração dignamente consagrado à vossa glória. Deus de meu coração e minha partilha, Jesus Cristo, que em vós meu coração desfaleça, e sede vós mesmo a minha vida. Acenda-se em minha alma a brasa ardente de vosso amor e se converta num incêndio todo divino, a arder para sempre no altar de meu coração; que inflame o íntimo do meu ser, e abrase o âmago de minha alma; para que no dia de minha morte eu apareça diante de vós, inteiramente consumido em vosso amor... Amém. Repetir ao longo do dia: “Que eu Vos conheça, que eu me conheça.” |
Dia 26: Ó Sabedoria Encarnada!“O tempo determinado para a redenção dos homens tendo, pois, chegado, a Sabedoria Eterna começou por construir para si mesma uma casa, uma morada digna dela: Sapientia aedificavit sibi domum (Pr 9, 1).Ela criou e formou a divina Maria no ventre de Santa Ana com mais prazer do que ao criar o universo. É impossível, diz Montfort, exprimir de um lado as inefáveis comunicações da Santíssima Trindade a essa bela criatura, e de outro a fidelidade com que ela correspondeu às graças do Criador. A torrente impetuosa da bondade infinita de Deus, contida pelos pecados dos homens desde o princípio do mundo, deságua plenamente no Coração de Maria… Ó obra-prima do Altíssimo, ó milagre da Sabedoria Eterna, ó prodígio do Todo-Poder, ó abismo da graça — não há, declaro com todos os santos, ninguém além daquele que vos criou que conheça a altura, a extensão e a profundidade das graças que ele vos concedeu. Maria, em quatorze anos de vida, cresceu de tal modo na graça e sabedoria de Deus, e foi tão perfeitamente fiel a seu amor, que encheu de admiração não só os anjos, mas o próprio Deus. Sua humildade profunda até o aniquilamento o encantou; sua pureza divina o atraiu; sua fé viva e suas preces fervorosas o forçaram. A Sabedoria foi vencida por tamanha insistência amorosa… Desejando descer do seio do Pai ao seio de uma Virgem para deitar-se entre os lírios de sua pureza, a Sabedoria enviou o arcanjo Gabriel para saudá-la em seu nome e anunciar-lhe o desejo de fazer-se homem nela, se ela consentisse. No instante em que Maria deu esse consentimento inefável… o Espírito Santo formou, do mais puro sangue de seu coração, um pequeno corpo, perfeitamente organizado. Deus criou a alma mais perfeita que jamais criara. A Sabedoria Eterna, o Filho de Deus, uniu-se em unidade de Pessoa a esse corpo e a essa alma. E eis a grande maravilha do Céu e da terra, o excesso prodigioso do amor de Deus: VERBUM CARO FACTUM EST — o Verbo se fez carne. A Sabedoria Eterna encarnou. Deus se fez Homem, sem deixar de ser Deus; e esse Homem-Deus se chama Jesus Cristo, isto é, Salvador.” (A.S.E., n. 105-108) ---- Montfort percorre, então, sumariamente, as etapas da vida da Sabedoria Encarnada, desde seu nascimento no estábulo de Belém até sua Ascensão no monte das Oliveiras (n. 109-116). Mas, como essa divina Sabedoria se fez homem para atrair os corações humanos à sua amizade e imitação, e porque, com esse fim, quis ornar-se de todas as amabilidades, iremos primeiro contemplá-la, neste segundo Dia, nos encantos de seus ATRATIVOS humanos e na sublimidade de seus ORÁCULOS evangélicos. Consideraremos sua dependência de Maria nas meditações seguintes. Peçamos à Santa Virgem a graça de bem aproveitarmos as grandes luzes dessa terceira Semana. Ave, Maria. I. OS ATRAIVOS da SABEDORIA ENCARNADA. Montfort resume todos os atrativos da Sabedoria Encarnada em uma constante doçura que irradiava de sua Humanidade santa. 1º Doçura de seu TEMPERAMENTO. “Ela nasceu da mais doce, terna e bela de todas as mães. Explicai-me a mansidão de Jesus? Antes, explicai-me a de Maria, sua Mãe, a quem ele se assemelha. Jesus é filho de Maria; não há nele nem altivez, nem rigor, nem feiúra — e ainda menos do que em sua Mãe — pois ele é a própria Sabedoria Eterna, a própria mansidão e beleza.” Os Profetas, que haviam contemplado essa Sabedoria Encarnada, chamam-na de cordeiro manso (Agnus mansuetus — Jr 11, 19), e predizem que ela “não quebrará a cana rachada, nem apagará a mecha que ainda fumega” (Is 42, 3). São João Batista, após trinta anos de austeridade no deserto, ao vê-la, exclama: “Ecce Agnus Dei” (Jo 1, 29) — “Eis o Cordeiro de Deus”. Não diz “Eis o Altíssimo” ou “o Rei da glória”, mas “o Cordeiro”, pois conhecia profundamente essa Sabedoria repleta da mansidão de Deus e do homem, do Céu e da terra. 2º Doçura de seu NOME. Jesus é o nome próprio da Sabedoria Encarnada. Ele expressa caridade ardente, amor infinito e doçura encantadora. Nil canitur suavius, Nil auditur jucundius, Nil cogitatur dulcius Quam Jesus, Dei Filius. “Nenhum canto é mais suave, voz mais agradável, pensamento mais doce que Jesus, o Filho de Deus.” “Mel in ore, in aure melos, in corde jubilus” — “Mel na boca, melodia ao ouvido, júbilo no coração” (São Bernardo). 3º Doçura de seu SEMBLANTE. O semblante do Salvador era tão doce e indulgente que encantava os olhos e os corações. Os pastores, ao vê-lo no estábulo, ficavam dias inteiros em êxtase. Os reis, tocados por sua beleza, abandonaram o orgulho e prostraram-se ante a manjedoura. “Não encontramos, em nossos palácios, prazeres como neste estábulo”, diziam. Ainda menino, atraía aflitos e crianças: “Vamos ver o pequeno Jesus, o belo Menino de Maria.” São João Crisóstomo afirma que sua beleza e majestade eram tão doces e respeitáveis que desarmavam até os mais cruéis. Por isso, diz-se que os soldados lhe velaram o rosto, para poder esbofeteá-lo, pois sua face os impedia com sua doçura. 4º Doçura de suas PALAVRAS. Nunca se ouviu Jesus gritar ou discutir, como predito: “Non contendet neque clamabit…” (Is 42, 2; Mt 12, 19). Todos os que o ouviam, sem inveja, exclamavam: “Nunquam sic locutus est homo sicut hic homo” (Jo 7, 46). Mesmo os inimigos, surpresos, diziam: “Unde huic sapientia haec?” (Mt 13, 54). Multidões deixavam suas casas, passando dias sem comer, saciadas pela doçura de suas palavras. Por elas, atraiu apóstolos, curou doentes, consolou aflitos. Bastou dizer “Maria” a Madalena, e ela se encheu de júbilo. 5º Doçura de suas AÇÕES. “Bene omnia fecit” (Mc 7, 37) — “Tudo fez bem”. Cada ato de Jesus era justo, sábio, santo e doce. Pobres e crianças o seguiam, vendo nele simplicidade, benignidade, condescendência e caridade. Ao pregar, as crianças corriam a ele. Os apóstolos as afastavam, mas ele dizia: “Deixai vir a mim as crianças” (Mc 10, 14), abraçando-as e abençoando-as. Os pobres, ao vê-lo simples e sem fausto, o defendiam. E ele os abençoava com generosidade. Para com os pecadores, sua doçura era ainda maior: tratou Madalena com ternura, converteu a samaritana com condescendência, perdoou a adúltera com misericórdia, jantou com publicanos para ganhá-los. Chamaram-no, com desprezo, “amigo dos pecadores e publicanos”. Com Judas, lavou-lhe os pés, chamou-o de amigo. Na cruz, pediu perdão ao Pai por seus algozes, desculpando-os por ignorância. Mesmo glorioso, Jesus continua doce. Sua glória aperfeiçoa sua doçura. Quando se mostrou a seus amigos, não o fez com majestade terrível, mas com ternura de esposo e doçura de amigo. Na Eucaristia, aparece como um doce Menino. “Depois disto, não amaríamos essa Sabedoria Eterna, que nos amou mais e ainda nos ama mais do que sua vida, e cuja beleza e doçura superam tudo o que há de mais belo e mais doce no Céu e sobre a terra?” (A.S.E., n. 118–128, 131) ---- Sabe-se que, durante a missão que realizava em Saint-Laurent-sur-Sèvre, em abril de 1716, o Padre de Montfort foi subitamente abatido por uma enfermidade. Sentindo-se próximo da morte, quis ainda assim subir ao púlpito, movido pela presença de Mons. de Champflour, bispo de La Rochelle, que viera presidir uma das cerimônias. Tremendo de febre, com o peito oprimido e ofegante, pregou sobre a doçura de Jesus com tal amor e com palavras tão cheias de unção, que todo o auditório foi levado às lágrimas. Esse foi seu último sermão. Seu conteúdo se encontra integralmente nas páginas que acabamos de meditar. II. OS ORÁCULOS DA SABEDORIA ENCARNADA. Mais do que por sua mansidão, Jesus se revela como Sabedoria Encarnada por seus Oráculos evangélicos. Montfort, por isso, recolhe e ordena os mais adequados para manter nossos espíritos voltados ao cerne de seu ensinamento. Sem comentários, apenas relata as palavras do divino Mestre, deixando ver, pela escolha e disposição dos textos, como sua alma os havia profundamente meditado. Ouviremos, então, a Sabedoria Eterna falar, não mais pelos Patriarcas e Profetas, nem pelas sentenças dos Livros sapienciais, mas diretamente, em sua própria voz, em Jesus Cristo, o Verbo, a Sabedoria substancial e pessoal. 1º A partir do princípio fundamental estabelecido por essa Sabedoria: — Quem quiser ser meu discípulo, negue-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me (Lc 9, 23); — Se alguém me ama, guardará minha palavra (Jo 14, 23); — Reconcilia-te com teu irmão antes de apresentar tua oferta (Mt 5, 23-24). Ela exige: — renúncia às afeições carnais (Lc 14, 26); — renúncia aos bens do mundo (Mt 19, 21.29); — renúncia à própria vontade (Mt 7, 21.24); — renúncia a toda duplicidade: “se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças…” (Mt 18, 3); — renúncia ao espírito de violência e orgulho: “Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração…” (Mt 11, 29). 2º Para realizar essas renúncias: — é preciso rezar como ela ensinou (Mt 6, 5.7-8; Mc 11, 24-25); — dominar os sentidos pelo jejum (Mt 6, 16) e reparar o passado pela penitência (Lc 15, 7; 5, 32); — encontrar alegria nas perseguições (Mt 5, 10; Lc 6, 22-23): “Se o mundo vos odeia, sabei que me odiou antes de vós” (Jo 15, 18-19). Diante do cansaço e das dificuldades: — “Vinde a mim todos os que estais fatigados… e eu vos aliviarei” (Mt 11, 28); — “Eu sou o pão da vida…” (Jo 6, 51-52.56-57); — “Nem um só cabelo de vossa cabeça se perderá” (Lc 21, 17-18). Nada temos a temer, se ela for a única soberana do nosso coração: — “Ninguém pode servir a dois senhores” (Mt 6, 24); — “Do coração procedem os maus pensamentos…” (Mt 15, 19-20; 12, 35). 3º Conselhos da Eterna Sabedoria: — “Quem põe a mão no arado e olha para trás não é digno do Reino” (Lc 9, 62); — “Até os cabelos de vossa cabeça estão todos contados” (Lc 12, 7); — “Deus não enviou seu Filho ao mundo para condená-lo…” (Jo 3, 17); — “Aquele que pratica a verdade vem para a luz” (Jo 3, 20); — “Deus é espírito” (Jo 4, 24); — “A carne de nada aproveita” (Jo 6, 64); — “Todo aquele que comete o pecado é escravo do pecado” (Jo 8, 34-35); — “Quem é fiel no pouco, também é fiel no muito” (Lc 16, 10); — “Assim brilhe vossa luz diante dos homens” (Mt 5, 16). Buscar uma justiça abundante (Mt 5, 20), disposta a sacrifícios: — cortar o que escandaliza (Mt 5, 29; 11, 12); — desprender-se dos bens perecíveis (Mt 6, 19-20); — evitar julgar: “Com o julgamento com que julgardes, sereis julgados” (Mt 7, 1-2). Ser vigilante: — com os falsos profetas (Mt 7, 15-16); — com os pequeninos: “Seus anjos veem a face de meu Pai” (Mt 18, 10); — pois “não sabeis o dia nem a hora” (Mt 25, 13). Confiar: — “Não temais os que matam o corpo” (Lc 12, 4-5); — “Não vos preocupeis com o que haveis de comer…” (Lc 12, 22.30); — “Nada há oculto que não venha a ser revelado” (Lc 8, 17). Fazer o bem a todos, até aos inimigos (Mt 5, 44; 20, 26-27), com desapego das riquezas (Mc 10, 23; Lc 18, 23): — “Ai de vós que tendes vossa consolação neste mundo” (Lc 6, 24). 4º Esta é a porta estreita (Mt 7, 13-14; 20, 16). O discípulo da Sabedoria: — deve dar (At 20, 35); — perdoar (Mt 5, 39-40); — orar sempre (Lc 18, 1; Mt 26, 41); — dar esmola (Lc 6, 41); — amar a humildade (Lc 14, 11). Assim, alcançará as Beatitudes: — “Bem-aventurados os pobres de espírito…” — “os mansos…” — “os que choram…” — “os que têm fome e sede de justiça…” — “os misericordiosos…” — “os puros de coração…” — “os pacíficos…” (Mt 5, 3-9). Tudo isso é revelado aos pequenos: “Graças te dou, ó Pai, Senhor do Céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e prudentes e as revelaste aos pequeninos…” (Mt 11, 25-26). ---- “Eis,” conclui Montfort, “o resumo das grandes e importantes verdades que a Sabedoria Eterna veio pessoalmente nos ensinar sobre a terra, depois de tê-las praticado primeiro… Bem-aventurados os que têm a inteligência dessas verdades eternas. Mais bem-aventurados ainda os que creem nelas. Mas muito mais bem-aventurados os que creem nelas, praticam-nas e as ensinam aos outros; pois brilharão no Céu como estrelas pela eternidade.” (A.S.E., n. 133–153) Que enriquecimento nestas páginas, em relação a tudo o que já foi dito durante os doze Dias preliminares e durante a primeira Semana! Convém relê-las e meditá-las com frequência. A cada leitura, sentiremos como uma graça de reflexão profunda invade nosso entendimento e o submete. Agradeçamos a Maria, Mãe da Sabedoria Encarnada, por tantas luzes derramadas em nossas almas. ORAÇÕES Ladainha do Espírito Santo Senhor, tem piedade de nós. Jesus Cristo, tem piedade de nós. Divino Espírito Santo, ouve-nos. Espírito Paráclito, atende-nos. Deus Pai dos céus, tem piedade de nós. Deus Filho, redentor do mundo, tem piedade de nós. Deus Espírito Santo, tem piedade de nós. Santíssima Trindade, que és um só Deus, tem piedade de nós. Espírito da verdade, tem piedade de nós. Espírito da sabedoria, tem piedade de nós. Espírito da inteligência, tem piedade de nós. Espírito da fortaleza, tem piedade de nós. Espírito da piedade, tem piedade de nós. Espírito do bom conselho, tem piedade de nós. Espírito da ciência, tem piedade de nós. Espírito do santo temor, tem piedade de nós. Espírito da caridade, tem piedade de nós. Espírito da alegria, tem piedade de nós. Espírito da paz, tem piedade de nós. Espírito das virtudes, tem piedade de nós. Espírito de toda graça, tem piedade de nós. Espírito da adoção dos filhos de Deus, tem piedade de nós. Purificador das nossas almas, tem piedade de nós. Santificador e guia da Igreja Católica, tem piedade de nós. Distribuidor dos dons celestes, tem piedade de nós. Conhecedor dos pensamentos e das intenções do coração, tem piedade de nós. Doçura dos que começam a te servir, tem piedade de nós. Coroa dos perfeitos, tem piedade de nós. Alegria dos anjos, tem piedade de nós. Luz dos patriarcas, tem piedade de nós. Inspiração dos profetas, tem piedade de nós. Palavra e sabedoria dos apóstolos, tem piedade de nós. Vitória doa mártires, tem piedade de nós. Ciência dos confessores, tem piedade de nós. Pureza das virgens, tem piedade de nós. Unção de todos os santos, tem piedade de nós. Sede-nos propício, perdoa-nos, Senhor. Sede-nos propício, atende-nos, Senhor. De todo o pecado, livra-nos, Senhor. De todas as tentações e ciladas do demônio, livra-nos, Senhor. De toda a presunção e desesperação, livra-nos, Senhor. Do ataque à verdade conhecida, livra-nos, Senhor. Da inveja da graça fraterna, livra-nos, Senhor. De toda a obstinação e impenitência, livra-nos, Senhor. De toda a negligência e tepor do espírito, livra-nos, Senhor. De toda a impureza da mente e do corpo, livra-nos, Senhor. De todas as heresias e erros, livra-nos, Senhor. De todo o mau espírito, livra-nos, Senhor. Da morte má e eterna, livra-nos, Senhor. Pela tua eterna procedência do Pai e do Filho, livra-nos, Senhor. Pela milagrosa conceição do Filho de Deus, livra-nos, Senhor. Pela tua descida sobre Jesus Cristo batizado, livra-nos, Senhor. Pela tua santa aparição na transfiguração do Senhor, livra-nos, Senhor. Pela tua vinda sobre os discípulos do Senhor, livra-nos, Senhor. No dia do juízo, livra-nos, Senhor. Ainda que pecadores, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que nos perdoes, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes vivificar e santificar todos os membros da Igreja, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes conceder-nos o dom da verdadeira piedade, devoção e oração, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes inspirar-nos sinceros afetos de misericórdia e de caridade, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes criar em nós um espírito novo e um coração puro, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes conceder-nos verdadeira paz e tranquilidade no coração, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes fazer-nos dignos e fortes, para suportar as perseguições pela justiça, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes confirmar-nos em tua graça, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes receber-nos no número dos teus eleitos, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes ouvir-nos, nós vos rogamos, ouví-nos. Espírito de Deus, nós vos rogamos, ouví-nos. Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, envia-nos o Espírito Santo. Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, manda-nos o Espírito prometido do Pai. Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, dá-nos o Espírito bom. Espírito Santo, ouví-nos. Espírito Consolador, atendei-nos. ℣. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado. ℟. E renovareis a face da terra. Oremos: Deus, que instruístes o coração de vossos fiéis, com a luz do Espírito Santo, concedei-nos que, no mesmo Espírito, conheçamos o que é reto, e gozemos sempre as suas consolações. Por Cristo, Nosso Senhor. Amém. Ladainha do Santíssimo Nome de Jesus SENHOR, tende piedade de nós. JESUS CRISTO, tende piedade de nós. SENHOR, tende piedade de nós. JESUS CRISTO, ouvi-nos. JESUS CRISTO, atendei-nos. PAI CELESTE que sois DEUS, tende piedade de nós. FILHO Redentor do mundo, que sois DEUS, tende piedade de nós. ESPÍRITO SANTO, que sois Deus, tende piedade de nós. SANTÍSSIMA TRINDADE, que Sois um só DEUS, tende piedade de nós. JESUS Filho de DEUS vivo, tende piedade de nós. JESUS, esplendor do Pai, tende piedade de nós. JESUS, pureza da luz eterna, tende piedade de nós. JESUS, Rei da glória, tende piedade de nós. JESUS, sol de justiça, tende piedade de nós. JESUS, filho da Virgem MARIA, tende piedade de nós. JESUS amável, tende piedade de nós. JESUS admirável, tende piedade de nós. JESUS, DEUS forte, tende piedade de nós. JESUS, Pai do futuro século, tende piedade de nós. JESUS, Anjo do grande conselho, tende piedade de nós. JESUS poderosíssimo, tende piedade de nós. JESUS pacientíssimo, tende piedade de nós. JESUS obedientíssimo, tende piedade de nós. JESUS, manso e humilde de coração, tende piedade de nós. JESUS, amante da castidade, tende piedade de nós. JESUS, amador nosso, tende piedade de nós. JESUS, DEUS da Paz, tende piedade de nós. JESUS, autor da vida, tende piedade de nós. JESUS, exemplar das virtudes, tende piedade de nós. JESUS, zelador das almas, tende piedade de nós. JESUS, nosso DEUS, tende piedade de nós. JESUS, nosso refúgio, tende piedade de nós. JESUS, pai dos pobres, tende piedade de nós. JESUS, tesouro dos fiéis, tende piedade de nós. JESUS, boníssimo Pastor, tende piedade de nós. JESUS, luz verdadeira, tende piedade de nós. JESUS, Sabedoria eterna, tende piedade de nós. JESUS, bondade infinita, tende piedade de nós. JESUS, nosso caminho e nossa vida, tende piedade de nós. JESUS, alegria dos Anjos, tende piedade de nós. JESUS, Rei dos Patriarcas, tende piedade de nós. JESUS, Mestre dos Apóstolos, tende piedade de nós. JESUS, Doutor dos evangelistas, tende piedade de nós. JESUS, fortaleza dos Mártires, tende piedade de nós. JESUS, luz dos Confessores, tende piedade de nós. JESUS, pureza das virgens, tende piedade de nós. JESUS, coroa de todos os santos, tende piedade de nós. Sede-nos propício, perdoai-nos, JESUS. Sede-nos propício, ouvi-nos, JESUS. De todo o mal, livrai-nos, JESUS. De todo o pecado, livrai-nos, JESUS. De Vossa ira, livrai-nos, JESUS. Das ciladas do demônio, livrai-nos, JESUS. Do espírito da impureza, livrai-nos, JESUS. Da morte eterna, livrai-nos, JESUS. Do desprezo das Vossas inspirações, livrai-nos, JESUS. Pelo mistério da Vossa Santa Encarnação, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa natividade, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa infância, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa santíssima vida, livrai-nos, JESUS. Pelos Vossos trabalhos, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa agonia e pela Vossa paixão, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa cruz e pelo Vosso desamparo, livrai-nos, JESUS. Pelas Vossas angústias, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa morte e pela Vossa sepultura, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa ressurreição, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa ascensão, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa instituição da Santíssima Eucaristia, livrai-nos, JESUS. Pelas Vossas alegrias, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa glória, livrai-nos, JESUS. Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, perdoai-nos, JESUS. Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, ouvi-nos, JESUS. Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, tende piedade de nós, JESUS. JESUS, ouvi-nos. JESUS, atendei-nos. Oremos: Senhor JESUS Cristo, que dissestes: “Pedi e recebereis, buscai e achareis, batei e abrir-se-vos-á”; nós Vos suplicamos que concedei a nós, que Vos pedimos, os sentimentos afetivos de Vosso divino amor, a fim de que nós Vos amemos de todo o coração e que esse amor transcenda por nossas ações. Permiti que tenhamos sempre, Senhor, um igual temor e amor pelo Vosso Santo Nome, pois não deixais de governar aqueles que estabeleceis na firmeza do Vosso amor. Vós que viveis e reinais para todo o sempre. Amém. Ave maris stella (Ave, do mar Estrela) (Latim) 1. Ave maris stella, Dei Mater alma, Atque semper Virgo, Felix cæli porta. 2. Sumens illud Ave Gabrielis ore, Funda nos in pace, Mutans Hevæ nomen. 3. Solve vincla reis, Profer lumen cæcis, Mala mostra pelle, Bona cuncta posce. 4. Monstra te esse matrem, Sumat per te preces, Qui pro nobis natus Tulit esse tuus. 5. Virgo singularis, Inter omnes mitis, Nos, culpis solutos, Mites fac et castos. 6. Vitam præsta puram Iter para tutum, Ut, videntes Jesum, Semper collætemur. 7. Sit laus Deo Patri, Summo Christo decus, Spiritui Sancto, Tribus honor unus. Amen. (Vernáculo) 1. Ave, do mar Estrela De Deus mãe bela, Sempre virgem, da morada Celeste Feliz entrada. 2. Ó tu que ouviste da boca Do anjo a saudação; Dá-nos a paz e quietação; E o nome da Eva troca. 3. As prisões aos réus desata. E a nós cegos alumia; De tudo que nos maltrata Nos livra, o bem nos granjeia. 4. Ostenta que és mãe, fazendo Que os rogos do povo seu Ouça aquele que, nascendo Por nós, quis ser filho teu. 5. Ó virgem especiosa, Toda cheia de ternura, Extintos nossos pecados Dá-nos pureza e brandura, 6. Dá-nos uma vida pura, Põe-nos em via segura, Para que a Jesus gozemos, E sempre nos alegremos. 7. A Deus Pai veneremos: A Jesus Cristo também: E ao Espírito Santo; demos Aos três um louvor. Amém. Oração de Santo Agostinho Vós sois, ó Jesus, o Cristo, meu Pai santo, meu Deus misericordioso, meu Rei infinitamente grande; sois meu bom pastor, meu único mestre, meu auxílio cheio de bondade, meu bem-amado de uma beleza maravilhosa, meu pão vivo, meu sacerdote eterno, meu guia para a pátria, minha verdadeira luz, minha santa doçura, meu reto caminho, sapiência minha preclara, minha pura simplicidade, minha paz e concórdia; sois, enfim, toda a minha salvaguarda, minha herança preciosa, minha eterna salvação... Ó Jesus Cristo, amável Senhor, por que, em toda a minha vida, amei, por que desejei outra coisa senão vós? Onde estava eu quando não pensava em vós? Ah, que pelo menos a partir deste momento meu coração só deseje a vós e por vós se abrase, Senhor Jesus! Desejos de minha alma, correi, que já bastante tardastes; apressai-vos para o fim a que aspirais; procurai em verdade aquele que procurais. Ó Jesus, anátema seja quem não vos ama. Aquele que não vos ama seja repleto de amarguras. Ó doce Jesus, sede o amor, as delícias, a admiração de todo coração dignamente consagrado à vossa glória. Deus de meu coração e minha partilha, Jesus Cristo, que em vós meu coração desfaleça, e sede vós mesmo a minha vida. Acenda-se em minha alma a brasa ardente de vosso amor e se converta num incêndio todo divino, a arder para sempre no altar de meu coração; que inflame o íntimo do meu ser, e abrase o âmago de minha alma; para que no dia de minha morte eu apareça diante de vós, inteiramente consumido em vosso amor... Amém. Repetir ao longo do dia: “Que eu Vos conheça, que eu me conheça.” |
Dia 27: Jesus Sabedoria dependente e submissaContemplaremos, desta vez, com maior detalhe, a dependência voluntária e amorosa que Jesus, a Sabedoria Eterna e Encarnada, sempre testemunhou em relação à sua santa Mãe.Essa dependência foi o que mais atraiu a reflexão do Padre de Montfort, a ponto de ele nos propô-la como o EXEMPLAR divino de nossa inteira Doação a Maria. Hoje, contemplemos Jesus dependente de Maria: — nos mistérios de sua primeira Infância; — durante sua vida oculta em Nazaré; — e no início de sua vida pública. Segui-lo-emos, depois, no tempo de sua Paixão e nos mistérios de sua vida gloriosa. Agradeçamos, nova e vivamente, a São Luís Maria de Montfort por ter colocado diante de nossos olhos esse Modelo de dependência divina. Ave, Maria. I. JESUS DEPENDENTE DE MARIA NOS MISTÉRIOS DE SUA PRIMEIRA INFÂNCIA. O Filho de Deus, nosso dulcíssimo Redentor, poderia ter-nos salvado sem tornar-se Filho da Virgem Maria. Poderia ter surgido no mundo já como homem perfeito, como Adão, vindo diretamente das mãos do Criador. Mas, por misericordiosa condescendência, preferiu vir como nós: no ventre de uma Mãe, onde permaneceu oculto durante nove meses. Contudo, em razão de sua Divindade e da ciência infusa que desde o primeiro instante preenchia sua inteligência humana, Ele esteve sempre consciente de si mesmo e de sua morada em Maria. Nesse seio virginal, começou a render glória ao Pai: adorou-o, agradeceu-lhe, ofereceu-lhe dileções, satisfações e súplicas de valor infinito. Ofereceu-lhe seu Coração — ainda de poucos dias, de poucos meses — já abrasado pelo desejo de ser imolado para expiar nossas faltas. Nesse mesmo seio, compraz-se como em um paraíso terrestre animado. Contempla, com alegria, seus eleitos, seus predestinados, todos aqueles que seriam seus membros vivos. “Ele os escolhe para si,” diz Montfort, “de concerto com Maria,” encerrando-os, por amor, com Ele, nela. É ali também “que Ele opera todos os mistérios de sua vida que seguirão, pela aceitação que faz deles” (V.D., n. 248). Jesus, ingrediens mundum, dicit… Ecce venio, ut faciam, Deus, voluntatem tuam (Hb 10, 5–9). O seio da Virgem é seu primeiro altar, sobre o qual Ele se imola às vontades do Pai, visando nossa salvação. Tudo se passa na dependência de Maria. ---- Tendo plena consciência de exercer sua missão redentora, Jesus tem pressa de se doar efetivamente às almas. Por isso, no dia seguinte à Anunciação, seu divino Espírito inspira Maria a ir às montanhas da Judeia, onde vive sua parenta Isabel, para levar a João Precursor — também ainda no seio materno — a graça de um batismo milagroso antes do sacramento, e a Isabel, a graça de um íntimo Pentecostes, antecipando o do Cenáculo. Obediente e apressada, a jovem Mãe parte, levando o Cristo pelos caminhos floridos da primavera palestina. Ao chegar à casa de Isabel, pronuncia a saudação costumeira: “Que a paz seja convosco!” Mal fala, e João salta de alegria no ventre de sua mãe, feliz por ser visitado e santificado pelo Verbo feito carne, oculto em Maria. Isabel, sob a moção do Espírito Santo que a invade, penetra no mistério. Retomando a saudação do anjo, completa-a com aclamação ao Salvador: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre…” (Lc 1, 42). Nesse mistério da Visitação, Maria aparece como o primeiro sacramento de Cristo, sacramento vivo. Por intermédio dela, na dependência de sua divina Maternidade e pelo sinal sensível de sua voz, Jesus transmite a graça santificante que transforma João — ainda maculado pelo pecado original — em justo e filho de Deus. Por meio dela, também, ele enche Isabel — já em estado de graça — com tamanha abundância dos dons do Espírito Santo, que sua alma exulta na luz da Revelação: “Donde a mim esta dita, que a mãe do meu Senhor venha ter comigo? Porque, logo que a voz da tua saudação chegou aos meus ouvidos, o menino saltou de alegria no meu ventre. Bem-aventurada a que acreditou, porque se hão de cumprir as coisas que da parte do Senhor te foram ditas.” (Lc 1, 43-45) Toda a Encarnação foi-lhe revelada. Isabel dá graças a Maria por isso. A humilde Maria responde com o cântico do Magnificat. ____ No mistério do Natal, a dependência do Salvador salta aos nossos olhos. É Maria quem, após tê-lo dado ao mundo, envolve-o em panos e o deita na manjedoura. Ela lhe presta todos os cuidados próprios a um recém-nascido. Jesus confia-lhe inteiramente sua divina Pessoa, agora reduzida a uma impotência exterior desconcertante. Desde o momento em que desejou vir ao mundo como os outros filhos dos homens, ele não pertence e não pode pertencer senão à sua Mãe; e porque essa Mãe é Virgem, ele pertence a Maria como jamais outra criança pertenceu àquela que lhe deu a vida. Por isso, é por meio dela que ele se mostra e se dá aos seus primeiros adoradores: protegido sob a pureza de seu olhar, carregado em seus braços, segurado sobre seus joelhos. Os pastores, ao chegarem ao estábulo, encontraram o recém-nascido envolto em panos e deitado numa manjedoura, conforme o anjo lhes anunciara. Mais tarde, os magos, guiados pela estrela, “entrando na casa, viram o Menino com sua Mãe” (Mt 2, 11). Que esplêndida fé Jesus infundiu, por meio dela, nas inteligências dos que o reconheceram! Uma fé que nem os anos, nem as distâncias poderão enfraquecer, e que se afirmará, se necessário, no testemunho do sangue. ---- No quadragésimo dia após o nascimento, Jesus foi apresentado no Templo de Jerusalém. Nesse dia, renovava ostensivamente a oferta de si mesmo ao Pai, já feita no segredo do seio materno desde o primeiro instante da Encarnação. Mas essa oferta, agora oficial, ele não a faz senão na dependência de Maria. É ela quem o leva ao Templo, ela quem o sustenta com suas mãos virginais, como o sacerdote sustenta a Hóstia consagrada. Ela o imola em sua alma de Mãe, consentindo de antemão com todos os desejos do Pai celeste. Ela é verdadeiramente quem oferece esse sacrifício da manhã, prelúdio daquele que será, no Calvário, o sacrifício da tarde. Jesus se alegra por assim se oferecer, e também por ser entregue, por alguns momentos, por sua Mãe ao santo ancião Simeão, que esperou toda a vida para ver com seus olhos o Messias prometido. Ele faz mais do que vê-lo: carrega-o nos braços, possui-o no coração, e sente-se completo. Que graça! Não é isso uma espécie de comunhão eucarística espiritual? Simeão aperta contra o peito o pequeno e amável corpo de Jesus, e esse corpo lhe transmite as riquezas da alma santíssima e da Divindade. Se seu cântico de ação de graças sobe até Deus, quanto mais sua gratidão não terá se voltado àquela que lhe deu esse dom inestimável, e que ele proclama profeticamente a Mãe dolorosa, associada ao Redentor de Israel. Ele sabe que ela não leva consigo o Menino senão para alimentá-lo, desenvolvê-lo, criá-lo e guardá-lo com vistas à cruz. ---- O Evangelho mostra ainda a dependência de Jesus no episódio da Fuga para o Egito, ocorrida logo após a partida dos magos. “Um anjo do Senhor apareceu em sonhos a José, e lhe disse: Levanta-te, toma o Menino e sua Mãe, e foge para o Egito… porque Herodes vai procurar o Menino para lhe tirar a vida.” (Mt 2, 13.) A ordem era clara e precisa. “E ele, levantando-se de noite, tomou o Menino e sua Mãe, e retirou-se para o Egito.” (Mt 2, 14.) O anjo fala a José, o esposo virginal, pai adotivo, guardião providencial, chefe responsável por esses preciosos tesouros: “Toma o Menino e sua Mãe.” O Menino, diretamente ameaçado; mas a Mãe com ele. Como Jesus, com cerca de dois meses, poderia separar-se dela? É ela quem o carrega. Imaginemos essa fuga difícil, em várias etapas, por um longo percurso através do deserto até o Delta do Nilo. De dia, param longe da estrada, para descansar; à tarde ou de noite, retomam o caminho. Uma vez ultrapassada a Torrente do Egito, que marca a fronteira, José sente-se reconfortado. Tranquiliza a valorosa Mãe, que ainda leva o divino fardo em seus braços. O Menino está salvo. Ó dependência cada vez mais acentuada, que não dá repouso! O Egito após Belém… Quanto durou o exílio? Não se sabe com certeza. Provavelmente, cerca de dois anos — o tempo do aleitamento. Que alegria quando José, novamente visitado pelo anjo em sonho, soube que podia voltar ao país de Israel: “Levanta-te, toma o Menino e sua Mãe… Morreram os que procuravam tirar a vida do Menino.” (Mt 2, 20.) Jesus era, pois, ainda pequenino. Os exilados voltam em silêncio, discretamente, como haviam partido. Com uma diferença: Jesus está mais pesado, mais difícil de carregar. Em pequenas etapas, alcançam a Palestina. Uma terceira intervenção do Céu adverte José a ir para a Galileia. Assim, após mais alguns dias de caminhada pela estrada junto ao mar, evitando a Judeia, chegam à querida Nazaré. O Menino está enfim em sua casa, no pacífico lar familiar onde Maria sonhara trazê-lo ao mundo. Por meio dela, na terra do exílio, ele havia deixado graças abundantes para os que, mais tarde, povoariam o deserto da Tebaida e fariam dele o primeiro claustro da vida religiosa. II. JESUS DEPENDENTE DE MARIA DURANTE SUA VIDA ANÔNIMA EM NAZARÉ, E NO COMEÇO DE SUA VIDA PÚBLICA. São Lucas (2, 40) resume a vida de Jesus em Nazaré até seus doze anos com uma única frase: “O Menino crescia e se fortificava cheio de sabedoria, e a graça – a benévola ternura – de Deus era com ele.” Aos doze anos, Jesus se tornava, como todo adolescente de seu povo, “filho da Lei”, ou seja, pessoalmente comprometido com todos os preceitos. Por isso, faz com os seus a peregrinação anual da Páscoa. É o único fato evangélico concernente à sua vida anônima até a idade adulta: o mistério de Jesus perdido e reencontrado. Se permaneceu três dias em Jerusalém, contra a vontade de Maria e José, foi unicamente para obedecer ao Pai dos Céus, como declarou: “Por que me buscáveis? Não sabíeis que devo ocupar-me nas coisas de meu Pai?” Resposta filial e misteriosa, que Maria compreenderia plenamente mais tarde. Essas “coisas do Pai” diziam respeito à missão redentora de Jesus, que ele aceitara desde o primeiro instante da Encarnação e que Maria havia renovado com ele na Apresentação. Agora, tornando-se legalmente responsável por seus atos, não seria natural que o Adolescente divino, em Jerusalém, tivesse detido os olhos sobre o Calvário? E que, tomado por esse conhecimento e pela impressão de espanto, tenha desejado ficar ali, face a face com a cruz, antecipando sua Paixão? Desse modo, Jesus prepara sua Mãe, sua Associada na Redenção, para suportar, no futuro, o peso das dores redentoras. Durante esses três dias, Maria sofre antecipadamente as dores de sua futura Compaixão, como sofrerá entre a noite da Sexta-Feira Santa e a manhã de Páscoa. Não podendo distrair seu espírito da ideia de que Jesus poderia já estar preso ou morto, ela vive um verdadeiro martírio interior. Na manhã do terceiro dia, Maria e José reencontram Jesus no Templo, entre os Doutores. O Evangelho diz: “Ele desceu com eles a Nazaré, e lhes era submisso.” (Lc 2, 51) Essa submissão durará dezoito anos, até sua vida pública. São Luís Maria de Montfort contempla maravilhado essa submissão: “O Espírito Santo não pôde deixar em silêncio no Evangelho, ainda que tenha ocultado quase tudo o que essa Sabedoria Encarnada fez em sua vida secreta.” (V.D., n. 18.) Ele podia, desde aquele momento, iniciar sua pregação, depois de espantar os Doutores. Mas nada lhe pareceu mais glorioso para o Pai, mais salvífico para os homens, do que continuar obedecendo a Maria e a José. É notável que somente aos doze anos tenha manifestado sua vontade de permanecer nessa submissão. Após o reencontro, volta a Nazaré, onde vive trinta anos de silêncio, anulação, trabalho obscuro, passando aos olhos dos seus por simples filho de carpinteiro. Vida de oração, contemplação, sofrimentos íntimos, de vigílias, leituras bíblicas, descanso ao pé do Carmelo, ambiente perfumado de santidade em torno da sagrada casa, poder secreto de irradiação… Nada sabemos ao certo, senão que tudo isso se dava na mais amorosa e voluntária submissão do Verbo Encarnado. Subditus – essa é a única palavra que nos deixou o Evangelho. ---- Essa dependência não se limitou à vida anônima; ela se estende também, embora menos visivelmente, aos anos da vida pública. O primeiro milagre do Salvador confirma isso. “Jesus, diz Montfort, quis começar seus milagres por Maria.” (V.D., n. 19.) Vemo-lo, de fato, realizar nas bodas de Caná seu primeiro milagre de natureza, como na casa de Isabel realizara seu primeiro milagre de graça. Por meio do mesmo sinal sensível – a voz e o pedido de sua Mãe – Jesus transmite a graça: santifica João, o Precursor; transforma a água em vinho. Montfort chama a santificação de João de “seu primeiro e maior milagre de graça” (n. 18). O milagre de Caná também é prodigioso, pois prefigura a transformação do vinho no sangue na última Ceia. Teve, de imediato, uma imensa repercussão sobrenatural: fortaleceu a vocação dos primeiros discípulos. “E creram nele os seus discípulos.” (Jo 2, 11.) Eles jamais esquecerão que Maria esteve na origem de sua vocação, isto é, de sua resposta iluminada ao chamado do Mestre. Há ali uma graça eucarística em perspectiva, uma graça sacerdotal em germe, e também a graça conferida pelo sacramento do matrimônio, que deve povoar o Céu de eleitos. Tudo brota do Coração de Jesus obediente a Maria. Maria, vendo nos discípulos e nos esposos uma primeira manifestação da Igreja, solicita um milagre que fortaleça a fé de uns e a desperte nos outros: “Meu Filho, eles não têm mais vinho.” Jesus responde: “Mulher, que temos nós com isso? Ainda não chegou a minha hora.” Sua hora seria a da Paixão, fixada pelo Pai. Mas há ali lugar para um milagre anunciador. Maria, confiante, diz: “Fazei tudo o que ele vos disser.” (Jo 2, 5.) Muitos autores viram nesse milagre uma preparação para a Eucaristia, pela analogia entre a transformação da água em vinho e a do vinho no sangue de Jesus. São Pedro Crisólogo reconhecia aí um prelúdio da Eucaristia. Bossuet exclamava: “Ó vinho admirável e cheio de mistérios…” Montfort conclui que, se Jesus começou e continuou seus milagres por Maria, por meio dela os continuará até o fim dos séculos (n. 18). Esses dois milagres – a santificação do Precursor e o das bodas de Caná – são exórdios, sinais da conduta habitual do Salvador. Durante os três anos da vida pública, Jesus curava, convertia, perdoava, ressuscitava, derramava abundantemente seus favores sob a irradiação da prece e da presença de Maria. Logo deixou Nazaré para morar em Cafarnaum: “E deixando a cidade de Nazaré, foi habitar em Cafarnaum.” (Mt 4, 13.) São João especifica: “Depois disso, desceu a Cafarnaum, ele e sua mãe…” (Jo 2, 12.) Essa estadia foi breve, mas significativa. São Lucas (8, 2-3) menciona as santas mulheres que seguiam Jesus e os apóstolos e os assistiam com seus bens. Como não crer que a Santa Virgem estivesse entre elas, já que também estava aos pés da cruz, nos dias da Paixão? Da mesma forma, é justo supor que ela precedeu seu Filho na morada hospitaleira de Betânia. ---- Ó Sabedoria Encarnada, quantas luzes benéficas derramais sobre nossas inteligências! Como é bom ver-vos permanecer na dependência de vossa santa Mãe, ao mesmo tempo que na obediência às vontades de vosso Pai dos Céus! Como tudo se ilumina e se unifica sob esse ângulo de visão! Como estamos longe daqueles que descobrem censuras, reprimendas, até dureza, em vossas respostas a Maria! Por duas vezes, durante vosso ministério na Galileia, vos foi dada ocasião de falar com ela, e sempre a louvastes e exaltastes. Quando uma mulher, tomada de admiração, exclamou em meio à multidão (Lc 11, 28): “Bem-aventurado o ventre que te trouxe e os peitos a que foste amamentado”, essa exclamação era um louvor direto à vossa