Todos as meditações
Quarta-feira da Vigésima Primeira Semana do Tempo Comum Meditações para o Tempo Comum (II) - Meditações
Os bens do céu são inefáveis
Et audivit arcana verba, quae non licet homini loqui – “Ouviu palavras misteriosas, que não é permitido ao homem referir” (2 Cor 12, 4)
Sumário. As delícias do paraíso são de tal ordem que é preciso gozá-las para delas fazer alguma ideia. Basta considerarmos que nele reside um Deus onipotente, que se empenha em fazer felizes as almas que ama. Ali não há nada que desagrade; e há tudo quanto possa agradar. Felizes de nós, se tivermos a ventura de nele entrar; mas ao contrário, qual não seria a nossa aflição, se por desgraça nos viéssemos a perder, ao pensarmos que por um nada perdemos uma felicidade eterna.
I. Façamos hoje algumas considerações a respeito do paraíso. Mas que diremos nós, se os santos mais iluminados não nos souberam dar uma ideia das delícias que Deus reserva aos seus servos fiéis? Davi não soube dizer outra coisa senão que o céu é um bem infinitamente desejável: Quam dilecta tabernacula tua, Domine virtutum! (1) – “Quão amáveis são os teus tabernáculos, ó Senhor das virtudes!” – Mas vós ao menos, ó São Paulo, vós que, num rapto sublime, pudestes contemplar o céu, dizei-nos alguma coisa do que vistes. Não, responde o Apóstolo, o que vi não se pode exprimir. As delícias do paraíso são mistérios tais que não é lícito referi-los; são tão grandes que é preciso gozá-las para as compreender. Tudo que vos posso dizer é que nunca nenhum homem na terra viu, ouviu, nem concebeu as belezas, as harmonias, os gozos que Deus preparou para os que o amam (2).
Não somos agora capazes de compreender os bens do céu, porque não conhecemos senão os bens desta terra. Se os cavalos fossem dotados de razão e soubessem que seu dono lhe preparou um magnífico banquete, imaginariam de certo que o banquete só seria composto de boa palha, aveia e cevada, porque os cavalos não têm ideia de outros alimentos. É assim que nós pensamos acerca dos bens do céu.
É belo, numa noite de verão, ver o céu semeado de estrelas; é agradável, na primavera, estar junto de um lago tranquilo e descobrir no fundo os bancos de areia recamados de ervas e os peixes que brincam; é delicioso estar num jardim cheio de flores e frutos, onde derivam alguns regatos e esvoaçam e cantam os passarinhos. Então, exclamamos: Oh, que paraíso! Como! Isso será o céu? Os prazeres do céu são totalmente diferentes. – Para deles fazermos uma leve ideia, basta considerarmos que no céu reside um Deus onipotente, todo ocupado em encher de delícias as almas daqueles a quem ama; e por isso, como diz São Bernardo, ali não há nada que desagrade e há tudo quanto agrade; Nihil est quod nolis, totum est quod velis.
II. Conta-se que Lysimacho, quando certa vez tinha grande sede, vendeu a própria pessoa, o exército e o reino, por um copo de água para matar a sede. Quando acabou de beber e viu o copo já vazio, exclamou, do fundo da alma: “Ó Deus, que loucura foi a minha! Por uma breve satisfação vendi a felicidade de todo o resto de minha vida.”
E falando assim, desatou a chorar tão copiosamente que as lágrimas podiam encher o copo esvaziado. – Meu irmão, igualmente triste, ou antes incomparavelmente pior seria a tua sorte, se tivesses a desgraça de morrer em pecado e de te perder.
Perante o tribunal de Deus, essa satisfação da paixão pela qual o ofendeste, mesmo a vida toda passada em delícias, se tal fosse possível, havia de se te afigurar menos que um copo de água. Então tu também, elevando os olhos ao céu, exclamarias em desespero: Ob brevem voluptatem summam felicitatem amisi! – Ai de mim, por uma satisfação passageira perdi o céu, que é o conjunto de todos os bens, e perdi-o para sempre! – Lembra-te que uma das penas que mais atormentam os réprobos no inferno, é exatamente o terem perdido o céu pela própria culpa e por um bem insignificante.
Meu amabilíssimo Jesus, vejo que eu também deveria sofrer esta pena, porque tantas vezes Vos ofendi pelos meus pecados. Seja, porém, sempre louvada e bendita a vossa misericórdia que me suportou, e em vez de me castigar, multiplicastes as graças, as luzes e os convites. Vejo que me quereis salvo, que me quereis junto a Vós, para Vos amar eternamente; mas antes disso quereis que Vos ame nesta terra. Amo-Vos de todo o coração, com todas as minhas forças, com toda a minha alma; e prometo, para sempre disso me lembrar, fazer continuamente atos de amor para convosco e assim desagravar-Vos de alguma maneira de todas as ofensas que Vos fiz. Vós, porém, que conheceis a minha fraqueza, fortalecei-me com a vossa graça e dai-me a santa perseverança. – Fazei-o pelo amor da vossa e minha querida Mãe, Maria Santíssima.
