Espiritualidade

Seja um Simão de Cirene na vida do outro: ajude a carregar a Cruz

por Thiago Zanetti em 21/07/2025 • Você e mais 245 pessoas leram este artigo Comentar


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Tempo de leitura: 5 minutos

Você já se perguntou quantas vezes alguém ao seu lado precisou de ajuda para carregar uma cruz invisível? Pode ser um problema financeiro, uma doença, a solidão ou a falta de fé. Em momentos assim, Deus nos convida a ser como Simão de Cirene: não espectadores, mas participantes do sofrimento redentor do outro.

Quem foi Simão de Cirene?

Simão de Cirene é uma das figuras mais discretas, mas mais significativas da Paixão de Cristo. O evangelho de Marcos relata:

“Os soldados obrigaram alguém que lá passava voltando do campo, Simão de Cirene, pai de Alexandre e de Rufo, a carregar a Cruz” (Mc 15,21).

Ele não era um apóstolo. Não era fariseu. Não era soldado. Era apenas um homem comum, “que passava”. E foi justamente esse homem simples que teve a honra — e o peso — de ajudar o próprio Deus a carregar sua cruz.

O valor de um gesto involuntário

Simão foi forçado a ajudar. Mas o que começou como imposição, se transformou em graça. A tradição da Igreja ensina que Simão se converteu ao ver Jesus tão fragilizado e, ao mesmo tempo, tão silenciosamente firme. Não reclamava. Não resistia. Apenas caminhava, com a cruz às costas e a humanidade nos ombros.

Na meditação da Quinta Estação da Via-Sacra de 2005, o então Cardeal Joseph Ratzinger escreveu:

“Simão de Cirene está a caminho de casa, voltando do trabalho, quando se depara com a triste procissão dos condenados – para ele, talvez, fosse uma visão comum. Os soldados forçam este homem rude do campo a carregar a cruz nos próprios ombros. Como deve ter-lhe parecido desagradável ver-se subitamente envolvido no destino daqueles condenados! Ele faz o que deve fazer, mas com relutância. (…) O cireneu, caminhando ao lado de Jesus e partilhando o peso da cruz, compreendeu que era uma graça poder acompanhá-lo à crucificação e ajudá-lo. O mistério de Jesus, silencioso e sofredor, tocou-lhe o coração” (Via-Sacra no Coliseu, 2005).

Ser como Simão de Cirene é estar atento aos Cristos escondidos que passam por nós. É aceitar o chamado de ajudar, mesmo sem querer ou sem perceber no início. A graça vem depois — e vem com força.

A cruz do outro é também a minha

Em um mundo cada vez mais individualista, ajudar alguém a carregar sua cruz pode parecer perda de tempo. Afinal, “cada um com seus problemas”, certo?

Errado.

São Paulo nos lembra:

“Carregai os fardos uns dos outros; assim cumprireis a lei de Cristo” (Gl 6,2).

A cruz do outro, quando dividida, se torna menos pesada. Quando você oferece seu tempo, sua escuta, sua presença — mesmo sem resolver o problema — já está exercendo a caridade. E a caridade cobre uma multidão de pecados (cf. 1Pd 4,8).

Como ser um Simão de Cirene hoje?

Não precisamos esperar grandes situações para viver esse chamado. Aqui estão formas práticas de ajudar alguém a carregar a cruz no dia a dia:

  • Escutar sem julgar: Às vezes, a maior cruz de uma pessoa é não ser ouvida.
  • Estar presente: Visitar um doente, consolar um enlutado, fazer companhia a quem está só.
  • Ajudar financeiramente, se possível: Para alguns, a cruz é a fome ou a dívida.

  • Interceder em oração: Muitas vezes não podemos agir, mas podemos rezar. E isso move o Céu.
  • Evangelizar com amor: Mostrar o rosto de Cristo é aliviar o peso de quem não encontra sentido no sofrimento.

Não é você quem salva, mas você pode aliviar

Simão não salvou Jesus. Mas aliviou a dor do caminho. Da mesma forma, você não vai salvar o mundo — Cristo já fez isso. Mas pode ser canal de misericórdia para quem está ao seu lado.

Santa Madre Teresa de Calcutá dizia:

“O que fazemos é uma gota no oceano. Mas sem ela, o oceano seria menor.”

Você pode não perceber, mas sua atitude pode salvar alguém do desespero, da desistência, da tristeza profunda. E o que parecer pequeno aos olhos humanos, tem valor eterno aos olhos de Deus.

Ajudar também é ser ajudado

Curiosamente, quem ajuda a carregar a cruz acaba se encontrando com o próprio Cristo. Simão de Cirene tocou a cruz do Salvador. Você já parou para pensar nisso?

Quantas vezes, ao ajudar alguém, você saiu mais leve? Quantas vezes sentiu uma paz que não se explica? O gesto de compaixão transforma não apenas o outro, mas a nós mesmos.

No mistério da fé, cada cruz partilhada se torna caminho de ressurreição.

Não passe direto

Simão estava apenas passando. E talvez você também esteja “só de passagem” por uma situação, um lugar, uma conversa. Mas se Deus permitir que você veja alguém sofrendo, talvez Ele esteja te convidando a parar — e ajudar.

Não se faça de desentendido. Não terceirize. Não fuja. Você pode ser a resposta da oração de alguém.

O mundo precisa de Cireneus

Ser Simão de Cirene é mais do que um gesto de caridade. É um modo de viver. É enxergar o outro com os olhos de Cristo. É aceitar o chamado de carregar, por amor, aquilo que pesa nos ombros de quem já está caindo.

A cada dia, você pode escolher ser indiferente ou ser um Cireneu.

Thiago Zanetti

Por Thiago Zanetti
Jornalista, copywriter e escritor católico. Graduado em Jornalismo e Mestre em História Social das Relações Políticas, ambos pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). É autor dos livros Mensagens de Fé e Esperança (UICLAP, 2025), Deus é a resposta de nossas vidas (Palavra & Prece, 2012) e O Sagrado: prosas e versos (Flor & Cultura, 2012).
Acesse o Blog: www.thiagozanetti.com.br
Siga-o no Instagram: @thiagoz.escritor




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