Apresentação

O Ofício de Trevas (matutina tenebrarum) é uma liturgia cristã relacionada à Paixão de Cristo, que existe desde o século XIII. É o ofício das matinas e laudes de quarta, quinta e sexta-feira da semana santa.

Canta-se este ofício geralmente após a meia-noite, madrugada (matinas) ou ainda logo ao amanhecer (laudes)… e por isso o auxílio das luzes de velas torna-se indispensável.

O nome deriva-se de três situações de trevas:

1 – As trevas naturais de meia-noite ao amanhecer, ou seja, as horas destinadas à recitação do ofício, lembrando as palavras de Cristo preso nas trevas da noite: “Haec est hora vestra et potestas tenebrarum” (“Esta é a vossa hora e do poder das trevas.” Lc 22, 53).
2 – As trevas litúrgicas, quando durante as cerimonias da paixão apagam-se todas as luzes na igreja, exceto uma, a luz de Cristo!
3 – As trevas simbólicas da paixão.

A ação desta liturgia exige silêncio e orações para mergulhar no mistério da paixão de Jesus. Ele junta lições e salmos em um belíssimo texto retirado do breviário e rezado junto com a comunidade. Durante os séculos houve muitas formas musicadas, inclusive não apenas na forma gregoriana, mas também na forma de música clássica.

No coro da Igreja é colocado um candelabro de formato triangular, conhecido como “tenebrarum”, com 15 velas alinhadas. Uma delas é de cor branca e todas as outras são feitas de cera amarela e comum, como sinal de luto e pesar.

No final de cada um dos Salmos que vão sendo cantados, o cerimoniário apaga uma das velas. Ao mesmo tempo, as luzes da igreja vão sendo apagadas também. As velas são apagadas sucessivamente, até restar apenas uma, a branca. Esta vela não é apagada. Continua acesa e é levada para atrás do altar.

As velas que vão se apagando representam os discípulos, que pouco a pouco abandonaram Nosso Senhor Jesus Cristo durante a Paixão.
A vela branca escondida atrás do altar e, mais tarde, outra vez visível, significa Nosso Senhor que, por breve tempo, se retira do meio dos homens e baixa ao túmulo, para reaparecer, pouco depois, fulgurante de luz e de glória.

No fim, apagam-se as luzes para simbolizar o luto da Igreja e a escuridão que baixou sobre a terra quando Nosso Senhor morreu.
O ruído de matracas no fim do ofício de trevas significa o terremoto e a perturbação dos inimigos, e recordam a desordem que sucedeu na natureza com a morte de Nosso Senhor.
Este rito remonta, portanto, ao tempo em que ainda não havia ofícios metodicamente organizados ou quando havia, conforme a estação do ano, mudança no número de salmos.

O Ofício de Trevas mostra, de forma bastante clara, a figura do Servo sofredor e, junto d’Ele, nos colocamos rezando e meditando sobre os sofrimentos de Sua Paixão e Morte na Cruz.

Uma circular da Congregação para o Culto Divino, no ano de 1988, equipara a recitação conjunta do Ofício de Leituras e Laudes na quinta, sexta e sábado santos, conforme o rito romano moderno, com o Ofício de Trevas do rito romano tradicional.

De fato, o Ofício de Trevas nada mais é do que essas duas horas canônicas conjuntas (no rito tradicional, o Ofício de Leituras era Matinas) nos dias assinalados acima, recitadas com uma série de cerimônias tradicionais, como o apagar das velas, o streptus etc.

A única dificuldade seria como conciliar a cerimônia do apagar das quinze velas com o rito moderno, uma vez que são agora apenas seis salmos. O Mons. Peter Elliott, em seu “Ceremonies of the liturgical year”, da Ignatius Press, no capítulo sobre o Tenebrae, sugere a seguinte combinação: apagar duas velas após cada um dos três salmos do Ofício das Leituras, uma vela após cada um dos dois responsórios do Ofícios das Leituras, e, finalmente, duas velas após cada um dos três salmos das Laudes, permanecendo só a última, a ser apagada no fim do Ofício conjunto.