Referências:
(1) Sl 83, 2
(2) 1 Cor 2, 9
Et audivit arcana verba, quae non licet homini loqui – “Ouviu palavras misteriosas, que não é permitido ao homem referir” (2 Cor 12, 4)
Sumário. As delícias do paraíso são de tal ordem que é preciso gozá-las para delas fazer alguma ideia. Basta considerarmos que nele reside um Deus onipotente, que se empenha em fazer felizes as almas que ama. Ali não há nada que desagrade; e há tudo quanto possa agradar. Felizes de nós, se tivermos a ventura de nele entrar; mas ao contrário, qual não seria a nossa aflição, se por desgraça nos viéssemos a perder, ao pensarmos que por um nada perdemos uma felicidade eterna.
I. Façamos hoje algumas considerações a respeito do paraíso. Mas que diremos nós, se os santos mais iluminados não nos souberam dar uma ideia das delícias que Deus reserva aos seus servos fiéis? Davi não soube dizer outra coisa senão que o céu é um bem infinitamente desejável: Quam dilecta tabernacula tua, Domine virtutum! (1) – “Quão amáveis são os teus tabernáculos, ó Senhor das virtudes!” – Mas vós ao menos, ó São Paulo, vós que, num rapto sublime, pudestes contemplar o céu, dizei-nos alguma coisa do que vistes. Não, responde o Apóstolo, o que vi não se pode exprimir. As delícias do paraíso são mistérios tais que não é lícito referi-los; são tão grandes que é preciso gozá-las para as compreender. Tudo que vos posso dizer é que nunca nenhum homem na terra viu, ouviu, nem concebeu as belezas, as harmonias, os gozos que Deus preparou para os que o amam (2).
Não somos agora capazes de compreender os bens do céu, porque não conhecemos senão os bens desta terra. Se os cavalos fossem dotados de razão e soubessem que seu dono lhe preparou um magnífico banquete, imaginariam de certo que o banquete só seria composto de boa palha, aveia e cevada, porque os cavalos não têm ideia de outros alimentos. É assim que nós pensamos acerca dos bens do céu.
É belo, numa noite de verão, ver o céu semeado de estrelas; é agradável, na primavera, estar junto de um lago tranquilo e descobrir no fundo os bancos de areia recamados de ervas e os peixes que brincam; é delicioso estar num jardim cheio de flores e frutos, onde derivam alguns regatos e esvoaçam e cantam os passarinhos. Então, exclamamos: Oh, que paraíso! Como! Isso será o céu? Os prazeres do céu são totalmente diferentes. – Para deles fazermos uma leve ideia, basta considerarmos que no céu reside um Deus onipotente, todo ocupado em encher de delícias as almas daqueles a quem ama; e por isso, como diz São Bernardo, ali não há nada que desagrade e há tudo quanto agrade; Nihil est quod nolis, totum est quod velis.
II. Conta-se que Lysimacho, quando certa vez tinha grande sede, vendeu a própria pessoa, o exército e o reino, por um copo de água para matar a sede. Quando acabou de beber e viu o copo já vazio, exclamou, do fundo da alma: “Ó Deus, que loucura foi a minha! Por uma breve satisfação vendi a felicidade de todo o resto de minha vida.”
E falando assim, desatou a chorar tão copiosamente que as lágrimas podiam encher o copo esvaziado. – Meu irmão, igualmente triste, ou antes incomparavelmente pior seria a tua sorte, se tivesses a desgraça de morrer em pecado e de te perder.
Perante o tribunal de Deus, essa satisfação da paixão pela qual o ofendeste, mesmo a vida toda passada em delícias, se tal fosse possível, havia de se te afigurar menos que um copo de água. Então tu também, elevando os olhos ao céu, exclamarias em desespero: Ob brevem voluptatem summam felicitatem amisi! – Ai de mim, por uma satisfação passageira perdi o céu, que é o conjunto de todos os bens, e perdi-o para sempre! – Lembra-te que uma das penas que mais atormentam os réprobos no inferno, é exatamente o terem perdido o céu pela própria culpa e por um bem insignificante.
Meu amabilíssimo Jesus, vejo que eu também deveria sofrer esta pena, porque tantas vezes Vos ofendi pelos meus pecados. Seja, porém, sempre louvada e bendita a vossa misericórdia que me suportou, e em vez de me castigar, multiplicastes as graças, as luzes e os convites. Vejo que me quereis salvo, que me quereis junto a Vós, para Vos amar eternamente; mas antes disso quereis que Vos ame nesta terra. Amo-Vos de todo o coração, com todas as minhas forças, com toda a minha alma; e prometo, para sempre disso me lembrar, fazer continuamente atos de amor para convosco e assim desagravar-Vos de alguma maneira de todas as ofensas que Vos fiz. Vós, porém, que conheceis a minha fraqueza, fortalecei-me com a vossa graça e dai-me a santa perseverança. – Fazei-o pelo amor da vossa e minha querida Mãe, Maria Santíssima.
Referências:
(1) Sl 83, 2
(2) 1 Cor 2, 9