História
Igreja Católica: A maior instituição de caridade do mundo!
por Guilherme Pavan • Você e mais 864 pessoas leram este artigo Comentar
No início do século IV, o exército do imperador Constantino enfrentava uma realidade dura: fome e doenças devastavam suas fileiras. Entre os soldados, Pacômio, um jovem pagão, observava intrigado algo extraordinário. Alguns companheiros romanos, em vez de focarem apenas na própria sobrevivência, ofereciam comida e assistência a quem precisava, sem distinção ou exigências.
Movido pela curiosidade, Pacômio quis entender quem eram essas pessoas. Descobriu que eram cristãos. Mas que religião era essa, capaz de inspirar tamanha generosidade e humanidade? Admirado, ele buscou conhecer mais sobre a fé que movia aqueles homens e mulheres. Antes que percebesse, sua jornada de aprendizado transformava-se em um caminho de conversão.
Esse espírito de assombro que tocou Pacômio continuou a inspirar obras de caridade católicas ao longo dos séculos. Curiosamente, até mesmo Voltaire, o mais famoso crítico da Igreja no século XVIII, reconheceu o heroísmo da caridade católica. Ele afirmou:
“Talvez não haja nada maior na terra que o sacrifício da juventude e da beleza com que belas jovens, muitas vezes nascidas em berço de ouro, se dedicam a trabalhar em hospitais pelo alívio da miséria humana, cuja vista causa tanta aversão à nossa sensibilidade.”
De fato, seria impossível listar todas as obras de caridade promovidas pela Igreja Católica ao longo da história. No entanto, podemos afirmar com segurança que a caridade católica não encontra paralelo. Em quantidade, variedade e impacto no alívio do sofrimento humano, a Igreja estabeleceu um modelo sem precedentes no Ocidente. Mais do que isso: foi a Igreja Católica que moldou a ideia de caridade como a entendemos hoje.
Nos tempos antigos, atos de generosidade raramente eram desinteressados. Edifícios construídos pelos ricos ostentavam seus nomes; as doações buscavam colocar os beneficiários em dívida com os doadores ou serviam como autopromoção. O conceito de servir aos necessitados com alegria e sem esperar nada em troca era praticamente inexistente.
William Lecky, um crítico da Igreja, resumiu bem essa realidade:
“Não se pode sustentar, nem na prática, nem na teoria, nem nas instituições fundadas, que a caridade ocupasse na Antiguidade um lugar comparável àquele que atingiu no cristianismo. Quase todo o socorro era prestado pelo Estado, muito mais por razões políticas do que por sentimentos de benevolência.”
O espírito de caridade que floresceu na Igreja nasceu dos ensinamentos de Cristo, cuja vida foi um testemunho de amor incondicional.
Neste artigo, veremos como a caridade católica não apenas mudou vidas, mas transformou o mundo.
OS POBRES E OS DOENTES:
Desde os primeiros séculos, a Igreja Católica assumiu a missão de cuidar dos pobres e dos doentes, um testemunho concreto do amor cristão. Essa prática de caridade floresceu de forma extraordinária, transformando a sociedade da época.
Os cristãos primitivos, que jejuavam frequentemente, tinham o hábito de doar aos pobres o dinheiro economizado com a comida. São Justino Mártir narra que muitos, antes apegados às riquezas, agora sacrificavam com alegria seus bens em favor dos necessitados.
Os Padres da Igreja, conhecidos por suas vastas obras escritas, também se dedicaram pessoalmente ao próximo. Santo Agostinho fundou uma hospedaria para peregrinos e escravos fugitivos, distribuindo roupas aos pobres. São João Crisóstomo construiu hospitais em Constantinopla. São Cipriano e Santo Efrém destacaram-se na organização de socorro durante períodos de fome e epidemias.
A atenção aos mais vulneráveis, como viúvas, órfãos e enfermos, foi institucionalizada pela Igreja primitiva. Durante as pestes que devastaram Cartago e Alexandria no século III, os cristãos foram admirados por sua coragem ao cuidar dos doentes e enterrar os mortos, enquanto muitos pagãos abandonavam até mesmo seus amigos mais próximos.
São Cipriano, bispo de Cartago, repreendeu os pagãos que, em vez de ajudarem as vítimas da praga, saqueavam seus bens após a morte. Ele afirmou:
“Não demonstrais nenhuma compaixão pelos doentes, mas tão somente ambição e roubo depois que morrem. Aqueles que fogem de enterrar os mortos mostram-se ambiciosos pelo que eles deixaram.”
