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AFINAL, HALLOWEEN É “COMPATÍVEL” COM A FÉ CATÓLICA OU NÃO?

por Equipe Pocket Terço • Você e mais 155 pessoas leram este artigo Comentar

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Nas suas origens, já foi. Hoje, não é. Mas existem alternativas

O mundo tem fixação por deturpar o sentido de conceitos e eventos cristãos, do Natal à Páscoa, passando, evidentemente, pela Véspera de Todos os Santos.

Boa parte dos católicos já ouviu aquelas acusações sobre o chamado “Dia das Bruxas”, ou “Halloween”: “o Halloween é pagão”; “ele remonta a festivais pré-cristãos dos druidas celtas”; “os pagãos e as bruxas modernas continuam celebrando esse festival ancestral anticristão”; “deixar os filhos brincarem de ‘gostosuras ou travessuras’ é deixá-los à mercê da adoração ao diabo e aos deuses pagãos”.

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Nada poderia estar mais longe da verdade, pelo menos se considerarmos a verdadeira e original identidade desta celebração. As origens dessa data, que no Brasil é mal traduzida como “Dia das Bruxas”, são cristãs. O “Halloween” cai em 31 de outubro por causa de um papa! E a sua comemoração é o resultado da várias práticas medievais de piedade popular católica!

All Hallows

É verdade que os antigos celtas da Irlanda e da Grã-Bretanha comemoravam um festival pagão menor no dia 31 de outubro – mas também é verdade que eles comemoravam o último dia de quase qualquer outro mês do ano igualmente. Não é por causa deles que o “Halloween” cai nessa data. É simplesmente porque a Festa de Todos os Santos, ou “All Hallows”, cai em 1º de novembro. Acontece que, em inglês, “Halloween” é uma palavra formada a partir de “All Hallows’ Eve”, ou seja, “Véspera de Todos os Santos”. Obviamente, portanto, o “Halloween” é celebrado… na véspera de Todos os Santos, ou 31 de outubro.

A atual festa católica de 1º de novembro, que honra todos os santos do céu, era comemorada, antigamente, no dia 13 de maio. O papa Gregório III a mudou para 1º de novembro no século VIII, por ser o dia da dedicação da Capela de Todos os Santos na Basílica de São Pedro, em Roma.

Vários anos mais tarde, já na década de 840, o papa Gregório IV ordenou que a festa de Todos os Santos fosse observada em todos os lugares. Foi desta forma que esse dia santo se estendeu para a Irlanda, onde, naquele tempo, a véspera dessa data não tinha nenhum significado especial para os cristãos, assim como não tinha tido nenhum grande significado particular para os antigos pagãos celtas.

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Duas datas

Em 998, o abade Santo Odilo, do poderoso mosteiro de Cluny, no sul da França, instituiu uma nova celebração no dia 2 de novembro: aquela data passaria a ser um dia de oração pelas almas de todos os fiéis falecidos. Esta data, chamada de Dia de Finados, foi se espalhando da França para o resto da Europa.

A Igreja tinha, então, duas datas especiais: uma para recordar todos os mortos que estão nos céus (Todos os Santos) e outra para recordar todos os mortos que estão no purgatório (Finados). E quanto aos mortos que estão naquele outro lugar?

Pois bem, parece que os camponeses católicos irlandeses se perguntaram exatamente isso: e das almas infelizes no inferno, ninguém se lembra? Eles começaram então a fazer panelaços e bater caçarolas pelas ruas na Véspera de Todos os Santos (“All Hallows’ Eve”, origem do atual termo “Halloween”), para que as almas condenadas soubessem que não tinham sido esquecidas. E, pelo menos na Irlanda, todos os mortos passaram a ser lembrados, muito embora o clero não morresse de amores pelas celebrações populares da Véspera de Todos os Santos e nunca tenha permitido a criação oficial do “Dia de Todos os Condenados” no calendário da Igreja.

Mas aquela ainda não era a festa de “Halloween” tal como nós a conhecemos hoje em dia. As atuais tradições, desenvolvidas nos Estados Unidos, envolvem fantasias fantasmagóricas e assustadoras, uma coisa que não tem nada de irlandesa. Trata-se de um costume que começou a surgir na França durante os séculos XIV e XV.

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Duas tradições

A Europa medieval tardia estava sendo atingida por repetidos surtos de peste bubônica – a famosa “Peste Negra” – e o continente chegou a perder o incrível número de mais de um terço da sua população. Não é de estranhar que os católicos tenham ficado bem mais preocupados com a questão da vida após a morte. Mais e mais missas eram rezadas no Dia de Finados e algumas representações artísticas começaram a ser idealizadas para lembrar a todos da sua própria mortalidade.

Conhecemos essas representações como “Danças Macabras” ou “Danças da Morte”, comumente pintadas nos muros de cemitérios: elas mostravam o diabo conduzindo uma fila de pessoas, incluindo papas, reis, damas, cavaleiros, monges, camponeses, leprosos, etc., para dentro do túmulo. Às vezes, a dança era apresentada no Dia de Finados como um quadro vivo, formado por pessoas vestidas em trajes que representavam os vários estados de vida medievais.

Mas os franceses se fantasiavam desse jeito no dia de Finados, e não na Véspera de Todos os Santos (que é a data do atual Halloween). E os irlandeses, que celebravam a Véspera de Todos os Santos (“All Hallows’ Eve”), não se fantasiavam. Como foi, então, que essas duas tradições se misturaram?

