Nome: Santa Maria Goretti, Virgem e Mártir (Memória Facultativa)
Local: Nettuno, Itália
Data: 06 de Julho † 1902

Maria Teresa Goretti, familiarmente chamada Marieta, nasceu em Corinaldo, na diocese de Sinigaglia, na província de Ancona, no dia 16 de outubro de 1890. Era filha de Luís Goretti e de Assunta Carlini, casal pobre, mas de grande fé.

Bons cristãos, os pais levaram a filha à pia batismal quase que imediatamente depois do nascimento, movidos pelo desejo de logo assegurar-lhe a vida da graça. Chamaram-na Maria, para que tivesse uma poderosa padroeira no céu, e um grande modelo para imitar na terra.

Aos seis anos, recebeu o sacramento de confirmação. Obtida a licença necessária, aos 4 de outubro de 1896, ela e o irmão Ângelo foram crismados pelo bispo de Sinigaglia, Giulio Beschi.

Para ganhar a vida, Luís Goretti deixara a montanha, onde se estabelecera inicialmente, e descera para Pontino, lugar insalubre. A família viveu algum tempo em Colle Gianturco, depois, a partir de 1899, em Ferniere di Conca, na diocese de Albano. Instalara-se numa fazenda do conde Mazzoleni, onde já vivia a familia Serenelli.

Luis Goretti, que faleceu em 1900, deixou a Assunta Carlini seis filhos. Viúva, obrigada a trabalhar no campo, Assunta confiou a Marieta a guarda dos irmãos. Menina exemplar, sempre pronta a obedecer, sabendo conduzir os que tinha ao encargo, foi para a mãe a grande consoladora nas aflições e nos apertos, o anjo sempre atento e infatigável.

Piedosa, recitando o terço com assiduidade, Marieta, a 16 de julho de 1901, fez a primeira comunhão. E aqui surge a figura de Alexandre Serenelli, filho dos Serenelli vizinhos, jovem de dezoito anos, enredado nas más companhias, violento e dado a leituras perniciosas e destrutivas: ia principiar o Calvário da doce Marieta inocente.

Sem que ela própria o notasse, Marieta ia-se transformando em moça. Seu espírito, porém, não demonstrava nenhuma dessas inquietações tão comuns às mocinhas de sua idade. O físico era robusto e airoso, a inteligência viva e aberta, o coração delicado e afetuoso, o temperamento corajoso e forte, um tanto sério, a ponto de parecer, por vezes, triste.

Ela sentia pena das companheiras que nos domingos se enfeitavam exageradamente, no desejo de sobrepujar as outras com ostentação de seus encantos juvenis. Ria discretamente daquelas que, diante dos vidros das janelas, ou dos espelhos, não paravam de arrumar o cabelo em penteados complicados, para atrair os olhares alheios.

No límpido espelho de sua alma boa e simples, Marieta via a nulidade dessas frivolidades mundanas e o vazio de tudo o que não é Deus e para Deus.

"Não era vaidosa, diz a mãe, não ambicionava vestidos novos ou diferentes; aceitava prontamente tudo quanto eu lhe determinava... Zelava sempre para que os irmãozinhos estivessem decentemente vestidos e ela própria tinha o maior recato com a sua pessoa. Não somente não procurava companheiras, como também as evitava, e, nas viagens ao longínquo Netuno, ia comigo ou com Dona Teresa Cimarelli. Tinha horror ao palavreado grosseiro, tanto assim era que sua boca jamais proferiu uma só palavra menos correta. Da mesma forma, detestava qualquer comentário desonesto."

De sua parte, Marieta guardava à risca a exortação do padre na véspera da Primeira Comunhão: "Toma cuidado com a língua, porque ela é a primeira a tocar no Corpo de Nosso Senhor..."

As moças de sua idade, que por um motivo ou outro, encontravam-se com ela, eram as primeiras a notar-lhe tal recato e admiravam-na. E quando alguma delas deixava escapar palavras equívocas ou menos decentes, Marieta manifestava o seu desagrado. Se a ocasião se prestava, retirava-se imediatamente, ou então, desviando habilmente a palestra, reconduzia-a para o terreno da honestidade.

Mais adiante: no último período de sua vida, era visível sua continua ascensão espiritual. Melhorava de dia para dia e era cada vez mais delicada. Em casa, disputava os trabalhos mais pesados, e, quando ia pelo campo, tomava a dianteira, a fim de evitar o horror instintivo que a mãe sentia pelas cobras: "- Deixe-me ir na frente, dizia. Eu não tenho medo". Realmente, é para admirar que em tão pequena idade Marieta, sem outros mestres afora os pais analfabetos, chegasse a tal perfeição. A ação do Divino Espirito Santo é por demais evidente. Por Ele guiada e a Ele abandonada a que alcandorados cumes não chegaria?

