Catecismo

Por que os católicos veneram imagens e relíquias?

por Thiago Zanetti em 07/07/2025 • Você e mais 167 pessoas leram este artigo Comentar


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A veneração de imagens e relíquias na Igreja Católica é, há séculos, motivo de admiração e, muitas vezes, de questionamento. Afinal, por que os católicos veneram imagens e relíquias? Esta prática tem base na tradição, na Sagrada Escritura e na doutrina oficial da Igreja. 

O que significa venerar?

Antes de tudo, é essencial distinguir veneração de adoração. A Igreja Católica ensina que adoração (latria) é devida somente a Deus: Pai, Filho e Espírito Santo. Já a veneração (dulia) é um sinal de respeito e honra aos santos, às suas imagens e às relíquias associadas a eles. O Catecismo da Igreja Católica (CIC) explica:

“O culto cristão das imagens não é contrário ao primeiro mandamento que proíbe os ídolos. De fato, ‘a honra prestada a uma imagem se dirige ao modelo original’, e ‘quem venera uma imagem venera a pessoa que neal está pintada” (CIC 2132).

Portanto, a veneração não substitui Deus nem desvia o fiel d’Ele, mas o aproxima da fé e da santidade.

Por que os católicos veneram imagens?

As imagens sagradas — como as de Cristo, da Virgem Maria e dos santos — são consideradas “livros abertos” para quem deseja contemplar os mistérios da salvação. Elas educam, recordam e inspiram. O Concílio de Niceia II (787) afirmou literalmente:

“Assim como algumas imagens da preciosa e vivificante cruz, dos santos evangelhos e de outras coisas sagradas, são colocadas em templos de Deus, em utensílios sagrados, vestes e paredes, em casas e caminhos, para lembrar e confirmar o mistério da encarnação do Verbo de Deus, e para utilidade de todos os fiéis; assim também sejam colocadas as veneráveis e santas imagens, pintadas ou feitas de mosaico ou de outro material adequado” (Concílio de Niceia II, Definição da Fé).

Assim, ao olhar uma imagem, o católico não está adorando madeira ou pedra, mas elevando o pensamento ao que ela representa: o próprio Deus ou os amigos de Deus, os santos.

Imagens e a Encarnação

Outro fundamento da veneração das imagens é o mistério da Encarnação. O próprio Deus se fez visível em Jesus Cristo. Como afirma o Catecismo:

“A imagem sacra, o ícone litúrgico, representa principalmente Cristo. Ela não pode representar o Deus invisível e incompreensível; é a encarnação do Filho de Deus que inaugurou uma nova ‘economia’ das imagens’” (CIC 1159).

Se o próprio Deus se fez homem, é natural que possamos representá-lo visivelmente e recordar sua obra de salvação.

O que são relíquias e por que são veneradas?

As relíquias são objetos materiais associados aos santos: fragmentos de seus corpos (relíquias de 1ª classe), objetos pessoais (2ª classe) ou itens tocados a eles (3ª classe). Desde os primeiros séculos da Igreja, os cristãos cultivam grande respeito por esses sinais concretos da santidade.

No Concílio de Trento, os padres conciliares aprovaram um decreto sobre a invocação, a veneração e as relíquias dos santos e sobre as imagens sagradas, de 3 de dezembro de 1563. Nele, lê-se o seguinte:

“Devem ser venerados pelos fiéis os santos corpos dos santos mártires e dos outros que vivem com Cristo, corpos que foram membros vivos do mesmo Cristo e templo do Espírito Santo, que por ele devem ser ressuscitados para a vida eterna e glorificados e pelos quais Deus concede aos homens muitos benefícios. Por isso, os que afirmam que às relíquias dos santos não se deve veneração nem honra, ou que inutilmente os fiéis as honram como também a outros monumentos sagrados, e que em vão frequentam as memórias dos santos para obter o seu auxílio, todos devem ser absolutamente condenados como já outrora a Igreja os condenou e também agora os condena” (DH 1822).

Relíquias como sinais da santidade

As relíquias não têm poder mágico. Elas são sinais visíveis de que Deus age na história e na vida das pessoas. Elas recordam que a santidade é possível e próxima de nós. Além disso, são ocasiões para pedir a intercessão dos santos e crescer na fé.

O que diz a Bíblia sobre imagens e relíquias?

Um dos maiores equívocos sobre o tema vem da má interpretação de Êxodo 20,4: “Não farás para ti imagem esculpida”. O próprio Deus, no entanto, ordenou a confecção de imagens para o culto, como os querubins sobre a Arca da Aliança (Êx 25,18-20) e a serpente de bronze no deserto (Nm 21,8-9).

Esses exemplos mostram que a proibição bíblica era contra os ídolos pagãos, não contra a representação do sagrado para lembrar e educar o povo.

Veneração e idolatria: qual a diferença?

A idolatria acontece quando se adora uma criatura ou objeto no lugar de Deus. Isso é condenado com veemência pela Igreja. A veneração, por outro lado, é um gesto de respeito que leva ao Criador. Como afirma São João Damasceno:

“A honra prestada à imagem vai para o protótipo; e aquele que venera a imagem, venera na imagem a realidade daquele que nela está representado.”

Por que essa prática continua atual?

Em um mundo marcado pelo materialismo e pelo esquecimento do sagrado, as imagens e relíquias continuam sendo sinais visíveis da fé. Elas recordam que somos chamados à santidade e que fazemos parte de uma grande comunhão: a dos santos.

Além disso, em tempos de tantas distrações, as imagens e relíquias nos ajudam a focar no essencial: Deus e o Seu Reino.

Venerar para amar mais a Deus

A veneração de imagens e relíquias, longe de ser um desvio da fé, é uma forma de aprofundamento espiritual. Ela nos recorda a presença de Deus no mundo e nos convida a seguir os passos de Cristo e dos santos. É um gesto que, bem compreendido, fortalece o amor a Deus, inspira a caridade e mantém viva a memória da salvação. Se você deseja se aprofundar mais no tema, uma boa leitura é o Catecismo da Igreja Católica, especialmente os números 1159 a 1162 e 2131 a 2132.

Thiago Zanetti

Por Thiago Zanetti
Jornalista, copywriter e escritor católico. Graduado em Jornalismo e Mestre em História Social das Relações Políticas, ambos pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). É autor dos livros Mensagens de Fé e Esperança (UICLAP, 2025), Deus é a resposta de nossas vidas (Palavra & Prece, 2012) e O Sagrado: prosas e versos (Flor & Cultura, 2012).
Acesse o Blog: www.thiagozanetti.com.br
Siga-o no Instagram: @thiagoz.escritor




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