ENTENDA O CALENDÁRIO LITÚRGICO DA IGREJA CATÓLICA

por André Aloísio • Comentar


O calendário litúrgico da Igreja Católica é constituído por três anos, cada ano com cinquenta e dois domingos, organizados de tal modo a celebrar as principais etapas da vida de Nosso Senhor Jesus Cristo, especialmente seu nascimento (Natal) e sua morte e ressurreição (Páscoa).

Domingo e Sexta-feira

O domingo é o dia de celebração por excelência, desde a era apostólica (At 20, 7; 1Cor 16, 2), por ser o dia da ressurreição de Cristo (Jo 20, 1. 19. 26). Ele é a Páscoa semanal, dia no qual os fiéis se reúnem para ouvir a Palavra de Cristo especialmente no Evangelho e se alimentar de Cristo na Eucaristia, celebrando sua ressurreição.

Além disso, desde o início da Igreja, como podemos ver no documento cristão do final do século I conhecido como Didaquê, a sexta-feira é um dia de penitência, no qual se faz abstinência de carne semanalmente em recordação da paixão e morte de nosso Senhor, que morreu numa sexta-feira.

Natal e Páscoa

Cada ano litúrgico gira em torno de dois grandes centros: o Natal e a Páscoa, sendo essa última a solenidade mais importante do ano litúrgico. O Natal ou nascimento de Jesus (Lc 2, 1-20) é comemorado em uma data fixa, dia 25 de dezembro, no início do solstício do inverno no hemisfério norte. A partir do solstício do inverno, o Sol fica cada vez mais alto no céu e os dias cada vez mais longos, representando o nascimento do “sol da justiça”, Cristo, “trazendo a cura em suas asas” (Ml 3, 20).

A Páscoa, que comemora a ressurreição do Senhor (Jo 20, 1-9), por outro lado, é celebrada em uma data móvel, no primeiro domingo após a Páscoa judaica, que ocorre na primeira lua cheia após o equinócio da Primavera no hemisfério norte. Assim, o domingo da Páscoa pode cair entre 22 de março e 25 de abril.

Essas duas solenidades são antecedidas e seguidas por períodos com quase a mesma duração.

Ciclo do Natal

O Natal é antecedido pelo Advento, que começa quatro domingos antes do Natal, dando início ao ano litúrgico. O Advento é um período de penitência e de preparação para a vinda de Cristo, utilizando o roxo como cor litúrgica. As duas primeiras semanas são marcadas pela expectativa da segunda vinda de Cristo, enquanto as duas últimas aguardam a sua primeira vinda no Natal. O terceiro domingo do Advento é o “Domingo da Alegria”, onde nos alegramos com a proximidade da chegada de Jesus (Lc 1, 28), e o roxo dá lugar ao rosa na liturgia. Dentro desse período, no dia 8 de dezembro, se celebra com a cor litúrgica branca a solenidade da Imaculada Conceição de Nossa Senhora (Lc 1, 26-38), que consistiu na preservação da Virgem Maria do pecado original, para que estivesse preparada para conceber e dar à luz o próprio Deus.

O Natal é seguido pelo Tempo do Natal, que vai até a festa do Batismo do Senhor, no domingo ou segunda-feira imediatamente após o dia 6 de janeiro. O Natal e o Tempo do Natal têm o branco como cor litúrgica. O período entre o Natal e a solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus (Lc 2, 16-21), uma semana após o Natal, no dia 1º de janeiro, é chamado de Oitava de Natal. Dentro do Tempo do Natal há mais algumas solenidades e festas: festa dos Santos Inocentes (Mt 2, 13-18), no dia 28 de dezembro, única do período com a cor litúrgica vermelha; festa da Sagrada Família (Mt 2, 13-23), no primeiro domingo após o Natal; festa do Santíssimo Nome de Jesus, cerca de oito dias após o Natal, quando Jesus foi circuncidado e recebeu o nome (Lc 2, 21), no dia 3 de janeiro; solenidade da Epifania, que comemora a manifestação de Jesus como Cristo, especialmente aos reis magos (Mt 2, 1-12), no dia 6 de janeiro, que no Brasil é transferida para o domingo mais próximo; e a festa do Batismo do Senhor (Mt 3, 13-17), que encerra o Tempo do Natal. O Advento e o Tempo do Natal formam juntos o Ciclo do Natal.