Também as rubricas da Liturgia das Horas no rito moderno permitem acrescentar os textos antigos, dado que, por razões pastorais, o Ofício de Leituras sempre pode ser expandido.
1ª parte

 PREPARAÇÃO

(Na sacristia o celebrante, e auxiliares revestem-se, logo desde o início do Ofício, com os paramentos de cor roxa ou vermelha, alva, cíngulo, estola e capa. Mantem-se a Igreja no escuro. Ao pé do altar encontra-se aceso um candelabro, com quinze velas acesas. De mãos postas o celebrante e os auxiliares entram enquanto se canta a antífona:)

Ant. Cristo, Filho de Deus, resgatou-nos com o seu Sangue: Vinde, adoremos.
2ª parte

 PRIMEIRA PARTE

INVITATÓRIO

(O sacerdote, de pé, voltado para o povo, diz:)

Cel: † Abri meus lábios, ó Senhor
Todos: E a minha boca anunciará Vosso louvor.

(Canta-se a antífona:)

Antífona:
Cel: Cristo por nós foi tentado, sofreu e na Cruz morreu.
Todos: Vinde todos e adoremos.

(Inicia-se o salmo 94, intercalando os dois lados da assembleia, rezado.)

Salmo 94(95)
Convite ao louvor de Deus

Animai-vos uns aos outros, dia após dia, enquanto ainda se disser ‘hoje’ (Hb 3,13).

–1Vinde, exultemos de alegria no Senhor, *
aclamemos o Rochedo que nos salva!
–2 Ao seu encontro caminhemos com louvores, *
e com cantos de alegria o celebremos!
–3 Na verdade, o Senhor é o grande Deus, *
o grande Rei, muito maior que os deuses todos.
–4 Tem nas mãos as profundezas dos abismos, *
e as alturas das montanhas lhe pertencem;
–5 o mar é dele, pois foi ele quem o fez, *
e a terra firme suas mãos a modelaram.

–6 Vinde adoremos e prostremo-nos por terra, *
e ajoelhemos ante o Deus que nos criou!
=7 Porque ele é o nosso Deus, nosso Pastor, †
e nós somos o seu povo e seu rebanho, *
as ovelhas que conduz com sua mão.

=8 Oxalá ouvísseis hoje a sua voz: †
“Não fecheis os corações como em Meriba, *
9 como em Massa, no deserto, aquele dia,
– em que outrora vossos pais me provocaram, *
apesar de terem visto as minhas obras”.

=10Quarenta anos desgostou-me aquela raça †
e eu disse: “Eis um povo transviado, *
11seu coração não conheceu os meus caminhos!”
– E por isso lhes jurei na minha ira: *
“Não entrarão no meu repouso prometido!” (R.)

– Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Antífona:
Cel: Cristo por nós foi tentado, sofreu e na Cruz morreu.
Todos: Vinde todos e adoremos.
3ª parte

 SEGUNDA PARTE

OFÍCIO DAS LEITURAS

(Após o invitatório dá-se início ao ofício de leituras. O Celebrante de pé, junto com toda a comunidade dá início ao hino, que poderá ser cantado:)

HINO

Cantem meus lábios a luta
que sobre a cruz se travou;
cantem o nobre triunfo
que no madeiro alcançou
o Redentor do Universo
quando por nós se imolou.

O Criador teve pena
do primitivo casal,
que foi ferido de morte,
comendo o fruto fatal,
e marcou logo outra árvore,
para curar-nos do mal.

Tal ordem foi exigida
na obra da salvação:
cai o inimigo no laço
de sua própria invenção.
Do próprio lenho da morte
Deus fez nascer redenção.

Na plenitude dos tempos,
a hora santa chegou
e, pelo Pai enviado,
nasceu do mundo o autor;
e duma Virgem no seio
a nossa carne tomou.

Seis lustros tendo passado,
cumpriu a sua missão.
Só para ela nascido,
livre se entrega à Paixão.
Na cruz se eleva o Cordeiro,
como perfeita oblação.

Glória e poder à Trindade.
Ao Pai e ao Filho, louvor.
Honra ao Espírito Santo.
Eterna glória ao Senhor,
que nos salvou pela graça
e nos remiu pelo amor.

(Sentados, dá-se início a recitação dos salmos. Pode ser cantado:)

Salmodia

Ant. Os reis de toda a terra se reúnem
e conspiram os governos todos juntos
contra o Deus onipotente e o seu Ungido.

Salmo 2

– 1Por que os povos agitados se revoltam? *
por que tramam as nações projetos vãos?
=2Por que os reis de toda a terra se reúnem, †
e conspiram os governos todos juntos *
contra o Deus onipotente e o seu Ungido?

