Catecismo
O inferno existe? Ensinamento da Igreja e advertência dos santos
por Thiago Zanetti em 27/06/2025 • Você e mais 98 pessoas leram este artigo Comentar

Tempo de leitura: 4 minutos
A existência do inferno é uma das verdades mais impopulares do cristianismo moderno. Muitos evitam falar sobre ele, como se fosse uma metáfora superada. No entanto, a doutrina católica sempre ensinou de forma clara, direta e inegociável: o inferno é real — e, pior, é uma possibilidade eterna para quem morre em estado de pecado mortal sem arrependimento.
O inferno na doutrina da Igreja
A Igreja Católica afirma categoricamente a existência do inferno. Esta não é uma hipótese, mas uma certeza doutrinal:
“O ensinamento da Igreja afirma a existência e a eternidade do inferno” (Catecismo da Igreja Católica, n. 1035).
Trata-se de uma realidade que decorre da liberdade humana: Deus respeita nossa escolha, até mesmo quando ela é trágica e definitiva. Como explica o Catecismo:
“Morrer em pecado mortal sem ter-se arrependido dele e sem acolher o amor misericordioso de Deus significa ficar separado do Todo-Poderoso para sempre, por nossa própria opção livre” (CIC, 1033).
Essa separação eterna de Deus é o que chamamos de inferno.
Jesus falou claramente sobre o inferno
Jesus Cristo, que é a própria Verdade, falou com frequência sobre o inferno, muitas vezes usando imagens fortes para alertar os pecadores. Ele mesmo falou da “geena” (vale de Hinnon, fora de Jerusalém), símbolo de condenação e sofrimento eterno:
“E estes irão para o castigo eterno enquanto os justos irão para a vida eterna” (Mateus 25,46).
E também:
“Se tua mão te leva à queda, corta-a! É melhor entrares na vida tendo só com uma das mãos do que, tendo as duas, ires para o inferno, para o fogo que nunca se apaga” (Marcos 9,43).
Cristo não usava linguagem simbólica nesse contexto, mas uma advertência real sobre o destino eterno da alma.
O que é o inferno?
Segundo a Igreja, o principal castigo do inferno não é o fogo — embora esse também seja um elemento real, como veremos —, mas a perda eterna da comunhão com Deus:
“A pena principal do Inferno consiste na separação eterna de Deus, o Único em quem o homem pode ter a vida e a felicidade para as quais foi criado e às quais aspira” (CIC, n. 1035).
O Concílio de Latrão IV (1215) reafirma essa doutrina:
“uns recebem a punição eterna junto com o diabo e outros recebem a glória eterna com Cristo.”
Essa separação é acompanhada de sofrimentos eternos, descritos como fogo, tormento, e desespero, conforme relatado por muitos santos.
O fogo do inferno é real?
Sim. A Igreja afirma que o inferno não é apenas um estado espiritual, mas também um lugar, e o fogo do inferno é uma realidade. Bento XII declarou:
“Nós nos definimos: assim como Deus ordenou universalmente, as almas que morrem tendo cometido um pecado mortal vão imediatamente para o inferno, onde são atormentadas com penas infernais” (Bento XII, Constituição “Benedictus Deus”, 1336).
Santo Tomás de Aquino ensina:
“Quanto ao fogo que atormentará os corpos dos condenados depois da ressurreição, devemos dizer que é um fogo corpóreo. Porque a um corpo não pode convenientemente adaptar-se senão uma pena corpórea” (Suma Teológica, III Suplemento, q. 97, a. 5).
Testemunho dos santos: advertência e compaixão
Vários santos tiveram visões do inferno e advertiram o mundo com profundo zelo e dor.
Santa Teresa de Ávila, Doutora da Igreja, relatou uma experiência terrível:
“Eu me encontrava, como eu pensava, mergulhada diretamente no inferno. Percebi que era da vontade do Senhor que eu visse o lugar que os demônios tinham preparado para mim e o qual eu merecia por meus pecados. Isso aconteceu no menor espaço de tempo, mas acredito que seria impossível para mim esquecê-lo” (Livro da Vida).
Santa Faustina Kowalska, mística polonesa canonizada por São João Paulo II, teve uma visão do inferno e escreveu no seu Diário:
“Hoje, fui conduzida pelo anjo ao abismo do inferno. Vi as várias torturas dos condenados: o fogo, o ódio, a escuridão terrível, o desespero. Escrevo isso por ordem de Deus, para que nenhuma alma alegue que o inferno não existe ou que ninguém lá esteve” (Diário de Santa Faustina, nº 741).
E ainda:
“A maioria das almas que estão no inferno não acreditava que ele existisse” (Idem).
O inferno não é injustiça, mas consequência
Deus não “manda” ninguém para o inferno. A condenação é fruto de nossa escolha livre e consciente de rejeitar a graça:
“Deus não predestina ninguém a ir para o Inferno: para isso é preciso uma aversão voluntária a Deus (um pecado mortal) e persistir nela até o fim” (CIC, n. 1037).
Portanto, o inferno é uma consequência trágica, mas justa, da liberdade mal usada. Como diz São João da Cruz:
“No fim da vida seremos julgados pelo amor” (Carta, 24).
O anúncio do inferno é um ato de misericórdia
Falar do inferno não é espalhar medo, mas um ato de caridade e salvação. Negar sua existência seria abandonar as almas ao erro e à ilusão.
O próprio Jesus falou sobre ele por amor, para nos afastar da perdição. E os santos, movidos pelo mesmo zelo, pregaram com lágrimas nos olhos.
São João Maria Vianney dizia:
“depois do dia do julgamento, se Ele ainda nos encontrar consumidos pelos pecados, teremos de ir para o inferno, para ali sofrer por eles, sem nunca os abandonar”.
O inferno existe, mas pode ser evitado
A Igreja não ensina o inferno para causar desespero, mas para promover a conversão. Essa verdade, embora dura, nos liberta de uma vida superficial e nos impulsiona a buscar a graça, os sacramentos e o arrependimento sincero.
Enquanto houver vida, há esperança. Jesus oferece o perdão, a misericórdia e o Céu — mas cabe a nós escolher.
“Entrai pela porta estreita! Pois larga é a porta e espaçoso o caminho que leva à perdição, e muitos são os que entram!” (Mateus 7,13).

Por Thiago Zanetti
Jornalista, copywriter e escritor católico. Graduado em Jornalismo e Mestre em História Social das Relações Políticas, ambos pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). É autor dos livros Mensagens de Fé e Esperança (UICLAP, 2025), Deus é a resposta de nossas vidas (Palavra & Prece, 2012) e O Sagrado: prosas e versos (Flor & Cultura, 2012).
Acesse o Blog: www.thiagozanetti.com.br
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