Existem solenidades e festas fora do Tempo do Natal que estão a ele relacionados: a festa da Natividade de Nossa Senhora (Mt 1, 1-23), no dia 8 de setembro; a solenidade de São José (Mt 1, 16. 18-21. 24), no dia 19 de março; a solenidade da Anunciação do Senhor (Lc 1, 26-38), nove meses antes do Natal, no dia 25 de março; a festa da Visitação da Nossa Senhora (Lc 1, 39-56), no dia 31 de maio; a solenidade da Natividade de São João Batista (Lc 1, 57-66), seis meses antes do Natal (cf. Lc 1, 36), no dia 24 de junho, próximo ao solstício do verão no hemisfério norte, a partir da qual o Sol fica cada vez mais baixo no céu e os dias cada vez mais curtos, até o Natal, lembrando as palavras de São João Batista: “É preciso que ele cresça, e eu diminua” (Jo 3, 30); e a festa da Apresentação do Senhor (Lc 2, 22-40), quarenta dias após o Natal, no dia 2 de fevereiro. Todas elas têm como cor litúrgica o branco.

Ciclo da Páscoa

A Páscoa é antecedida pela Quaresma, que se inicia com a Quarta-Feira de Cinzas, dia de penitência e jejum (Jl 2, 12-18; Mt 6, 1-18), quarenta dias antes da Páscoa, sem contar os domingos, num total de quase sete semanas. Na Bíblia, o número quarenta está bastante associado com a penitência e o jejum. O Dilúvio, que foi um juízo contra o pecado, durou quarenta dias (Gn 7, 17). Moisés ficou quarenta dias sem comer e sem beber, quando recebeu a Lei (Ex 34, 28). Israel caminhou quarenta anos no deserto em penitência pelos seus pecados (Nm 14, 34). Elias caminhou quarenta dias sem comer até o Monte Horeb (1Rs 19, 8). Os ninivitas fizeram penitência por quarenta dias, para que Deus não destruísse sua cidade (Jn 3, 4-10). E, especialmente, o Senhor Jesus jejuou por quarenta dias no deserto (Mt 4, 1-2). Assim, a Quaresma é um período de penitência, em que se recomenda a abstinência de carne, em preparação para a Páscoa. A cor litúrgica desse período é o roxo, mas no quarto domingo da Quaresma utiliza-se o rosa.

O domingo imediatamente antes da Páscoa é o Domingo de Ramos da Paixão do Senhor, em que se recorda tanto a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém (Mt 21, 1-11) quanto sua paixão e morte (Mt 26–27). Sua cor litúrgica é o vermelho. Esse domingo dá início à Semana Santa, a semana mais importante do ano litúrgico. Dentro dessa semana, merecem destaque a bênção feita pelo bispo, na Quinta-feira Santa, dos santos óleos dos Catecúmenos, do Crisma e dos Enfermos, usados nos sacramentos correspondentes, e especialmente o Tríduo Pascal.

O Tríduo Pascal põe fim à Quaresma e prepara mais diretamente para a Páscoa. Ele envolve três momentos. Primeiro, a Missa da Instituição da Eucaristia com a Cerimônia do Lava-Pés (1Co 11, 23-26; Jo 13, 1-15), na noite da Quinta-feira Santa, com a cor litúrgica branca. Depois dessa missa, guarda-se a hóstia consagrada para a Sexta-feira Santa. O segundo momento é a Celebração da Paixão do Senhor, na tarde da Sexta-feira Santa, dia de jejum e penitência, em que se recorda a paixão e morte de Cristo a partir do Evangelho de João (Jo 18–19), com a cor litúrgica vermelha. Esse é o único dia do ano em que não há Eucaristia, apenas comunhão da hóstia consagrada no dia anterior. Os fiéis são convidados a contemplar o Cristo crucificado que morre na cruz. O terceiro momento é a Vigília Pascal, a mãe de todas as vigílias, na noite do Sábado Santo, em que se aguarda a ressurreição de Cristo (Mt 28, 1-10) no Domingo de Páscoa, com a cor litúrgica branca, e em que os catecúmenos recebem o Batismo, a Crisma e a Primeira Comunhão.