– 3“Vamos quebrar suas correntes”, dizem eles, *
“e lançar longe de nós o seu domínio!”
– 4Ri-se deles o que mora lá nos céus; *
zomba deles o Senhor onipotente.
– 5Ele, então, em sua ira os ameaça, *
e em seu furor os faz tremer, quando lhes diz:

– 6“Fui eu mesmo que escolhi este meu Rei, *
e em Sião, meu monte santo, o consagrei!”
=7O decreto do Senhor promulgarei, †
foi assim que me falou o Senhor Deus: *
“Tu és meu Filho, e eu hoje te gerei!

=8Podes pedir-me, e em resposta eu te darei †
por tua herança os povos todos e as nações, *
e há de ser a terra inteira o teu domínio.
– 9Com cetro férreo haverás de dominá-los, *
e quebrá-los como um vaso de argila!”

– 10E agora, poderosos, entendei; *
soberanos, aprendei esta lição:
– 11Com temor servi a Deus, rendei-lhe glória *
e prestai-lhe homenagem com respeito!

– 12Se o irritais, perecereis pelo caminho, *
pois depressa se acende a sua ira!
– Felizes hão de ser todos aqueles *
que põem sua esperança no Senhor!

– Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Ant. Os reis de toda a terra se reúnem
e conspiram os governos todos juntos
contra o Deus onipotente e o seu Ungido.

(Apaga-se as duas primeiras velas da extremidade do candelabro, enquanto se canta o refrão:)

Todos: Deus Santo, Deus forte, Deus Imortal, tende piedade de nós!

Ant. Eles repartem entre si as minhas vestes
e sorteiam entre si a minha túnica.

Salmo 21(22),2-23 [24-32]

– 2Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes? *
E ficais longe de meu grito e minha prece?
– 3Ó meu Deus, clamo de dia e não me ouvis, *
clamo de noite e para mim não há resposta!

– 4Vós, no entanto, sois o santo em vosso Templo, *
que habitais entre os louvores de Israel.
– 5Foi em vós que esperaram nossos pais; *
esperaram e vós mesmo os libertastes.
– 6Seu clamor subiu a vós e foram salvos; *
em vós confiaram e não foram enganados.

– 7Quanto a mim, eu sou um verme e não um homem; *
sou o opróbrio e o desprezo das nações.
– 8Riem de mim todos aqueles que me vêem, *
torcem os lábios e sacodem a cabeça:
– 9“Ao Senhor se confiou, ele o liberte *
e agora o salve, se é verdade que ele o ama!”

– 10Desde a minha concepção me conduzistes, *
e no seio maternal me agasalhastes.
– 11Desde quando vim à luz vos fui entregue; *
desde o ventre de minha mãe sois o meu Deus!
– 12Não fiqueis longe de mim, porque padeço; *
ficai perto, pois não há quem me socorra!

– 13Por touros numerosos fui cercado, *
e as feras de Basã me rodearam;
– 14escancararam contra mim as suas bocas, *
como leões devoradores a rugir.

– 15Eu me sinto como a água derramada, *
e meus ossos estão todos deslocados;
– como a cera se tornou meu coração, *
e dentro do meu peito se derrete.

=16Minha garganta está igual ao barro seco, †
minha língua está colada ao céu da boca, *
e por vós fui conduzido ao pó da morte!
– 17Cães numerosos me rodeiam furiosos, *
e por um bando de malvados fui cercado.

– Transpassaram minhas mãos e os meus pés *
18e eu poso contar todos os meus ossos.
= Eis que me olham e, ao ver-me, se deleitam! †
19Eles repartem entre si as minhas vestes *
e sorteiam entre si a minha túnica.

– 20Vós, porém, ó meu Senhor, não fiqueis longe, *
ó minha força, vinde logo em meu socorro!
– 21Da espada libertai a minha alma, *
e das garras desses cães, a minha vida!

– 22Arancai-me da goela do leão, *
e a mim tão pobre, desses touros que me atacam!
– 23Anunciarei o vosso nome a meus irmãos *
e no meio da assembleia hei de louvar-vos!

Ant. Eles repartem entre si as minhas vestes
e sorteiam entre si a minha túnica.

(Apaga-se as duas velas da extremidade do candelabro, enquanto se canta o refrão:)

Todos: Deus Santo, Deus forte, Deus Imortal, tende piedade de nós!

Ant. 3 Os que buscam matar, me perseguem
e procuram tirar minha vida.


