Será que esse sonho é realmente de Deus… ou seu?

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Certa vez participei de um processo seletivo para um doutorado e não passei por meio ponto.

Mas vamos dar um passo atrás. Antes de realizar a prova, existe a etapa da decisão de realizar a prova. Antes da etapa de realização de qualquer coisa na vida, existe a etapa do “faço ou não faço isso?”, “realizo ou não realizo isso?”.

E, nesta etapa, eu não tinha consultado a Deus. Não rezei, não entreguei. Simplesmente fui tentar o doutorado, que era um sonho para mim.

Acontece que muitas pessoas tomam uma decisão na vida sem antes perguntar a Deus se é do agrado d’Ele tal empreendimento, tal feito, tal escolha, tal decisão. Simplesmente — e erradamente — as pessoas vão fazendo as coisas sem pedir permissão a Deus — e, em casos mais sérios, empreendem, por exemplo, no matrimônio com determinadas pessoas. E, quando o matrimônio desmorona, acaba, vira um caos, as pessoas se perguntam o porquê de ter dado tudo errado.

Essa nossa atitude desarrazoada de tomar a frente de Deus nós fazemos em tudo, em atos simples ou em atos mais sérios e complexos como o matrimônio.

Muitos dizem “Meu Deus, por que isso não deu certo?”, mas não perguntam a Deus se era para seguir adiante naquele caminho. E, mesmo que desse “certo”, teria dado certo para o ego da pessoa, para a sua vontade, e ela não estaria fazendo a vontade de Deus. Jesus nos ensinou em tudo a fazer a vontade do Pai que está nos céus: “Seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu” (Mt 6,10).

Voltemos à minha prova de doutorado. Imprudente, tentei o doutorado sem pedir permissão a Deus.

Eu estava confiante de que iria passar. Desenvolvi um pré-projeto relativamente bom, tinha uma boa tese a ser comprovada. Fiz a prova e fiquei aguardando o resultado. Em vez de rezar assim: “Senhor, seja feita a sua vontade”, eu, descaradamente, conversava com Deus assim: “Olha, Deus, que grande oportunidade estou tendo na minha vida. Imagina eu com um título de doutor. Imagina? Abençoe essa prova, abençoe tudo que eu fiz e me conceda uma vaga no meu tão sonhado doutorado!”.

Quanta petulância a minha. Na maior cara de pau, eu colocava Deus na parede e dizia “meu tão sonhado”. Mas, pera lá (como falava meu avô), esse era o sonho de Deus para mim?

Essa minha oração não era uma oração de entrega verdadeira, mas uma oração querendo moldar, ditar, conduzir, impor o meu querer a Deus.

Quem entrega a Deus, entrega — e aguarda, confiança e aceita seja qual for o resultado.

Eu não estou dizendo que Deus não queria que eu tivesse um doutorado; pode ser que sim, ou pode ser que não — não sei qual é o plano d’Ele na minha vida nesse sentido hoje.

Muitas vezes a questão não é “o quê”. Deus até pode estar de acordo com o seu “o quê”: como aquele emprego, aquela pessoa, aquela viagem, aquela mudança de emprego, aquela promoção na empresa, aquela mudança de casa para um outro endereço, enfim — mas a questão está no “quando”.

Hoje, posso te dizer — e digo a duras penas — eu só quero o que Deus quer para mim.

Essa imposição a Deus, de que Ele realize o meu querer, não se limitou à prova de doutorado. Já tive muitas atitudes assim ao longo da minha vida. Já clamei a Deus para que não me tirasse de determinado emprego; já supliquei a Ele que me desse outro. Perda de tempo! Não é assim que devemos nos dirigir a Deus. Devemos, sim, sonhar, fazer planos — mas com os sonhos e os planos de Deus. Uma frase da grande doutora da Igreja, Santa Teresinha do Menino Jesus, diz: “Deus sempre me fez desejar o que queria me dar.” Que possamos viver assim.

Pode aparecer uma oportunidade de trabalhar na Amazon, na Meta, no Google, na minha área de formação, mas, se Deus não me quiser lá, eu não quero!

Isso não nos anula a sonhar, a fazer projeções, a estudar, a empreender, mas temos que fazer tudo colocando Deus na frente e como prioridade.

“Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo” (Mt 6,33).

Coloque a sua vida, os seus sonhos, tudo que você possui nas mãos de Deus, que Ele saberá te dar aquilo que você mais precisa e não sabia que precisava.

Por Thiago Zanetti
Jornalista, copywriter e escritor católico. Graduado em Jornalismo e Mestre em História Social das Relações Políticas, ambos pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). É autor dos livros Mensagens de Fé e Esperança (UICLAP, 2025), Deus é a resposta de nossas vidas (Palavra & Prece, 2012) e O Sagrado: prosas e versos (Flor & Cultura, 2012).
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