A primeira comunhão não foi, como para outras colegas suas, um rápido contato com Deus, que apenas de leve roça a superfície da alma. O luxo que pela única vez aparentava, as rendas e o vaporoso véu de pequenina esposa de Jesus, não lhe tolhiam o recolhimento. Preocupada tão-somente com a presença do seu grande Senhor, ela fez a Primeira Comunhão como uma santa, afirma Dona Assunta.

A pureza acima de tudo e a fidelidade às três Ave-Marias diárias, constituíram os temas das exortações que precederam a grande solenidade. E foi isso um desígnio do Céu, diz Mons. Signori, para que a menina progredisse e se firmasse ainda mais no exercício da virtude angélica, pela qual daria, dentro em breve, a vida.

O recolhimento de Marieta era visível. Quando, depois da Comunhão, as crianças reuniram-se na sacristia para agradecer o sacerdote celebrante, ela se conservou tranquila e silenciosa, isolada, num canto, toda absorvida em Deus. Manteve-se assim o dia inteiro, completamente alheia aos brinquedos dos irmãozinhos, deixando transparecer no rosto um contentamento inigualável.

Levado por sórdidas paixões, Alexandre Serenelli, a pouco e pouco, deixava-se dominar pelo demônio. Marieta ocupava-lhe a mente sem cessar. Vivia obcecado, vivia intranquilo, vivia cego.

Um dia, aproveitando-se das ausências de Assunta Carlini, ocupada, quase sempre, fora de casa, impelido fortemente pelo Tentador, procurou a jovem. Acercou-se da doce Pureza a Impureza repelente. Propôs-lhe coisas obscenas. Mais tarde, passada a tempestade devastadora, o infeliz diria que Marieta "não compreendera todo o mal que se encerrava naquelas propostas."

Repelido, deixou-a, mas logo, sempre atiçado pelo Impuro, tentou segunda arremetida. Novamente rebatido, Alexandre foi-se tornando irascível, recalcado, medonho e terrível.

Maria ficou profundamente impressionada. Fugia do vizinho, vivia sobressaltada. E de tudo o que se passara, somente uma coisa lhe ficara bem gravada: Alexandre procurava, a todo o transe, induzi-la ao pecado.

Maria silenciou, trancou-se, quer "por vergonha", como ela mesmo dissera antes de morrer, quer pelo receio de não ser bem compreendida por Assunta Carlini. Trancou-se, mas redobrou de vigilância. Fora de casa, jamais ficava sozinha. Ou estava com sua mãe ou na companhia dos irmãos. E rezava. Rezava muito.

Alexandre, perseguido pela obsessão, adquiriu um punhal de trinta e quatro centímetros de cumprimento, com uma ponta agudíssima, de três milímetros, e foi escondê-lo no seu quarto. E de alcateia, espreitava a ocasião.

Era no dia 5 de julho do ano de 1902. Assunta partira para as fainas do campo. Marieta estava ao alcance do tresloucado. E Alexandre, pronto para tudo, satisfazer o seu desejo ou matar, foi procurar a pobre menina, consigo levando a arma assassina.

Aproximou-se da cândida jovem heroica, agarrou-a pelo braço e, violentamente, arrastou-a para a cozinha, trancando a porta. E o pavor não deu à pobrezinha o tempo de soltar um grito. Principiava a luta. E Maria, sem cessar, agarrada a Deus, dizia ao selvagem moço:
- Não! Não! Deus não quer! É pecado! Tu irás para o inferno!

No auge da desesperação, Alexandre enfiou-lhe pela boca de lábios que o terror embranquecera, um lenço em bola. E, à oposição magnífica de Maria, não resistiu. Com a paixão transmudada em ódio, empunhou a arma, cego, tremendo, e pôs-se a golpear, a torto e a direito, o pobre corpinho frágil.

Catorze golpes puseram-na como morta. E o bárbaro, julgando-a sem vida, largou-a e buscou o próprio quarto. Baixinho, prostrada, Marieta pôs-se a gemer.

Os irmãos, João e Mariano penetraram na casa. Horrorizado à vista do sangue, Mariano agarrou a pequena Teresa e correu, aos gritos, para junto da mãe. Assunta fez imediatamente parar os bois, e voou para casa, seguida de outra camponesa, Dona Teresa Cimarelli.

À Marieta, então, foram ministrados os primeiros curativos caseiros. Mas, quando tentaram tirar-lhes as vestes, o sangue voltou a jorrar aos borbotões, causando-lhe ainda maiores sofrimentos. Veio, depois, o delírio, e no delírio, a reconstrução do monstruoso atentado:
- Oh! Alexandre, como és mau! - gritava, fazendo gestos, como a repelir o inimigo. - Por caridade, não deixem Alexandre entrar!

Maria Goretti foi transportada para o hospital de Netuno com a maior urgência. A mãe e o casal Cimarelli foram na ambulância que viera buscar a pequena mártir.

A meio caminho, num tropel, passaram por eles alguns carabinieri: entre eles, subjugado, ia Alexandre Serenelli, algemado.

A viagem pelas estradas da campagna romana foi longa, incômoda e triste.

