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Terça-feira da quarta semana da Páscoa Meditações para a Páscoa - Meditações
O nada dos bens do mundo
In manu eius statera dolosa, calumniam dilexit – “Na sua mão está uma balança enganosa; amou a calúnia” (Os 12, 7)
Sumário. É preciso pesar os bens na balança de Deus e não na do mundo enganador. Olhemos não somente os bens que possui tal Senhor, mas atentemos também no que leva consigo na morte. Perguntemos a todos esses ricos, sábios, príncipes e imperadores, que entraram na eternidade e estão queimando no inferno: Que vos restou das pompas, delícias e riquezas gozadas na terra? Todos respondem: “Nada! Os nossos gozos passaram qual sombra, e nada nos resta senão uma eterna desesperação.” Sirva a desgraça dos outros de exemplo para nós!
I. É preciso pesar os bens na balança de Deus e não na do mundo, que é enganadora. Os bens do mundo são desprezíveis, porque não nos satisfazem a alma e acabam depressa. “Os meus dias”, dizia lamentando o santo homem Jó (1), “foram mais velozes do que um cursor; passaram como navios carregados de frutos, como uma águia que se precipita sobre a presa.” Com efeito, os dias de nossa vida passam e fogem, e que nos fica por fim dos gozos da terra? Pertransierunt quase naves – “Passaram como navios”. Os navios não deixam nenhum vestígio da sua passagem; sulcam as ondas agitadas do mar, mas pouco depois já não se vê vestígio algum, nem mesmo o sulco que a sua quilha abriu nas ondas.
Peguntemos a tantos ricos, sábios, príncipes e imperadores, que já entraram na eternidade, o que lhes ficou das pompas, delícias e grandezas gozadas nesta terra. Todos respondem: “Nada! Absolutamente nada!” Ó homem, exclama Santo Agostinho, quid hic habet attendis; quid secum fert atende. Vós vos limitais a contemplar os bens que no mundo possuiu aquele grande senhor; atentai antes no que leva consigo na hora da morte. O que é senão um cadáver infecto e uma mortalha, ambos sujeitos à mesma podridão?
Quando morre algum dos grandes do mundo, apenas se fala dele algum tempo, para logo depois cair no ouvido: Periit memoria eorum cum sonitu (2) – “A sua memória pereceu como som”. E se porventura estes desgraçados caem no inferno, que fazem ali, que dizem? Choram e dizem: Quid profuit nobis superbia aut divitiarum iactantia? – Que fruto colhemos do fausto e das riquezas? Tudo passou como sombra, e só nos resta a mágoa, o pesar e a desesperação eterna. Transierunt omnia illa tamquam umbra (3).
II. Filii huius saeculi prudentiores filiis lucis sunt (4) – “Os filhos deste século são mais prudentes do que os filhos da luz”. Coisa maravilhosa! Quão grande é a prudência dos mundanos no que diz respeito às coisas da terra! Que passos não dão para adquirirem um emprego, uma fortuna! Quantos cuidados têm para conservarem a saúde do corpo! Escolhem os meios mais apropriados, o mais hábil médico e os melhores remédios, o mais puro ar. Mas que descuido no que diz respeito à alma! E no entanto é certo que a saúde, as dignidades, as riquezas devem acabar um dia, ao passo que a alma e a eternidade não acabarão nunca.
Consideremos além disso, diz Santo Agostinho, no muito que os homens sabem sofrer para coisas amadas pecaminosamente. Que não sofre o vingativo, o ladrão, o licencioso para alcançar o seu pravo intento? E depois para a alma nada querer sofrer!
Meu Jesus, agradeço-Vos por me terdes feito conhecer a vaidade do mundo. Abomino e detesto sobre todos os males as ofensas que Vos fiz, e com o vosso auxílio proponho antes morrer mil vezes do que tornar a ofender-Vos. Ó Pai eterno, tende piedade de mim pelo amor de Jesus Cristo. Olhai para vosso Filho morto sobre a cruz. Sanguis eius super nos (5). – Venha sobre mim esse divino Sangue para lavar a minha alma. Ó Rei de meu coração: adveniat regnum tuum (6) – venha a mim o vosso reino. Estou resolvido a repelir todo afeto que não seja para Vós. Amo-Vos sobre todas as coisas; vinde a reinar só em minha alma; fazei que Vos ame e não ame senão a Vós. Desejo agradar-Vos o mais possível e contentar-Vos plenamente no resto de minha vida.
Ó meu Pai, dignai-Vos abençoar este meu desejo, e dai-me a graça de ficar sempre unido convosco. Consagro-Vos todos os meus afetos, e de hoje por diante quero pertencer só a Vós, meu tesouro, minha paz, minha esperança, meu amor, meu tudo; espero tudo de Vós pelos méritos de vosso Filho. – Minha Rainha e Mãe, Maria, valei-me com a vossa intercessão. Mãe de Deus, rogai por mim.