Mãe. E vós respondestes com vosso habitual modo profundo de dizer: sim, ela é bem-aventurada por ter-me trazido ao mundo, mas é muito mais bem-aventurada por ter ouvido minha palavra e por tê-la posto em prática. Não se pode duvidar de que, entre todos os fiéis e fervorosos ouvintes de vossas palavras, Maria tenha sido a mais atenta a conservá-las e meditá-las em seu coração, como vosso Evangelho atesta (Lc 2, 19 e 51). Noutra ocasião, em que a multidão vos apertava numa casa, alguém avisou-vos que vossa Mãe e vossos irmãos vos procuravam. Vós respondestes: “Minha Mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a praticam” (Lc 8, 19-21); ou, como dizem São Mateus (12, 50) e São Marcos (3, 35): “Os que fizerem a vontade de Deus.” Vossa santa Mãe estava certamente entre eles, e mais do que todos. Por isso, não se devia surpreender com vossas palavras. “No fundo”, confessa Dom Delatte, “essas palavras são o elogio e a exaltação da Santa Virgem.” No século VIII, São Beda, o Venerável († 731), já o dissera eloquentemente: “O Salvador aprova de forma eminente o que dissera essa mulher (louvando Maria), ao afirmar que não somente Aquela que mereceu gerar corporalmente o Verbo de Deus é verdadeiramente bem-aventurada, mas também todos os que se esforçam por conceber espiritualmente o mesmo Verbo pelo ouvir da fé… Certamente, a Mãe de Deus é bem-aventurada por ter servido neste mundo e ter contribuído com a encarnação do Verbo; mas é ainda mais bem-aventurada por ter merecido, amando-o sempre, conservá-lo em si eternamente…” Inde quidem beata, quia Verbi incarnandi ministra facta est temporalis; sed inde multo beatior, quia ejusdem semper amandi custos manebat aeterna. Eis o que nos assegura contra interpretações deficientes das palavras do Salvador à sua Mãe. Jamais houve filho mais amoroso e mais perseverantemente dependente, como a sequência dos Mistérios continuará a nos mostrar. ORAÇÕES Ladainha do Espírito Santo Senhor, tem piedade de nós. Jesus Cristo, tem piedade de nós. Divino Espírito Santo, ouve-nos. Espírito Paráclito, atende-nos. Deus Pai dos céus, tem piedade de nós. Deus Filho, redentor do mundo, tem piedade de nós. Deus Espírito Santo, tem piedade de nós. Santíssima Trindade, que és um só Deus, tem piedade de nós. Espírito da verdade, tem piedade de nós. Espírito da sabedoria, tem piedade de nós. Espírito da inteligência, tem piedade de nós. Espírito da fortaleza, tem piedade de nós. Espírito da piedade, tem piedade de nós. Espírito do bom conselho, tem piedade de nós. Espírito da ciência, tem piedade de nós. Espírito do santo temor, tem piedade de nós. Espírito da caridade, tem piedade de nós. Espírito da alegria, tem piedade de nós. Espírito da paz, tem piedade de nós. Espírito das virtudes, tem piedade de nós. Espírito de toda graça, tem piedade de nós. Espírito da adoção dos filhos de Deus, tem piedade de nós. Purificador das nossas almas, tem piedade de nós. Santificador e guia da Igreja Católica, tem piedade de nós. Distribuidor dos dons celestes, tem piedade de nós. Conhecedor dos pensamentos e das intenções do coração, tem piedade de nós. Doçura dos que começam a te servir, tem piedade de nós. Coroa dos perfeitos, tem piedade de nós. Alegria dos anjos, tem piedade de nós. Luz dos patriarcas, tem piedade de nós. Inspiração dos profetas, tem piedade de nós. Palavra e sabedoria dos apóstolos, tem piedade de nós. Vitória doa mártires, tem piedade de nós. Ciência dos confessores, tem piedade de nós. Pureza das virgens, tem piedade de nós. Unção de todos os santos, tem piedade de nós. Sede-nos propício, perdoa-nos, Senhor. Sede-nos propício, atende-nos, Senhor. De todo o pecado, livra-nos, Senhor. De todas as tentações e ciladas do demônio, livra-nos, Senhor. De toda a presunção e desesperação, livra-nos, Senhor. Do ataque à verdade conhecida, livra-nos, Senhor. Da inveja da graça fraterna, livra-nos, Senhor. De toda a obstinação e impenitência, livra-nos, Senhor. De toda a negligência e tepor do espírito, livra-nos, Senhor. De toda a impureza da mente e do corpo, livra-nos, Senhor. De todas as heresias e erros, livra-nos, Senhor. De todo o mau espírito, livra-nos, Senhor. Da morte má e eterna, livra-nos, Senhor. Pela tua eterna procedência do Pai e do Filho, livra-nos, Senhor. Pela milagrosa conceição do Filho de Deus, livra-nos, Senhor. Pela tua descida sobre Jesus Cristo batizado, livra-nos, Senhor. Pela tua santa aparição na transfiguração do Senhor, livra-nos, Senhor. Pela tua vinda sobre os discípulos do Senhor, livra-nos, Senhor. No dia do juízo, livra-nos, Senhor. Ainda que pecadores, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que nos perdoes, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes vivificar e santificar todos os membros da Igreja, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes conceder-nos o dom da verdadeira piedade, devoção e oração, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes inspirar-nos sinceros afetos de misericórdia e de caridade, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes criar em nós um espírito novo e um coração puro, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes conceder-nos verdadeira paz e tranquilidade no coração, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes fazer-nos dignos e fortes, para suportar as perseguições pela justiça, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes confirmar-nos em tua graça, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes receber-nos no número dos teus eleitos, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes ouvir-nos, nós vos rogamos, ouví-nos. Espírito de Deus, nós vos rogamos, ouví-nos. Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, envia-nos o Espírito Santo. Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, manda-nos o Espírito prometido do Pai. Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, dá-nos o Espírito bom. Espírito Santo, ouví-nos. Espírito Consolador, atendei-nos. ℣. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado. ℟. E renovareis a face da terra. Oremos: Deus, que instruístes o coração de vossos fiéis, com a luz do Espírito Santo, concedei-nos que, no mesmo Espírito, conheçamos o que é reto, e gozemos sempre as suas consolações. Por Cristo, Nosso Senhor. Amém. Ladainha do Santíssimo Nome de Jesus SENHOR, tende piedade de nós. JESUS CRISTO, tende piedade de nós. SENHOR, tende piedade de nós. JESUS CRISTO, ouvi-nos. JESUS CRISTO, atendei-nos. PAI CELESTE que sois DEUS, tende piedade de nós. FILHO Redentor do mundo, que sois DEUS, tende piedade de nós. ESPÍRITO SANTO, que sois Deus, tende piedade de nós. SANTÍSSIMA TRINDADE, que Sois um só DEUS, tende piedade de nós. JESUS Filho de DEUS vivo, tende piedade de nós. JESUS, esplendor do Pai, tende piedade de nós. JESUS, pureza da luz eterna, tende piedade de nós. JESUS, Rei da glória, tende piedade de nós. JESUS, sol de justiça, tende piedade de nós. JESUS, filho da Virgem MARIA, tende piedade de nós. JESUS amável, tende piedade de nós. JESUS admirável, tende piedade de nós. JESUS, DEUS forte, tende piedade de nós. JESUS, Pai do futuro século, tende piedade de nós. JESUS, Anjo do grande conselho, tende piedade de nós. JESUS poderosíssimo, tende piedade de nós. JESUS pacientíssimo, tende piedade de nós. JESUS obedientíssimo, tende piedade de nós. JESUS, manso e humilde de coração, tende piedade de nós. JESUS, amante da castidade, tende piedade de nós. JESUS, amador nosso, tende piedade de nós. JESUS, DEUS da Paz, tende piedade de nós. JESUS, autor da vida, tende piedade de nós. JESUS, exemplar das virtudes, tende piedade de nós. JESUS, zelador das almas, tende piedade de nós. JESUS, nosso DEUS, tende piedade de nós. JESUS, nosso refúgio, tende piedade de nós. JESUS, pai dos pobres, tende piedade de nós. JESUS, tesouro dos fiéis, tende piedade de nós. JESUS, boníssimo Pastor, tende piedade de nós. JESUS, luz verdadeira, tende piedade de nós. JESUS, Sabedoria eterna, tende piedade de nós. JESUS, bondade infinita, tende piedade de nós. JESUS, nosso caminho e nossa vida, tende piedade de nós. JESUS, alegria dos Anjos, tende piedade de nós. JESUS, Rei dos Patriarcas, tende piedade de nós. JESUS, Mestre dos Apóstolos, tende piedade de nós. JESUS, Doutor dos evangelistas, tende piedade de nós. JESUS, fortaleza dos Mártires, tende piedade de nós. JESUS, luz dos Confessores, tende piedade de nós. JESUS, pureza das virgens, tende piedade de nós. JESUS, coroa de todos os santos, tende piedade de nós. Sede-nos propício, perdoai-nos, JESUS. Sede-nos propício, ouvi-nos, JESUS. De todo o mal, livrai-nos, JESUS. De todo o pecado, livrai-nos, JESUS. De Vossa ira, livrai-nos, JESUS. Das ciladas do demônio, livrai-nos, JESUS. Do espírito da impureza, livrai-nos, JESUS. Da morte eterna, livrai-nos, JESUS. Do desprezo das Vossas inspirações, livrai-nos, JESUS. Pelo mistério da Vossa Santa Encarnação, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa natividade, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa infância, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa santíssima vida, livrai-nos, JESUS. Pelos Vossos trabalhos, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa agonia e pela Vossa paixão, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa cruz e pelo Vosso desamparo, livrai-nos, JESUS. Pelas Vossas angústias, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa morte e pela Vossa sepultura, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa ressurreição, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa ascensão, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa instituição da Santíssima Eucaristia, livrai-nos, JESUS. Pelas Vossas alegrias, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa glória, livrai-nos, JESUS. Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, perdoai-nos, JESUS. Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, ouvi-nos, JESUS. Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, tende piedade de nós, JESUS. JESUS, ouvi-nos. JESUS, atendei-nos. Oremos: Senhor JESUS Cristo, que dissestes: “Pedi e recebereis, buscai e achareis, batei e abrir-se-vos-á”; nós Vos suplicamos que concedei a nós, que Vos pedimos, os sentimentos afetivos de Vosso divino amor, a fim de que nós Vos amemos de todo o coração e que esse amor transcenda por nossas ações. Permiti que tenhamos sempre, Senhor, um igual temor e amor pelo Vosso Santo Nome, pois não deixais de governar aqueles que estabeleceis na firmeza do Vosso amor. Vós que viveis e reinais para todo o sempre. Amém. Ave maris stella (Ave, do mar Estrela) (Latim) 1. Ave maris stella, Dei Mater alma, Atque semper Virgo, Felix cæli porta. 2. Sumens illud Ave Gabrielis ore, Funda nos in pace, Mutans Hevæ nomen. 3. Solve vincla reis, Profer lumen cæcis, Mala mostra pelle, Bona cuncta posce. 4. Monstra te esse matrem, Sumat per te preces, Qui pro nobis natus Tulit esse tuus. 5. Virgo singularis, Inter omnes mitis, Nos, culpis solutos, Mites fac et castos. 6. Vitam præsta puram Iter para tutum, Ut, videntes Jesum, Semper collætemur. 7. Sit laus Deo Patri, Summo Christo decus, Spiritui Sancto, Tribus honor unus. Amen. (Vernáculo) 1. Ave, do mar Estrela De Deus mãe bela, Sempre virgem, da morada Celeste Feliz entrada. 2. Ó tu que ouviste da boca Do anjo a saudação; Dá-nos a paz e quietação; E o nome da Eva troca. 3. As prisões aos réus desata. E a nós cegos alumia; De tudo que nos maltrata Nos livra, o bem nos granjeia. 4. Ostenta que és mãe, fazendo Que os rogos do povo seu Ouça aquele que, nascendo Por nós, quis ser filho teu. 5. Ó virgem especiosa, Toda cheia de ternura, Extintos nossos pecados Dá-nos pureza e brandura, 6. Dá-nos uma vida pura, Põe-nos em via segura, Para que a Jesus gozemos, E sempre nos alegremos. 7. A Deus Pai veneremos: A Jesus Cristo também: E ao Espírito Santo; demos Aos três um louvor. Amém. Oração de Santo Agostinho Vós sois, ó Jesus, o Cristo, meu Pai santo, meu Deus misericordioso, meu Rei infinitamente grande; sois meu bom pastor, meu único mestre, meu auxílio cheio de bondade, meu bem-amado de uma beleza maravilhosa, meu pão vivo, meu sacerdote eterno, meu guia para a pátria, minha verdadeira luz, minha santa doçura, meu reto caminho, sapiência minha preclara, minha pura simplicidade, minha paz e concórdia; sois, enfim, toda a minha salvaguarda, minha herança preciosa, minha eterna salvação... Ó Jesus Cristo, amável Senhor, por que, em toda a minha vida, amei, por que desejei outra coisa senão vós? Onde estava eu quando não pensava em vós? Ah, que pelo menos a partir deste momento meu coração só deseje a vós e por vós se abrase, Senhor Jesus! Desejos de minha alma, correi, que já bastante tardastes; apressai-vos para o fim a que aspirais; procurai em verdade aquele que procurais. Ó Jesus, anátema seja quem não vos ama. Aquele que não vos ama seja repleto de amarguras. Ó doce Jesus, sede o amor, as delícias, a admiração de todo coração dignamente consagrado à vossa glória. Deus de meu coração e minha partilha, Jesus Cristo, que em vós meu coração desfaleça, e sede vós mesmo a minha vida. Acenda-se em minha alma a brasa ardente de vosso amor e se converta num incêndio todo divino, a arder para sempre no altar de meu coração; que inflame o íntimo do meu ser, e abrase o âmago de minha alma; para que no dia de minha morte eu apareça diante de vós, inteiramente consumido em vosso amor... Amém. Repetir ao longo do dia: “Que eu Vos conheça, que eu me conheça.” |
Dia 28: Jesus Sabedoria sofredora e crucificadaEis que chegamos aos Mistérios da Paixão. À primeira vista, a dependência de Jesus em relação à sua santa Mãe não se revela nos três primeiros. No entanto, ao encontrarmos Maria no carregamento da Cruz e na crucificação, onde se consuma a obra redentora, somos convidados a descobrir sua participação nos sofrimentos que os precederam.Perguntar-nos-emos como Jesus depende de Maria nos Mistérios de sua Agonia, da Flagelação e da Coroação de espinhos. Depois, contemplá-lo-emos na Via dolorosa e no monte do Calvário, com sua Mãe ao lado. Quantas graças foram então derramadas sobre as almas que seguiram ou mesmo que apenas se aproximaram da Santíssima Virgem! Esta meditação deve nos fazer apreciar cada vez mais o valor sobrenatural dos sofrimentos em nossas curtas vidas terrenas. “Vamos à Pátria pelo caminho das cruzes”, cantava Montfort. Jesus e Maria caminham diante de nós. Peçamos-lhes luz e força para segui-los corajosamente. Ave, Maria. I. OS TRÊS PRIMEIROS MISTÉRIOS DOLOROSOS. Nestes Mistérios, vemos a expiação oferecida por Jesus ao Pai pelos pecados das três grandes cobiças: o amor ao dinheiro, aos prazeres da carne e à soberba do espírito. Na Agonia, Jesus sofre na alma pelos crimes do amor ao dinheiro; na Flagelação, sofre no corpo pelos pecados da carne; e na Coroação de espinhos, sofre na cabeça pelos pecados do espírito. Cada Mistério tem uma expiação dominante, mas não exclusiva. Na Agonia, ou “Paixão do Coração de Jesus”, Ele contempla todos os pecados do mundo, especialmente os gerados pela avareza. Justamente nesse momento Judas, “um dos Doze”, o vende por trinta moedas e chega com um bando armado para consumar a traição. Judas se perde no desespero, devorado por sua paixão torpe. Quantos outros se perdem assim, com os olhos cravados na terra! Muitos condenados – talvez a maioria – o são por amor ao dinheiro e seus bens, como vemos nas parábolas do negociante avarento (Lc 12, 15-21) e do mau rico (Lc 16, 19-31). “Não podeis servir a Deus e às riquezas.” (Lc 16, 13). Da paixão pelo dinheiro nascem cobiças, idolatrias, roubos, mentiras, perjúrios, suicídios, divisões familiares, simonias, traições, hipocrisias, ódios, crueldades, assassinatos, guerras injustas e todas as suas violências. Jesus teve a visão de tudo isso e sentiu dor indescritível em seu Coração. Quae utilitas in sanguine meo? (Sl 29, 10.) Por que seu Sangue seria derramado por tantos que dele não se beneficiariam, que o odiariam eternamente? Essa inutilidade de seus sofrimentos para muitos causa-lhe tamanho pavor que Ele suplica ao Pai três vezes que afaste esse cálice. Sem consolação humana: Torcular calcavi solus, seu Coração é moído pela angústia; um suor de sangue inunda seu corpo e a terra do jardim. Esse Coração, tão violentamente comprimido pela dor, foi formado no ventre da Virgem Maria: Cor Jesu, in sinu Virginis a Spiritu Sancto formatum, como dizem as Ladainhas. O sangue que escorre por seus poros teve sua fonte no coração puríssimo da Imaculada, “Nossa Senhora do Precioso Sangue”. Maria preparou o Coração de Jesus para suportar essa tristeza imensa e cooperou com a expiação oferecida à Justiça divina. Ela está presente, ainda que ocultamente, nesse Mistério da Agonia. Jesus depende dela nesse desassossego humano, nessa perturbação de sua sensibilidade, aberta ao medo, pavor e opressão diante da dor e da morte. As regiões superiores de sua alma permanecem unidas e submissas à vontade do Pai. “Levantai-vos, vamos, disse ele aos seus, após a vitória conquistada sobre si mesmo, eis que se aproxima o que me há de entregar.” (Mt 26, 46; Mc 14, 42.) ---- A mesma dependência se estende aos Mistérios da Flagelação e da Coroação de espinhos. O da Flagelação é, de modo especial, a expiação redentora dos pecados da carne. Se muitos se perdem pela avareza, outros tantos perdem o Céu, surpreendidos pela morte em seus excessos vergonhosos. Quantos pecados graves nascem da paixão sensual! Orgias, abominações, impurezas, luxúrias que clamam vingança, como no dilúvio, em Sodoma e Gomorra e outros castigos. Jesus sofre pavorosamente como expiação dessas faltas. No pretório de Pilatos, seu sangue se derrama de novo pelas feridas infligidas à sua carne inocente. Seu corpo, “sagrado, tão belo, tão casto e mais que virginal”, é desnudado, exposto a olhares cheios de ódio e impureza. Que humilhação e tortura para o mais puro dos homens! Ele se queixa nos Salmos: “Por tua causa, meu Deus, sofri afronta…” (Sl 68, 8), “Eles mesmos me estiveram considerando e olhando…” (Sl 21, 18), “alargaram contra mim a sua boca… nossos olhos viram!” (Sl 34, 21). Sua carne é mutilada por correias com ossos ou chumbo, sob golpes violentos e incessantes, entre zombarias, blasfêmias e grosserias dos soldados. Quanto tempo durou? Quantos golpes? O limite foi ultrapassado. “Sobre o meu dorso trabalharam os pecadores; prolongaram a sua iniquidade.” (Sl 128, 3). O objetivo era causar piedade ao povo. Ali, Deus encontrou compensação para as abominações carnais. A santidade, caridade e pureza dessa Hóstia viva e dolorosa cobriam e absorviam o mal, arrancando do Coração do Pai graças de misericórdia para os filhos pródigos de todos os tempos, tocados pelo arrependimento. Durante essa Flagelação, quantas vezes o pensamento de Jesus voltou-se à sua Mãe! Foi somente dela que Ele recebeu essa carne hoje tão torturada. Caro Christi, caro Mariae, disse-se sobre a Eucaristia, chamada desde o século IV, por Santo Gregório de Nissa, de sacramento da Virgem. Por isso, a Igreja canta: Ave, verum Corpus natum de Maria Virgine. Ela lhe deu esse Corpo para nosso alimento e também para ser matéria da expiação. Jesus depende de sua santa Mãe. Sofre em todo seu Corpo dilacerado como Filho de Maria, como Verbo feito carne em Maria: Verbum caro factum. No íntimo da alma, guardava a clara visão disso, sabendo que ela comungava de seus tormentos e adorava com Ele as vontades do Pai. ---- Na Coroação de espinhos, que sucede à Flagelação, Jesus aparece como Vítima de redenção pelos pecados do espírito, especialmente os da soberba, cuja fonte e instrumento é a cabeça. A soberba rejeita o Cristo, sua mensagem e milagres, se obstina na mentira e ódio, e deseja ocupar o lugar de Deus. Os líderes religiosos, com Caifás à frente e os fariseus, são expressão disso. Consideram Jesus um blasfemador por se dizer Filho de Deus. Levam-no a Pilatos, acusando-o de incitar o povo, proibir tributo a César e se proclamar Rei dos Judeus. Sua realeza é tida como impostura. “Não queremos que ele reine sobre nós. Tirai-o. Fazei-o desaparecer. Que morra crucificado!” Querem para si as honras da nação. Pecado gravíssimo, a soberba afronta a Deus. Para expiar esse ultraje à Majestade divina, Jesus sofre em sua Cabeça, até então poupada. A cabeça, parte mais nobre, sede da inteligência, onde brilha a luz do Alto, símbolo de realeza e sacerdócio. Os soldados, ouvindo a acusação principal, ridicularizam essa Realeza. Trançam uma coroa de espinhos e a cravam brutalmente em sua cabeça. Põem-lhe um andrajo escarlate e, por cetro, um caniço de bambu. Sentam-no sobre parte de uma coluna, e um a um passam diante dele, dobram o joelho, zombam: “Salve, rei dos judeus!”