Salmo 37(38)

– 2Repreendei-me, Senhor, mas sem ira; *
corrigi-me, mas não com furor!

– 3Vossas flechas em mim penetraram; *
vossa mão se abateu sobre mim.
– 4Nada resta de são no meu corpo, *
pois com muito rigor me tratastes!

– Não há parte sadia em meus ossos, *
pois pequei contra vós, ó Senhor!
– 5Meus pecados me afogam e esmagam, *
como um fardo pesado me oprimem.

– 6Cheiram mal e supuram minhas chagas *
por motivo de minhas loucuras.
– 7Ando triste, abatido, encurvado, *
todo o dia afogado em tristeza.

– 8As entranhas me ardem de febre, *
já não há parte sã no meu corpo.
– 9Meu coração grita e geme de dor, *
esmagado e humilhado demais.

– 10Conheceis meu desejo, Senhor, *
meus gemidos vos são manifestos;
=11bate rápido o meu coração, †
minhas forças estão me deixando, *
e sem luz os meus olhos se apagam.

=12Companheiros e amigos se afastam, †
fogem longe das minhas feridas; *
meus parentes mantêm-se à distância.

– 13Armam laços os meus inimigos, *
que procuram tirar minha vida;
– os que buscam matar-me ameaçam *
e maquinam traições todo o dia.

– 14Eu me faço de surdo e não ouço, *
eu me faço de mudo e não falo;
– 15semelhante a alguém que não ouve *
e não tem a resposta em sua boca.

– 16Mas, em vós, ó Senhor, eu confio, *
e ouvireis meu lamento, ó meu Deus!
– 17Pois rezei: “Que não zombem de mim, *
nem se riam, se os pés me vacilam!”

– 18Ó Senhor, estou quase caindo, *
minha dor não me larga um momento!
– 19Sim, confesso, Senhor, minha culpa: *
meu pecado me aflige e atormenta.

=20São bem fortes os meus adversários †
que me vêm atacar sem razão; *
quantos há que sem causa me odeiam!
– 21Eles pagam o bem com o mal, *
porque busco o bem, me perseguem.

– 22Não deixeis vosso servo sozinho, *
ó meu Deus, ficai perto de mim!
– 23Vinde logo trazer-me socorro, *
porque sois para mim salvação!

Ant. Os que buscam matar, me perseguem
e procuram tirar minha vida.

(Apaga-se mais duas velas da extremidade do candelabro, enquanto se canta o refrão:)

Todos: Deus Santo, Deus forte, Deus Imortal, tende piedade de nós!


Cel.: As falsas testemunhas se ergueram.
Todos: E vomitam violência contra mim.

(Neste momento dá-se início as leituras do Ofício. Os leitores fazem reverência ao altar e sobem
ao ambão para fazer as leituras.)

Primeira leitura
Da Carta aos Hebreus 9,11-28

Cristo, sumo sacerdote, com o seu próprio sangue,
entrou no Santuário uma vez por todas

Irmãos: 11Cristo veio como sumo-sacerdote dos bens futuros. Através de uma tenda maior e mais perfeita, que não é obra de mãos humanas, isto é, que não faz parte desta criação, 12e não com o sangue de bodes e bezerros, mas com o seu próprio sangue, ele entrou no Santuário uma vez por todas, obtendo uma redenção eterna. 13De fato, se o sangue de bodes e touros, e a cinza de novilhas espalhada sobre os seres impuros os santifica e realiza a pureza ritual dos corpos, 14quanto mais o Sangue de Cristo, purificará a nossa consciência das obras mortas, para servirmos ao Deus vivo, pois, em virtude do espírito eterno, Cristo se ofereceu a si mesmo a Deus como vítima sem mancha.

15Por isso, ele é mediador de uma nova aliança. Pela sua morte, ele reparou as transgressões cometidas no decorrer da primeira aliança. E, assim, aqueles que são chamados recebem a promessa da herança eterna. 16Onde existe testamento, é preciso que seja constatada a morte de quem fez o testamento. 17Pois um testamento só tem valor depois da morte, e não tem efeito nenhum enquanto ainda vive aquele que fez o testamento. 18Por isso, nem mesmo a primeira aliança foi inaugurada sem sangue. 19Quando anunciou a todo o povo cada um dos mandamentos da Lei, Moisés tomou sangue de novilhos e bodes, junto com água, lã vermelha e um hissopo. Em seguida, aspergiu primeiro o próprio livro e todo o povo, 20e disse: “Este é o sangue da aliança que Deus faz convosco”. 21Do mesmo modo, aspergiu com sangue também a Tenda e todos os objetos que serviam para o culto. 22E assim, segundo a Lei, quase todas as coisas são purificadas com sangue, e sem derramamento de sangue não existe perdão.

