São Bernardo, Abade e Doutor da Igreja, Memória
Antífona de entrada
Vernáculo:
Os pensamentos que me ocupam, Senhor, estão sempre diante de Vós. Senhor, Vós sois o meu auxílio e o meu Redentor. Sl. Os Céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia a grandeza das suas obras. (Cf. MRQ: Sl 18, 15 e 2)
Coleta
Ó Deus, fizestes do abade São Bernardo, inflamado de zelo por vossa casa, uma luz que brilha e arde na Igreja; concedei-nos, por sua intercessão, que, fervorosos no mesmo espírito, caminhemos sempre como filhos e filhas da luz. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus, e convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos.
Primeira Leitura — Jz 9, 6-15
Leitura do Livro dos Juízes
Naquele tempo, 6todos os habitantes de Siquém e os de Bet-Melo se reuniram junto a um carvalho que havia em Siquém e proclamaram rei a Abimelec. 7Informado disso, Joatão foi postar-se no cume do monte Garizim e se pôs a gritar em alta voz, dizendo: “Ouvi-me, moradores de Siquém, e que Deus vos ouça.
8Certa vez, as árvores resolveram ungir um rei para reinar sobre elas, e disseram à oliveira: ‘Reina sobre nós’. 9Mas ela respondeu: ‘Iria eu renunciar ao meu azeite, com que se honram os deuses e os homens, para me balançar acima das árvores?’
10Então as árvores disseram à figueira: ‘Vem e reina sobre nós’. 11E ela lhes respondeu: ‘Iria eu renunciar à minha doçura e aos saborosos frutos, para me balançar acima das outras árvores?’
12As árvores disseram então à videira: ‘Vem e reina sobre nós’. 13E ela lhes respondeu: ‘Iria eu renunciar ao meu vinho, que alegra os deuses e os homens, para me balançar acima das outras árvores?’
14Por fim, todas as árvores disseram ao espinheiro: ‘Vem tu reinar sobre nós’. 15O espinheiro respondeu-lhes: ‘Se deveras me constituís vosso rei, vinde e repousai à minha sombra; mas se não o quereis, saia fogo do espinheiro e devore os cedros do Líbano!’”
— Palavra do Senhor.
— Graças a Deus.
Salmo Responsorial — Sl 20(21), 2-3. 4-5. 6-7 (R. 2a)
℟. Ó Senhor, em vossa força o rei se alegra.
— Ó Senhor, em vossa força o rei se alegra; quanto exulta de alegria em vosso auxílio! O que sonhou seu coração, lhe concedestes; não recusastes os pedidos de seus lábios. ℟.
— Com bênção generosa o preparastes; de ouro puro coroastes sua fronte. A vida ele pediu e vós lhe destes, longos dias, vida longa pelos séculos. ℟.
— É grande a sua glória em vosso auxílio; de esplendor e majestade o revestistes. Transformastes o seu nome numa bênção, e o cobristes de alegria em vossa face. ℟.
℣. A palavra do Senhor é viva e eficaz: ela julga os pensamentos e as intenções do coração. (Hb 4, 12) ℟.
Evangelho — Mt 20, 1-16a
℣. O Senhor esteja convosco.
℟. Ele está no meio de nós.
℣. Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo ✠ segundo Mateus
℟. Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos esta parábola: 1“O Reino dos Céus é como a história do patrão que saiu de madrugada para contratar trabalhadores para a sua vinha. 2Combinou com os trabalhadores uma moeda de prata por dia, e os mandou para a vinha. 3Às nove horas da manhã, o patrão saiu de novo, viu outros que estavam na praça, desocupados, 4e lhes disse: ‘Ide também vós para a minha vinha! E eu vos pagarei o que for justo’. 5E eles foram. O patrão saiu de novo ao meio-dia e às três horas da tarde, e fez a mesma coisa. 6Saindo outra vez pelas cinco horas da tarde, encontrou outros que estavam na praça, e lhes disse: ‘Por que estais aí o dia inteiro desocupados?’ 7Eles responderam: ‘Porque ninguém nos contratou’. O patrão lhes disse: ‘Ide vós também para a minha vinha’. 8Quando chegou a tarde, o patrão disse ao administrador: ‘Chama os trabalhadores e paga-lhes uma diária a todos, começando pelos últimos até os primeiros!’