. Dão-lhe bofetadas, cuspidas, e batem com o caniço em sua cabeça. Os espinhos trespassam sua fronte e têmporas. Cabelos arrancados, olhos cobertos de sangue, ouvidos em dor. Jesus reaparece aos judeus com coroa e púrpura, desfigurado. Ecce Homo! “Eis o homem!”, diz Pilatos. Vede no que se tornou o vosso Rei. Eis o Homem-Deus, o Filho amado em quem o Pai pôs suas graças; o Filho da Virgem, anunciado como Rei cujo Reino não teria fim (Lc 1, 32-33). Rei coroado de espinhos, escarnecido, “sem beleza nem formosura” (Is 53, 2), sofrendo dores lancinantes naquilo que mais é amado por toda mãe — sobretudo Maria Imaculada: o rosto que reflete o seu, o cabelo, a fronte, os olhos nos quais ela se reconhece. Cabeça antes acariciada e beijada em amor à sua divina Pessoa. Cabeça real, sacerdotal, sagrada, inocente. Cabeça dolorosa, excessivamente humilhada. Rosto ultrajado e irreconhecível. Cabeça e rosto de Jesus, Filho de Maria — n’Ele, o que mais dela se vê. Seus compatriotas diziam: “Vede, é sua Mãe!”. O Jesu, Fili Mariae! Ó Jesus da Virgem Maria, é consolador reencontrar vossa dependência filial mesmo nestes Mistérios, onde Maria está corporalmente ausente. Se a fé se alegra em ver, sob os véus eucarísticos, o que recebestes dela, quanto mais ao contemplar vossa Humanidade dolorosa. Sois sempre o fruto bendito de suas entranhas castíssimas. Visão reconfortante, que deve acompanhar nossa meditação do Rosário. E eis que, a partir da saída de Jesus do pretório de Pilatos, a presença corporal da Virgem se manifesta. II. O CARREGAMENTO DA CRUZ E A CRUCIFICAÇÃO. Contemplemos nosso divino Salvador carregando a Cruz, pesada pelos pecados das três grandes cobiças, pelos quais já tanto sofreu. A Flagelação e a Coroação de espinhos esgotaram suas forças. Ele caminha com dificuldade, tropeça, cai, levanta-se sob os golpes e torna a cair. Temendo que não alcance o Calvário, os carrascos forçam um passante, um estrangeiro voltando dos campos, a carregar a Cruz após Ele. Foi então, ou pouco antes, que se deu o encontro com sua santa Mãe, conservado pela tradição de Jerusalém. Maria, com João e as fiéis seguidoras de Jesus, logo que pôde, atravessa a multidão e a escolta sombria para se apresentar ao Filho. Pobre e corajosa Maria, ao vê-lo irreconhecível, reduzido a tal estado pelos cruéis tratamentos humanos, não o deixará mais até o sepulcro. Juntos sobem o Calvário, semeando graças. Uma dessas graças foi, sem dúvida, a transformação iniciada na alma de Simão, o Cireneu, pelo contato com a Cruz e a proximidade de Maria implorante. Os Evangelistas conservaram seu nome, o de sua terra, e o de seus filhos, Alexandre e Rufo, por serem bem conhecidos da primeira comunidade cristã. Outra graça foi a advertência às mulheres de Jerusalém, que seguiam o cortejo ou o viam passar, lamentando segundo o costume oriental. Movidas por piedade natural, choravam por aquele que ia morrer. “Filhas de Jerusalém, não choreis sobre mim, mas chorai sobre vós mesmas e sobre vossos filhos.” Pertenceis à nação ingrata que me renuncia e me assassina. Chorai pelos males que vos esperam: ruína da cidade, destruição da pátria, dispersão do povo. Chegarão dias em que se dirá: “Ditosas as estéreis, os seios que não geraram, os peitos que não amamentaram!”. Mães, enlouquecidas pela fome, devorarão seus próprios filhos. Homens desejarão ser engolidos por montanhas e colinas. Esses desejos impossíveis anunciarão o que sucederá no Dia do Juízo. É a necessidade da Justiça: se assim tratam o lenho verde, o Santo, a fonte de santidade, que será dos culpados impenitentes, rebeldes à Realeza de Deus e de seu Cristo, lenho seco, bom para o fogo eterno? Sim, que graça essa última advertência do Salvador, luz suprema lançada sobre sua vida, doutrina, sofrimentos, sacrifício e morte. Maria ouviu essas palavras e terá rezado por essas mulheres, jovens ainda, muitas das quais viveriam o bastante para ver a ruína de Jerusalém. ---- Mas, entre todas as graças da dolorosa subida, destaca-se a fidelidade do apóstolo João. Quando todos os outros fugiram, e Simão Pedro apenas entrou no pátio de Caifás para ali negar seu Mestre, João pôde acompanhar, sem temor, as fases do processo. Se era particularmente amado por Jesus, era-o também por Maria. Foi ela quem o atraiu e sustentou nessas horas trágicas, concedendo-lhe a graça de estar ao seu lado durante a subida e no Calvário, como testemunha oficial dos últimos momentos do Salvador. Que graça incomparável: participar dos sofrimentos do Redentor com Maria Corredentora! Ele, que na véspera reclinara a cabeça no peito de Jesus, ouvirá agora suas últimas palavras e verá com os próprios olhos o lado aberto pela lança. À fidelidade de João junta-se a das santas mulheres, provedoras do colégio apostólico, que haviam seguido Jesus desde a Galileia. Reuniram-se no Gólgota, a alguma distância do lugar do suplício. Algumas, porém, aproximaram-se com Maria e João: Maria Salomé, Maria de Cléofas, parentes de Jesus, e Maria Madalena. Todas amavam com profunda e respeitosa afeição a Mãe de Jesus. Diante dessa Páscoa ensanguentada, como não testemunhariam sua simpatia a Maria, tão cruelmente ferida em seu amor materno? Já não podiam servir a Jesus e aos apóstolos, mas foi-lhes consolo acompanhar Maria e formar o grupo das amigas fiéis que subiam ao Calvário. Com Maria e João, foram consoladoras do Coração de Jesus agonizante. Quantas graças não receberam por sua fervorosa assistência ao sacrifício! Entre as mais próximas, havia duas mães de apóstolos: Salomé, mãe de João e Tiago Maior; Maria de Cléofas, mãe de Tiago Menor e Judas Tadeu. Unidas à Mãe do Sumo Sacerdote, associavam-se à sua oferenda redentora ao Pai. Havia também Maria Madalena, a perdoada, junto à Imaculada, banhando sua alma no sangue da divina Vítima. Favor inaudito, prodígio da misericórdia infinita! Suas lágrimas no Calvário, unidas às de Maria, às suas dores e preces, terão contribuído para a conversão de um dos ladrões crucificados com Jesus. Como seu companheiro, ele começara insultando o Salvador, mas, vendo sua paciência, a compaixão de Maria, a fidelidade dos poucos amigos, em contraste com os blasfemadores e a multidão uivante, muda seu coração. Abre-se à fé na Divindade e na Realeza do Crucificado, que acabava de perdoar seus carrascos. Confessa a inocência de Jesus e suplica humildemente: “Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu Reino. – Hoje, estarás comigo no paraíso.” (Lc 23, 42-43.) Foi a única vez que Jesus fez essa promessa; a primeira vez que falou do paraíso — e foi a um pecador que Ele o disse. ---- Que florescimento de graças sobre o Calvário, monte da mirra e do incenso, onde sofrimento e prece se unem nos corações fiéis ao Crucificado e à sua Mãe dolorosa! É o momento em que Jesus oferece seu sacrifício supremo. Como, nessa hora derradeira, não dependeria Ele filialmente daquela que consentiu com sua vinda, ofereceu-o no Templo e o criou visando sua imolação? Toda essa preparação encontra aqui seu pleno desfecho. Por isso, Jesus quis sua Mãe presente, participante de sua oblação. Ela assiste aos preparativos do suplício, ao despojamento brutal, à crucificação sem piedade, que desloca seus membros, causando-lhe sofrimentos indizíveis. Contempla o corpo elevado da terra, fixado em lenta agonia, exposto à multidão que se alimenta do “espetáculo” (Lc 23, 48). Ouve os sarcasmos e insultos dos inimigos, vê os soldados lançarem dados sobre as vestes de seu Filho, incluindo a túnica que suas mãos teceram. Em pé diante da Cruz, traspassada de dor, ela sofre e reza com o divino Paciente. Oferece-o e o imola, como Ele mesmo se oferece e se imola. Sacrifica-o por nós. Esse Corpo ensanguentado é verdadeiramente sua Hóstia. A união entre Mãe e Filho nunca foi tão grande. Por isso, após perdoar os carrascos e prometer o paraíso ao ladrão penitente, Jesus se volta a Maria: “Mulier, ecce filius tuus” (Jo 19, 26). “Mulher”: companheira, associada, cooperadora fiel, nova Eva, Mãe dos viventes da vida divina. Ela representa a maternidade espiritual de todos os redimidos, e João o discípulo amado, símbolo de todos os que crerão. “Eles não ficarão órfãos. Sereis sua Mãe segundo a graça, como sou vosso Filho segundo a natureza. Ecce filius tuus. Ecce Mater tua.” Palavra testamentária de amor, que prolonga o anúncio de Nazaré e lança plena luz sobre as dores da Virgem. Assim como os sofrimentos e a morte de Jesus foram necessários para herdarmos o Céu, os sofrimentos de Maria, sua comunhão com a morte de seu Filho, foram necessários para que ela nos gerasse na vida sobrenatural. Nascemos de Deus e de Maria na noite dolorosa do Calvário. Jesus recolhe-se ao longo silêncio antes da morte: é a grande Elevação de sua Missa sangrenta. Ora, recita os Salmos que anunciaram sua Paixão, especialmente o Salmo 21: “Deus, Deus meus, quare me dereliquisti?”. Essa intensa prece dá peso ao sofrimento de seu corpo. Sua alma, mais viva e religiosa do que nunca, transborda paciência, abandono, submissão. Domina e controla a agonia até que, com voz forte, proclama: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” (Sl 30, 6). Oferece sua vida espontaneamente. Ninguém a tira dele (Jo 10, 18); Ele mesmo a depõe, sob o olhar de sua Mãe silenciosa, orante e consentindo como Ele. Consummatum est. Tudo está cumprido; sua obediência, sua dependência foram consumadas. Foi até o fim, até a morte de cruz. Et inclinato capite, emisit spiritum. “E, inclinando a cabeça, rendeu o espírito.” Ele a ergueu antes, para mostrar-se senhor de sua vida e sacrifício. Esse gesto, a voz, as palavras, a expressão de seu rosto agonizante tomaram de espanto o centurião, que reconheceu: “Verdadeiramente este homem (cuja Mãe ele via) era Filho de Deus.” Seus soldados também, comovidos, confessaram a divindade do condenado. A Maternidade corredentora de Maria exercia sua ação benfazeja. ---- Assim, desde sua Agonia no jardim das Oliveiras até a Agonia da Cruz, Jesus não cessou de oferecer seus sofrimentos e derramar suas graças, sempre na dependência de sua santa Mãe. Sabedoria dolorosa, crucificada e expirante, Ele conserva a mesma amorosa conduta de toda a sua vida terrena. Que encorajamento para santificarmos nossos sofrimentos, provações e humilhações; para carregarmos todas as cruzes, grandes ou pequenas, em união com Maria! Não apenas carregá-las, mas amá-las, desejá-las, abraçá-las com alegria, a fim de nos configurarmos sobrenaturalmente ao seu divino Filho. Por isso, a Santíssima Virgem, longe de poupar cruzes a seus fiéis servos e escravos, envia-lhes cruzes mais numerosas, pesadas e persistentes do que àqueles que não lhe são inteiramente devotados. Essa é a marca de sua predileção; assim como a facilidade com que os vemos carregar tais cruzes é sinal da doçura e da unção que ela derrama em suas almas. Regozijemo-nos, pois, com São Luís Maria de Montfort, amante apaixonado da Cruz, e ouçamo-lo dizer: “Como foi preciso que a Sabedoria Encarnada entrasse no Céu por meio da cruz, é necessário entrar nele, após ela, pelo mesmo caminho… A verdadeira Sabedoria habita de tal modo na cruz que, fora dela, não a encontrareis neste mundo; e ela se incorporou e uniu de tal modo com a cruz, que se pode dizer, em verdade, que a Sabedoria é a Cruz e que a Cruz é a Sabedoria.” (A. S. E., n. 180.) Palavra profunda. Montfort não hesita em identificar Jesus com a Cruz e a Cruz com Jesus. Amar o sofrimento é, pois, amar Jesus; como amar Jesus, o Jesus de Maria, é amar o sofrimento. ORAÇÕES Ladainha do Espírito Santo Senhor, tem piedade de nós. Jesus Cristo, tem piedade de nós. Divino Espírito Santo, ouve-nos. Espírito Paráclito, atende-nos. Deus Pai dos céus, tem piedade de nós. Deus Filho, redentor do mundo, tem piedade de nós. Deus Espírito Santo, tem piedade de nós. Santíssima Trindade, que és um só Deus, tem piedade de nós. Espírito da verdade, tem piedade de nós. Espírito da sabedoria, tem piedade de nós. Espírito da inteligência, tem piedade de nós. Espírito da fortaleza, tem piedade de nós. Espírito da piedade, tem piedade de nós. Espírito do bom conselho, tem piedade de nós. Espírito da ciência, tem piedade de nós. Espírito do santo temor, tem piedade de nós. Espírito da caridade, tem piedade de nós. Espírito da alegria, tem piedade de nós. Espírito da paz, tem piedade de nós. Espírito das virtudes, tem piedade de nós. Espírito de toda graça, tem piedade de nós. Espírito da adoção dos filhos de Deus, tem piedade de nós. Purificador das nossas almas, tem piedade de nós. Santificador e guia da Igreja Católica, tem piedade de nós. Distribuidor dos dons celestes, tem piedade de nós. Conhecedor dos pensamentos e das intenções do coração, tem piedade de nós. Doçura dos que começam a te servir, tem piedade de nós. Coroa dos perfeitos, tem piedade de nós. Alegria dos anjos, tem piedade de nós. Luz dos patriarcas, tem piedade de nós. Inspiração dos profetas, tem piedade de nós. Palavra e sabedoria dos apóstolos, tem piedade de nós. Vitória doa mártires, tem piedade de nós. Ciência dos confessores, tem piedade de nós. Pureza das virgens, tem piedade de nós. Unção de todos os santos, tem piedade de nós. Sede-nos propício, perdoa-nos, Senhor. Sede-nos propício, atende-nos, Senhor. De todo o pecado, livra-nos, Senhor. De todas as tentações e ciladas do demônio, livra-nos, Senhor. De toda a presunção e desesperação, livra-nos, Senhor. Do ataque à verdade conhecida, livra-nos, Senhor. Da inveja da graça fraterna, livra-nos, Senhor. De toda a obstinação e impenitência, livra-nos, Senhor. De toda a negligência e tepor do espírito, livra-nos, Senhor. De toda a impureza da mente e do corpo, livra-nos, Senhor. De todas as heresias e erros, livra-nos, Senhor. De todo o mau espírito, livra-nos, Senhor. Da morte má e eterna, livra-nos, Senhor. Pela tua eterna procedência do Pai e do Filho, livra-nos, Senhor. Pela milagrosa conceição do Filho de Deus, livra-nos, Senhor. Pela tua descida sobre Jesus Cristo batizado, livra-nos, Senhor. Pela tua santa aparição na transfiguração do Senhor, livra-nos, Senhor. Pela tua vinda sobre os discípulos do Senhor, livra-nos, Senhor. No dia do juízo, livra-nos, Senhor. Ainda que pecadores, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que nos perdoes, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes vivificar e santificar todos os membros da Igreja, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes conceder-nos o dom da verdadeira piedade, devoção e oração, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes inspirar-nos sinceros afetos de misericórdia e de caridade, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes criar em nós um espírito novo e um coração puro, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes conceder-nos verdadeira paz e tranquilidade no coração, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes fazer-nos dignos e fortes, para suportar as perseguições pela justiça, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes confirmar-nos em tua graça, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes receber-nos no número dos teus eleitos, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes ouvir-nos, nós vos rogamos, ouví-nos. Espírito de Deus, nós vos rogamos, ouví-nos. Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, envia-nos o Espírito Santo. Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, manda-nos o Espírito prometido do Pai. Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, dá-nos o Espírito bom. Espírito Santo, ouví-nos. Espírito Consolador, atendei-nos. ℣. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado. ℟. E renovareis a face da terra. Oremos: Deus, que instruístes o coração de vossos fiéis, com a luz do Espírito Santo, concedei-nos que, no mesmo Espírito, conheçamos o que é reto, e gozemos sempre as suas consolações. Por Cristo, Nosso Senhor. Amém. Ladainha do Santíssimo Nome de Jesus SENHOR, tende piedade de nós. JESUS CRISTO, tende piedade de nós. SENHOR, tende piedade de nós. JESUS CRISTO, ouvi-nos. JESUS CRISTO, atendei-nos. PAI CELESTE que sois DEUS, tende piedade de nós. FILHO Redentor do mundo, que sois DEUS, tende piedade de nós. ESPÍRITO SANTO, que sois Deus, tende piedade de nós. SANTÍSSIMA TRINDADE, que Sois um só DEUS, tende piedade de nós. JESUS Filho de DEUS vivo, tende piedade de nós. JESUS, esplendor do Pai, tende piedade de nós. JESUS, pureza da luz eterna, tende piedade de nós. JESUS, Rei da glória, tende piedade de nós. JESUS, sol de justiça, tende piedade de nós. JESUS, filho da Virgem MARIA, tende piedade de nós. JESUS amável, tende piedade de nós. JESUS admirável, tende piedade de nós. JESUS, DEUS forte, tende piedade de nós. JESUS, Pai do futuro século, tende piedade de nós. JESUS, Anjo do grande conselho, tende piedade de nós. JESUS poderosíssimo, tende piedade de nós. JESUS pacientíssimo, tende piedade de nós. JESUS obedientíssimo, tende piedade de nós. JESUS, manso e humilde de coração, tende piedade de nós. JESUS, amante da castidade, tende piedade de nós. JESUS, amador nosso, tende piedade de nós. JESUS, DEUS da Paz, tende piedade de nós. JESUS, autor da vida, tende piedade de nós. JESUS, exemplar das virtudes, tende piedade de nós. JESUS, zelador das almas, tende piedade de nós. JESUS, nosso DEUS, tende piedade de nós. JESUS, nosso refúgio, tende piedade de nós. JESUS, pai dos pobres, tende piedade de nós. JESUS, tesouro dos fiéis, tende piedade de nós. JESUS, boníssimo Pastor, tende piedade de nós. JESUS, luz verdadeira, tende piedade de nós. JESUS, Sabedoria eterna, tende piedade de nós. JESUS, bondade infinita, tende piedade de nós. JESUS, nosso caminho e nossa vida, tende piedade de nós. JESUS, alegria dos Anjos, tende piedade de nós. JESUS, Rei dos Patriarcas, tende piedade de nós. JESUS, Mestre dos Apóstolos, tende piedade de nós. JESUS, Doutor dos evangelistas, tende piedade de nós. JESUS, fortaleza dos Mártires, tende piedade de nós. JESUS, luz dos Confessores, tende piedade de nós. JESUS, pureza das virgens, tende piedade de nós. JESUS, coroa de todos os santos, tende piedade de nós. Sede-nos propício, perdoai-nos, JESUS. Sede-nos propício, ouvi-nos, JESUS. De todo o mal, livrai-nos, JESUS. De todo o pecado, livrai-nos, JESUS. De Vossa ira, livrai-nos, JESUS. Das ciladas do demônio, livrai-nos, JESUS. Do espírito da impureza, livrai-nos, JESUS. Da morte eterna, livrai-nos, JESUS. Do desprezo das Vossas inspirações, livrai-nos, JESUS. Pelo mistério da Vossa Santa Encarnação, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa natividade, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa infância, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa santíssima vida, livrai-nos, JESUS. Pelos Vossos trabalhos, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa agonia e pela Vossa paixão, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa cruz e pelo Vosso desamparo, livrai-nos, JESUS. Pelas Vossas angústias, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa morte e pela Vossa sepultura, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa ressurreição, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa ascensão, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa instituição da Santíssima Eucaristia, livrai-nos, JESUS. Pelas Vossas alegrias, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa glória, livrai-nos, JESUS. Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, perdoai-nos, JESUS. Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, ouvi-nos, JESUS. Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, tende piedade de nós, JESUS. JESUS, ouvi-nos. JESUS, atendei-nos. Oremos: Senhor JESUS Cristo, que dissestes: “Pedi e recebereis, buscai e achareis, batei e abrir-se-vos-á”; nós Vos suplicamos que concedei a nós, que Vos pedimos, os sentimentos afetivos de Vosso divino amor, a fim de que nós Vos amemos de todo o coração e que esse amor transcenda por nossas ações. Permiti que tenhamos sempre, Senhor, um igual temor e amor pelo Vosso Santo Nome, pois não deixais de governar aqueles que estabeleceis na firmeza do Vosso amor. Vós que viveis e reinais para todo o sempre. Amém. Ave maris stella (Ave, do mar Estrela) (Latim) 1. Ave maris stella, Dei Mater alma, Atque semper Virgo, Felix cæli porta. 2. Sumens illud Ave Gabrielis ore, Funda nos in pace, Mutans Hevæ nomen. 3. Solve vincla reis, Profer lumen cæcis, Mala mostra pelle, Bona cuncta posce. 4. Monstra te esse matrem, Sumat per te preces, Qui pro nobis natus Tulit esse tuus. 5. Virgo singularis, Inter omnes mitis, Nos, culpis solutos, Mites fac et castos. 6. Vitam præsta puram Iter para tutum, Ut, videntes Jesum, Semper collætemur. 7. Sit laus Deo Patri, Summo Christo decus, Spiritui Sancto, Tribus honor unus. Amen. (Vernáculo) 1. Ave, do mar Estrela De Deus mãe bela, Sempre virgem, da morada Celeste Feliz entrada. 2. Ó tu que ouviste da boca Do anjo a saudação; Dá-nos a paz e quietação; E o nome da Eva troca. 3. As prisões aos réus desata. E a nós cegos alumia; De tudo que nos maltrata Nos livra, o bem nos granjeia. 4. Ostenta que és mãe, fazendo Que os rogos do povo seu Ouça aquele que, nascendo Por nós, quis ser filho teu. 5. Ó virgem especiosa, Toda cheia de ternura, Extintos nossos pecados Dá-nos pureza e brandura, 6. Dá-nos uma vida pura, Põe-nos em via segura, Para que a Jesus gozemos, E sempre nos alegremos. 7. A Deus Pai veneremos: A Jesus Cristo também: E ao Espírito Santo; demos Aos três um louvor. Amém. Oração de Santo Agostinho Vós sois, ó Jesus, o Cristo, meu Pai santo, meu Deus misericordioso, meu Rei infinitamente grande; sois meu bom pastor, meu único mestre, meu auxílio cheio de bondade, meu bem-amado de uma beleza maravilhosa, meu pão vivo, meu sacerdote eterno, meu guia para a pátria, minha verdadeira luz, minha santa doçura, meu reto caminho, sapiência minha preclara, minha pura simplicidade, minha paz e concórdia; sois, enfim, toda a minha salvaguarda, minha herança preciosa, minha eterna salvação... Ó Jesus Cristo, amável Senhor, por que, em toda a minha vida, amei, por que desejei outra coisa senão vós? Onde estava eu quando não pensava em vós? Ah, que pelo menos a partir deste momento meu coração só deseje a vós e por vós se abrase, Senhor Jesus! Desejos de minha alma, correi, que já bastante tardastes; apressai-vos para o fim a que aspirais; procurai em verdade aquele que procurais. Ó Jesus, anátema seja quem não vos ama. Aquele que não vos ama seja repleto de amarguras. Ó doce Jesus, sede o amor, as delícias, a admiração de todo coração dignamente consagrado à vossa glória. Deus de meu coração e minha partilha, Jesus Cristo, que em vós meu coração desfaleça, e sede vós mesmo a minha vida. Acenda-se em minha alma a brasa ardente de vosso amor e se converta num incêndio todo divino, a arder para sempre no altar de meu coração; que inflame o íntimo do meu ser, e abrase o âmago de minha alma; para que no dia de minha morte eu apareça diante de vós, inteiramente consumido em vosso amor... Amém. Repetir ao longo do dia: “Que eu Vos conheça, que eu me conheça.” |
Dia 29: Jesus Sabedoria gloriosa e triunfanteContemplamos Jesus dependente de Maria até a morte, e morte de cruz. Glorioso vencedor da morte, tendo subido ao Pai, permanece mais do que nunca seu Filho amoroso e grato, a ponto de chamá-la, no fim de sua vida terrena, para reunir-se a Ele em corpo e alma, partilhando de seu triunfo na beatitude celeste.Acompanhemo-lo, contudo, primeiro no tempo de sua Ressurreição, Ascensão e do Pentecostes. Quantas graças foram derramadas, nesses dias privilegiados, sobre os membros da Igreja nascente! Graças de FÉ, de ESPERANÇA e de CARIDADE, sólidos alicerces da vida cristã pelos séculos vindouros. As santas mulheres, que vimos junto à Cruz e reencontraremos no Sepulcro de José de Arimateia, haviam-se retirado com a Santa Virgem e São João para uma casa de família, em Jerusalém. Simão Pedro, com sua dor, logo se juntaria a eles. Os outros apóstolos, provavelmente, fugiram para Betânia na noite da prisão do Mestre. Não vendo mais João nem Pedro, pensaram que também haviam sido presos, o que aumentou ainda mais seu terror e pânico. Ao saberem dos acontecimentos da Sexta-Feira Santa, a primeira ideia foi se reagruparem no Cenáculo. Ali estavam no domingo de Páscoa, julgando tudo encerrado. E eis que tudo recomeça, como o Salvador havia predito. Peçamos a Maria que nos introduza, com toda a sua fé intacta, nesse recomeço tão calmo, tão secreto, tão reservado, que se seguiu ao aparente sucesso das autoridades da nação judaica. Abordaremos agora os três grandes Mistérios que renovaram a face do mundo. Ave, Maria. I. As Graças dos Três Primeiros Mistérios Gloriosos É surpreendente, à primeira vista, a dificuldade que tiveram os apóstolos para crer na Ressurreição de seu divino Mestre. As santas mulheres, profundamente envolvidas nesse Mistério, superaram-nos largamente. Na noite da Sexta-Feira Santa, depois de acompanharem o enterro e observarem o modo como o corpo foi colocado, Madalena e Maria Cléofas permaneceram diante do sepulcro. Depois, retiraram-se, decididas a voltar logo que possível para completar o embalsamamento, feito às pressas. No domingo de Páscoa, após observar o Shabat, elas correram ao sepulcro com perfumes. Salomé, mãe de João, estava com elas. Inquietavam-se sobre quem removeria a pedra da entrada, sem saber que os guardas já haviam fugido, aterrorizados. Madalena chega primeiro, vê a pedra removida e o sepulcro vazio. Corre a Pedro e João: “Levaram o Senhor, e não sabemos onde o puseram!”. Enquanto isso, Maria Cléofas e Salomé entram no sepulcro e encontram dois anjos: “Por que buscais entre os mortos aquele que vive? Não está aqui, ressuscitou.” Recordam-lhes as palavras de Jesus e as enviam aos discípulos. Amedrontadas, elas fogem e nada dizem de imediato (Mc 16, 8). Pedro e João, alertados por Madalena, correm ao sepulcro. João chega primeiro, mas Pedro entra e vê as faixas no chão e o sudário dobrado. João entra, vê e crê (Jo 20, 8) — o primeiro apóstolo a receber essa graça. Madalena volta ao sepulcro e chora. Vê dois anjos e depois um homem, que ela supõe ser o jardineiro. Ao ouvi-lo chamá-la: “Maria”, ela reconhece Jesus: “Mestre!”. Quer retê-lo, mas Ele a envia a anunciar sua Ressurreição aos discípulos (Jo 20, 14-17). Depois, Maria Cléofas, Salomé e outras mulheres voltam ao sepulcro. Jesus as encontra e elas se prostram a seus pés. Ele diz: “Não temais; ide avisar meus irmãos que vão à Galileia” (Mt 28, 10). Mas os apóstolos ainda não acreditam (Lc 24, 11). Os discípulos de Emaús explicam seu desalento ao desconhecido que os acompanha: esperavam a restauração de Israel, mas tudo parece perdido. Relatam os rumores das mulheres e de alguns apóstolos, mas não viram Jesus. O Forasteiro os repreende: “Não era necessário que o Cristo sofresse essas coisas para entrar em sua glória?” E interpreta-lhes as Escrituras. Jesus reanima-lhes a fé com o argumento da autoridade divina: devemos crer no que Deus revelou por meio dos profetas e de seu Filho. Bem-aventurados os que creem nessa revelação! A Santa Virgem permanece como modelo único: creu sem hesitação. As primeiras almas a crerem foram aquelas que a acompanharam até a Cruz e o sepulcro: João, Madalena, Maria Cléofas, Salomé e outras seguidoras. Todas receberam o privilégio de ver Jesus ressuscitado e creram de imediato. João creu apenas ao ver o sepulcro vazio. Os outros apóstolos resistem, mesmo após os relatos das mulheres e dos discípulos de Emaús, que retornaram apressadamente a Jerusalém para compartilhar sua alegria. Estavam reunidos no Cenáculo, exceto Tomé. Não creram. Então, Jesus apareceu no meio deles, apesar das portas fechadas: “A paz seja convosco. Sou eu, não temais.” Pensavam ver um fantasma. Ele lhes mostra as mãos e os pés traspassados e censura-lhes a incredulidade. Antes disso, Jesus já havia aparecido a Simão Pedro, como confirmam Lucas (24, 34) e Paulo (1Cor 15, 5), mas sem detalhes. Pedro, por humildade, guardou silêncio sobre essa visita. Desde a manhã da Páscoa, já se sabia perdoado. Correu ao sepulcro com João, voltou sozinho depois — provavelmente foi nesse caminho que Jesus lhe apareceu. Imaginamos Pedro banhado em lágrimas, aos pés do Ressuscitado, que não o repreendeu, mas o amou ainda mais. Depois da negação, Pedro deve ter procurado João e, certamente, a Santa Virgem, a quem precisava confessar sua falta e pedir perdão. Maria, que lhe devolveu a confiança e obteve para ele essa Aparição, foi instrumento de sua restauração. Pedro tornou-se o primeiro apóstolo a ver Jesus ressuscitado e a testemunhar sua Ressurreição. Como duvidar, então, de que Jesus tenha começado por se manifestar à sua santa Mãe? O Evangelho não menciona, pois suas Aparições visavam provar sua vitória e fortalecer a fé. Maria, porém, nunca duvidou; por isso, não tomou parte nas preocupações com o embalsamamento. Sua fé, observada por João, explica sua imediata aceitação do milagre diante do sepulcro. Qual foi a beatitude de Maria ao contemplar o Corpo glorioso de Jesus? Faltam-nos palavras. Era o mesmo Corpo vindo dela, que ela viu crescer, sofrer, morrer e ser sepultado. Os estigmas acrescentavam-lhe majestade. Essa Aparição superou todas as outras em esplendor, ternura, efusão celestial, ações de graças. Uma alegria sublime, intraduzível; felicidade sobre-humana, justa recompensa de sua fé. Divina lição para nos encorajar a implorar de Maria essa FÉ inabalável, que se apoia na certeza da palavra revelada, esperando a visão da glória: Resurrexit sicut dixit. (Antífona do Regina caeli laetare.) ---- Jesus ressuscitado havia pedido aos apóstolos que fossem à Galileia, longe do temor dos judeus. Nessa região tranquila, berço de sua vocação, Ele os prepararia para sua partida e lhes confiaria o cuidado da Igreja, onde todas as almas cristãs beberiam a ESPERANÇA de um dia se unirem a Ele. Já na noite da Páscoa, no Cenáculo, Jesus lhes havia transmitido o poder de perdoar ou reter pecados, estabelecendo-os como juízes de consciências. Agora, nas margens do lago de Tiberíades, dá-se a investidura solene de Pedro como Chefe da Igreja. “Simão, filho de João, tu me amas?” – por três vezes Jesus pergunta, compensando a tripla negação: “Sê o Pastor de meus Cordeiros… das minhas Ovelhas.” Pastor supremo dos fiéis e dos ministros, em todos os graus da hierarquia. Após essa consagração da primazia de Pedro, Jesus convoca os apóstolos a um monte da Galileia, talvez o Tabor. Os “Onze” ouvem: “Foi-me dado todo o poder no Céu e na terra. Ide, pois, ensinai todas as gentes, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinando-as a observar tudo o que vos mandei. Eu estarei convosco até ao fim do mundo.” Sublime missão apostólica! Antes de subir ao Céu, deseja tomar posse da terra por meio de seus enviados. Levarão a todos o Evangelho, e, aos que crerem, comunicarão a vida sobrenatural pelo Batismo e os sacramentos. Ensinarão também a observar seus mandamentos, com perseverança, renúncia, caridade, sacrifício. O Céu é recompensa pessoalmente merecida. A Igreja torna-se a antessala do Paraíso, verdadeira casa da Esperança cristã. Mas não era na Galileia que Jesus desejava dar seu adeus terrestre. Ordena-lhes voltar a Jerusalém e marca o Cenáculo como lugar do último encontro — ali onde os consagrara sacerdotes e ministros da Eucaristia. Dez dias antes do Pentecostes, ali estão, dispostos a receber suas últimas recomendações. A pregação deverá apoiar-se na autoridade das Escrituras: tudo se cumpriu como anunciado na Lei, nos Profetas e nos Salmos — seus sofrimentos, morte e ressurreição. Eles deverão proclamar ao mundo esses fatos e os homens crerão com base em seu testemunho. Logo, o Espírito Santo os revestirá de força: Jesus o anuncia. Leva-os ao monte das Oliveiras. Estendendo as mãos, abençoa-os e sobe ao Céu. Todos o veem subir: apóstolos, discípulos, e Maria com as santas mulheres. Era meio-dia. O sol brilhava. Perto do pretório de Pilatos, Jesus retornava ao Pai no Reino do eterno encontro. “Vou preparar o lugar para vós” (Jo 14, 2), dissera. Doce e luminoso convite: a Igreja celeste é a continuação da Igreja terrestre. Apóstolos e discípulos voltam a Jerusalém com grande júbilo (Lc 24, 52). Todo medo desaparecera. Suas esperanças temporais se dissipam. Compreendem, enfim, que Jesus não viera restaurar um reino terreno. Outra esperança os enchia: os anjos acabavam de anunciar que Ele voltaria como subira, em glória, para julgar o mundo e inaugurar um Reino sem fim. Tendo Jesus partido, Maria permanece com eles. Já intercedera por sua lentidão em crer. Regozijara-se com as santas mulheres pelas Aparições maravilhosas, apesar do silêncio das autoridades. Admirava, louvava e bendizia essa misteriosa Presença prolongada do Salvador, ora visível, ora oculta. Se sua alegria fora imensa ao ver seu Filho ressuscitado, maior ainda foi vê-lo subir ao Céu com o corpo que lhe dera para sofrer, agora revestido da Glória. Ó Sabedoria vitoriosa e triunfante! – podia ela exclamar ao descer o monte das Oliveiras. Que contraste com sua descida do Calvário, na noite da Sexta-Feira Santa! Sua esperança estava já alimentada na Pessoa do glorioso Ressuscitado, esperando sê-lo em sua própria pessoa. Que encorajamento para esperarmos o Céu, depois de todas as provações deste mundo, suportadas cristãmente, como preço da beatitude eterna! ---- No Cenáculo de Jerusalém, onde os apóstolos, com a Santa Virgem, as santas mulheres e os discípulos, iniciam o Retiro de dez dias, a CARIDADE torna-se a alma dessa fraterna reunião. Que união, fervor constante e perseverança na oração, entre aquelas paredes impregnadas da lembrança eucarística! Que unidade dos espíritos, que fusão dos corações em torno da Mãe de Jesus! É ela quem concilia, pacifica, quem se venera e se escuta. Quando Simão Pedro propõe eleger um sucessor para Judas, a eleição se dá em plena concordância. Matias é designado e aceito pelos “Onze”. Todos veem em Maria o lugar do Salvador que subiu ao Céu. Ela é também Mãe deles, proclamada tal do alto da Cruz. Mãe dos pastores e dos fiéis, do Pastor supremo, dos filhos privilegiados, escolhidos, íntimos de Jesus, primeiros membros de seu Corpo místico. Como ela os ama e deseja vê-los amar-se mutuamente, conforme o novo mandamento! É por eles que ora; é sobre eles que implora a vinda do Espírito Consolador. Seu amor puro e belo aviva neles o desejo de receber esse divino Paráclito, tantas vezes prometido por seu Filho, de quem Maria é a Esposa fidelíssima. Ela já o recebera e hospedara há muitos anos, mas agora deve recebê-lo de novo, ostensivamente, para comunicá-lo à Igreja nascente. Precisa ser reconhecida no pleno exercício de sua maternidade. Por isso, o Livro dos Atos registra expressamente sua presença entre os apóstolos e discípulos em oração. Poucos dias mais, e o Amor pessoal do Pai e do Filho derramará, por meio deles, sua caridade sobre o mundo. Maria os prepara, infundindo-lhes seu próprio amor. Na manhã do Pentecostes, antes que se abram as portas do Cenáculo, o Espírito Santo descerá primeiro sobre ela e, por seu intermédio, espalhar-se-á com plenitude de dons sobre todos os presentes. Então, ao sopro do alto, corações se abrasam e línguas se desatam. Nada mais deterá os apóstolos. Na Jerusalém surpreendida, Simão Pedro à frente, pregam ousadamente o Cristo ressuscitado. Milhares de peregrinos, vindos das províncias distantes para a Festa das colheitas, escutam-nos e os compreendem, apesar da diversidade dos idiomas. “Somos testemunhas de sua Ressurreição”, proclamam; e citam Davi, que profetizou sua condenação e Paixão. Não se pode acusá-los de credulidade ou de influência mútua. Foram os mais resistentes a crer, e Jesus precisou conquistar cada um pessoalmente. Sua palavra é segura e irresistível. Ela converte multidões, conforme predisse o Mestre; é prova da Divindade do Cristo e da veracidade do Evangelho. Também cala os inimigos: “Não podemos calar sobre o que vimos e ouvimos.” Esse poder de convicção, vindo do Espírito que os inflama, leva-os a enfrentar ameaças, tribunais, prisão e até a morte. Todos terminarão mártires, felizes por derramar seu sangue pelas almas resgatadas no sangue de Jesus. “Não há maior amor do que dar a própria vida pelos seus amigos.” (Jo 15, 13.) Sublime exemplo de amor a Deus e ao próximo. Assim, o mistério do Pentecostes nos traz a graça de perfeita caridade, que completa as graças de fé e esperança dos dois mistérios precedentes. II. JESUS GLORIFICADO DESEJA GLORIFICAR SUA MÃE. Quantos anos Jesus deixou Maria sobre a terra após sua Ascensão e a descida do Espírito Santo? Nenhum texto sagrado revela. O nome da Virgem desaparece das Escrituras. Recolhida junto ao apóstolo João, sua vida entra numa fase contemplativa, como indica o silêncio das páginas inspiradas. A vigilância do discípulo amado a libertava de preocupações temporais. Sua missa a consolava com o Pão eucarístico e revivia, a cada vez, o mistério da instituição divina, inseparável da imolação do Calvário. Quem mais que Maria podia penetrar no mistério de dor e amor do sacrifício eucarístico, idêntico ao da cruz? Ela revivia as horas da Sexta-Feira Santa em ação de graças extática, pois seu Filho já não sofria, e os tesouros da Redenção se espalhavam pelo mundo. A cada comunhão, Maria aumentava seus méritos. Que graça maravilhosa: receber sacramentalmente Aquele que concebera espiritual e corporalmente! Maria certamente gostava de recordar os anos de intimidade em Nazaré, mas sua presença em Jerusalém fazia seus pensamentos voltarem aos Mistérios da Ressurreição, da Ascensão e do Pentecostes, sustentáculos da marcha da Igreja. Ela seguia, com coração materno, a cristandade da capital, feliz por sua assistência. Por João, acompanhava a propagação da pregação apostólica na Judeia, Samaria e além. Admirava a coragem de Estêvão, o primeiro mártir; intercedia pela conversão de Saulo, o mais obstinado perseguidor; dava graças ao saber da alegria dos apóstolos ao sofrerem por amor a Jesus. Mais tarde, consolaria e sustentaria os amigos do Filho após a perseguição, e entregaria a Lucas os segredos do coração: o relato da Anunciação, o Magnificat, tantos detalhes que só ela conhecia. Tudo isso alimentava ainda mais sua contemplação e a estendia sobre todas as almas que, ao longo do tempo, beberiam na fonte evangélica. Mas Jesus não podia tardar a chamá-la a si. Segundo a mais antiga Tradição, Maria parte deste mundo em Jerusalém, santificada pela morte e Ressurreição de seu Filho. A maioria dos apóstolos se dispersara pelas nações; João permanecia com ela, em Getsêmani, com alguns parentes e cristãos devotados. João poderia descrever os dias de pacífica espera antes da Dormição, ou dizer claramente que a viu, como outros presentes, partir corporalmente, viva e imortal. Preferiu o silêncio, erguendo apenas um canto do véu no Apocalipse e deixando à Igreja a definição dessa partida misteriosa. Foram necessários séculos. Nossa geração foi a bem-aventurada beneficiária da Definição dogmática feita por S.S. Pio XII, em 1º de novembro de 1950, na Praça São Pedro: “… Pronunciamos, declaramos e definimos como dogma divinamente revelado que Maria, Mãe Imaculada de Deus e Virgem perpétua, no termo de sua vida terrestre, foi elevada com seu corpo e sua alma para a glória do Céu.” A definição não menciona a morte nem a ressurreição de Maria. Na nova missa da Assunção, Pio XII suprime a alusão à morte. O Introito não é mais o Gaudeamus omnes in Domino, mas