A Páscoa é seguida pelo Tempo Pascal, que vai até o Domingo de Pentecostes, cinquenta dias depois da Páscoa, num total de sete semanas. A Páscoa e o Tempo Pascal têm o branco como cor litúrgica. A semana entre o Domingo da Páscoa e o domingo seguinte, o Domingo da Divina Misericórdia (Jo 20, 19-31), é chamada de Oitava da Páscoa. No Tempo Pascal são celebradas a solenidade da Ascensão do Senhor (Lc 24, 46-53), quarenta dias depois da Páscoa, numa quinta-feira, que no Brasil é transferida para o domingo seguinte, com a cor litúrgica branca; e a solenidade de Pentecostes, em que se comemora a descida do Espírito Santo sobre Nossa Senhora e os apóstolos no cenáculo (At 2, 1-11), com a cor litúrgica vermelha. Nos nove dias entre a Quinta-feira da Ascensão e o Domingo de Pentecostes, assim como os discípulos oraram pela vinda do Espírito Santo (At 1, 10-14; 2.1-4), também oramos na Novena de Pentecostes, a mãe de todas as novenas. A Quaresma e o Tempo Pascal formam juntos o Ciclo da Páscoa.

Existem solenidades e festas fora do Tempo Pascal que estão a ele relacionados: a solenidade da Santíssima Trindade (Jo 16, 12-15), no domingo seguinte ao Domingo de Pentecostes; a solenidade de Corpus Christi, que celebra a presença real e substancial de Cristo na Eucaristia (Jo 6, 51-58), na quinta-feira imediatamente após o domingo da Santíssima Trindade; a solenidade do Sagrado Coração de Jesus que celebra o Coração Transpassado na cruz, do qual jorrou sangue e água (Jo 19, 31-37), na segunda sexta-feira após o Corpus Christi; a festa da Transfiguração do Senhor, antecipação da sua glorificação na Páscoa (Lc 9, 28-36), no dia 6 de agosto; a solenidade da Assunção da Nossa Senhora (Ap 11, 19–12, 6. 10), participação na ressurreição de seu Filho, no dia 15 de agosto, que no Brasil é transferida para o domingo seguinte; e a festa da Exaltação da Santa Cruz (Jo 3, 13-17), no dia 14 de setembro. Todas elas têm como cor litúrgica o branco, com exceção da festa da Exaltação da Santa Cruz, cuja cor litúrgica é o vermelho.

Tempo Comum

O tempo litúrgico fora dos Ciclos do Natal e da Páscoa, entre a festa do Batismo do Senhor e o início da Quaresma, e entre o Domingo de Pentecostes e o início do Advento, é chamado de “Tempo Comum” e tem como cor litúrgica o verde. Nesse tempo se celebra, especialmente aos domingos, tudo o que Jesus disse e fez para a nossa salvação.

Além das solenidades e festas já mencionadas, no Tempo Comum temos também a solenidade dos Apóstolos São Pedro e São Paulo, no dia 29 de junho, que no Brasil é transferida para o domingo seguinte, com a cor litúrgica vermelha; a solenidade da Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, no dia 12 de outubro, com a cor litúrgica branca; a solenidade de Todos os Santos, no dia 1º de novembro, que no Brasil é transferida para o domingo seguinte, com a cor litúrgica branca; a Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos, no dia 2 de novembro, com a cor litúrgica preta; e a solenidade do Cristo Rei, no último domingo do ano litúrgico, imediatamente antes do início do Advento, preparando a espera da vinda do Senhor, com a cor litúrgica branca.

Solenidades, Festas, Memórias e Dias de Preceito

No ano litúrgico há solenidades, festas e memórias. As solenidades, já mencionadas neste artigo, são as celebrações de mais alto grau, reservadas aos mistérios mais importantes da fé, relacionados ao Nosso Senhor Jesus Cristo, a Nossa Senhora, a São José e a santos importantes para a história da salvação, como São João Batista, São Pedro e São Paulo.

