Relacionamento

Como esperar sem angústia o “José” e a “Maria” que Deus tem para mim?

por Thiago Zanetti em 23/07/2025 • Você e mais 471 pessoas leram este artigo Comentar


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Tempo de leitura: 6 minutos

Muitos jovens e adultos — homens e mulheres — vivem hoje uma espera angustiada por alguém com quem possam construir uma vida a dois. A cultura do imediatismo e dos “relacionamentos descartáveis” torna ainda mais difícil cultivar a paciência, a confiança e a esperança. Mas será que Deus realmente tem um José ou uma Maria reservado para cada um de nós? E se sim, como viver esse tempo de espera com fé, sem ansiedade e sem desespero?

1. A promessa não é um conto de fadas — é uma resposta de amor

Antes de tudo, é importante entender que esperar em Deus não é passividade. Esperar em Deus é confiar que, enquanto você caminha, Ele já está preparando o que é melhor para você.

O Salmo 37,5 nos ensina:

“Entrega ao Senhor o teu futuro, espera nele, que ele vai agir”.

O tempo de espera é parte da promessa. É nesse tempo que Deus te molda, te prepara, te fortalece. Ele não atrasa. Ele age com perfeição no tempo certo. Às vezes, o que mais nos angustia não é a espera em si, mas o medo de que nada aconteça. E é aí que entra a fé.

2. José e Maria: exemplo de espera ativa, não ansiosa

Quando falamos de esperar um “José” ou uma “Maria”, estamos falando mais do que um cônjuge ideal. Estamos falando de alguém com quem possamos viver a vocação do amor em sua plenitude: no matrimônio santo, fecundo e fiel.

José e Maria não “escolheram” um ao outro pelas aparências ou por interesses. Ambos viviam centrados na vontade de Deus. E foi nesse caminho de fidelidade que Deus os uniu.

“Maria, porém, guardava todas estas coisas, meditando-as no seu coração.” (Lc 2,19)

“José, seu esposo, sendo justo e não querendo denunciá-la publicamente…” (cf. Mt 1,19)

Eles nos ensinam a viver a espera com coração puro e atitudes concretas: oração, discernimento, maturidade e fé.

3. O que fazer enquanto a promessa não se cumpre?

Enquanto o outro não chega, Deus está cuidando de você. E há muitas coisas que você pode — e deve — fazer nesse tempo. Aqui estão 5 atitudes espirituais e práticas para te ajudar:

a) Fortaleça sua identidade em Deus

Você não é alguém “incompleto” esperando ser “completado”. Isso é uma mentira emocional. Sua identidade está em Cristo, e não no outro. O Catecismo da Igreja Católica nos lembra:

“Deus, que criou o homem por amor, também o chamou para o amor, vocação fundamental e inata de todo ser humano.” (CIC 1604)

Mas esse amor começa em Deus. Um relacionamento saudável exige maturidade afetiva, e isso só se alcança quando você aprende a estar bem com você mesmo e com Deus.

b) Cuide do seu jardim

Como diz o pensamento: em vez de procurar a pessoa certa, olhe para dentro e torne-se essa pessoa — um convite à autotransformação enquanto aguardamos o outro.

O tempo de espera é tempo de construção. Cuide da sua vida espiritual, profissional, emocional, social. Prepare-se para oferecer o melhor ao outro. O que você planta hoje no seu jardim, será o que o outro encontrará amanhã.

c) Não negocie princípios por carência

A carência é uma péssima conselheira. Relacionamentos iniciados por medo de ficar só costumam ser frágeis, desordenados e dolorosos.

O apóstolo Paulo escreve:

“Não vos atreleis ao mesmo jugo com os infiéis.” (2Cor 6,14)

Espere por alguém que compartilhe da sua fé, da sua visão de vida, dos seus valores. Um casamento santo começa por uma amizade enraizada em Deus.

d) Ore, mas ore com o coração certo

Não ore apenas pedindo: “Senhor, envia minha Maria ou meu José”. Ore também dizendo: “Senhor, prepara meu coração para amar como Tu amas”.

A oração transforma a espera. E enquanto você reza por essa pessoa, ela também pode estar rezando por você.

O Papa Francisco nos lembra:

“‘não existem as famílias perfeitas que a publicidade falaciosa e consumista nos propõe. Nelas, não passam os anos, não existe a doença, a tribulação nem a morte. (…) A publicidade consumista mostra uma realidade ilusória que não tem nada a ver com a realidade que devem enfrentar no dia-a-dia os pais e as mães de família’. É mais saudável aceitar com realismo os limites, os desafios e as imperfeições, e dar ouvidos ao apelo para crescer juntos, fazer amadurecer o amor e cultivar a solidez da união, suceda o que suceder” (Exortação Apostólica Amoris Laetitia, 135).

e) Tenha direção espiritual

A espera pode trazer dúvidas, ansiedade e até crises vocacionais. Ter alguém para te acompanhar espiritualmente — um diretor espiritual, um padre, uma consagrada — pode ajudar você a discernir, amadurecer e encontrar paz no processo.

4. E se a espera for longa?

Essa é uma pergunta honesta. E, para muitos, a espera pode realmente durar mais do que o esperado. Aqui vai uma verdade difícil, mas libertadora:

Deus nunca se atrasa. O que parece “demora” aos nossos olhos, é providência aos olhos d’Ele.

Santa Teresa d’Ávila dizia:

“Nada te perturbe, nada te espante, tudo passa. Deus não muda. A paciência tudo alcança. Quem a Deus tem, nada lhe falta. Só Deus basta.”

Se Deus ainda não trouxe alguém, talvez Ele ainda esteja formando em você (ou no outro) algo essencial para esse encontro ser duradouro.

5. Esperar não é parar — é caminhar com propósito

Não viva esperando de braços cruzados, como quem colocou a vida em pausa. Viva! Caminhe! Sirva! Estude! Trabalhe! Sorria! Semeie o bem! Viva sua vocação hoje.

O amor chega no caminho, não na estagnação. Maria estava servindo Isabel. José estava trabalhando como carpinteiro. Ambos estavam no centro da vontade de Deus.

Fé no tempo, fé no processo, fé na promessa

Esperar em Deus não é uma espera qualquer. É uma espera com sentido, com esperança e com direção. Aquele que prometeu é fiel (cf. Hb 10,23).

Se você sente ansiedade, insegurança ou tristeza nessa espera, entregue tudo ao Coração de Jesus. Ele conhece cada desejo seu. E se for da vontade d’Ele que você viva o matrimônio, pode ter certeza: Ele está preparando alguém que também está se preparando para você.

Não se compare com os outros. Não se cobre além do necessário. E, sobretudo, não perca a fé no amor.

Thiago Zanetti

Por Thiago Zanetti
Jornalista, copywriter e escritor católico. Graduado em Jornalismo e Mestre em História Social das Relações Políticas, ambos pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). É autor dos livros Mensagens de Fé e Esperança (UICLAP, 2025), Deus é a resposta de nossas vidas (Palavra & Prece, 2012) e O Sagrado: prosas e versos (Flor & Cultura, 2012).
Acesse o Blog: www.thiagozanetti.com.br
Siga-o no Instagram: @thiagoz.escritor




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