Evangelização
A missão do Papa na era digital e da inteligência artificial
por Thiago Zanetti em 21/05/2025 • Você e mais 367 pessoas leram este artigo Comentar

Tempo de leitura: 6 minutos
Vivemos uma era de transformações tecnológicas sem precedentes. A inteligência artificial, as redes sociais, os algoritmos e a hiperconectividade estão moldando a cultura, os relacionamentos e até mesmo a forma como buscamos sentido para a vida. Diante desse cenário, qual é a missão do Papa? Como o Sucessor de Pedro pode guiar a Igreja em tempos de acelerada inovação digital e ética desafiada?
1. A missão permanente do Papa: guardar a fé, promover a unidade, guiar o povo de Deus
Antes de abordar o cenário tecnológico atual, é importante recordar a natureza da missão papal. O Papa é o Bispo de Roma, sucessor de São Pedro, chamado a ser “o princípio e o fundamento perpétuo e visível da unidade” da Igreja (Lumen Gentium, 18). Cabe-lhe confirmar os irmãos na fé (cf. Lc 22,32), exercer a caridade em nome de Cristo e ser voz da consciência diante dos dramas humanos.
Essa missão não muda com os tempos, mas precisa ser continuamente encarnada nas realidades concretas da história. E hoje, essa história é marcada por algoritmos, redes neurais artificiais, big data e metaverso. A missão é a mesma. O contexto, no entanto, exige novas respostas.
2. Desafios da era digital e da inteligência artificial
a) O risco da desumanização
O avanço da IA levanta questões éticas sérias. Quando sistemas automatizados tomam decisões que afetam vidas humanas – como em diagnósticos médicos, processos judiciais ou políticas de segurança – surge a tentação de delegar à máquina aquilo que exige discernimento moral. O Papa tem um papel fundamental em lembrar que nenhuma tecnologia substitui a dignidade da pessoa humana. Como afirmou Papa Francisco: “A inteligência artificial deveria estar ao serviço dum melhor potencial humano e das nossas mais altas aspirações, e não em competição com eles” (Papa Francisco, Mensagem para o Dia Mundial da Paz, 1º de janeiro de 2024, n. 2).
b) A cultura do descartável e da polarização digital
As redes sociais amplificam a cultura do cancelamento, da superficialidade e da agressividade. O Papa, como pastor universal, é chamado a propor uma cultura do encontro, baseada no respeito, no diálogo e na busca da verdade. Isso exige uma presença evangelizadora e crítica da Igreja nos meios digitais, que não se conforme com o ódio algorítmico nem com a manipulação da opinião pública.
c) A crise da verdade
A era digital também é a era da desinformação. Fake news, deepfakes e manipulações cognitivas desafiam a confiança nas fontes e o próprio conceito de verdade. O Papa tem o dever profético de proclamar a verdade com caridade, reforçando que “a verdade vos libertará” (Jo 8,32). A Igreja deve ser farol de clareza num mundo obscurecido por narrativas manipuladas.
3. A resposta do Papa: presença, profecia e pastoralidade
a) Uma presença consciente no mundo digital
O Papa pode – e deve – incentivar uma presença responsável da Igreja nas redes digitais. Isso já vem acontecendo: o Vaticano possui canais no YouTube, perfis nas redes sociais, aplicativos, transmissões online e até uma seção específica sobre IA no Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral.
Mas essa presença precisa ser mais do que institucional. Deve ser missionária. O Papa é chamado a encorajar bispos, padres, leigos, religiosos e influenciadores católicos a evangelizar com criatividade e verdade no ambiente digital.
b) Uma voz profética sobre os limites éticos da tecnologia
Assim como os Papas anteriores denunciaram os males do capitalismo selvagem ou do totalitarismo ideológico, hoje o Papa é chamado a ser voz profética contra o tecnocentrismo e a cultura do controle total. É urgente que ele proponha uma ética global da inteligência artificial, baseada na dignidade humana, na justiça e na solidariedade. Como já vem sendo feito por meio da iniciativa Rome Call for AI Ethics, que conta com o apoio da Santa Sé e de empresas como Microsoft e IBM.
c) Uma pastoral da escuta e do discernimento
A cultura digital gera uma nova antropologia. Jovens crescem em telas, adultos vivem conectados, idosos se sentem isolados. O Papa precisa liderar uma pastoral adaptada à realidade digital, que escute as angústias das novas gerações, que use a tecnologia para proximidade (não para controle), e que promova o discernimento cristão sobre o uso das mídias.
4. O Papa como sinal de esperança no tempo das máquinas
A grande missão do Papa, neste tempo de IA e transformações digitais, é lembrar que a alma humana não pode ser reduzida a dados. A fé cristã afirma que cada pessoa é criada à imagem de Deus (Gn 1,27), com liberdade, consciência e um destino eterno. Nenhum algoritmo pode amar. Nenhuma máquina pode perdoar. Nenhuma inteligência artificial pode orar.
Ao manter viva essa convicção, o Papa se torna um sinal de esperança num mundo tentado pela lógica da eficiência, do controle e da desumanização.
A missão do Papa na era digital e da inteligência artificial é, antes de tudo, ser pai, mestre e pastor de almas. Isso significa iluminar os desafios éticos da tecnologia, defender a dignidade humana, promover uma cultura da verdade e do encontro e anunciar Cristo em todos os ambientes – inclusive nas redes e plataformas digitais.
Em tempos de máquinas que aprendem, o Papa é chamado a recordar que só o coração que ama verdadeiramente pode transformar o mundo. E esse coração é o de Cristo, que a Igreja é chamada a testemunhar.

Por Thiago Zanetti
Jornalista, copywriter e escritor católico. Graduado em Jornalismo e Mestre em História Social das Relações Políticas, ambos pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). É autor dos livros Mensagens de Fé e Esperança (UICLAP, 2025), Deus é a resposta de nossas vidas (Palavra & Prece, 2012) e O Sagrado: prosas e versos (Flor & Cultura, 2012).
Acesse o Blog: www.thiagozanetti.com.br
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