Doutrina Católica
A Bíblia é suficiente? O que diz a Igreja Católica
por Thiago Zanetti em 04/07/2025 • Você e mais 92 pessoas leram este artigo Comentar

Tempo de leitura: 3 minutos
A questão da suficiência da Bíblia é frequentemente levantada em debates sobre a fé cristã. Para a Igreja Católica, a Sagrada Escritura é parte fundamental da Revelação divina, mas não é a única fonte normativa. A Igreja ensina que a Revelação está contida na Sagrada Escritura e na Sagrada Tradição, sendo ambas interpretadas autenticamente pelo Magistério.
A Revelação divina: Escritura e Tradição
A Constituição Dogmática Dei Verbum do Concílio Vaticano II afirma que:
“Aprouve a Deus na sua bondade e sabedoria, revelar-se a Si mesmo e dar a conhecer o mistério da sua vontade (cfr. Ef. 1,9), segundo o qual os homens, por meio de Cristo, Verbo encarnado, têm acesso ao Pai no Espírito Santo e se tornam participantes da natureza divina (cfr. Ef. 2,18; 2 Ped. 1,4)” (Dei Verbum, 2).
Essa Revelação divina encontra sua transmissão através da Sagrada Escritura e da Sagrada Tradição. Como ensina o Concílio:
“E assim, a pregação apostólica, que se exprime de modo especial nos livros inspirados, devia conservar-se, por uma sucessão contínua, até à consumação dos tempos. Por isso, os Apóstolos, transmitindo o que eles mesmos receberam, advertem os fiéis a que observem as tradições que tinham aprendido quer por palavras quer por escrito (cfr. 2 Tess. 2,15), e a que lutem pela fé recebida duma vez para sempre (cfr. Jud. 3). Ora, o que foi transmitido pelos Apóstolos, abrange tudo quanto contribui para a vida santa do Povo de Deus e para o aumento da sua fé; e assim a Igreja, na sua doutrina, vida e culto, perpetua e transmite a todas as gerações tudo aquilo que ela é e tudo quanto acredita” (Dei Verbum, 8).
Portanto, a Bíblia não é isolada da Tradição. Ambas provêm da mesma fonte e tendem para o mesmo fim: a salvação dos homens.
A função do Magistério na interpretação da Revelação
A Dei Verbum afirma claramente o papel do Magistério:
“Porém, o encargo de interpretar autênticamente a palavra de Deus escrita ou contida na Tradição, foi confiado só ao magistério vivo da Igreja, cuja autoridade é exercida em nome de Jesus Cristo” (Dei Verbum, 10).
Assim, nem a Sagrada Escritura nem a Sagrada Tradição podem ser corretamente compreendidas sem o Magistério da Igreja, que as interpreta de forma fiel e segura.
A relação inseparável entre Escritura, Tradição e Magistério
O Concílio Vaticano II ensina:
“É claro, portanto, que a sagrada Tradição, a sagrada Escritura e o magistério da Igreja, segundo o sapientíssimo desígnio de Deus, de tal maneira se unem e se associam que um sem os outros não se mantém, e todos juntos, cada um a seu modo, sob a acção do mesmo Espírito Santo, contribuem eficazmente para a salvação das almas” (Dei Verbum, 10).
Isso demonstra que a Bíblia, embora essencial, não é suficiente de forma isolada para a transmissão e preservação íntegra da Revelação. É necessária a Tradição viva e o Magistério que guarda, ensina e interpreta fielmente o depósito da fé.
O Catecismo da Igreja Católica sobre a unidade da Revelação
O Catecismo reforça essa doutrina ao dizer:
“A Sagrada Tradição e a Sagrada Escritura constituem um só sagrado depósito da Palavra de Deus, no qual, como em um espelho, a Igreja peregrinante contempla a Deus, fonte de todas as suas riquezas” (CIC, 97).
Além disso, o Catecismo ensina:
“O ofício de interpretar autenticamente a Palavra de Deus escrita ou transmitida foi confiado unicamente ao Magistério vivo da Igreja, cuja autoridade se exerce em nome de Jesus Cristo, isto é, foi confiado aos bispos em comunhão com o sucessor de Pedro, o bispo de Roma” (CICI, 85).
A Escritura como palavra de Deus escrita
Isso não significa diminuir a importância da Bíblia. Pelo contrário, a Igreja a venera como Palavra de Deus:
“A Igreja venerou sempre as divinas Escrituras como venera o próprio Corpo do Senhor, não deixando jamais, sobretudo na sagrada Liturgia, de tomar e distribuir aos fiéis o pão da vida, quer da mesa da palavra de Deus quer da do Corpo de Cristo” (Dei Verbum, 21).
A Igreja insiste que os fiéis tenham acesso amplo e frutífero à Sagrada Escritura:
“É preciso que os fiéis tenham acesso patente à Sagrada Escritura” (Dei Verbum, 22)
O erro do “Só a Escritura” (Sola Scriptura)
A doutrina de que somente a Bíblia seria suficiente e única regra de fé (conhecida como Sola Scriptura) não corresponde ao ensinamento da Igreja. O Magistério afirma:
“A sagrada Tradição e a Sagrada Escritura constituem um só depósito sagrado da palavra de Deus, confiado à Igreja; aderindo a este, todo o Povo santo persevera unido aos seus pastores na doutrina dos Apóstolos e na comunhão, na fracção do pão e na oração (cfr. Act. 2,42 gr.), de tal modo que, na conservação, actuação e profissão da fé transmitida, haja uma especial concordância dos pastores e dos fiéis” (Dei Verbum, 10).
Para a Igreja Católica, a Sagrada Escritura ocupa lugar central na vida da fé, mas ela não é isolada. A Tradição e o Magistério são inseparáveis da Escritura no conjunto da Revelação. Como ensina o Vaticano II:
“a Igreja não tira só da Sagrada Escritura a sua certeza a respeito de todas as coisas reveladas. Por isso, ambas devem ser recebidas e veneradas com igual espírito de piedade e reverência” (Dei Verbum, 9).
Portanto, a Bíblia é essencial, mas não suficiente no entendimento católico. A plenitude da Revelação divina está na união harmônica e indivisível da Sagrada Escritura, da Sagrada Tradição e do Magistério vivo da Igreja.

Por Thiago Zanetti
Jornalista, copywriter e escritor católico. Graduado em Jornalismo e Mestre em História Social das Relações Políticas, ambos pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). É autor dos livros Mensagens de Fé e Esperança (UICLAP, 2025), Deus é a resposta de nossas vidas (Palavra & Prece, 2012) e O Sagrado: prosas e versos (Flor & Cultura, 2012).
Acesse o Blog: www.thiagozanetti.com.br
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