o Signum magnum apparuit in coelo, do Apocalipse 12. São João contempla Maria na Jerusalém celeste, em corpo e alma, ornada com o que há de mais luminoso no firmamento. O sol a reveste como manto, a lua está sob seus pés, doze estrelas formam sua coroa. Este SINAL maravilhoso não é a imagem simbolizada de sua Assunção, de sua glória imaculada e imortal? A Divindade do Filho é sua veste gloriosa. Os eleitos, seus filhos, a coroarão eternamente. A lua sob seus pés, que recebe sua luz do sol, representa o mundo inferior, vencido em pureza e beleza por ela, sem ter conhecido nossas misérias e o fim carnal. Se se pode falar de morte para Maria, foi no Calvário que ela a experimentou, na Pessoa de Jesus Redentor. O gládio da Paixão traspassava-lhe a alma de Mãe Corredentora. Com a Redenção plenamente realizada, a graça sem pecado da Mãe exigia sua glória sem morte. A definição de Pio XII, tendo por objeto apenas sua glorificação em corpo e alma, permite pacificamente essa interpretação. Assim, o plano de revanche sobre o demônio se cumpre plenamente, ao menos em um membro da humanidade redimida. ---- Que dizer agora da acolhida feita por Jesus à sua Mãe, quando os anjos a viram elevada acima de suas hierarquias mais altas no Céu da Trindade? É Ele, o Filho amado, quem a apresenta e a entrega ao Pai para que entre na posse eterna da beatitude das três Pessoas, na visão face a face. É Ele quem a faz sentar-se ao seu lado no mesmo trono: Adstitit Regina a dextris tuis (Sl 44, 10), para sua Coroação de glória. Houve um rito sensível dessa Entronização e Coroação, já que Jesus, como homem, coroava a cabeça glorificada de sua Mãe? Sem dúvida, uma bênção, uma consagração, uma imposição de suas mãos adoráveis, como pensa Mons. Gay. “Quanto a dizer, acrescenta esse autor místico, a amplitude, a graça, a incomparável beleza desse gesto do Cristo, a expressão que assumiu então o seu rosto, toda a sua atitude, enfim, no momento em que serviu de instrumento às três Pessoas divinas para coroar sua Mãe, nem o mais sublime gênio da arte o sonhou, nem a mais alta contemplação dos maiores santos pôde entrevê-lo. Foi, no Céu inteiro, a causa de um verdadeiro êxtase, mas isto resta para nós indescritível e inefável; e o mesmo se deve dizer da atitude e da fisionomia da Santa Virgem.” Que exaltação da humildade de sua escravidão ao Senhor na manhã do Anúncio angélico! Como o Magnificat ressoa admiravelmente em nossos lábios no Evangelho da nova missa da Assunção! Ei-la, Soberana bem-aventurada da Corte celeste e “Onipotente Suplicante” junto ao seu Filho, em favor de seus filhos da terra. Constantemente ocupada de nós, ela prepara nosso lugar — da alma no momento da morte ou da saída do Purgatório, e do corpo no dia da ressurreição geral. Participaremos então de sua beatitude, segundo o grau de nossos méritos. Confiemos nessa intercessão onipotente, sobretudo nós que, por nossa Consagração, permitimos a Maria exercer sobre nossas almas e corpos toda sua ação de Mãe e de Senhora. Deixemo-nos formar, transformar, chamar e atrair por ela, oferecendo-lhe apenas — repitamo-lo — dependência amorosa e perseverante obediência. Agradeçamos-lhe por nos ter conduzido ao longo destes Mistérios que acabamos de meditar. Foi ela quem os começou, é ela quem os encerra; mas sua missão só se concluirá quando vir todos os seus filhos reunidos ao seu redor no Céu do Cordeiro, como coroa de alegria à sua coroa de glória. Jesus, Sabedoria eternamente gloriosa e triunfante em sua Humanidade e em sua Mãe, sê-lo-á também em seus eleitos; e esse será o Reino sem sombras nem vicissitudes deste mundo. Deixemo-nos reerguer pela esperança rumo a essa recompensa de uma felicidade sem fim. ORAÇÕES Ladainha do Espírito Santo Senhor, tem piedade de nós. Jesus Cristo, tem piedade de nós. Divino Espírito Santo, ouve-nos. Espírito Paráclito, atende-nos. Deus Pai dos céus, tem piedade de nós. Deus Filho, redentor do mundo, tem piedade de nós. Deus Espírito Santo, tem piedade de nós. Santíssima Trindade, que és um só Deus, tem piedade de nós. Espírito da verdade, tem piedade de nós. Espírito da sabedoria, tem piedade de nós. Espírito da inteligência, tem piedade de nós. Espírito da fortaleza, tem piedade de nós. Espírito da piedade, tem piedade de nós. Espírito do bom conselho, tem piedade de nós. Espírito da ciência, tem piedade de nós. Espírito do santo temor, tem piedade de nós. Espírito da caridade, tem piedade de nós. Espírito da alegria, tem piedade de nós. Espírito da paz, tem piedade de nós. Espírito das virtudes, tem piedade de nós. Espírito de toda graça, tem piedade de nós. Espírito da adoção dos filhos de Deus, tem piedade de nós. Purificador das nossas almas, tem piedade de nós. Santificador e guia da Igreja Católica, tem piedade de nós. Distribuidor dos dons celestes, tem piedade de nós. Conhecedor dos pensamentos e das intenções do coração, tem piedade de nós. Doçura dos que começam a te servir, tem piedade de nós. Coroa dos perfeitos, tem piedade de nós. Alegria dos anjos, tem piedade de nós. Luz dos patriarcas, tem piedade de nós. Inspiração dos profetas, tem piedade de nós. Palavra e sabedoria dos apóstolos, tem piedade de nós. Vitória doa mártires, tem piedade de nós. Ciência dos confessores, tem piedade de nós. Pureza das virgens, tem piedade de nós. Unção de todos os santos, tem piedade de nós. Sede-nos propício, perdoa-nos, Senhor. Sede-nos propício, atende-nos, Senhor. De todo o pecado, livra-nos, Senhor. De todas as tentações e ciladas do demônio, livra-nos, Senhor. De toda a presunção e desesperação, livra-nos, Senhor. Do ataque à verdade conhecida, livra-nos, Senhor. Da inveja da graça fraterna, livra-nos, Senhor. De toda a obstinação e impenitência, livra-nos, Senhor. De toda a negligência e tepor do espírito, livra-nos, Senhor. De toda a impureza da mente e do corpo, livra-nos, Senhor. De todas as heresias e erros, livra-nos, Senhor. De todo o mau espírito, livra-nos, Senhor. Da morte má e eterna, livra-nos, Senhor. Pela tua eterna procedência do Pai e do Filho, livra-nos, Senhor. Pela milagrosa conceição do Filho de Deus, livra-nos, Senhor. Pela tua descida sobre Jesus Cristo batizado, livra-nos, Senhor. Pela tua santa aparição na transfiguração do Senhor, livra-nos, Senhor. Pela tua vinda sobre os discípulos do Senhor, livra-nos, Senhor. No dia do juízo, livra-nos, Senhor. Ainda que pecadores, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que nos perdoes, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes vivificar e santificar todos os membros da Igreja, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes conceder-nos o dom da verdadeira piedade, devoção e oração, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes inspirar-nos sinceros afetos de misericórdia e de caridade, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes criar em nós um espírito novo e um coração puro, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes conceder-nos verdadeira paz e tranquilidade no coração, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes fazer-nos dignos e fortes, para suportar as perseguições pela justiça, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes confirmar-nos em tua graça, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes receber-nos no número dos teus eleitos, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes ouvir-nos, nós vos rogamos, ouví-nos. Espírito de Deus, nós vos rogamos, ouví-nos. Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, envia-nos o Espírito Santo. Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, manda-nos o Espírito prometido do Pai. Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, dá-nos o Espírito bom. Espírito Santo, ouví-nos. Espírito Consolador, atendei-nos. ℣. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado. ℟. E renovareis a face da terra. Oremos: Deus, que instruístes o coração de vossos fiéis, com a luz do Espírito Santo, concedei-nos que, no mesmo Espírito, conheçamos o que é reto, e gozemos sempre as suas consolações. Por Cristo, Nosso Senhor. Amém. Ladainha do Santíssimo Nome de Jesus SENHOR, tende piedade de nós. JESUS CRISTO, tende piedade de nós. SENHOR, tende piedade de nós. JESUS CRISTO, ouvi-nos. JESUS CRISTO, atendei-nos. PAI CELESTE que sois DEUS, tende piedade de nós. FILHO Redentor do mundo, que sois DEUS, tende piedade de nós. ESPÍRITO SANTO, que sois Deus, tende piedade de nós. SANTÍSSIMA TRINDADE, que Sois um só DEUS, tende piedade de nós. JESUS Filho de DEUS vivo, tende piedade de nós. JESUS, esplendor do Pai, tende piedade de nós. JESUS, pureza da luz eterna, tende piedade de nós. JESUS, Rei da glória, tende piedade de nós. JESUS, sol de justiça, tende piedade de nós. JESUS, filho da Virgem MARIA, tende piedade de nós. JESUS amável, tende piedade de nós. JESUS admirável, tende piedade de nós. JESUS, DEUS forte, tende piedade de nós. JESUS, Pai do futuro século, tende piedade de nós. JESUS, Anjo do grande conselho, tende piedade de nós. JESUS poderosíssimo, tende piedade de nós. JESUS pacientíssimo, tende piedade de nós. JESUS obedientíssimo, tende piedade de nós. JESUS, manso e humilde de coração, tende piedade de nós. JESUS, amante da castidade, tende piedade de nós. JESUS, amador nosso, tende piedade de nós. JESUS, DEUS da Paz, tende piedade de nós. JESUS, autor da vida, tende piedade de nós. JESUS, exemplar das virtudes, tende piedade de nós. JESUS, zelador das almas, tende piedade de nós. JESUS, nosso DEUS, tende piedade de nós. JESUS, nosso refúgio, tende piedade de nós. JESUS, pai dos pobres, tende piedade de nós. JESUS, tesouro dos fiéis, tende piedade de nós. JESUS, boníssimo Pastor, tende piedade de nós. JESUS, luz verdadeira, tende piedade de nós. JESUS, Sabedoria eterna, tende piedade de nós. JESUS, bondade infinita, tende piedade de nós. JESUS, nosso caminho e nossa vida, tende piedade de nós. JESUS, alegria dos Anjos, tende piedade de nós. JESUS, Rei dos Patriarcas, tende piedade de nós. JESUS, Mestre dos Apóstolos, tende piedade de nós. JESUS, Doutor dos evangelistas, tende piedade de nós. JESUS, fortaleza dos Mártires, tende piedade de nós. JESUS, luz dos Confessores, tende piedade de nós. JESUS, pureza das virgens, tende piedade de nós. JESUS, coroa de todos os santos, tende piedade de nós. Sede-nos propício, perdoai-nos, JESUS. Sede-nos propício, ouvi-nos, JESUS. De todo o mal, livrai-nos, JESUS. De todo o pecado, livrai-nos, JESUS. De Vossa ira, livrai-nos, JESUS. Das ciladas do demônio, livrai-nos, JESUS. Do espírito da impureza, livrai-nos, JESUS. Da morte eterna, livrai-nos, JESUS. Do desprezo das Vossas inspirações, livrai-nos, JESUS. Pelo mistério da Vossa Santa Encarnação, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa natividade, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa infância, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa santíssima vida, livrai-nos, JESUS. Pelos Vossos trabalhos, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa agonia e pela Vossa paixão, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa cruz e pelo Vosso desamparo, livrai-nos, JESUS. Pelas Vossas angústias, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa morte e pela Vossa sepultura, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa ressurreição, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa ascensão, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa instituição da Santíssima Eucaristia, livrai-nos, JESUS. Pelas Vossas alegrias, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa glória, livrai-nos, JESUS. Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, perdoai-nos, JESUS. Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, ouvi-nos, JESUS. Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, tende piedade de nós, JESUS. JESUS, ouvi-nos. JESUS, atendei-nos. Oremos: Senhor JESUS Cristo, que dissestes: “Pedi e recebereis, buscai e achareis, batei e abrir-se-vos-á”; nós Vos suplicamos que concedei a nós, que Vos pedimos, os sentimentos afetivos de Vosso divino amor, a fim de que nós Vos amemos de todo o coração e que esse amor transcenda por nossas ações. Permiti que tenhamos sempre, Senhor, um igual temor e amor pelo Vosso Santo Nome, pois não deixais de governar aqueles que estabeleceis na firmeza do Vosso amor. Vós que viveis e reinais para todo o sempre. Amém. Ave maris stella (Ave, do mar Estrela) (Latim) 1. Ave maris stella, Dei Mater alma, Atque semper Virgo, Felix cæli porta. 2. Sumens illud Ave Gabrielis ore, Funda nos in pace, Mutans Hevæ nomen. 3. Solve vincla reis, Profer lumen cæcis, Mala mostra pelle, Bona cuncta posce. 4. Monstra te esse matrem, Sumat per te preces, Qui pro nobis natus Tulit esse tuus. 5. Virgo singularis, Inter omnes mitis, Nos, culpis solutos, Mites fac et castos. 6. Vitam præsta puram Iter para tutum, Ut, videntes Jesum, Semper collætemur. 7. Sit laus Deo Patri, Summo Christo decus, Spiritui Sancto, Tribus honor unus. Amen. (Vernáculo) 1. Ave, do mar Estrela De Deus mãe bela, Sempre virgem, da morada Celeste Feliz entrada. 2. Ó tu que ouviste da boca Do anjo a saudação; Dá-nos a paz e quietação; E o nome da Eva troca. 3. As prisões aos réus desata. E a nós cegos alumia; De tudo que nos maltrata Nos livra, o bem nos granjeia. 4. Ostenta que és mãe, fazendo Que os rogos do povo seu Ouça aquele que, nascendo Por nós, quis ser filho teu. 5. Ó virgem especiosa, Toda cheia de ternura, Extintos nossos pecados Dá-nos pureza e brandura, 6. Dá-nos uma vida pura, Põe-nos em via segura, Para que a Jesus gozemos, E sempre nos alegremos. 7. A Deus Pai veneremos: A Jesus Cristo também: E ao Espírito Santo; demos Aos três um louvor. Amém. Oração de Santo Agostinho Vós sois, ó Jesus, o Cristo, meu Pai santo, meu Deus misericordioso, meu Rei infinitamente grande; sois meu bom pastor, meu único mestre, meu auxílio cheio de bondade, meu bem-amado de uma beleza maravilhosa, meu pão vivo, meu sacerdote eterno, meu guia para a pátria, minha verdadeira luz, minha santa doçura, meu reto caminho, sapiência minha preclara, minha pura simplicidade, minha paz e concórdia; sois, enfim, toda a minha salvaguarda, minha herança preciosa, minha eterna salvação... Ó Jesus Cristo, amável Senhor, por que, em toda a minha vida, amei, por que desejei outra coisa senão vós? Onde estava eu quando não pensava em vós? Ah, que pelo menos a partir deste momento meu coração só deseje a vós e por vós se abrase, Senhor Jesus! Desejos de minha alma, correi, que já bastante tardastes; apressai-vos para o fim a que aspirais; procurai em verdade aquele que procurais. Ó Jesus, anátema seja quem não vos ama. Aquele que não vos ama seja repleto de amarguras. Ó doce Jesus, sede o amor, as delícias, a admiração de todo coração dignamente consagrado à vossa glória. Deus de meu coração e minha partilha, Jesus Cristo, que em vós meu coração desfaleça, e sede vós mesmo a minha vida. Acenda-se em minha alma a brasa ardente de vosso amor e se converta num incêndio todo divino, a arder para sempre no altar de meu coração; que inflame o íntimo do meu ser, e abrase o âmago de minha alma; para que no dia de minha morte eu apareça diante de vós, inteiramente consumido em vosso amor... Amém. Repetir ao longo do dia: “Que eu Vos conheça, que eu me conheça.” |
Dia 30: Jesus Sabedoria amada e imitadaNo fim desta terceira Semana e às vésperas da Consagração, o melhor que podemos fazer é fixar os olhos na fórmula de doação nascida do espírito e do coração de Montfort: Consagração de si mesmo a Jesus Cristo, a Sabedoria encarnada, pelas mãos de Maria.Essa fórmula é dirigida à amável Pessoa de Jesus, e Montfort deseja imitar e possuir Jesus dependente de Maria. Guardemos em nossas almas a riqueza doutrinal e o amor intenso contidos em seu Prelúdio, Parte central e Prece final. Ave, Maria. I. O PRELÚDIO inicia-se com a invocação: “Ó Sabedoria eterna e encarnada, ó amável e adorável Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, Filho único do Pai eterno e de Maria sempre virgem.” Montfort, então, percorre as quatro finalidades do sacrifício da missa, ligando-as ao sacrifício de si mesmo por Maria. “EU VOS ADORO profundamente no seio e nos esplendores de vosso Pai durante a eternidade, e no seio virginal de Maria, vossa digníssima Mãe, no tempo de vossa Encarnação.” São as moradas de vossas graças, onde vos busco e encontro. “EU VOS DOU GRAÇAS por vos terdes aniquilado a vós mesmo, assumindo a forma de escravo, para tirar-me da cruel escravidão do demônio; EU VOS LOUVO E GLORIFICO por terdes desejado vos submeter a Maria, vossa santa Mãe, em todas as coisas, a fim de fazer de mim, por intermédio dela, vosso fiel escravo.” Jesus manifesta duas dependências: a de natureza, pela Encarnação, tornando-se obediente ao Pai e redentor da humanidade; e a de vontade, pela submissão a Maria em toda sua vida. Essa submissão amorosa ensina a aceitar os direitos de Jesus como Redentor. Sendo seu escravo, resgatado por seu sangue, é justo reconhecer-lhe total pertencimento. Essa entrega total será fonte de graças incontáveis. Após a Adoração e Gratidão, seguem-se REPARAÇÃO e PETIÇÃO: “Mas, ai de mim! Ingrato e infiel que sou, não guardei os votos e as promessas que vos fiz solenemente em meu batismo. Não cumpri minhas obrigações. Não mereço ser chamado vosso filho nem vosso escravo. E como não há nada em mim que de vós não mereça vossa aversão e vossa cólera, não ouso mais, por mim mesmo, aproximar-me de vossa santa e augusta Majestade.” Com contrição sincera, reconhece sua indignidade e busca um meio de reparação: Maria, colocada por misericórdia entre sua miséria e a santidade divina. A ela dirige humilde petição: “É por isso que recorro à intercessão e à misericórdia de vossa santíssima Mãe, que me destes como Medianeiro junto de vós; e é por meio dela que espero obter de vós uma dupla graça: primeiro, a contrição e o perdão de meus pecados, graça que purificará e curará minha alma; depois, a aquisição e a conservação da Sabedoria, graça que me transformará progressivamente, e que não é outra senão a posse do Tesouro de vossa amável Pessoa, ó Sabedoria encarnada, tal como vos contemplamos em todos os vossos mistérios.” Voltando-se àquela que Jesus deu como Medianeira, Montfort a saúda com entusiasmo: “Eu vos saúdo, pois, ó Maria imaculada, Tabernáculo vivo da Divindade, onde a eterna Sabedoria, oculta, quer ser adorada pelos anjos e pelos homens.” O Verbo se escondeu em Maria para ali ser adorado desde a Encarnação. Por essa Presença, o Pai lhe comunicou poder universal e o Espírito Santo, a misericordiosa Bondade. Montfort também a saúda por esses privilégios: “Eu vos saúdo, ó Rainha do Céu e da terra, ao império de quem tudo está submetido, tudo o que está abaixo de Deus. Eu vos saúdo, ó Refúgio seguro dos pecadores, cuja misericórdia nunca faltou a ninguém.” II. Após prestar essas homenagens, Montfort entra na PARTE CENTRAL da fórmula de Consagração, repetindo a Maria a petição feita a Jesus: obter a divina Sabedoria, possuir eternamente o Tesouro que é Jesus. Esse é o FIM ardentemente desejado, e ele só se consagrará como escravo de Maria para alcançar, já nesta vida, essa beatificante Posse: “Atendei, ó Maria, os desejos que tenho da divina Sabedoria, e recebei PARA ISSO os votos e as ofertas que minha humilde condição vos apresenta.” Os VOTOS são a renovação das promessas batismais; as OFERTAS, a doação total a Maria para melhor fidelidade a Jesus. A Consagração é uma PERFEITA RENOVAÇÃO do batismo, feita pessoalmente, com consciência e após séria preparação, entre as mãos de Maria, que se torna testemunha e guardiã dos compromissos. Montfort visa combater a infidelidade de tantos cristãos que vivem esquecidos de sua pertença a Cristo. Sua Consagração desperta consciências, apresentando realidades sobrenaturais de modo forte e atraente, obrigando à ratificação pessoal dos compromissos, sob o olhar da doce Mediadora. “Eu, N…, pecador infiel, renovo e ratifico hoje, entre vossas mãos, os votos de meu batismo. Renuncio para sempre a Satanás, às suas pompas […] e às suas obras […]; e entrego-me inteiramente a Jesus Cristo, a Sabedoria encarnada […] a fim de que eu lhe seja mais fiel do que fui até aqui…” Montfort oferece então a Maria sua DOAÇÃO DE ESCRAVO: “Eu vos escolho, hoje, na presença de toda a Corte celestial, como minha Mãe e Senhora. Eu vos entrego e consagro, na qualidade de escravo, meu corpo e minha alma, meus bens interiores e exteriores, e o valor mesmo de minhas boas ações passadas, presentes e futuras, deixando-vos o inteiro e pleno direito de dispor de mim e de tudo o que me pertence, sem exceção, segundo vossa vontade, para a maior glória de Deus, nesta vida e na eternidade.” Essas palavras, sublinhadas por Montfort, expressam a característica essencial da Consagração: ser absolutamente total, como resposta à Maternidade espiritual de Maria. Como MATER ET DOMINA, Maria exige nossa dependência total. Assim, entregamos-lhe o corpo e a alma; os bens exteriores ligados à vida presente; os bens interiores, riquezas da alma para a eternidade. Montfort especifica que entregamos: 1. Esses bens em si mesmos (graças, virtudes, méritos); 2. O valor de nossas boas ações passadas, presentes e futuras. O mérito – título para a glória eterna – é confiado à guarda de Maria. O valor de oração e sacrifício é deixado à sua disposição, sem interesse pessoal. Ela decidirá seu uso, seja em nosso favor ou do próximo, na Igreja militante ou sofredora. Ela conhece melhor nossas necessidades espirituais e as intenções mais preciosas. O melhor é perder tudo nas suas grandes intenções, afastando todo egoísmo e purificando a oferta. Esse desapego total das boas ações dá à Consagração uma perfeição única, superior até aos votos religiosos, enriquecendo qualquer vocação sem alterar seu espírito. Almas de todos os estados podem beneficiar-se disso. Prossigamos, pois, dizendo com Montfort, pesando bem suas palavras: Deixando-vos, ó Maria, inteiro e pleno direito de dispor de mim, de minha pessoa, corpo e alma, e de tudo o que me pertence, bens temporais e espirituais ligados à minha pessoa; sem exceção, sem reserva, sem delimitação: tudo o que já adquiri, desde o início de minha resposta à graça do batismo; tudo o que poderei adquirir, com respeito às obrigações de justiça e deveres de estado. Desse capital crescente, usai segundo vossa vontade, conforme vosso querer e o que mais alegrar vosso Coração de Mãe. Estou certo – e nisso me alegro – de que tudo será por vós oferecido para a maior glória de Deus, e que este fim supremo será plenamente atingido nesta vida e na eternidade. Nossa Consagração nos acompanhará no outro mundo, onde nos alcançará um Céu mais rápido e mais belo. III. Na ORAÇÃO FINAL, Montfort apresenta a Maria a razão central de sua Consagração: honrar a dependência filial de Jesus e unir-se a ela o mais estreitamente possível. “Recebei, ó Virgem benigna, esta pequena oferta de minha escravidão, em honra e união à submissão que a Sabedoria eterna desejou ter de vossa Maternidade.” Antes, já dissera: “Eu vos louvo e glorifico, ó amável e adorável Jesus, por terdes desejado vos submeter a Maria, vossa santa Mãe, em todas as coisas, a fim de fazer de mim, por intermédio dela, vosso fiel escravo.” Ambas as passagens convergem. Essa submissão voluntária de uma Pessoa divina à pessoa humana de Maria enchia Montfort de admiração: “Deus Filho… encontrou sua liberdade ao se ver aprisionado em seu seio virginal; fez brilhar sua força ao se deixar carregar por essa jovem…, glorificou sua independência e sua majestade ao depender dessa amável Virgem…” “Ó admirável e incompreensível dependência de um Deus, que o Espírito Santo não pôde omitir no Evangelho… Oh! Que glorificamos a Deus em alta voz quando nos submetemos, para agradar-lhe, a Maria, a exemplo de Jesus Cristo, nosso único Modelo!” (V. D., n. 18.) “É aqui, repito-o, que o espírito humano se perde, quando faz uma séria reflexão sobre essa conduta da Sabedoria encarnada… Essa Sabedoria infinita, que tinha um desejo imenso de glorificar a Deus, seu Pai, e de salvar os homens, não encontrou meio mais perfeito e mais curto para fazê-lo do que se submeter em todas as coisas à Santíssima Virgem…” (V. D., n. 139.) Mesmo após a Redenção e a Ascensão, essa dependência filial continua a manifestar-se na glória: “Como a graça aperfeiçoa a natureza e a glória aperfeiçoa a graça, é certo, afirma Montfort, que Nosso Senhor é ainda no Céu tão Filho de Maria quanto era sobre a terra, e que, consequentemente, conservou a submissão e a obediência do mais perfeito de todos os filhos em relação à melhor de todas as mães.” (n. 27.) Jesus, mesmo glorificado, continua a depender de Maria para comunicar os frutos de sua Redenção. Essa dependência é eterna. Ainda quando o número dos eleitos estiver completo, e as portas do Céu fechadas para sempre, Jesus permanecerá nesse amor filial. A glória será o desabrochar da graça, e Ele continuará a nos comunicá-la por meio de sua Humanidade triunfante, procedente de Maria, e por Maria, eternamente associada ao seu triunfo. Este é o EXEMPLAR vivo e eterno que Montfort contempla e deseja honrar com sua Doação total: “Recebei, ó Virgem benigna, esta pequena oferta de minha escravidão em honra e união à submissão que a Sabedoria eterna desejou ter de vossa Maternidade.” É como se dissesse: sei que não posso igualar o que Jesus vos deu; nunca vos amarei como Ele vos amou. Mas quero fazer como Ele fez, imitando-O. Assim, a “pequena oferta de minha escravidão” será a humilde réplica de sua eterna dependência. Ele, Sabedoria eterna e não criada, justificativa suprema de meu amor por vós, me leva a unir à sua dependência amorosa a minha própria dependência filial. Desejo que ela seja imitação, reprodução, continuação, prolongamento e glorificação da d’Ele. ---- Montfort acrescenta à sua primeira razão outras duas igualmente glorificantes: “Recebei, ó Virgem benigna, a pequena oferta de minha escravidão… em homenagem ao Poder que tendes ambos (vosso Filho e vós) sobre este pequeno verme e este miserável pecador; e em ação de graças pelos privilégios com os quais a santa Trindade vos favoreceu.” Antes de qualquer atitude nossa, Jesus e Maria têm Poder sobre nós, tanto na ordem da natureza quanto da graça. Na natureza, Jesus, como Deus, é nosso Criador e Soberano; como Homem, nosso Rei. Por isso, todas as criaturas lhe pertencem. Maria, por graça de doação, possui o mesmo Poder: o que Jesus possui por direito, ela possui por comunicação. Ela é, pois, Senhora universal, e seu império estende-se sobre toda a criação. Montfort, vendo-se como “pequeno verme” no seio dessa criação, oferece sua escravidão “em homenagem ao Poder” que Jesus e Maria têm sobre ele desde o início de sua existência. Na graça, esse Poder é ainda mais forte: Jesus é Redentor por justiça; Maria, Corredentora por misericórdia. Ambos têm direito sobre as almas resgatadas, perdoadas e santificadas. A “pequena oferta” do “miserável pecador” glorifica esse domínio espiritual. Assim, a Consagração é uma conformidade à realidade do nosso ser e da nossa dependência. Que segurança saber-se assim na verdade! Muitos rejeitam essa entrega por não quererem ser “escravos”; outros se alegram por fazer esse ato de justa submissão. Tais almas agradam àquela que se disse “escrava do Senhor” ao tornar-se Mãe de Deus. Montfort pede ainda que Maria aceite sua oferta “em ação de graças pelos privilégios com os quais a Santa Trindade a favoreceu”: – o Pai, como sua Filha bem-amada; – o Filho, como sua Mãe e Associada na Redenção; – o Espírito Santo, como sua Esposa na santificação dos eleitos. É sempre a mesma humildade: o reconhecimento de nada ter diante das grandezas divinas, mas com confiança na benevolência da Virgem Benigna, indulgente e acolhedora. Essa confiança leva Montfort a declarar sua firme resolução: “Declaro que desejo, doravante, como vosso verdadeiro escravo, buscar vossa honra e obedecer-vos em todas as coisas.” Buscar a honra de Maria, trabalhando para estender seu Reino; obedecer-lhe em tudo, a exemplo de Jesus, que lhe foi submisso desde Nazaré até seus milagres. Trata-se, pois, de zelo de puro amor e obediência sem reservas. ---- Montfort conclui sua fórmula com três invocações fervorosas, por meio das quais deseja alcançar Jesus através de Maria. A primeira invocação expressa o desejo de ser apresentado a Jesus como escravo eterno: “Ó MÃE ADMIRÁVEL, apresentai-me ao vosso caro Filho na qualidade de escravo eterno; a fim de que, tendo-me resgatado por vosso intermédio, por vosso intermédio me receba.” Montfort reconhece que seu pertencimento a Maria, abraçado com amor e entusiasmo, jamais terá fim. É vínculo mais forte que os laços da carne, que a morte não rompe, mas consuma. Ele suplica que Maria o apresente desde já a Jesus como escravo eterno – na graça, nesta vida; na glória, na eternidade. Maria, presente na Redenção, o será também na glorificação. Que júbilo para ela acolher em seu Reino os filhos de predileção e apresentá-los a Jesus marcados com o selo de sua escravidão! Montfort confia firmemente nesse momento, dirigindo-se à “Mãe admirável”, que é Mãe e Associada de Jesus, dos eleitos e da Igreja, que acompanha os filhos desde a regeneração até a glória. A segunda invocação retoma o pedido central da Consagração: a posse da divina Sabedoria: “Ó MÃE DE MISERICÓRDIA, dai-me a graça de obter a verdadeira Sabedoria de Deus.” Montfort entregou-se com esse único fim: obter Jesus, Sabedoria eterna e encarnada, revelada por suas palavras e conduta. A Maria, “cuja misericórdia nunca faltou a ninguém”, ele volta com insistência: “Ó MÃE DE MISERICÓRDIA, agora, que me consagrei vosso escravo, e pela eternidade, dai-me a graça de obter a verdadeira Sabedoria de Deus.” E para alcançar tal graça, pede que o conte entre os predestinados mais amados, em quem Maria exerce sua missão de Mãe e Senhora: aqueles que ela ama, ensina, conduz, alimenta e protege – filhos e escravos formados por sua ação constante. A terceira e última invocação, dirigida à VIRGEM FIEL, pede o coroamento de todas as graças: chegar à plenitude da santidade prevista por Deus: “Ó Virgem fiel, fazei de mim em todas as coisas, um discípulo tão perfeito, imitador e escravo da Sabedoria encarnada, Jesus Cristo, vosso Filho;” – nas grandes decisões e nas ações ordinárias da vida; discípulo atento a seus ensinamentos, imitador de sua dependência filial, escravo de sua vontade como Ele o foi da vontade do Pai; “que eu chegue, por vossa intercessão e conforme vosso exemplo, à plenitude de sua idade sobre a terra e de sua glória nos Céus,” isto é, à maturidade espiritual perfeita, reflexo da glória eterna no Paraíso. ---- Assim se conclui a fórmula de Consagração a Jesus Cristo, a Sabedoria encarnada, pelas mãos de Maria. Ela justifica plenamente seu título. Da primeira à última linha, permanecemos com o amável e adorável Jesus, pois, ao nos entregarmos à sua santa Mãe conforme nos ensina Montfort, nossa intenção primeira é nos entregar mais perfeitamente a Cristo, e alcançá-lo na marca distintiva de sua santidade: o ser eternamente dependente de Maria. Jesus, Sabedoria amada, imitada e possuída — eis a beatitude que nossa Consagração nos oferece. Saboreemo-la com um coração confiante, sem temor. ORAÇÕES Ladainha do Espírito Santo Senhor, tem piedade de nós. Jesus Cristo, tem piedade de nós. Divino Espírito Santo, ouve-nos. Espírito Paráclito, atende-nos. Deus Pai dos céus, tem piedade de nós. Deus Filho, redentor do mundo, tem piedade de nós. Deus Espírito Santo, tem piedade de nós. Santíssima Trindade, que és um só Deus, tem piedade de nós. Espírito da verdade, tem piedade de nós. Espírito da sabedoria, tem piedade de nós. Espírito da inteligência, tem piedade de nós. Espírito da fortaleza, tem piedade de nós. Espírito da piedade, tem piedade de nós. Espírito do bom conselho, tem piedade de nós. Espírito da ciência, tem piedade de nós. Espírito do santo temor, tem piedade de nós. Espírito da caridade, tem piedade de nós. Espírito da alegria, tem piedade de nós. Espírito da paz, tem piedade de nós. Espírito das virtudes, tem piedade de nós. Espírito de toda graça, tem piedade de nós. Espírito da adoção dos filhos de Deus, tem piedade de nós. Purificador das nossas almas, tem piedade de nós. Santificador e guia da Igreja Católica, tem piedade de nós. Distribuidor dos dons celestes, tem piedade de nós. Conhecedor dos pensamentos e das intenções do coração, tem piedade de nós. Doçura dos que começam a te servir, tem piedade de nós. Coroa dos perfeitos, tem piedade de nós. Alegria dos anjos, tem piedade de nós. Luz dos patriarcas, tem piedade de nós. Inspiração dos profetas, tem piedade de nós. Palavra e sabedoria dos apóstolos, tem piedade de nós. Vitória doa mártires, tem piedade de nós. Ciência dos confessores, tem piedade de nós. Pureza das virgens, tem piedade de nós. Unção de todos os santos, tem piedade de nós. Sede-nos propício, perdoa-nos, Senhor. Sede-nos propício, atende-nos, Senhor. De todo o pecado, livra-nos, Senhor. De todas as tentações e ciladas do demônio, livra-nos, Senhor. De toda a presunção e desesperação, livra-nos, Senhor. Do ataque à verdade conhecida, livra-nos, Senhor. Da inveja da graça fraterna, livra-nos, Senhor. De toda a obstinação e impenitência, livra-nos, Senhor. De toda a negligência e tepor do espírito, livra-nos, Senhor. De toda a impureza da mente e do corpo, livra-nos, Senhor. De todas as heresias e erros, livra-nos, Senhor. De todo o mau espírito, livra-nos, Senhor. Da morte má e eterna, livra-nos, Senhor. Pela tua eterna procedência do Pai e do Filho, livra-nos, Senhor. Pela milagrosa conceição do Filho de Deus, livra-nos, Senhor. Pela tua descida sobre Jesus Cristo batizado, livra-nos, Senhor. Pela tua santa aparição na transfiguração do Senhor, livra-nos, Senhor. Pela tua vinda sobre os discípulos do Senhor, livra-nos, Senhor. No dia do juízo, livra-nos, Senhor. Ainda que pecadores, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que nos perdoes, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes vivificar e santificar todos os membros da Igreja, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes conceder-nos o dom da verdadeira piedade, devoção e oração, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes inspirar-nos sinceros afetos de misericórdia e de caridade, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes criar em nós um espírito novo e um coração puro, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes conceder-nos verdadeira paz e tranquilidade no coração, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes fazer-nos dignos e fortes, para suportar as perseguições pela justiça, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes confirmar-nos em tua graça, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes receber-nos no número dos teus eleitos, nós vos rogamos, ouví-nos. Para que te dignes ouvir-nos, nós vos rogamos, ouví-nos. Espírito de Deus, nós vos rogamos, ouví-nos. Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, envia-nos o Espírito Santo. Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, manda-nos o Espírito prometido do Pai. Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo, dá-nos o Espírito bom. Espírito Santo, ouví-nos. Espírito Consolador, atendei-nos. ℣. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado. ℟. E renovareis a face da terra. Oremos: Deus, que instruístes o coração de vossos fiéis, com a luz do Espírito Santo, concedei-nos que, no mesmo Espírito, conheçamos o que é reto, e gozemos sempre as suas consolações. Por Cristo, Nosso Senhor. Amém. Ladainha do Santíssimo Nome de Jesus SENHOR, tende piedade de nós. JESUS CRISTO, tende piedade de nós. SENHOR, tende piedade de nós. JESUS CRISTO, ouvi-nos. JESUS CRISTO, atendei-nos. PAI CELESTE que sois DEUS, tende piedade de nós. FILHO Redentor do mundo, que sois DEUS, tende piedade de nós. ESPÍRITO SANTO, que sois Deus, tende piedade de nós. SANTÍSSIMA TRINDADE, que Sois um só DEUS, tende piedade de nós. JESUS Filho de DEUS vivo, tende piedade de nós. JESUS, esplendor do Pai, tende piedade de nós. JESUS, pureza da luz eterna, tende piedade de nós. JESUS, Rei da glória, tende piedade de nós. JESUS, sol de justiça, tende piedade de nós. JESUS, filho da Virgem MARIA, tende piedade de nós. JESUS amável, tende piedade de nós. JESUS admirável, tende piedade de nós. JESUS, DEUS forte, tende piedade de nós. JESUS, Pai do futuro século, tende piedade de nós. JESUS, Anjo do grande conselho, tende piedade de nós. JESUS poderosíssimo, tende piedade de nós. JESUS pacientíssimo, tende piedade de nós. JESUS obedientíssimo, tende piedade de nós. JESUS, manso e humilde de coração, tende piedade de nós. JESUS, amante da castidade, tende piedade de nós. JESUS, amador nosso, tende piedade de nós. JESUS, DEUS da Paz, tende piedade de nós. JESUS, autor da vida, tende piedade de nós. JESUS, exemplar das virtudes, tende piedade de nós. JESUS, zelador das almas, tende piedade de nós. JESUS, nosso DEUS, tende piedade de nós. JESUS, nosso refúgio, tende piedade de nós. JESUS, pai dos pobres, tende piedade de nós. JESUS, tesouro dos fiéis, tende piedade de nós. JESUS, boníssimo Pastor, tende piedade de nós. JESUS, luz verdadeira, tende piedade de nós. JESUS, Sabedoria eterna, tende piedade de nós. JESUS, bondade infinita, tende piedade de nós. JESUS, nosso caminho e nossa vida, tende piedade de nós. JESUS, alegria dos Anjos, tende piedade de nós. JESUS, Rei dos Patriarcas, tende piedade de nós. JESUS, Mestre dos Apóstolos, tende piedade de nós. JESUS, Doutor dos evangelistas, tende piedade de nós. JESUS, fortaleza dos Mártires, tende piedade de nós. JESUS, luz dos Confessores, tende piedade de nós. JESUS, pureza das virgens, tende piedade de nós. JESUS, coroa de todos os santos, tende piedade de nós. Sede-nos propício, perdoai-nos, JESUS. Sede-nos propício, ouvi-nos, JESUS. De todo o mal, livrai-nos, JESUS. De todo o pecado, livrai-nos, JESUS. De Vossa ira, livrai-nos, JESUS. Das ciladas do demônio, livrai-nos, JESUS. Do espírito da impureza, livrai-nos, JESUS. Da morte eterna, livrai-nos, JESUS. Do desprezo das Vossas inspirações, livrai-nos, JESUS. Pelo mistério da Vossa Santa Encarnação, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa natividade, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa infância, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa santíssima vida, livrai-nos, JESUS. Pelos Vossos trabalhos, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa agonia e pela Vossa paixão, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa cruz e pelo Vosso desamparo, livrai-nos, JESUS. Pelas Vossas angústias, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa morte e pela Vossa sepultura, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa ressurreição, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa ascensão, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa instituição da Santíssima Eucaristia, livrai-nos, JESUS. Pelas Vossas alegrias, livrai-nos, JESUS. Pela Vossa glória, livrai-nos, JESUS. Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, perdoai-nos, JESUS. Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, ouvi-nos, JESUS. Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, tende piedade de nós, JESUS. JESUS, ouvi-nos. JESUS, atendei-nos. Oremos: Senhor JESUS Cristo, que dissestes: “Pedi e recebereis, buscai e achareis, batei e abrir-se-vos-á”; nós Vos suplicamos que concedei a nós, que Vos pedimos, os sentimentos afetivos de Vosso divino amor, a fim de que nós Vos amemos de todo o coração e que esse amor transcenda por nossas ações. Permiti que tenhamos sempre, Senhor, um igual temor e amor pelo Vosso Santo Nome, pois não deixais de governar aqueles que estabeleceis na firmeza do Vosso amor. Vós que viveis e reinais para todo o sempre. Amém. Ave maris stella (Ave, do mar Estrela) (Latim) 1. Ave maris stella, Dei Mater alma, Atque semper Virgo, Felix cæli porta. 2. Sumens illud Ave Gabrielis ore, Funda nos in pace, Mutans Hevæ nomen. 3. Solve vincla reis, Profer lumen cæcis, Mala mostra pelle, Bona cuncta posce. 4. Monstra te esse matrem, Sumat per te preces, Qui pro nobis natus Tulit esse tuus. 5. Virgo singularis, Inter omnes mitis, Nos, culpis solutos, Mites fac et castos. 6. Vitam præsta puram Iter para tutum, Ut, videntes Jesum, Semper collætemur. 7. Sit laus Deo Patri, Summo Christo decus, Spiritui Sancto, Tribus honor unus. Amen. (Vernáculo) 1. Ave, do mar Estrela De Deus mãe bela, Sempre virgem, da morada Celeste Feliz entrada. 2. Ó tu que ouviste da boca Do anjo a saudação; Dá-nos a paz e quietação; E o nome da Eva troca. 3. As prisões aos réus desata. E a nós cegos alumia; De tudo que nos maltrata Nos livra, o bem nos granjeia. 4. Ostenta que és mãe, fazendo Que os rogos do povo seu Ouça aquele que, nascendo Por nós, quis ser filho teu. 5. Ó virgem especiosa, Toda cheia de ternura, Extintos nossos pecados Dá-nos pureza e brandura, 6. Dá-nos uma vida pura, Põe-nos em via segura, Para que a Jesus gozemos, E sempre nos alegremos. 7. A Deus Pai veneremos: A Jesus Cristo também: E ao Espírito Santo; demos Aos três um louvor. Amém. Oração de Santo Agostinho Vós sois, ó Jesus, o Cristo, meu Pai santo, meu Deus misericordioso, meu Rei infinitamente grande; sois meu bom pastor, meu único mestre, meu auxílio cheio de bondade, meu bem-amado de uma beleza maravilhosa, meu pão vivo, meu sacerdote eterno, meu guia para a pátria, minha verdadeira luz, minha santa doçura, meu reto caminho, sapiência minha preclara, minha pura simplicidade, minha paz e concórdia; sois, enfim, toda a minha salvaguarda, minha herança preciosa, minha eterna salvação... Ó Jesus Cristo, amável Senhor, por que, em toda a minha vida, amei, por que desejei outra coisa senão vós? Onde estava eu quando não pensava em vós? Ah, que pelo menos a partir deste momento meu coração só deseje a vós e por vós se abrase, Senhor Jesus! Desejos de minha alma, correi, que já bastante tardastes; apressai-vos para o fim a que aspirais; procurai em verdade aquele que procurais. Ó Jesus, anátema seja quem não vos ama. Aquele que não vos ama seja repleto de amarguras. Ó doce Jesus, sede o amor, as delícias, a admiração de todo coração dignamente consagrado à vossa glória. Deus de meu coração e minha partilha, Jesus Cristo, que em vós meu coração desfaleça, e sede vós mesmo a minha vida. Acenda-se em minha alma a brasa ardente de vosso amor e se converta num incêndio todo divino, a arder para sempre no altar de meu coração; que inflame o íntimo do meu ser, e abrase o âmago de minha alma; para que no dia de minha morte eu apareça diante de vós, inteiramente consumido em vosso amor... Amém. Repetir ao longo do dia: “Que eu Vos conheça, que eu me conheça.” |
