Catecismo
Por que o católico venera os santos?
por Thiago Zanetti • Você e mais 543 pessoas leram este artigo Comentar
A Igreja Católica ensina que a veneração dos santos é uma prática fundamentada nas Escrituras Sagradas, na Tradição Apostólica e no ensinamento do Magistério da Igreja. Muitas vezes, há confusão sobre a diferença entre adoração e veneração, sendo crucial esclarecer esse aspecto à luz dos ensinamentos católicos.
A Distinção entre Adoração e Veneração
A adoração (“latria”) é devida somente a Deus. Como ensina o Catecismo da Igreja Católica (CIC, n. 2096), “a adoração é o primeiro ato da virtude da religião. Adorar a Deus é reconhecê-lo como Senhor e Criador”. Por outro lado, a veneração (“dulia”) é o respeito e a honra prestados aos santos, reconhecendo-os como modelos de vida cristã e intercessores junto a Deus.
A Igreja ainda distingue um tipo especial de veneração dedicada à Virgem Maria, chamada de “hiperdulia”, que está acima da veneração dos outros santos, mas ainda assim abaixo da adoração devida exclusivamente a Deus (CIC, n. 971).
Fundamentos Bíblicos da Veneração dos Santos
A Sagrada Escritura fornece diversas passagens que fundamentam a prática da veneração dos santos. O livro de Hebreus apresenta uma verdadeira “galeria da fé” ao citar exemplos de personagens bíblicos que viveram segundo a vontade de Deus (Hb 11). A Igreja entende que essas testemunhas nos inspiram e nos incentivam a perseverar na fé: “Estamos rodeados de uma nuvem tão grande de testemunhas” (Hb 12,1).
Além disso, o próprio Deus exalta aqueles que foram fiéis a Ele, como demonstrado em Números 12,6-8 e no Salmo 116,15: “Preciosa é aos olhos do Senhor a morte dos seus fiéis.”
Os santos também intercedem por nós junto a Deus, conforme vemos em passagens como Apocalipse 5,8 e 8,3-4, que descrevem os santos no céu oferecendo as orações dos fiéis na terra diante do trono de Deus.
O Testemunho da Tradição da Igreja
Desde os primeiros séculos do cristianismo, os cristãos veneravam os santos e preservavam suas relíquias. Os Padres da Igreja, como Santo Agostinho e São Jerônimo, destacaram a importância de honrar os santos por seu exemplo e intercessão.
Santo Agostinho escreveu: “Não edificamos altares aos mártires como se fossem deuses, mas como memoriais daqueles que deram testemunho de Cristo.” (Contra Fausto, XX, 21)
O Concílio de Trento (1545-1563), reafirmou essa prática, afirmando que a intercessão dos santos é benéfica para os fiéis e que as imagens dos santos podem ser veneradas para incentivar a piedade e a imitação de suas virtudes.
“Os santos que reinam agora com Cristo, oram a Deus pelos homens. É bom e proveitoso invocá-los suplicantemente e recorrer às suas orações e intercessões, para que vos obtenham benefícios de Deus, por Nosso Senhor Jesus Cristo, único Redentor e Salvador nosso. São ímpios os que negam que se devam invocar os santos que já gozam da eterna felicidade no céu. Os que afirmam que eles não oram pelos homens, os que declaram que lhes pedir por cada um de nós em particular é idolatria, repugna a palavra de Deus e se opõe à honra de Jesus Cristo, único Mediador entre Deus e os homens (1 Tm 2,5)” (Concílio de Trento, 1545-1563, 25ª Sessão).
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O Magistério da Igreja
O Catecismo da Igreja Católica reforça a importância da comunhão dos santos (CIC, n. 957), explicando que os fiéis na terra, as almas do purgatório e os santos no céu estão unidos em Cristo. Assim, a Igreja ensina que podemos pedir a intercessão dos santos da mesma forma que pedimos orações uns pelos outros aqui na terra.
“Veneramos a memória dos habitantes do céu não somente a título de exemplo; fazemo-lo ainda mais para corroborar a união de toda a Igreja no Espírito Santo (…) assim, como a comunhão entre os cristãos da terra nos aproxima de Cristo, da mesma forma o consórcio com os santos nos une a Cristo” (CIC. § 957).
O Concílio Vaticano II, na Constituição Dogmática Lumen Gentium (n. 50), destaca:
“os apóstolos e mártires de Cristo que, derramando o próprio sangue, deram o supremo testemunho de fé e de caridade, sempre a Igreja acreditou estarem mais ligados conosco em Cristo, os venerou com particular afeto, juntamente com a Bem-aventurada Virgem Maria e os santos Anjos e implorou o auxílio da sua intercessão”.
Diz ainda o documento:
(…) «lhes dirijamos as nossas súplicas e recorramos às suas orações, ajuda e patrocínio, para obter de Deus os benefícios, por Seu Filho Jesus Cristo, Nosso Senhor e Redentor e Salvador único» (160) Porque todo o genuíno testemunho de veneração que prestamos aos santos, tende e leva, por sua mesma natureza, a Cristo, que é a «coroa de todos os santos» (161) e, por Ele, a Deus, que é admirável nos seus santos e neles é glorificado. (n. 50)
Como os Católicos Veneram os Santos
A veneração dos santos se manifesta de diversas formas na vida da Igreja, como:
- O culto das relíquias: Preserva-se objetos ou partes do corpo dos santos, conforme a tradição apostólica, como mencionado em Atos 19,11-12.
- As imagens e ícones: Estes não são adorados, mas servem como recordação e inspiração.
- As festas litúrgicas: A Igreja celebra a memória dos santos em seu calendário litúrgico.
- A devoção pessoal: Muitos fiéis têm uma relação próxima com os santos através de novenas, ladainhas e orações especiais.
A veneração dos santos é uma expressão do reconhecimento da ação de Deus na vida deles e um testemunho da esperança cristã. Eles são amigos e intercessores, apontando o caminho para Cristo. Como ensina a Igreja, honrar os santos é honrar o próprio Deus, que é maravilhoso em seus servos fiéis (Sl 68,35).
Que possamos seguir o exemplo dos santos, vivendo com fé e esperança, buscando a santidade em nosso dia a dia.
Por Thiago Zanetti
Jornalista, copywriter e escritor católico. Graduado em Jornalismo e Mestre em História Social das Relações Políticas, ambos pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). É autor dos livros Deus é a resposta de nossas vidas (Palavra & Prece, 2012) e O Sagrado: prosas e versos (Flor & Cultura, 2012).
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