9Vieram os que tinham sido contratados às cinco da tarde e cada um recebeu uma moeda de prata. 10Em seguida vieram os que foram contratados primeiro, e pensavam que iam receber mais. Porém, cada um deles também recebeu uma moeda de prata. 11Ao receberem o pagamento, começaram a resmungar contra o patrão: 12‘Estes últimos trabalharam uma hora só, e tu os igualaste a nós, que suportamos o cansaço e o calor o dia inteiro’.
13Então o patrão disse a um deles: ‘Amigo, eu não fui injusto contigo. Não combinamos uma moeda de prata? 14Toma o que é teu e volta para casa! Eu quero dar a este que foi contratado por último o mesmo que dei a ti. 15Por acaso não tenho o direito de fazer o que quero com aquilo que me pertence? Ou estás com inveja, porque estou sendo bom?’ 16aAssim, os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos”.
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.
Antífona do Ofertório
Iustítiae Dómini rectae, laetificántes corda, et dulcióra super mel et favum: nam et servus tuus custódiet ea. (Ps. 18, 9. 11. 12)
Vernáculo:
Os preceitos do Senhor são precisos, alegria ao coração. Suas palavras são mais doces que o mel, que o mel que sai dos favos. E vosso servo, instruído por elas, se empenha em guardá-las. (Cf. LH: Sl 18, 9ab. 11cd. 12)
Sobre as Oferendas
Senhor, nós vos oferecemos o sacramento da unidade e da paz, celebrando a memória do abade São Bernardo, ilustre em palavras e obras, que se empenhou incansavelmente pela concórdia da vossa Igreja. Por Cristo, nosso Senhor.
Antífona da Comunhão
Vernáculo:
Provai e vede quão suave é o Senhor! Feliz o homem que tem nele o seu refúgio! (Cf. MR: Sl 33, 9)
Depois da Comunhão
Senhor, o alimento que recebemos na comemoração de São Bernardo produza em nós os seus frutos para que, fortalecidos por seus exemplos e instruídos por seus ensinamentos, sejamos arrebatados pelo amor do vosso Verbo encarnado. Que vive e reina pelos séculos dos séculos.
Homilia do dia 20/08/2025
Deus não é nosso devedor
“Amigo, eu não fui injusto contigo. Não combinamos uma moeda de prata? Toma o que é teu e volta para casa! Eu quero dar a este que foi contratado por último o mesmo que dei a ti. Por acaso não tenho o direito de fazer o que quero com aquilo que me pertence?”
No Evangelho de hoje, Jesus conta a parábola dos operários de última hora. Todo o mundo sabe em resumo do que se trata. Um homem saiu de madrugada para contratar trabalhadores para sua vinha. Alguns foram contratados logo de manhã, trabalharam portanto o dia inteiro, debaixo do Sol quente. À última hora, por volta das cinco da tarde, o patrão contratou ainda outras pessoas, que tiveram de trabalhar apenas uma hora, das cinco às seis. No momento de pagar, o patrão deu a todos o mesmo valor. Um dos que aguentaram o dia inteiro de trabalho se queixa, mas o proprietário lhe diz: Amigo, eu não fui injusto contigo. Não combinamos uma moeda de prata?, isto é, um denário (daí veio, em português, a palavra “dinheiro”), o equivalente na época a uma jornada de trabalho. Trata-se do salário mínimo do dia. Essa é a parábola, mas o que Jesus quer ensinar com ela?
Antes de tudo, temos de entender que o Senhor usa parábolas porque quer que meditemos. Qual é, afinal, a vantagem da parábola? É poder colocar-se no lugar das personagens. Se o padre diz uma verdade em termos abstratos (por exemplo: “Deus é generoso e dá o céu abundantemente”), o fiel pode até apreendê-la conceitualmente, mas é grande a chance de ela entrar por um ouvido e sair pelo outro, isto é, ficar sem fruto espiritual. Com a parábola não é assim. Uma parábola nos toma pela mão, introduz-nos numa cena, numa história. Aqui, em particular, podemos escolher quem seremos, se o patrão (e então nos perguntamos se somos generosos com os outros), se os operários de última hora (e então nos damos conta da liberalidade de Deus, que nos dá tanto pelo pouco que fazemos). Olhando porém mais fundo, vemos que a parábola de hoje tem um propósito, como se vê pela fala mesma de Jesus: o de nos colocar no papel dos operários chamados à hora prima, que trabalharam o dia inteiro sob o Sol escaldante e se queixam de ser recompensados como os outros.
