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A parábola do banquete nupcial e a Igreja Católica

Sumário. Pelo banquete do qual fala o Evangelho de hoje, entende-se a doutrina católica, os sacramentos e a abundância das graças celestiais. Como filhos da Igreja católica, somos do número dos convidados, e portanto, agradeçamos sempre a Jesus Cristo tão grande favor que nos foi concedido com preferência a tantos outros. Cuidemos, porém, que estejamos vestidos da veste nupcial, isto é, da graça santificante, a fim de não sermos, cedo ou tarde, lançados às trevas exteriores, no inferno. Quantos cristãos não se perdem, porque as obras não respondem à fé que professam!

I. “O reino dos céus”, diz Jesus Cristo, “é semelhante a um rei que fez núpcias para o seu filho, e mandou seus servos chamarem os convidados para as bodas. Mas eles desprezaram o convite, e lá se foram, um para sua casa de campo, outro para o seu negócio. Os outros prenderam os servos que enviara, e, depois de os cobrirem de ultrajes, mataram-nos. Mas o rei, tendo ouvido isto, ficou indignado, e enviando os seus exércitos, exterminou aqueles homicidas, e pôs fogo à sua cidade. Disse então aos seus servos: As bodas estão preparadas; mas os que haviam sido convidados não foram dignos. Ide, pois, às embocaduras das estradas, e a quantos encontrardes, convidai-os para as bodas. E, tendo sabido os seus servos pelas ruas, reuniram todos os que encontraram, bons e maus, e a mesa do banquete ficou cheia de convidados: “Et impletae sunt nuptiae discumbentium.”

Segundo a interpretação dos doutores, o rei da presente parábola é o Pai Eterno; o esposo é seu Filho Jesus Cristo; a e a esposa, a Igreja Católica. Pelo banquete nupcial entendem-se a doutrina evangélica, os santos sacramentos e a abundância de todas as graças celestiais. Para este banquete místico fez o Senhor convidar primeiramente os Hebreus, por meio dos profetas e dos apóstolos. Mas, eles, desprezando o convite, maltrataram e mataram os ministros de Deus, e por isso foram expulsos e pereceram na destruição de Jerusalém. E em lugar dos Hebreus foram chamados os gentios, que andavam no caminho largo que leva ao inferno.

Meu irmão, também tu, descendente de antepassados pagãos e sem algum merecimento próprio, pertences ao número destes felizes convidados. Considera, portanto, atentamente o amor especial que Deus te mostrou, agradece-lhe e repara como até agora lhe tens correspondido. Oh! Quantos se tornariam santos, e grandes santos, se lhes tivesse sido dada a mesma abundância de recursos espirituais como a ti! Ao passo que tu há muitos anos talvez estais dormindo na tibieza, e sabe lá Deus se talvez no pecado!

II. Diz ainda a parábola do Evangelho que “entrando o rei para ver os que estavam à mesa, viu aí um homem que não estava vestindo a veste nupcial. E disse-lhe: Amigo, como entraste aqui, não tendo a veste nupcial? Mas ele emudeceu. Então disse o rei aos seus ministros:

“Atai-o de mãos e pés, e lançai-o nas trevas exteriores: aí haverá choro e ranger de dentes.”

Explicando este trecho, São Gregório diz que “a veste nupcial significa a santa caridade. De modo que os cristãos que pela fé são membros da Igreja, mas não possuem a caridade (isto é, não estão na graça de Deus) são semelhantes àquele homem que quis assistir às bodas, mas sem vestir a veste nupcial”. Por isso, no dia do juízo universal será pronunciada contra eles a mesma sentença daquele infeliz, e serão lançados ao inferno para sofrerem no corpo e na alma o tormento do fogo. — E prouvesse a Deus que fosse pequeno o número desses cristãos insensatos que não põem as obras em harmonia com a fé! Mas o mal está grassando em toda a parte. E por isso o Senhor conclui o Evangelho com estas palavras: Multi sunt vocati, pauci vero electi — “São muitos os chamados e poucos os escolhidos”.

Meu amabilíssimo Jesus, agradeço-Vos o me haverdes chamado com tamanho amor ao banquete místico de vossa Igreja e me haverdes tolerado tanto tempo, apesar de não estar vestido com a veste nupcial. Vejo, ó meu Senhor, que enquanto eu me esquecia de Vós, Vós não Vos esquecíeis de mim. Pesa-me de Vos ter voltado as costas, e resolvido estou a dar-me todo a Vós e a levar uma vida conforme à santa fé que professo. Porque esperar mais? Esperarei porventura até que venha a morte e Vós me condeneis às trevas exteriores, a chorar juntamente com os réprobos?

Não, meu Jesus, não Vos quero mais desagradar; quero amar-Vos com todas as minhas forças para ter um dia parte em vossas núpcias celestiais na pátria bem-aventurada. Ó Deus onipotente e misericordioso, ajudai-me com a vossa divina graça e “apartai de mim, propício, todas as adversidades; para que, expedito na alma e no corpo, com liberdade de espírito eu cumpra o que é de vosso serviço” (1). † Doce Coração de Maria, sede minha salvação.

Referências:

(1) Or. Dom.