Provavelmente, a mistura aconteceu nas colônias britânicas da América do Norte durante o século XVIII, quando os católicos irlandeses e franceses começaram a se casar entre eles. E o foco da celebração irlandesa em recordar as almas condenadas ao inferno deu às fantasias francesas um toque ainda mais macabro.

Gostosuras ou travessuras?

Entretanto, como todos os jovens monstrinhos da nossa época bem sabem, fantasiar-se é o de menos: o que interessa mesmo é ganhar o máximo possível de guloseimas. E de onde foi que veio essa história de “gostosuras ou travessuras”?

“Gostosuras ou travessuras”, tradução-adaptação de “trick or treat” (“travessura ou acordo”), talvez seja o acréscimo mais estranho e mais norte-americano ao “Halloween”. Trata-se, hoje, da tradição de as crianças saírem fantasiadas pela vizinhança e baterem à porta das casas dos outros pedindo doces (as tais “gostosuras”). Se os donos da casa lhes derem alguma guloseima, tudo bem. Se não derem, elas já avisaram: vão aprontar alguma (e daí a alternativa “ou travessuras”).

Tudo começou com uma involuntária contribuição dos católicos ingleses. Durante o período de repressão anticatólica na Inglaterra, entre os séculos XVI e XVIII, os católicos não tinham direitos legais por lá. Eles não podiam ocupar cargos e eram sujeitos a multas, prisão e pesados ​​impostos. Era crime capital celebrar a missa e centenas de sacerdotes foram martirizados.

Os católicos ingleses tentaram resistir, mas, às vezes, de formas bastante tolas. Um dos atos mais infelizes de resistência foi um complô para explodir com pólvora o rei protestante James I e o parlamento inteiro em Londres. A ideia era desencadear um levante católico contra os opressores. A mal concebida Conspiração da Pólvora se viu frustrada em 5 de novembro de 1605, quando o homem que guardava a pólvora, um imprudente convertido chamado Guy Fawkes, foi capturado e preso. Quando o pobre coitado foi enforcado, toda a trama fracassou.

Combinação de costumes

A data de 5 de novembro, ou Dia de Guy Fawkes, se tornou uma grande celebração na Inglaterra. Durante o período da proscrição católica, bandos de foliões colocavam máscaras e visitavam os católicos locais na calada da noite, exigindo cerveja e bolos para fazer a sua festa: era o “trick or treat” (“travessura ou acordo”).

O Dia de Guy Fawkes chegou às colônias americanas levado pelos primeiros colonos ingleses. Mas, na altura da Revolução Americana, o velho rei James I e até mesmo o próprio Guy Fawkes tinham sido praticamente esquecidos. Já o “travessura ou acordo” era um costume divertido demais para ser deixado de lado. A data acabou sendo adiantada para o dia 31 de outubro e se misturou com a já misturada celebração irlandesa-francesa das máscaras macabras que recordavam as almas condenadas. E foi assim que, nos Estados Unidos, o “travessura ou acordo” se espalhou para além do âmbito católico.

Toda essa combinação de vários costumes de diferentes povos imigrantes, que está na base do atual “Halloween”, se consolidou nos Estados Unidos no início dos anos 1800. Curiosamente, a tradição do “Halloween” nunca se popularizou na Europa, nem sequer nos países que originaram os elementos básicos da celebração.

E quanto às bruxas, onde é que elas entram nessa história toda?

Bom, elas são um dos acréscimos mais recentes. Foi a indústria dos cartões festivos que as adicionou à receita no final do século XIX. O Halloween já tinha a sua faceta “macabra”: por que, então, não dar às bruxas um lugar de destaque nos cartões a ser distribuídos aos amigos nessa data?

Os cartões de Halloween não deram certo (embora tenham experimentado recentemente um crescimento em popularidade). Mas as bruxas sim. E foi por isso que, também no final dos anos 1800, os folcloristas mal informados introduziram nessa mistura de tradições o “jack-o’-lantern”, ou seja, as abóboras iluminadas com uma vela. Eles pensavam que o Halloween tivesse origens druidas e pagãs. As luminárias feitas de nabos (e não de abóboras) faziam parte dos antigos festivais celtas de colheita e por isso foram acrescentadas à celebração do Halloween norte-americano.

Os países latino-americanos pegaram o bonde andando e ficaram só com a parte mais tardia da celebração popular, traduzindo o nome da festa, em geral, como “Dia das Bruxas” (e negligenciando, assim, toda a história da Véspera de Todos os Santos, que está na origem até mesmo da palavra “Halloween”). Este é o caso, por exemplo, do Brasil, onde o “Dia das Bruxas” tem se tornado relativamente popular nos últimos anos em algumas regiões.

Celebrar os seus santos favoritos, isso sim

Seja como for, da próxima vez que alguém afirmar a você que o Halloween é um truque para atrair os seus filhos para os cultos de adoração ao diabo, eu sugiro que você conte a verdadeira origem da “All Hallows’ Eve” e explique o seu significado cristão medieval, juntamente com todo o contexto das importantes datas católicas que o seguem: o dia de Todos os Santos e o dia de Finados.

Quanto à conveniência ou não de as crianças participarem do costume norte-americano do “trick or treat” (adaptado aqui para “gostosuras ou travessuras”), acho que é uma decisão que cabe aos pais.
E me pergunto se, levando em conta a crescente monopolização do Dia das Bruxas por satanistas e neopagãos, não seria uma ótima ideia resgatar as origens da Vigília de Todos os Santos e incentivar as crianças a se vestirem como os seus santos favoritos. Isto sim seria um Halloween realmente católico!

Deixamos aqui abaixo um ótimo vídeo sobre o assunto:


Fonte:

Halloween: conheça as origens cristãs do Dia das Bruxas

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