Guia para o Dia da Consagração“No fim dessas três Semanas (aqueles e aquelas que tiverem seguido os Exercícios de preparação) se confessarão e comungarão na intenção de se entregarem a Jesus Cristo, na qualidade de escravos de amor, pelas mãos de Maria. E, após a comunhão, recitarão a fórmula de sua Consagração. Devem escrevê-la ou fazê-la escrever, se não estiver impressa, e assiná-la no mesmo dia em que a fizerem. Convirá que, nesse dia, paguem algum tributo a Jesus Cristo e à sua santa Mãe, seja para penitência de sua infidelidade passada às promessas de seu batismo, seja para declarar sua dependência do domínio de Jesus e de Maria…” (V. D., n. 231-232.)1. Confissão Prévia: Após estes 30 dias de preparação, faça uma confissão especial, com a intenção de se consagrar totalmente a Jesus por Maria. O ideal é confessar-se o mais próximo possível do dia da consagração, mas, se não for possível, que seja na mesma semana. Se tiver em pecado mortal, não se consagre antes de fazer uma boa confissão. 2. Oferecer um Tributo: Hoje, ofereça um tributo voluntário a Jesus e a Maria. Pode ser jejum, penitência, obra de caridade, uma vela ou outra forma de sacrifício feita com boa vontade. 3. Comunhão Eucarística: Na hora da consagração, comungue com a intenção firme de entregar-se a Jesus como escravo de amor por Maria. Ofereça essa comunhão a Nossa Senhora, entregando a Ela o próprio Filho, o maior presente que se pode dar. 4. Recitação da Fórmula: Depois da comunhão, recite a fórmula de consagração (impressa ou escrita à mão). Ao terminar, assine o documento e registre a data da consagração. 5. Uso das Correntes de Ferro na Consagração: São Luís recomenda o uso de pequenas cadeias ou correntes de ferro como sinal visível da “escravidão de amor” assumida na consagração. Essa prática simboliza de forma concreta a entrega total a Jesus por Maria. Porém, ele deixa claro que não é obrigatória (Tratado, n. 236). Quem desejar pode usar as correntes no pescoço, junto com a Medalha Milagrosa de Nossa Senhora das Graças, por exemplo. O ideal é que seja uma correntinha discreta, para evitar qualquer ostentação, lembrando sempre que o sinal externo deve refletir a humildade interior. No entanto, São Luís enfatiza que o mais importante são as práticas interiores da consagração: Fazer tudo por Maria, com Maria, em Maria e para Maria, como ensina o Tratado (números 257 a 265). Essas atitudes espirituais são o verdadeiro coração da devoção e da consagração, muito mais do que o uso externo da corrente. Desse dia em diante, descanse. Você está proibido de se preocupar. Descanse em Maria, pois você agora é todo dela e tudo o que é seu é dela. Ela vai cuidar de você e de todos os seus bens. Repita muitas vezes esta frase, muito querida pelo Papa São João Paulo II, que também fez esta consagração: "Totus tuus ego sum, o Maria, et omnia mea tua sunt" - Sou todo teu, ó Maria, e tudo o que é meu é teu. |
Vida de Consagrado a Jesus por MariaMissão do Consagrado* Viver como verdadeiro servo de Jesus por meio de Maria. * Buscar a união contínua com Cristo por uma vida interior mariana. * Ser sinal da presença de Maria no mundo. 1. Espírito da Consagração Segundo São Luís, a consagração é mais do que uma fórmula: é um modo de viver. O espírito do consagrado deve ser: - Interior: viver unido a Maria no coração. - Confiante: total entrega à sua condução materna. - Santo: afastar-se do pecado e buscar a graça. - Constante: perseverança no bem, mesmo nas dificuldades. - Desinteressado: agir sem esperar recompensas, só por amor. 2. Práticas diárias recomendadas As devoções diárias que o consagrado deve praticar, segundo São Luis, incluem: - Oração pessoal e leitura meditativa; - Recitação da Coroinha da Santíssima Virgem; - Devoção especial ao mistério da Encarnação celebrado na Anunciação (25 de março); - Grande amor pela Ave Maria; - Oração do Rosário Completo — recomendando-se ao menos um terço; - Recitação cotidiana do Magnificat como forma de louvor e ação de graças a Deus por meio de Maria. Todas essas práticas devem ser acompanhadas de um total desprezo pelo espírito do mundo e feitas com modéstia, devoção e atenção. 3. Práticas periódicas - Santa Missa frequente e Comunhão - Confissão regular - Renovação mensal ou anual da consagração (Mensal: breve oração renovando a entrega; Anual: recomeçar os 30 dias ou ao menos fazer 1 semana de preparação antes da renovação) 4. Atitudes do Coração do Consagrado - Fugir do espírito do mundo: evitar tudo o que afasta de Deus. - Ser paciente e humilde: reconhecer que Maria nos forma aos poucos. - Praticar atos de caridade e sacrifício: entregar-se ao próximo como sinal de amor. - Evitar o pecado e as ocasiões de pecado: viver na graça. 5. Recomendações de São Luís O essencial será, agora, viver essa Consagração numa constante dependência de Maria. As meditações das três Semanas nos permitiram entrever a intensa VIDA DE UNIÃO que pode dela resultar. Para favorecer esse desenvolvimento progressivo, São Luís Maria de Montfort nos pede que realizemos todas as nossas ações POR Maria, COM Maria, EM Maria e PARA Maria. O que significa: – Obedecer-lhe docilmente, pois a escolhemos como nossa Mãe e Senhora. – Vê-la como nosso Modelo acessível. – Viver no seio dela, cada vez mais unidos a Jesus. – Alegrar-nos por servi-la em vista de seu Reino. Caminho muito simples, acolhedor para todas as almas que desejam percorrê-lo. Como filhos e escravos de Maria, nosso primeiro cuidado deve ser obedecer às inspirações e graças atuais que ela transmite à alma como sopros do Alto. Desde o despertar até o repouso, é Maria quem toma a dianteira na vida espiritual, convidando-nos a segui-la, a obedecer, a deixar-nos conduzir por sua ação. Não resistir a essa influência de graça é produzir atos sobrenaturais, meritórios e dignos da recompensa eterna. Montfort chama isso de se deixar conduzir pelo espírito de Maria, que é o Espírito Santo de Deus, pois Maria jamais se guiou por seu próprio espírito, mas sempre pelo de Deus, a tal ponto que esse Espírito divino se tornou seu próprio espírito (V. D., n. 258). É uma doutrina bela e consoladora: obedecer a Maria é obedecer ao Espírito Santo. Seguir suas inspirações é seguir as inspirações do Espírito Santo. Caminhamos na santidade por uma via suavizada, como se a ação divina se tornasse maternal ao passar por Maria, tocando-nos com mais ternura e eficácia. Obedecer às inspirações da graça é marca da verdadeira santidade, dos verdadeiros filhos de Deus, segundo São Paulo: “Os que são conduzidos pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus” (Rm 8,14). Montfort aplica o mesmo princípio à nossa relação com Maria: obedecer a ela será sempre a marca dos verdadeiros filhos e escravos, sob sua direção e dependência, para que ela nos conduza conforme nossa doação total. Para alcançar essa obediência perfeita, Montfort indica dois meios: renúncia a si mesmo e abandono a Maria. Renúncia a si no início de cada ação, rejeitando a voz da natureza que busca satisfação contrária à graça. Ao acordar, por exemplo, se vencermos o desejo de prolongar o sono, já temos nossa primeira vitória, nossa primeira obediência e mérito do dia. Se cedermos, será a primeira de muitas derrotas. Essa renúncia é o que Jesus exige de quem quer segui-lo, especialmente na dependência mariana — em plena consonância com a primeira Semana de meditações. A renúncia se facilita com o abandono: não renunciamos por renunciar, mas para nos entregar às mãos de Maria, nossa guia. Então, nos tornamos almas vitoriosas, abertas à graça, marchando para a vida de união. “Importa”, diz Montfort, “nos colocarmos e nos deixarmos entre as mãos virginais de Maria, como um instrumento entre as mãos do artesão” — com a diferença de que somos instrumentos vivos, conscientes, amorosamente dóceis ao seu querer. Para nos entregar assim, basta “uma olhadela do espírito, um pequeno movimento da vontade” ou uma simples prece: “Mãe, entrego-me a vós…”. Não importa a ausência de prazer sensível; a vontade está presente, e isso basta. Não temamos renovar essa oferta tantas vezes quantas pudermos ao longo do dia. Não interrompamos a corrente de graça. “Quanto mais o fizermos, mais cedo nos santificaremos, mais cedo chegaremos à união a Jesus Cristo, que segue sempre, necessariamente, a união a Maria.” (V. D., n. 259.) ---- A fórmula COM MARIA nos convida a ver a Virgem em cada uma de nossas ações, com o desejo de imitá-la conforme nossa fraqueza. Colocados entre suas mãos como instrumentos dóceis, fixemos nela o olhar amoroso da alma. Maria é o Modelo completo de toda virtude e perfeição, formado pelo Espírito Santo em uma simples criatura humana. É ideal e, ao mesmo tempo, acessível, feito para nossos olhos sem os cegar. Que alegria poder vê-la em nossas orações, trabalhos e sofrimentos! Em cada ação, perguntemo-nos como Maria a realizou em sua vida ou como a faria se estivesse agora em nosso lugar. Sua vida se deu no seio de ocupações semelhantes às nossas. Basta colocá-la diante dos olhos para segui-la em seu crescimento espiritual constante. Montfort indica dois meios eficazes: examinar e meditar sobre suas grandes virtudes. – Examinar é o olhar atual, ligado à ação presente. – Meditar é o olhar habitual, nosso chamado interior contínuo. O olhar atual aplica-se, por exemplo, ao despertar: como se deu o de Maria? Em Nazaré ou no Templo, seu primeiro impulso era para Deus, a Ele oferecia o novo dia. “Ó minha divina Mãe, ajudai-me a colocar em meu despertar algo do fervor do vosso…” Assim nasce um progresso: levantar-se olhando para Maria, buscando imitá-la. Façamos o mesmo em outras ações: oração, missa, comunhão, conversas, relações. Observemos Maria, e ganharemos em humildade por nos vermos distantes de seu Modelo, mas também em desejo de imitá-la. Aspiraremos a seu recolhimento, espírito de oração, penetração no Santo Sacrifício, fome eucarística, atividade ordenada, caridade fraterna, presença contínua de Deus. Esse progresso se aprofunda quando unimos ao olhar de exame o olhar de meditação sobre as “grandes virtudes” do Coração de Maria — coroadas pelos dons do Espírito Santo, sempre ativos em sua alma. O melhor é seguir os mistérios do Rosário em harmonia com o ano litúrgico, descobrindo neles a virtude eminentemente praticada por Maria. Essa meditação nos coloca diante da virtude viva, na criatura mais amada de Deus. Tornando-se hábito, estimula progressos contínuos. Espiritualmente, o que importa não é a virtude em teoria, mas vivida no concreto das ações cotidianas. Meditar e imitar as virtudes de Maria é “guardar os caminhos da Santa Virgem”, seguir suas pisadas, avançar sobre seu caminho ascendente. Montfort, citando Provérbios 8, 32, afirma que esse progresso é marca infalível da predestinação: “Beati qui custodiunt vias meas.” Mais ainda, como vimos na segunda Semana, o Espírito Santo deseja formar os eleitos com Maria: “In electis meis mitte radices.” (Eclo 24, 13.) “Lançai, minha Amada e minha Esposa, as raízes de todas as vossas virtudes em meus eleitos… Reproduzi-vos neles: que eu veja neles as raízes de vossa fé, humildade, mortificação, oração, caridade, esperança…” (n. 34.) A alma virtuosa se torna, então, uma “cópia viva” da Santíssima Virgem (n. 217). A imitação perseverante de suas virtudes imprime em nós sua imagem e semelhança. A prática interior com Maria atinge plenamente seu efeito. ---- EM MARIA nos reserva as delícias da vida de união a Jesus. Embora à primeira vista possa parecer misteriosa, essa fórmula nos pede apenas que tomemos consciência de uma realidade sobrenatural: todos tiramos nossa vida divina do seio espiritual de Maria, onde nos unimos cada vez mais a Jesus. Mistério admirável de graça: o Verbo entrou em Maria na Anunciação e, desde então, não cessou de viver nela — não mais por seu corpo natural, mas por seu Corpo místico. Como Salvador e Cabeça dos predestinados, Ele permanece no seio espiritual de Maria enquanto houver eleitos na terra. É o Mistério da Maternidade espiritual, prolongamento da Encarnação. Jesus, vivendo sempre em Maria, nos comunica nela sua vida divina, como quis que a recebêssemos de sua Mãe. Montfort nos pede apenas que tomemos consciência disso e saboreemos essa união. “Que felicidade”, diz ele, “poder entrar e permanecer em Maria!” (n. 262.) Entrar conscientemente, seguindo Jesus, e permanecer unidos a Ele em Maria. Essa entrada é graça particular do Espírito Santo, obtida pela fidelidade em agir por Maria e com Maria. A alma fiel a por Maria torna-se dócil e dependente, conduzida pela Virgem com plena liberdade. A alma fiel a com Maria imita seu Modelo e adquire virtudes sólidas. Assim, ela se torna semelhante a Maria e, por isso, recebe em Maria a graça mais abundantemente — a vida de Jesus vivendo nela. Ela percebe essa graça, descobre que a recebe em Maria, e entra, consciente e amorosamente, onde está Jesus. Isso lhe dá alegria. Que felicidade entrar em Maria como fruto da fidelidade à sua dependência e imitação! Cada manhã, desde o despertar, vemo-nos em Maria: o pensamento se volta a ela, o coração a busca, todo o nosso ser aspira à sua graça. Rezamos, comungamos, trabalhamos em Maria, sem sair desse interior sagrado. É a união com Jesus vivendo em Maria. Montfort acrescenta: “Depois de termos, por nossa fidelidade, obtido essa insigne graça (a entrada amorosa em Maria), é preciso HABITAR no belo interior de Maria com prazer.” (n. 264.) Permanecer, habitar, residir nela com alegria, cada vez mais unidos a Jesus. Ele se agrada dessa morada como de nenhuma outra. Ali, encontramo-lo, saboreamos sua intimidade, e nos entregamos à união. É amor gracioso e alegria espiritual elevada. Esse desabrochar interior é sinal seguro do contato vital e consciente com o Amado. Montfort descreve esse estado com expressões místicas: o seio virginal de Maria será para nós morada de repouso, confiança, segurança contra o demônio, o mundo e o pecado; será também a morada da transformação em Cristo, da nossa conformidade a Ele como membros bem unidos, formando com Ele um só ser. (n. 264.) Tal é a graça da união vital transformadora. A alma chega ao estado de perfeição no Corpo místico. Atinge ou se aproxima da idade perfeita da vida de graça. Resta-lhe apenas esperar o dia do nascimento para a beatitude eterna. ---- Quanto à fórmula POR MARIA, ela coroa as três outras, assim como, na doxologia do Cânone da Missa, as palavras omnis honor et gloria encerram o per Ipsum, cum Ipso et in Ipso: “Por Cristo, com Cristo e em Cristo, que toda honra e toda glória vos sejam dadas para sempre, ó Trindade santa”! Assim também, desejamos dar à Virgem, como fim próximo, toda honra e toda glória, na felicidade de servi-la e de fazer avançar seu Reino. Servi-la como nossa amada Soberana, estimando como grande honra nos devotar a ela, buscar seus interesses, promover sua glória, com o desejo nobre de nos aproximarmos daqueles espíritos celestes que, no Céu, formam sua Corte. No início de seu Tratado, Montfort, seguindo São Boaventura, descreve todos os coros angélicos clamando sem cessar à sua Rainha: Sancta, Sancta, Sancta Maria, oferecendo-lhe milhões de vezes por dia a saudação Ave, Maria, prostrando-se diante dela e pedindo a graça de serem honrados com alguns de seus mandamentos. Até São Miguel, com Santo Agostinho, sendo o Príncipe da Corte celestial, mostra-se o mais zeloso em prestar-lhe toda sorte de honras (n. 8). Desejando servi-la como os anjos, devemos aplicar a cada ação a maior pureza de intenção. Sem interesse pessoal, sem amor-próprio. Tudo o que fazemos, sofremos ou suportamos, seja para a honra de Maria: – a ela, o mérito do despertar fervoroso, – a ela, o recolhimento da manhã, – a ela, a riqueza da missa e da comunhão, – a ela, o trabalho diário com suas alegrias, dificuldades ou monotonia, Para que ela seja mais conhecida, mais amada, mais honrada, mais glorificada. A essa pureza de intenção, unamos um profundo espírito de zelo, esforçando-nos por irradiar Maria ao nosso redor. Seremos seus apóstolos pela oração, sofrimento, palavra, escrita ou ação missionária. “Devemos”, diz Montfort, “começar e fazer grandes coisas por essa augusta Soberana.” (n. 265.) Ele falava por experiência. Quem foi mais apóstolo de Maria do que ele? Quem mais combateu os abusos em sua devoção? Quem estigmatizou como ele os falsos devotos? Quem ganhou mais escravos de amor para a Rainha dos corações? Sigamos seu exemplo. Por mais restrito que seja nosso campo de apostolado, todos podemos colaborar com essa obra: assegurar e apressar o triunfo universal de Cristo, propagando o Reino precursor de Maria. O tempo desse Reino parece ser o nosso. “Quando virá”, perguntava Montfort, “esse maravilhoso tempo em que a divina Maria será estabelecida como Senhora e Soberana nos corações, para submetê-los plenamente ao império de seu grande e único Jesus?” E ele mesmo respondia: “Esse tempo só virá quando conhecermos e praticarmos a devoção que ensino.” (n. 217.) Esse tempo chegou. Sua Consagração é hoje conhecida, praticada, vivida e amada por almas fervorosas no mundo inteiro. Saboreemos, pois, cada vez mais, a felicidade de pertencer à divina Mãe e Senhora. Essa graça inestimável de sermos, neste mundo, seu domínio vivo, e de estarmos sob a maravilhosa obrigação de frutificar para seus interesses, para seu Reino, na honra de servi-la e glorificá-la. |