O NATAL SE AVIZINHA: O QUE É SER POBRE EM ESPÍRITO?
“Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus!” (Mt 5, 3). Na ocasião em que Nosso Senhor nos transmitiu as bem-aventuranças, ele fez essa contundente afirmação, que tem estreita relação com a passagem do “Moço Rico”, aquele que se negou a deixar tudo o que tinha, dar aos pobres e seguir a Jesus. Na ocasião, Cristo afirmou que é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha, que um rico entrar no Reino dos Céus (Mt 16, 26). Muita gente vê nisso uma condenação às riquezas materiais, no entanto, se assim fosse, Cristo também teria condenado a Lázaro, seu amigo e discípulo, que tinha muitas posses. E Abraão, o grande patriarca do povo eleito, não teria sido um exemplo de justo, mas de infiel.
Na verdade, a questão envolve o apego às coisas terrenas. Deus não condena os bens materiais em si, mas a falta de desprendimento deles. Por isso Nosso Senhor afirmou que não é possível servir a dois senhores (Mt 6, 24). É preciso ter presente que existe uma diferença entre ter espírito pobre e ser pobre em espírito. Quem tem apego à matéria tem um espírito pobre, mas quem tem desprendimento das coisas do mundo, pelo contrário, é pobre em espírito.
Essa bem-aventurança também envolve as virtudes da humildade e simplicidade, que devem permear o espírito de todo cristão, mesmo que seja possuidor de riquezas e de um elevado cargo, a exemplo de São Luís IX e Santa Isabel da Hungria.
Estamos nos aproximando do Natal, festa magna da cristandade. Momento propício para refletirmos sobre o Verbo encarnado, Cristo, Nosso Senhor, modelo máximo de pobreza em espírito. Embora fosse Deus, portanto de majestade infinita e criador de todas as coisas, fez-se homem, veio ao mundo através de uma Virgem e nasceu numa singela manjedoura.
Viveu na simplicidade da Sagrada Família, sem qualquer tipo de luxo, qualquer tipo de fausto. O pai adotivo, embora fosse príncipe da Casa de Davi, trabalhava como carpinteiro, a mãe, embora fosse a Rainha dos Céus e da Terra, vivia como dona de casa. Viveu pobremente até a sua morte, decretada de maneira infame pelos homens, por aqueles a quem viveu e morreu. Não resistiu à prisão, não protestou, não se defendeu, não se revoltou. Como um cordeiro, deixou-se abater para nos salvar. “Sendo ele de condição divina, não se prevaleceu de sua igualdade com Deus, mas aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-se aos homens. E, sendo exteriormente reconhecido como homem, humilhou-se ainda mais, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz. Por isso Deus o exaltou soberanamente e lhe outorgou o nome que está acima de todos os nomes, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho no Céu, na Terra e nos infernos. E toda língua confesse, para a glória de Deus Pai, que Jesus Cristo é Senhor.” (Fl 2, 6-11).
Marcos A. Fiorito
Teólogo e historiador
(Autoriza-se reprodução do artigo com citação da fonte e autor.)
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