Mesmo perseguidos, os cristãos eram exortados a ajudar até os que os maltratavam. São Cipriano lembrava:
“Se só fizermos o bem aos que nos fazem o bem, que faremos mais do que os pagãos e publicanos? Se somos filhos de Deus, que faz brilhar o sol sobre bons e maus, provemo-lo pelos nossos atos, bendizendo os que nos amaldiçoam e fazendo o bem aos que nos perseguem.”
Em Alexandria, o bispo Dionísio relatou que os pagãos abandonavam amigos doentes e deixavam corpos insepultos nas ruas. Em contraste, os cristãos cuidavam uns dos outros com dedicação heroica, assumindo os sofrimentos alheios sem temor.
Santo Efrém tornou-se exemplo de liderança e compaixão durante a fome e a peste em Edessa. Ele organizou esmolas, fundou hospitais e cuidou pessoalmente dos doentes e mortos, sendo lembrado por sua coragem e abnegação.
Eusébio, historiador do século IV, registrou como o testemunho dos cristãos atraía muitos pagãos para a fé. Até mesmo Juliano, o Apóstata, inimigo declarado do cristianismo, lamentou:
“Esses ímpios galileus não alimentam apenas os seus próprios pobres, mas também os nossos; dando-lhes as boas-vindas, atraem-nos como crianças a um doce.”
OS PRIMEIROS HOSPITAIS:
O surgimento dos primeiros hospitais, como os conhecemos hoje, deve muito à Igreja Católica. Antes do cristianismo, instituições destinadas a cuidar de doentes e necessitados eram praticamente inexistentes. Embora se discuta a existência de estruturas semelhantes na Cilícia ou em Roma, muitos historiadores concordam que esses locais, quando existiam, atendiam principalmente soldados doentes ou feridos, e não o público em geral.
A verdadeira revolução veio com a Igreja. No século IV, começaram a surgir instituições médicas organizadas, patrocinadas pela Igreja, onde diagnósticos eram realizados, remédios prescritos, e enfermeiros treinados cuidavam dos pacientes. Essas iniciativas se espalharam rapidamente, tornando os hospitais uma presença comum nas principais cidades.
Inicialmente, esses hospitais ofereciam hospedagem a estrangeiros, mas logo ampliaram sua missão para cuidar de doentes, órfãos, viúvas e pobres. Fielding Garrison, historiador da medicina, observa que, antes de Cristo, o tratamento da doença era marcado pela falta de compaixão. Segundo ele, “cabe ao cristianismo o crédito pela solicitude em atender o sofrimento humano em larga escala.”
Um exemplo notável é Fabíola, uma cristã penitente que fundou o primeiro grande hospital público em Roma. Ela buscava nas ruas os mais pobres e enfermos para oferecer-lhes cuidado e dignidade. Já São Basílio Magno, no mesmo período, criou um hospital em Cesaréia, onde pessoalmente abraçava e cuidava de leprosos, transcendendo preconceitos com profunda compaixão.
Após a queda do Império Romano, os mosteiros assumiram um papel crucial no atendimento médico. Organizados e localizados estrategicamente, tornaram-se oásis de ordem e piedade em uma Europa desorganizada. Durante o período clássico da medicina monástica (séculos V a X), eles não apenas cuidavam dos doentes, mas também preservavam e transmitiam o conhecimento médico da Antiguidade. No renascimento carolíngio, por volta do século IX, os mosteiros despontaram como centros de estudo e ensino de textos médicos antigos.
Durante as Cruzadas, as ordens militares continuaram essa missão. A Ordem dos Cavaleiros de São João, por exemplo, fundou em Jerusalém, por volta de 1080, um hospital monumental que atendia milhares de pessoas. Teodorico de Würzburg, peregrino alemão, relatou ao visitar o hospital:
“Andando pelas dependências do hospital, não conseguíamos de modo algum avaliar o número de pessoas que lá estavam, pois eram milhares as camas que víamos. Nenhum rei ou tirano teria poder suficiente para manter o grande número de pessoas alimentadas diariamente naquela casa.”
Com o tempo, esses hospitais se especializaram no cuidado aos doentes, diferenciando-se das hospedarias para peregrinos. Sua sofisticação inspirou a construção de hospitais por toda a Europa, tanto em grandes cidades quanto em pequenas aldeias, com padrões de organização e atendimento excepcionais.
Embora raramente mencionado nos livros de história, é inegável que a Igreja Católica revolucionou a caridade. Nunca antes se gastou tanto em esmolas ou se realizaram tantas doações para fins caritativos. O surgimento dessas instituições marcou o início de um cuidado organizado e compassivo com os mais vulneráveis, que continua a inspirar o mundo até hoje.