Referências:
(1) Jo 9, 25-26. Cf. Sb 5, 10
(2) Sl 9, 7
(3) Sb 5, 9
(4) Lc 16, 18
(5) Mt 27, 25
(6) Mt 6, 10
In manu eius statera dolosa, calumniam dilexit – “Na sua mão está uma balança enganosa; amou a calúnia” (Os 12, 7)
Sumário. É preciso pesar os bens na balança de Deus e não na do mundo enganador. Olhemos não somente os bens que possui tal Senhor, mas atentemos também no que leva consigo na morte. Perguntemos a todos esses ricos, sábios, príncipes e imperadores, que entraram na eternidade e estão queimando no inferno: Que vos restou das pompas, delícias e riquezas gozadas na terra? Todos respondem: “Nada! Os nossos gozos passaram qual sombra, e nada nos resta senão uma eterna desesperação.” Sirva a desgraça dos outros de exemplo para nós!
I. É preciso pesar os bens na balança de Deus e não na do mundo, que é enganadora. Os bens do mundo são desprezíveis, porque não nos satisfazem a alma e acabam depressa. “Os meus dias”, dizia lamentando o santo homem Jó (1), “foram mais velozes do que um cursor; passaram como navios carregados de frutos, como uma águia que se precipita sobre a presa.” Com efeito, os dias de nossa vida passam e fogem, e que nos fica por fim dos gozos da terra? Pertransierunt quase naves – “Passaram como navios”. Os navios não deixam nenhum vestígio da sua passagem; sulcam as ondas agitadas do mar, mas pouco depois já não se vê vestígio algum, nem mesmo o sulco que a sua quilha abriu nas ondas.
Peguntemos a tantos ricos, sábios, príncipes e imperadores, que já entraram na eternidade, o que lhes ficou das pompas, delícias e grandezas gozadas nesta terra. Todos respondem: “Nada! Absolutamente nada!” Ó homem, exclama Santo Agostinho, quid hic habet attendis; quid secum fert atende. Vós vos limitais a contemplar os bens que no mundo possuiu aquele grande senhor; atentai antes no que leva consigo na hora da morte. O que é senão um cadáver infecto e uma mortalha, ambos sujeitos à mesma podridão?
Quando morre algum dos grandes do mundo, apenas se fala dele algum tempo, para logo depois cair no ouvido: Periit memoria eorum cum sonitu (2) – “A sua memória pereceu como som”. E se porventura estes desgraçados caem no inferno, que fazem ali, que dizem? Choram e dizem: Quid profuit nobis superbia aut divitiarum iactantia? – Que fruto colhemos do fausto e das riquezas? Tudo passou como sombra, e só nos resta a mágoa, o pesar e a desesperação eterna. Transierunt omnia illa tamquam umbra (3).
II. Filii huius saeculi prudentiores filiis lucis sunt (4) – “Os filhos deste século são mais prudentes do que os filhos da luz”. Coisa maravilhosa! Quão grande é a prudência dos mundanos no que diz respeito às coisas da terra! Que passos não dão para adquirirem um emprego, uma fortuna! Quantos cuidados têm para conservarem a saúde do corpo! Escolhem os meios mais apropriados, o mais hábil médico e os melhores remédios, o mais puro ar. Mas que descuido no que diz respeito à alma! E no entanto é certo que a saúde, as dignidades, as riquezas devem acabar um dia, ao passo que a alma e a eternidade não acabarão nunca.
Consideremos além disso, diz Santo Agostinho, no muito que os homens sabem sofrer para coisas amadas pecaminosamente. Que não sofre o vingativo, o ladrão, o licencioso para alcançar o seu pravo intento? E depois para a alma nada querer sofrer!
Meu Jesus, agradeço-Vos por me terdes feito conhecer a vaidade do mundo. Abomino e detesto sobre todos os males as ofensas que Vos fiz, e com o vosso auxílio proponho antes morrer mil vezes do que tornar a ofender-Vos. Ó Pai eterno, tende piedade de mim pelo amor de Jesus Cristo. Olhai para vosso Filho morto sobre a cruz. Sanguis eius super nos (5). – Venha sobre mim esse divino Sangue para lavar a minha alma. Ó Rei de meu coração: adveniat regnum tuum (6) – venha a mim o vosso reino. Estou resolvido a repelir todo afeto que não seja para Vós. Amo-Vos sobre todas as coisas; vinde a reinar só em minha alma; fazei que Vos ame e não ame senão a Vós. Desejo agradar-Vos o mais possível e contentar-Vos plenamente no resto de minha vida.
Ó meu Pai, dignai-Vos abençoar este meu desejo, e dai-me a graça de ficar sempre unido convosco. Consagro-Vos todos os meus afetos, e de hoje por diante quero pertencer só a Vós, meu tesouro, minha paz, minha esperança, meu amor, meu tudo; espero tudo de Vós pelos méritos de vosso Filho. – Minha Rainha e Mãe, Maria, valei-me com a vossa intercessão. Mãe de Deus, rogai por mim.
Referências:
(1) Jo 9, 25-26. Cf. Sb 5, 10
(2) Sl 9, 7
(3) Sb 5, 9
(4) Lc 16, 18
(5) Mt 27, 25
(6) Mt 6, 10