23Portanto, as cópias das realidades celestes tinham que ser purificadas dessa maneira; mas as próprias realidades celestes devem ser purificadas com sacrifícios melhores. 24De fato, Cristo não entrou num santuário feito por mão humana, imagem do verdadeiro, mas no próprio céu, a fim de comparecer, agora, na presença de Deus, em nosso favor. 25E não foi para se oferecer a si muitas vezes, como o sumo-sacerdote que, cada ano, entra no Santuário com sangue alheio.

26Porque, se assim fosse, deveria ter sofrido muitas vezes, desde a fundação do mundo. Mas foi agora, na plenitude dos tempos, que, uma vez por todas, ele se manifestou para destruir o pecado pelo sacrifício de si mesmo. 27O destino de todo homem é morrer uma só vez, e depois vem o julgamento. 28Do mesmo modo, também Cristo, oferecido uma vez por todas, para tirar os pecados da multidão, aparecerá uma segunda vez, fora do pecado, para salvar aqueles que o esperam.

(Após a leitura apagam-se as velas do altar.)

Responsório Cf. Is 53,7.12

R. Foi levado como ovelha ao matadouro;
e, maltratado, não abriu a sua boca;
* Foi condenado para a vida de seu povo.
V. Ele próprio entregou a sua vida
e deixou-se colocar entre os facínoras. * Foi condenado.

(Apaga-se uma vela do lado direito do candelabro, enquanto se canta:)

Todos: Deus Santo, Deus forte, Deus Imortal, tende piedade de nós!

Segunda leitura
Das Catequeses de São João Crisóstomo, bispo
(Cat. 3,13-19: SCh 50,174-177) (Séc.IV)

O poder do sangue de Cristo

Queres conhecer o poder do sangue de Cristo? Voltemos às figuras que o profetizaram e recordemos a narrativa do Antigo Testamento: Imolai, disse Moisés, um cordeiro de um ano e marcai as portas com o seu sangue (cf. Ex 12,6-7). Que dizes, Moisés? O sangue de um cordeiro tem poder para libertar o homem dotado de razão? É claro que não, responde ele, não porque é sangue, mas por ser figura do sangue do Senhor. Se agora o inimigo, ao invés do sangue simbólico aspergido nas portas, vir brilhar nos lábios dos fiéis, portas do templo dedicado a Cristo, o sangue verdadeiro, fugirá ainda mais para longe. Queres compreender mais profundamente o poder deste sangue? Repara de onde começou a correr e de que fonte brotou. Começou a brotar da própria cruz, e a sua origem foi o lado do Senhor. Estando Jesus já morto e ainda pregado na cruz, diz o evangelista, um soldado aproximou-se, feriu- lhe o lado com uma lança, e imediatamente saiu água e sangue: a água, como símbolo do batismo; o sangue, como símbolo da eucaristia. O soldado, traspassando-lhe o lado, abriu uma brecha na parede do templo santo, e eu, encontrando um enorme tesouro, alegro-me por ter achado riquezas extraordinárias. Assim aconteceu com este cordeiro. Os judeus mataram um cordeiro e eu recebi o fruto do sacrifício.

De seu lado saiu sangue e água (Jo 19,34). Não quero, querido ouvinte, que trates com superficialidade o segredo de tão grande mistério. Falta-me ainda explicar-te outro significado místico e profundo. Disse que esta água e este sangue são símbolos do batismo e da eucaristia. Foi destes sacramentos que nasceu a santa Igreja, pelo banho da regeneração e pela renovação
no Espírito Santo, isto é, pelo batismo e pela eucaristia que brotaram do lado de Cristo. Pois Cristo formou a Igreja de seu lado traspassado, assim como do lado de Adão foi formada Eva, sua esposa.

Por esta razão, a Sagrada Escritura, falando do primeiro homem, usa a expressão osso dos meus ossos e carne da minha carne (Gn 2,23), que São Paulo refere, aludindo ao lado de Cristo. Pois assim como Deus formou a mulher do lado do homem, também Cristo, de seu lado, nos deu a água e o sangue para que surgisse a Igreja. E assim como Deus abriu o lado de Adão enquanto ele dormia, também Cristo nos deu a água e o sangue durante o sono de sua morte.