As festas honram algum mistério ou título de Jesus, de Maria e de anjos e santos particularmente relevantes, como os apóstolos, os evangelistas e outros santos e eventos importantes na Bíblia e na história. Além das festas já mencionadas neste artigo, outras dignas de nota são: Nossa Senhora do Carmo, no dia 16 de julho; Nossa Senhora de Guadalupe, padroeira da América Latina, no dia 12 de dezembro; Arcanjos São Miguel, São Gabriel e São Rafael, no dia 29 de setembro; os Santos Anjos da Guarda, no dia 2 de outubro; a Cátedra de São Pedro, que recorda a autoridade do Papa e de seu Magistério, no dia 22 de fevereiro; e a Dedicação da Basílica de Latrão, a Catedral do Papa, no dia 9 de novembro.

As memórias são geralmente a celebração de um santo, mas podem também celebrar algum aspecto de Jesus ou de Maria. Alguns importantes exemplos são o Imaculado Coração de Maria, no sábado seguinte à solenidade do Sagrado Coração de Jesus; Bem-aventurada Virgem Maria, Mãe da Igreja, no dia 6 de junho; Nossa Senhora Rainha, no dia 22 de agosto; Nossa Senhora das Dores, no dia 15 de setembro; Nossa Senhora do Rosário, no dia 7 de outubro; e a Apresentação de Nossa Senhora, no dia 21 de novembro.

Das solenidades mencionadas neste artigo, são dias de preceito obrigatórios aos católicos todos os domingos do ano, todas as solenidades que caem no domingo e as solenidades de Santa Maria Mãe de Deus, de Corpus Christi, da Imaculada Conceição e do Natal.

Anos A, B e C

O calendário litúrgico é constituído por três anos: A, B e C. No ano A, o Evangelho lido aos domingos é o de São Mateus; no ano B, o de São Marcos; e no ano C, o de São Lucas. O Evangelho de São João é lido em algumas festas e solenidades e, especialmente, no Tempo Pascal. Nos demais dias da semana, todo ano são lidos os três Evangelhos Sinóticos no Tempo Comum, começando por São Marcos, seguido por São Mateus e, então, por São Lucas, e no Tempo do Natal e no Tempo da Páscoa, lê-se o Evangelho de São João.

As leituras são dispostas de tal modo que, a cada três anos, quase a totalidade dos quatro Evangelhos é lida nas missas, além de uma porção substancial do Antigo Testamento e do Novo Testamento.

Conclusão

Por fim, o calendário litúrgico não é apenas uma forma de recordar os eventos principais da história da salvação. Mais do que isso, ele atualiza o mistério de Cristo e os eventos salvíficos, tornando-os presentes e fazendo-nos participantes deles. Como diz o Catecismo da Igreja Católica, no número 1085:

“Na liturgia da Igreja, Cristo significa e realiza principalmente o seu mistério pascal. Durante a sua vida terrena, Jesus anunciava pelo seu ensino e antecipava pelos seus atos o seu mistério pascal. Uma vez chegada a sua ‘Hora’, Jesus vive o único acontecimento da história que não passa jamais: morre, é sepultado, ressuscita de entre os mortos e senta-Se à direita do Pai ‘uma vez por todas’ (Rm 6, 10; Hb 7, 27; 9, 12). É um acontecimento real, ocorrido na nossa história, mas único; todos os outros acontecimentos da história acontecem uma vez e passam, devorados pelo passado. Pelo contrário, o mistério pascal de Cristo não pode ficar somente no passado, já que pela sua morte, Ele destruiu a morte; e tudo o que Cristo é, tudo o que fez e sofreu por todos os homens, participa da eternidade divina, e assim transcende todos os tempos e em todos se torna presente. O acontecimento da cruz e da ressurreição permanece e atrai tudo para a vida”.

Por isso, cantamos no Natal: “Nasceu-nos ‘hoje’ um menino”. Na Quinta-feira Santa, o sacerdote diz na oração eucarística: “Na noite em que ia ser entregue, para padecer pela salvação de todos, isto é, ‘hoje’, ele tomou o pão em suas mãos, elevou os olhos a vós, ó Pai, deu graças e o partiu…”. E no Domingo da Páscoa, cantamos o Sl 117 (118): “’Este’ é o dia que o Senhor fez para nós: alegremo-nos e nele exultemos!”.

Que com esse novo entendimento do calendário litúrgico da Igreja Católica, a sua participação na liturgia seja mais frutuosa, para a glória de Deus e para o bem da sua alma!

Assista também: Tempos Litúrgicos

André Aloísio

Teólogo

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