Essa parábola é para todo católico que passa a vida amando e servindo a Deus, conquista o céu, mas encontra lá um sem-vergonha que passou a vida inteira no pecado, mas converteu-se no ultimíssimo momento. Qual seria a nossa atitude, se levássemos para o céu o mesmo homem que ainda somos na terra? De inveja. Essa é a tristeza que o Senhor nos quer ajudar a matar dentro de nós. Devemos ter consciência — e alegrar-nos com isso! — de que Deus, bom e gracioso, dá a certas pessoas o que não nos dá a nós, é generoso mais com uns do que com outros, sem por isso deixar de ser sumamente generoso com todos. O invejoso compara-se com o vizinho e se entristece por ver que o outro tem o que ele não tem. Trata-se de uma tristeza realmente pecaminosa quando é consentida, ou seja, quando se admite deliberadamente por causa das bênçãos recebidas por outros. Torna-se mais grave quando, além disso, se converte em indignação contra a Deus, por ser Ele o autor daqueles benefícios.
A parábola nos previne, pois, contra a armadilha da inveja. Se porventura sentirmos uma pontada de tristeza com os bens alheios, não consintamos; antes, pelo contrário, aproveitemos para combatê-la com uma sincera ação de graças a Deus, que foi tão bom com o nosso próximo. Fujamos da inveja como fugimos de qualquer tentação sexual, ao soar o primeiro alerta, antes de haver espaço para o consentimento! Em segundo lugar, temos de reconhecer que, se sentimos inveja como o assalariado de primeira hora, é porque, no fundo, vemos a Deus como nosso devedor e sua recompensa, como o justo ordenado de nossos serviços. Ora, Deus não nos deve o céu porque nós não o merecemos. Foi Ele que, livre e generosamente, no-lo prometeu dar pelas boas obras que, com sua graça, tivermos feito. Se Deus dá o céu a quem trabalha só uma hora, demos graças por Ele ter-se dignado dar-nos o mesmo pelo nada que é trabalhar o dia todo! Todos os que entrarem no céu lá entrarão por pura misericórdia de Deus. Cantemos, pois, a graça do Senhor, que dá a todos um tempo para trabalhar em sua vinha!
Afinal, amar e servir a Deus é dever nosso, é dar o que Ele merece. Na verdade, Deus merece um amor infinito, por isso é uma honra, uma graça, um privilégio muito grande que Ele nos tenha concedido, ainda nessa terra, poder amá-lo e servi-lo. Isso mostra a gratuidade que deve inspirar nosso serviço a Deus. Por que servimos? É porque queremos chegar ao céu e evitar o inferno? Sim, pode ser um de nossos motivos, mas o principal deve ser esse: porque Ele é infinitamente bom e digno de ser amado acima de todas as coisas. É como diz aquela poesia do século XVI: Aunque no hubiera cielo yo te amaría, “Mesmo que não houvesse céu, eu vos amaria”. Deus é bom, e não é pelo salário que devemos amá-lo e servi-lo, mas porque Ele é digno em si mesmo de ser amado sobre tudo e servido em tudo. Ainda que não houvesse nada após essa vida, teria sido já uma grande graça e privilégio tê-la vivido para amar a Deus generosamente. Ora, se só isso já seria uma enorme recompensa, que dizer então do que nos espera depois desta vida, como sabemos com certeza pela fé? Deus tem um céu preparado para nós! É muito mais do que jamais poderíamos merecer — tê-lo como nossa herança, riqueza e descanso.
Deus abençoe você!
Santo do dia 20/08/2025
São Bernardo de Claraval, Abade e Doutor da Igreja (Memória)
Local: Hildesheim, Alemanha
Data: 20 de Agosto † 1153
Bernardo nasceu em Dijon, na Borgonha, em 1090, de família nobre. Aos 19 anos, abandonou o mundo para ingressar na Ordem de Cister há pouco fundada com um grupo de moços e a levou ao apogeu no século XII. São Bernardo pode ser considerado o segundo fundador da Ordem Cisterciense. Quando Bernardo entrou, a Ordem só contava com vinte membros e um único mosteiro. Eleito prior da nova fundação de Claraval, durante os trinta e oito anos que durou sua direção, a Ordem cresceu até 343 mosteiros.