Vede como Cristo se uniu à sua esposa, vede com que alimento nos sacia. Do mesmo alimento nos faz nascer e nos nutre. Assim como a mulher, impulsionada pelo amor natural, alimenta com o próprio leite e o próprio sangue o filho que deu à luz, também Cristo alimenta sempre com o seu sangue aqueles a quem deu o novo nascimento.

Responsório Cf. 1Pd 1,18-19; Ef 2,18; 1Jo 1,7

R. Não foi nem com ouro nem prata
que fostes remidos, irmãos;
mas sim pelo sangue precioso
de Cristo, o Cordeiro sem mancha.
* Por ele nós temos acesso num único Espírito ao Pai.
V. O sangue do Filho de Deus nos lava de todo pecado. * Por ele.

(Apaga-se uma vela do lado esquerdo do candelabro, enquanto se canta:)

Todos: Deus Santo, Deus forte, Deus Imortal, tende piedade de nós!

Ant. Deus não poupou seu próprio Filho,
mas o entregou por todos nós.

Salmo 50(51)

Tende piedade, ó meu Deus!
Renovai o vosso espírito e a vossa mentalidade. Revesti o homem novo (Ef 4,23-24).

–3 Tende piedade, ó meu Deus, misericórdia! *
Na imensidão de vosso amor, purificai-me!
–4 Lavai-me todo inteiro do pecado, *
e apagai completamente a minha culpa!

–5 Eu reconheço toda a minha iniquidade, *
o meu pecado está sempre à minha frente.
–6 Foi contra vós, só contra vós, que eu pequei, *
e pratiquei o que é mau aos vossos olhos!

– Mostrais assim quanto sois justo na sentença, *
e quanto é reto o julgamento que fazeis.
–7 Vede, Senhor, que eu nasci na iniquidade *
e pecador já minha mãe me concebeu.

–8 Mas vós amais os corações que são sinceros, *
na intimidade me ensinais sabedoria.
–9 Aspergi-me e serei puro do pecado, *
e mais branco do que a neve ficarei.

–10 Fazei-me ouvir cantos de festa e de alegria, *
e exultarão estes meus ossos que esmagastes.
–11 Desviai o vosso olhar dos meus pecados *
e apagai todas as minhas transgressões!

–12 Criai em mim um coração que seja puro, *
dai-me de novo um espírito decidido.
–13 Ó Senhor, não me afasteis de vossa face, *
nem retireis de mim o vosso Santo Espírito!

–14 Dai-me de novo a alegria de ser salvo *
e confirmai-me com espírito generoso!
–15 Ensinarei vosso caminho aos pecadores, *
e para vós se voltarão os transviados.

–16 Da morte como pena, libertai-me, *
e minha língua exaltará vossa justiça!
–17 Abri meus lábios, ó Senhor, para cantar, *
e minha boca anunciará vosso louvor!

–18 Pois não são de vosso agrado os sacrifícios, *
e, se oferto um holocausto, o rejeitais.
–19 Meu sacrifício é minha alma penitente, *
não desprezeis um coração arrependido!

–20 Sede benigno com Sião, por vossa graça, *
reconstruí Jerusalém e os seus muros!
–21 E aceitareis o verdadeiro sacrifício, *
os holocaustos e oblações em vosso altar!

– Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Ant. Deus não poupou seu próprio Filho,
mas o entregou por todos nós.

(Apaga-se mais duas velas da extremidade do candelabro, enquanto se canta o refrão:)

Todos: Deus Santo, Deus forte, Deus Imortal, tende piedade de nós!

Ant. Jesus Cristo nos amou até o fim
e lavou nossos pecados com seu sangue.

Cântico Hab 3,2-4.13a.15-19

Deus há de vir para julgar
Erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima (Lc 21,28).

–2 Eu ouvi vossa mensagem, ó Senhor, *
e enchi-me de temor.
– Manifestai a vossa obra pelos tempos *
e tornai-a conhecida.

– Ó Senhor, mesmo na cólera, lembrai-vos *
de ter misericórdia!
–3 Deus virá lá das montanhas de Temã, *
e o Santo, de Farã.

– O céu se enche com a sua majestade, *
e a terra, com sua glória.
–4 Seu esplendor é fulgurante como o sol, *
saem raios de suas mãos.