A MAIOR INSTITUIÇÃO DE CARIDADE DO MUNDO:
Atualmente, a Igreja Católica permanece como a maior instituição de caridade do mundo, impactando milhões de vidas com obras de amor e compaixão. Os dados de 2017 mostram o impressionante alcance global da caridade católica:
- 5.000 hospitais
- 16.000 dispensários
- 500 hospitais para leprosos
- 15.000 lares para idosos e deficientes
- 10.000 orfanatos
- 10.000 jardins de infância
- 13.000 centros de aconselhamento matrimonial
- 3.000 centros de reabilitação social
- 31.000 outras instituições de assistência
No Brasil, as Santas Casas de Misericórdia e outros hospitais católicos são fundamentais para a saúde pública. Das 2.172 instituições sem fins lucrativos, 1.704 atendem diretamente ao SUS, representando mais de 51% dos atendimentos e 60% dos procedimentos de alta complexidade. Em 2018, essas instituições realizaram cerca de 300 milhões de atendimentos ambulatoriais, incluindo consultas, exames e tratamentos como hemodiálise. Inspirados pela Doutrina Social da Igreja, esses hospitais oferecem não apenas cuidados médicos, mas também acolhimento e dignidade aos mais necessitados.
Apesar de sua importância, desafios financeiros ameaçam a missão dessas instituições, especialmente em países como os Estados Unidos, onde a gestão muitas vezes adota um enfoque empresarial. Para combater isso, o Papa Francisco criou a “Fundação Católica para a Saúde”, oferecendo suporte às estruturas em dificuldade. Em sua mensagem para a Jornada Mundial do Enfermo, o Papa reforçou que os hospitais católicos devem priorizar o cuidado humano acima do lucro, promovendo uma cultura de gratuidade e caridade, seguindo o exemplo do Bom Samaritano. Assim, a Igreja trabalha para que essas instituições continuem sendo faróis de esperança, guiados pelo amor ao próximo.
Na educação, o impacto da Igreja também é expressivo:
- 71.000 creches, atendendo 7 milhões de crianças
- 100.000 escolas primárias, com 35 milhões de estudantes
- 49.000 escolas secundárias, educando 20 milhões de jovens
Além disso, a Igreja acompanha 2 milhões de estudantes do ensino médio e 3 milhões de universitários.
Outro dado impressionante: cerca de 25% das pessoas com HIV no mundo recebem atendimento em alguma instituição ligada à Igreja Católica.
Mesmo com esses números, é impossível resumir em um único artigo tudo o que a Igreja realiza globalmente. Suas obras vão além das estatísticas, incluindo:
- O trabalho incansável dos santos e santas ao longo da história, que dedicaram suas vidas ao próximo.
- As mais de 220.000 paróquias ao redor do mundo, cada uma com seus próprios projetos de caridade, muitas vezes discretos, mas impactantes.
- A atuação das ordens religiosas, como franciscanos e carmelitas, em áreas de extrema necessidade.
- As doações anuais de centenas de milhares de dólares feitas pelo Papa, especialmente para vítimas de guerras e desastres naturais.
RIQUEZAS DO VATICANO
Muitas vezes ouvimos a pergunta: “Por que a Igreja não vende as riquezas do Vaticano para resolver a pobreza no mundo?” A resposta é simples: o que muitos veem como “riquezas” são, na verdade, patrimônios históricos e culturais acumulados ao longo de dois mil anos, como obras de arte e monumentos.
Esses bens pertencem à humanidade e não podem ser vendidos. Além disso, sua manutenção exige altos custos e equipes especializadas, não gerando lucro direto para a Igreja.
O Vaticano não é tão rico quanto muitos imaginam. Apesar de seu patrimônio, enfrenta déficits financeiros recorrentes. Nos últimos cinco anos, por exemplo, acumulou um déficit total de aproximadamente 155 milhões de euros, sendo socorrido por outras dioceses ao redor do mundo.
O verdadeiro tesouro da Igreja está em sua missão: ela é a maior instituição de caridade do mundo. Sua maior riqueza não está em bens materiais, mas na fé e na dedicação ao próximo. Como São Lourenço disse ao apresentar os pobres e necessitados: “Esta é a verdadeira riqueza da Igreja.” Não se trata de acumular bens, mas de utilizá-los para transformar vidas e levar o amor de Cristo ao mundo.
Por isso, a Igreja Católica permanece como um testemunho vivo do amor de Cristo, presente no cuidado aos mais necessitados em todos os cantos do mundo.
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