Doutrina Católica

Se Deus é bom, por que existe sofrimento?

por Thiago Zanetti em 01/08/2025 • Você e mais 169 pessoas leram este artigo Comentar


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Tempo de leitura: 5 minutos

Essa pergunta ecoa há séculos nos corações humanos. Diante da dor de uma perda, de uma enfermidade ou de uma tragédia inexplicável, muitos se perguntam: “Se Deus é bom e todo-poderoso, por que Ele permite o sofrimento?”

Essa não é apenas uma questão filosófica — é uma ferida existencial. Por isso, a fé cristã não ignora essa dor. Ela a encara de frente. E oferece, não uma resposta simplista, mas um caminho de sentido e esperança.

1. Deus não criou o sofrimento

A primeira verdade fundamental é esta: Deus não criou o mal nem o sofrimento.

Segundo o Catecismo da Igreja Católica, “Deus é infinitamente bom e todas as suas obras são boas” (n. 385). A origem do mal não está em Deus, mas na liberdade mal usada das criaturas, especialmente do ser humano e dos anjos caídos.

“Deus quis criar um mundo ‘em estado de caminhada’ para sua perfeição última” (CIC, 310).

“Pois Deus todo-poderoso…, por ser soberanamente bom, nunca deixaria qualquer mal existir em suas obras se não fosse bastante poderoso e bom para fazer resultar o bem do próprio mal.” (Santo Agostinho, citado no Catecismo da Igreja Católica, n. 311).

Em outras palavras, o sofrimento entrou no mundo com o pecado original (cf. Rm 5,12). A desordem que sentimos na alma e no corpo é consequência de uma criação ferida pela rejeição ao Criador.

2. A cruz não é o fim da história

Dizer que o sofrimento existe por causa do pecado não significa que cada dor pessoal seja punição direta. Jesus desmentiu essa ideia ao curar o cego de nascença:

“Nem ele, nem seus pais pecaram, mas é para uma ocasião para que se manifestem nele as obras de Deus.” (Jo 9,3)

A dor, no mistério da cruz, ganha novo sentido. Cristo não fugiu do sofrimento: Ele o assumiu.

“Por suas chagas fomos curados.” (Is 53,5) 

“Cristo padeceu por vós, deixando-vos exemplo para que sigais os seus passos.” (1Pd 2,21)

Deus não explica o sofrimento com palavras — Ele responde com a cruz. Na cruz, o sofrimento humano foi redimido. E, com a Ressurreição, ficou claro: o mal e a dor não têm a última palavra.

3. A liberdade implica riscos

Um dos maiores dons que Deus concedeu ao homem é a liberdade. Mas essa liberdade implica o risco do erro e da dor.

“Deus criou o homem dotado de razão e lhe conferiu a dignidade de uma pessoa agraciada com a iniciativa e o domínio de seus atos. ‘Deus deixou o homem nas mãos de sua própria decisão’ (Eclo 15,14), para que pudesse ele mesmo procurar seu Criador e, aderindo livremente a Ele, chegar à plena e feliz perfeição” (CIC, 1730).

Deus poderia ter criado um mundo em que ninguém sofresse, mas esse mundo não teria amor verdadeiro. Pois o amor só existe onde há liberdade.

Portanto, o sofrimento não prova a ausência de Deus, mas sim a seriedade com que Ele leva a nossa liberdade.

4. Deus sofre conosco

O Deus cristão não é indiferente à dor humana. Ele se fez carne, chorou, suou sangue, foi traído, torturado e crucificado.

“Jesus chorou.” (Jo 11,35)

Nenhuma outra religião afirma isso: que o próprio Deus entrou no nosso sofrimento. Por isso, quando sofremos, não estamos sós. Ele sofre conosco e por nós. E, mesmo quando não sentimos, Ele está presente.

“Ainda que atravesse o vale escuro, nada temerei, pois estais comigo.” (Sl 23,4)

5. O sofrimento pode gerar frutos eternos

Embora nunca desejado por si mesmo, o sofrimento pode ser ocasião de crescimento, purificação e santificação.

“Sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus.” (Rm 8,28).

Na vida dos santos, vemos isso com clareza. Muitos transformaram suas cruzes em ofertas de amor, e descobriram que o sofrimento vivido com fé gera frutos de salvação — próprios e dos outros.

“Completo, na minha carne, o que falta às tribulações de Cristo, em favor do seu Corpo, que é a Igreja.” (Cl 1,24)

Essa não é uma glorificação da dor, mas uma redenção da dor. Ela pode ser unida ao sacrifício de Cristo e transformada em bênção.

6. O sofrimento não é eterno

No final, Deus enxugará toda lágrima. Essa é a promessa do Apocalipse:

“Ele enxugará toda lágrima dos seus olhos. A morte não existirá mais, e não haverá mais luto, nem grito, nem dor, porque as coisas anteriores passaram.” (Ap 21,4)

A fé cristã aponta para um novo céu e uma nova terra, onde “já não haverá maldição alguma” (cf. Ap 22,3). Essa esperança escatológica não elimina a dor presente, mas dá sentido e direção a ela.

O amor vence a dor

Perguntar “por que Deus permite o sofrimento?” é legítimo. Mas, à luz da fé, essa pergunta se transforma: “Como posso viver esse sofrimento com Ele?”

Deus não quer o sofrimento. Mas permite-o para nos salvar — e para que, mesmo no meio da dor, possamos amá-Lo livremente.

A cruz, que parecia o fim, tornou-se o símbolo da vitória. E, com Cristo, toda dor pode se tornar caminho de redenção.

Thiago Zanetti

Por Thiago Zanetti
Jornalista, copywriter e escritor católico. Graduado em Jornalismo e Mestre em História Social das Relações Políticas, ambos pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). É autor dos livros Mensagens de Fé e Esperança (UICLAP, 2025), Deus é a resposta de nossas vidas (Palavra & Prece, 2012) e O Sagrado: prosas e versos (Flor & Cultura, 2012).
Acesse o Blog: www.thiagozanetti.com.br
Siga-o no Instagram: @thiagoz.escritor




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