Doutrina Católica
Apresentação de Nossa Senhora no Templo
por Thiago Zanetti em 21/11/2025 • Você e mais 121 pessoas leram este artigo Comentar
Tempo de leitura: 6 minutos
A apresentação de Nossa Senhora no Templo, celebrada em 21 de novembro, é uma das festas mais antigas da tradição cristã. Ela não está descrita diretamente na Sagrada Escritura, mas faz parte da memória viva da Igreja, transmitida pela Tradição e celebrada tanto no Oriente quanto no Ocidente. A data convida cada fiel a contemplar o mistério da entrega total de Maria a Deus, desde sua infância, e a renovar o próprio compromisso de viver uma vida inteiramente dedicada ao Senhor.
Embora não haja relatos bíblicos sobre o acontecimento, a Igreja reconhece nesta festa uma verdade espiritual profunda: Maria pertence inteiramente a Deus. O Catecismo afirma que a missão de Maria está unida ao desígnio divino e que ela é inseparável da obra de Cristo. O texto ensina:
“O papel de Maria para com a Igreja é inseparável de sua união com Cristo, decorrendo diretamente dela (dessa união)” (Catecismo da Igreja Católica, 964).
Desde seu nascimento, por graça singular, Maria foi preparada para esta missão única de ser a Mãe do Salvador. Celebrar sua apresentação significa reconhecer essa entrega radical.
Um coração totalmente consagrado a Deus
A Tradição cristã sempre viu na apresentação de Maria um gesto de total consagração. A Igreja recorda que Maria:
“[…] desde o primeiro instante da sua criação e da sua infusão no corpo, por uma especial graça e privilégio de Deus, em vista dos méritos de Jesus Cristo, seu Filho e Redentor do gênero humano, foi preservada imune de toda mancha do pecado original” (Ineffabilis Deus, Papa Pio IX).
Essa graça original revela que toda a sua vida, desde o início, já era um dom totalmente voltado para Deus.
Por isso, a apresentação no Templo simboliza a resposta de Maria à iniciativa divina. Mesmo sendo ainda criança, sua vida já estava orientada para o serviço do Altíssimo. O gesto significa que Deus, ao escolhê-la, preparou nela um coração puro, livre e disposto a acolher sua vontade. Como ensina o Catecismo: “[…] ela cooperou na obra do Salvador para a restauração da vida sobrenatural das almas” (CIC 968). Essa cooperação começa na infância e se estende até a cruz.
A espiritualidade da entrega
Ao celebrar esta festa, a Igreja não quer apenas recordar um fato da Tradição, mas iluminar o caminho espiritual dos cristãos. Maria é o modelo perfeito de consagração total. Sua apresentação no Templo é um convite à fidelidade, à pureza de coração e à confiança absoluta nos planos de Deus.
O Concílio Vaticano II nos recorda que Maria “brilha como modelo de virtudes” (Lumen Gentium, 65). Olhar para a pequena Maria oferecida no Templo é olhar para a humildade, a docilidade e a prontidão em dizer sim. Cada fiel é chamado a viver essa mesma atitude interior, consagrando ao Senhor seus talentos, suas decisões, seu trabalho, sua família e sua própria história.
A Igreja ensina que a consagração é sempre uma resposta ao amor de Deus. Por isso, diante de Maria apresentada no Templo, somos convidados a renovar nossa própria entrega ao Senhor. Como afirma São João Paulo II: “[…] depois de elevada ao céu, Maria não abandonou este papel de salvação, mas com a sua múltipla intercessão, continua a alcançar-nos os dons da salvação eterna” (Redemptoris Mater, 40).
Um mistério que aponta para Cristo
Assim como todas as festas marianas, a apresentação de Nossa Senhora no Templo aponta para Cristo. Nada na vida de Maria é fechado nela mesma. Tudo nela foi preparado para acolher o Filho de Deus e conduzir os fiéis a Ele. O Concílio Vaticano II afirma:
“Cuida, com amor materno, dos irmãos de seu Filho que, entre perigos e angústias, caminham ainda na terra, até chegarem à pátria bem-aventurada. Por isso, a Virgem é invocada na Igreja com os títulos de advogada, auxiliadora, socorro, medianeira” (Lumen Gentium, 62).
Ao contemplar sua apresentação, vemos a preparação silenciosa daquele que seria o Templo vivo entre nós.
Além disso, ao recordar Maria entrando no Templo, somos convidados a lembrar que o verdadeiro Templo é Cristo. Como diz o Evangelho: “Ele falava do templo do seu corpo” (Jo 2,21). A apresentação de Maria antecipa o momento em que o próprio Cristo se apresentará diante do Pai para realizar a salvação da humanidade. Seu gesto aponta para o sacrifício de Jesus, que se ofereceu totalmente por amor.
A mensagem espiritual para hoje
A festa de 21 de novembro tem uma profunda mensagem para os cristãos de hoje. Em um mundo marcado por distrações, ruídos e pressões constantes, Maria nos mostra que o sentido da vida está em entregar tudo ao Senhor. Sua apresentação revela três atitudes essenciais:
1. Pureza de coração
Um coração que pertence a Deus é um coração que busca viver com pureza, verdade e simplicidade. O Catecismo ensina: “Aos ‘puros de coração’ está prometido ver a Deus face a face semelhante a Ele” (CIC 2519). Maria é o espelho dessa pureza.
2. Disponibilidade
Maria foi totalmente disponível ao plano de Deus. Essa abertura é o segredo da verdadeira paz. Lumen Gentium lembra que “avançou a Virgem pelo caminho da fé” (LG 58). A apresentação mostra que esta caminhada começa cedo e continua por toda a vida.
3. Consagração diária
Mais do que um ato isolado, consagrar-se a Deus é renovar diariamente a oferta da própria vida. A festa da apresentação recorda que Maria fez isso desde o começo. O cristão é chamado a fazer o mesmo: colocar Deus no centro de tudo.
A apresentar a vida a Deus com Maria
A celebração da apresentação de Nossa Senhora no Templo é um convite para renovar nossa entrega. Assim como Maria foi oferecida a Deus e respondeu com amor à sua vocação, somos chamados a oferecer cada passo, cada escolha e cada desafio ao Senhor. Contemplar essa festa é permitir que a luz de Maria nos conduza mais profundamente ao coração de Cristo.
Que, ao celebrar este dia, cada fiel possa pedir a graça de viver com o mesmo espírito de pureza, docilidade e fidelidade que marcou a vida da Virgem Santíssima. Que Maria, apresentada no Templo, nos ajude a apresentar ao Senhor toda a nossa vida, hoje e sempre.
Por Thiago Zanetti
Jornalista, copywriter e escritor católico. Graduado em Jornalismo e Mestre em História Social das Relações Políticas, ambos pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). É autor dos livros Mensagens de Fé e Esperança (UICLAP, 2025), Deus é a resposta de nossas vidas (Palavra & Prece, 2012) e O Sagrado: prosas e versos (Flor & Cultura, 2012).
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