Pelo que sabemos, São Bernardo foi a personalidade mais empolgante da primeira metade do século XII: foi pregador, místico, político, polemista, escritor, fundador de mosteiros, abade, conselheiro de papas, reis e bispos.
Mesmo como monge teve que deixar seu mundo de contemplação, o mosteiro, para envolver-se nas questões que agitavam a sociedade. Defendeu a reforma cisterciense contra os beneditinos cluniacenses, combateu os ensinamentos de vários mestres do tempo, atacou as ideias heréticas que se disseminavam através da Europa, esteve presente em vários sínodos de bispos, envolveu-se no cisma (Anacleto II contra Inocêncio II) que dividiu a Igreja, com dois papas disputando o poder.
Por incumbência do papa Eugênio III, seu antigo discípulo, percorreu a França, Flandres, Alemanha, concitando os príncipes a formarem uma cruzada contra os turcos que teve êxito militar negativo, pelo que ele sofreu duras críticas. Enfim, mesmo como monge de vida contemplativa, esteve praticamente presente em todos os grandes acontecimentos da época.
São Bernardo deixou profunda marca na história da espiritualidade católica. Seus escritos revelam amor profundo aos mistérios da humanidade do Salvador. O que ele pregava e praticava sobretudo com os monges, São Francisco de Assis divulgará no século seguinte. Bernardo emerge entre os Santos Padres como o Cantor do Amor Eterno que se revelou em Cristo desde Belém até ao Gólgota. Ele é também o poeta incomparável da Virgem Maria.
Enquanto empreendia mais uma missão pacificadora, Bernardo sentiu-se vencido pela doença; fez-se conduzir a seu mosteiro de Claraval e, rodeado pelo afeto e admiração dos seus monges, entregou sua alma a Deus. Era o dia 20 de agosto de 1153. A Igreja o elevou às honras dos altares doze anos depois, e lhe conferiu o título de Doutor da Igreja.
O hino próprio de Laudes e Vésperas traduz bem a grande figura de São Bernardo. Ele é cantado pela Igreja como luz celeste. O Cristo nele, sol vivo que flameja, o faz coluna, escudo e doutor da sua Igreja. Ninguém com mais ternura fala de Maria; semeia de claustros a Europa e o mundo inteiro; os papas o consultam e dos reis é conselheiro.
A Antífona do Benedictus o canta como luz do Verbo eterno que irradia em toda a Igreja a luz da fé e da doutrina. Ele é chamado de doutor melífluo na Antífona do Magnificat: Doutor melífluo, São Bernardo, do Esposo sois amigo, sois cantor da Virgem Mãe, sois ilustre em Claraval, e pastor dos mais insignes. No hino se diz que ele se derramou como mel sobre toda a humanidade.
As orações da Missa também são generosas em exaltar as grandezas de São Bernardo de Claraval. Na Oração coleta o santo é realçado como abade inflamado de zelo pela casa de Deus, isto é, a Igreja, uma luz que brilha e ilumina a Igreja. Na Oração sobre as oferendas a Igreja apresenta a Deus o sacramento da unidade e da paz, pela intercessão de São Bernardo, que por suas palavras e ações procurou incansavelmente a concórdia da Igreja. Portanto, São Bernardo é também exemplo a ser imitado na promoção da paz e da unidade. A Oração depois da Comunhão nos leva à imitação de São Bernardo no seu arrebatado amor pelo Verbo que se fez carne. São Bernardo precedeu São Francisco de Assis na contemplação dos mistérios da humanidade do Salvador. No sermão 83 sobre o Cântico dos Cânticos meditado no Oficio das Leituras, lemos: Amo porque amo, amo para amar.
Referência:
BECKHÄUSER, Frei Alberto. Os Santos na Liturgia: testemunhas de Cristo. Petrópolis: Vozes, 2013. 391 p. Adaptações: Equipe Pocket Terço.
São Bernardo de Claraval, rogai por nós!