– Nelas se oculta o seu poder como num véu, *
seu poder vitorioso.
–13 Para salvar o vosso povo vós saístes, *
para salvar o vosso Ungido.

–15 E lançastes pelo mar vossos cavalos *
no turbilhão das grandes águas.
–16 Ao ouvi-lo estremeceram-me as entranhas *
e tremeram os meus lábios.

– A cárie penetrou-me até os ossos, *
e meus passos vacilaram.
– Confiante espero o dia da aflição, *
que virá contra o opressor.

–17 Ainda que a figueira não floresça *
nem a vinha dê seus frutos,
– a oliveira não dê mais o seu azeite, *
nem os campos, a comida;

– mesmo que faltem as ovelhas nos apriscos *
e o gado nos curais:
–18 mesmo assim eu me alegro no Senhor, *
exulto em Deus, meu Salvador!

–19 O meu Deus e meu Senhor é minha força *
e me faz ágil como a corça;
– para as alturas me conduz com segurança *
ao cântico de salmos.

– Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.


Ant. Jesus Cristo nos amou até o fim
e lavou nossos pecados com seu sangue.

(Apaga-se mais duas velas da extremidade do candelabro, enquanto se canta o refrão:)

Todos: Deus Santo, Deus forte, Deus Imortal, tende piedade de nós!

Ant. 3 Adoramos, Senhor, vosso madeiro,
vossa ressurreição nós celebramos.
A alegria chegou ao mundo inteiro,
pela cruz que nós hoje veneramos. †

Salmo 147(147 B)

Restauração de Jerusalém
Vem! Vou mostrar-te a noiva, a esposa do Cordeiro! (Ap 21,9).

–12 Glorifica o Senhor, Jerusalém! *
Ó Sião, canta louvores ao teu Deus!

–13 † Pois reforçou com segurança as tuas portas, *
e os teus filhos em teu seio abençoou;
–14 a paz em teus limites garantiu *
e te dá como alimento a flor do trigo.

–15 Ele envia suas ordens para a terra, *
e a palavra que ele diz core veloz;
–16 ele faz cair a neve como lã *
e espalha a geada como cinza.

–17 Como de pão lança as migalhas do granizo, *
a seu frio as águas ficam congeladas.
–18 Ele envia sua palavra e as derrete, *
sopra o vento e de novo as águas corem.

–19 Anuncia a Jacó sua palavra, *
seus preceitos e suas leis a Israel.
–20 Nenhum povo recebeu tanto carinho, *
a nenhum outro revelou os seus preceitos.

– Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.


Ant. Glorifica Adoramos, Senhor, vosso madeiro,
vossa ressurreição nós celebramos.
A alegria chegou ao mundo inteiro,
pela cruz que nós hoje veneramos.

(Apaga-se mais duas velas da extremidade do candelabro, enquanto se canta o refrão:)

Todos: Deus Santo, Deus forte, Deus Imortal, tende piedade de nós!

(Dá-se início a leitura breve, o leitor faz reverência ao altar e sobre ao ambão.)

Leitura breve Is 52,13-15

Ei-lo, o meu Servo será bem sucedido;
sua ascensão será ao mais alto grau.
Assim como muitos ficaram pasmados ao vê-lo
– tão desfigurado ele estava
que não parecia ser um homem ou ter aspecto humano
– do mesmo modo ele espalhará sua fama entre os povos.
Diante dele os reis se manterão em silêncio,
vendo algo que nunca lhes foi narrado
e conhecendo coisas que jamais ouviram.

(Após a leitura, o leitor se retira e dá-se início a uma breve homilia do sacerdote. A homilia pode ser feita da cátedra ou do altar.)

(Após a homilia, ainda de pé, o sacerdote reza o responsório.)

Responsório breve

R. Lembra-te de Cristo, ressuscitado dentre os mortos!
* Ele é nossa salvação e nossa glória para sempre.
R. Lembra-te.
V. Se com ele nós morremos, também com ele viveremos.
* Ele é. Glória ao Pai. R. Lembra-te.
4ª parte

 TERCEIRA PARTE

(Após o responsório dá-se início o hino do Benedictus. Após a antífona, o acólito apresenta o turíbulo ao sacerdote, que coloca o incenso e o abençoa. O sacerdote incensa o altar e a última vela do candelabro. Enquanto a vela é incensada, toca-se lentamente por três vezes o sino. Após, o acólito incensa o sacerdote, o povo e se retira. O povo permanece de pé.)