Às seis e meia da tarde, chegavam ao hospital de Netuno. Às portas, uma multidão comprimia-se, no desejo de vê-la ainda uma vez. E, quando a pequena mártir apareceu nos braços piedosos dos amigos, os olhares de todos se ergueram e a acompanharam até o momento em que desapareceu nos sombrios corredores daquele hospital.

Os médicos que a examinaram não deram esperanças. Estava perdida. Teria, quando muito, poucas horas de vida. Que chamassem o Padre. E ao Padre Martinho Guijarra, que acorrera prontamente, disseram:
- Nós lhe deixamos apenas um cadáver, mas Vossa Reverendíssima encontrará um anjo.

Logo após, começou a intervenção cirúrgica, que foi preciso fazer a sangue frio. Eram catorze ferimentos graves e quatro contusões. O coração, os intestinos e um pulmão foram atingidos. Se a ciência soubesse fazer milagres!

Com uma força sobrenatural, própria das almas que amam ao Senhor, Marieta deixou que, durante duas horas, os ferros revolvessem sua carne imaculada. Gemia. Chorava. E, quando os médicos deram por terminado o trabalho, seus olhos pareciam já não ter mais lágrimas. Abriam-se apenas para pedir desculpas pelos contratempos que causava a tanta gente!

Quase exangue, foi então transportada para um quarto. Ela precisava de repouso absoluto e de silêncio, mas o povo, que até aquele momento se conformara em manter-se fora do hospital, invadia agora os corredores. Queria vê-la a todo o custo. Começou, pois, a desfilar diante daquele leito, que mais se poderia chamar um altar. E a multidão era tão grande que a ninguém era permitido deter-se para falar.

A vista daquela menina já aureolada, os olhos de todos marejavam-se de lágrimas, e os lábios ora murmuravam preces, ora imprecavam contra o assassino.

Marieta não se cansava de beijar o Crucifixo e a imagem de Nossa Senhora. Sua mãe conta que notou que manteve sempre o olhar fixo no quadro da Madona, suspenso à parede.

No dia seguinte, o quarto de Marieta amanheceu tapizado de flores. Esperava aí a visita de Jesus Sacramentado, pois Mons. Signori decidira administrar-lhe os últimos sacramentos pelas primeiras horas do dia.

Perguntaram-lhe:
- Marieta, Jesus morreu perdoando ao bom ladrão. E você, perdoa de todo o coração o assassino?
- Oh, sim! Eu também o perdoo por amor de Jesus! Desejo vê-lo bem perto de mim no Paraíso!

O murmúrio das preces rezadas a meia voz acompanhava o estertor da moribunda. De repente, eis que tenta erguer-se. É o delírio. Reacende-se-lhe na memória a cena do atentado. Agarra-se, então, ao braço de Teresa Cimarelli, que estava ao seu lado, e grita:
- Que fazes, Alexandre? Vais para o inferno!

E no esforço de afastar o inimigo recai no leito.
- Pai Nosso, que estais no céu... e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal...

O "Amém", Marieta foi pronunciar na eternidade. Morreu com a respiração cortada, no ardor da luta, como um herói no campo de honra.

Numerosíssimos milagres realizaram-se à beira do túmulo, mas, o mais notável, foi a conversão do assassino. Alexandre foi condenado a trinta anos de trabalhos forçados. Na prisão era notado pelo cinismo e brutalidade. Em 1910, sonhou que Marieta, num jardim imenso, exuberante, em meio a lírios sem fim, achegava-se para perto dele e lhe oferecia uma flor.

Impressionado, confundido, perturbado, escreveu uma carta ao bispo, na qual extravasou em mágoas, em arrependimento. Desde então, mudou por completo. Desde que foi solto trabalhou com afinco para a beatificação da vítima.

Referência:
ROHRBACHER, Padre. Vida dos santos: Volume XI. São Paulo: Editora das Américas, 1959. Edição atualizada por Jannart Moutinho Ribeiro; sob a supervisão do Prof. A. Della Nina. Adaptações: Equipe Pocket Terço. Disponível em: obrascatolicas.com. Acesso em: 21 jun. 2021.

Santa Maria Goretti, rogai por nós!

Oração a Santa Maria Goretti

Santa Maria Goretti, tu que desde criança conheceste a dureza, as fadigas, as dores e as breves alegrias da vida: tu que foste pobre e órfã de pai; tu que, serva humilde e dedicada, amaste o próximo com amor incansável; tu que foste bondosa sem te orgulhares; tu que amaste ao Deus Amor acima de tudo; tu que derramaste o sangue para não trair a Deus; tu que perdoaste ao assassino desejando-lhe o céu: Sê nossa intercessora e reza por nós diante do Pai Celeste para que sejamos sempre capazes de dizer sim à santa vontade e ao seu projeto sobre nós. Tu que és amiga de Deus e o contempla face a face obtém para nós a graça que tanto desejamos. Agradecemos Santa Maria Goretti, teu exemplo de amor a Deus e aos irmãos. Ajuda-nos a imitar-te na terra para um dia gozar a felicidade do céu.
Amém

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