Antífona

Cel.: Ardentemente desejei comer essa páscoa convosco
Todos: Antes de ir sofrer a morte

CÂNTICO EVANGÉLICO
(BENEDICTUS)
Lc 1,68-79

O Messias e seu Precursor

–68 Bendito seja o Senhor Deus de Israel, *
que a seu povo visitou e libertou;

–69 e fez surgir um poderoso Salvador *
na casa de Davi, seu servidor,

–70 como falara pela boca de seus santos, *
os profetas desde os tempos mais antigos,

–71 para salvar-nos do poder dos inimigos *
e da mão de todos quantos nos odeiam.

–72 Assim mostrou misericórdia a nossos pais, *
recordando a sua santa Aliança

–73 e o juramento a Abraão, o nosso pai, *
de conceder-nos 74 que, libertos do inimigo,

= a ele nós sirvamos sem temor †
75 em santidade e em justiça diante dele, *
enquanto perdurarem nossos dias.

=76 Serás profeta do Altíssimo, ó menino, †
pois irás andando à frente do Senhor *
para aplainar e preparar os seus caminhos,

–77 anunciando ao seu povo a salvação, *
que está na remissão de seus pecados;

–78 pelo amor do coração de nosso Deus, *
Sol nascente que nos veio visitar

–79 lá do alto como luz resplandecente *
a iluminar a quantos jazem entre as trevas

= e na sombra da morte estão sentados †
e para dirigir os nossos passos, *
guiando-nos no caminho da paz.

– Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Antífona

Cel.: Ardentemente desejei comer essa páscoa convosco
Todos: Antes de ir sofrer a morte

(Após o Benedictus segue-se as preces. O sacerdote de mãos erguidas convida o povo a
oração:)

Cel.: Adoremos com sincera piedade a Cristo, nosso Redentor, que por nós
sofreu a Paixão e foi sepultado para ressuscitar ao terceiro dia; e peçamos
humildemente:

R. Senhor, tende piedade de nós!

Cristo, nosso Mestre e Senhor, obediente até à morte por nosso amor,
– ensinai-nos a obedecer sempre à vontade do Pai. R.

Cristo, nossa vida, que morrendo na cruz,
destruístes o poder da morte e do inferno,
– ensinai-nos a morrer convosco,
para merecermos também ressuscitar convosco na glória. R.

Cristo, nosso Rei,
que fostes desprezado como um verme e humilhado
como a vergonha do gênero humano,
– ensinai-nos a imitar a vossa humildade salvadora. R.

Cristo, nossa salvação,
que destes a vida por amor dos seres humanos, vossos irmãos e irmãs,
– fazei que nos amemos uns aos outros com a mesma caridade. R.

Cristo, nosso Salvador,
que de braços abertos na cruz
quisestes atrair para vós a humanidade inteira,
– reuni em vosso reino os filhos e as filhas de Deus dispersos pelo mundo. R.

(O sacerdote convida o povo a oração do Pai-Nosso.)

Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o Vosso nome.
Venha a nós o Vosso Reino.
Seja feita a Vossa vontade, assim na Terra como no Céu.
O pão nosso de cada dia nos daí hoje.
Perdoai-nos as nossas ofensas
assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido.
E não nos deixei cair em tentação, mas livrai-nos do mal.

(O sacerdote de braços erguidos reza a oração conclusiva:)

Oremos:

Senhor nosso Deus, amar-vos acima de tudo é ser perfeito;
multiplicai em nós a vossa graça e concedei,
aos que firmamos nossa esperança na morte de Vosso Filho,
alcançarmos por sua ressurreição aqueles bens que na fé buscamos.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Todos: Amém

(Após a oração, toca-se por três vezes o sino, enquanto o sacerdote apaga a última vela. Depois que o padre apagar a vela todos cantam a antífona:)

Todos: Deus Santo, Deus forte, Deus Imortal, tende piedade de nós!

(Segue-se a bênção final:)

Cel.: O Senhor esteja convosco!
Todos: Ele está no meio de nós!

Cel: Abençoe-vos Deus Todo Poderoso,
Pai, ✠ Filho e Espírito Santo
Todos: Amém.

(Havendo diácono ele despede o povo:)

Ide em Paz e o Senhor vos acompanhe!
Todos: Graças a Deus!

O celebrante se retira em silêncio.