6ª feira depois das Cinzas
Memória Facultativa
Santas Perpétua e Felicidade, Mártires
Antífona de entrada
Vernáculo:
Escutai-me, Senhor Deus, tende piedade! Sede, Senhor, meu abrigo protetor! (Cf. MR: Sl 29, 11) Sl. Eu vos exalto, ó Senhor, pois me livrastes, e não deixastes rir de mim meus inimigos! (Cf. LH: Sl 29, 2)
Coleta
Nós vos pedimos, Senhor, acompanhai com vossa bondade a penitência que iniciamos, para que possamos realizar com sinceridade de coração o que corporalmente praticamos. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus, e convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos.
Primeira Leitura — Is 58, 1-9a
Leitura do Livro do Profeta Isaías
Assim fala o Senhor Deus: 1“Grita forte, sem cessar, levanta a voz como trombeta e denuncia os crimes do meu povo e os pecados da casa de Jacó. 2Buscam-me cada dia e desejam conhecer meus propósitos, como gente que pratica a justiça e não abandonou a lei de Deus. Exigem de mim julgamentos justos e querem estar na proximidade de Deus: 3ʽPor que não te regozijaste, quando jejuávamos, e o ignoraste, quando nos humilhávamos?ʼ — É porque no dia do vosso jejum tratais de negócios e oprimis os vossos empregados. 4É porque, ao mesmo tempo que jejuais, fazeis litígios e brigas e agressões impiedosas.
Não façais jejum com esse espírito, se quereis que vosso pedido seja ouvido no céu. 5Acaso é esse jejum que aprecio, o dia em que uma pessoa se mortifica? Trata-se talvez de curvar a cabeça como junco, e de deitar-se em saco e sobre cinza? Acaso chamas a isso jejum, dia grato ao Senhor?
6Acaso o jejum que prefiro não é outro: — quebrar as cadeias injustas, desligar as amarras do jugo, tornar livres os que estão detidos, enfim, romper todo tipo de sujeição? 7Não é repartir o pão com o faminto, acolher em casa os pobres e peregrinos? Quando encontrares um nu, cobre-o, e não desprezes a tua carne.
8Então, brilhará tua luz como a aurora e tua saúde há de recuperar-se mais depressa; à frente caminhará tua justiça e a glória do Senhor te seguirá. 9aEntão invocarás o Senhor e ele te atenderá, pedirás socorro, e ele dirá: ʽEis-me aquiʼ”.
— Palavra do Senhor.
— Graças a Deus.
Salmo Responsorial — Sl 50(51), 3-4. 5-6a. 18-19 (R. 19b)
℟. Ó Senhor, não desprezeis um coração arrependido!
— Tende piedade, ó meu Deus, misericórdia! Na imensidão de vosso amor, purificai-me! Lavai-me todo inteiro do pecado, e apagai completamente a minha culpa! ℟.
— Eu reconheço toda a minha iniquidade, o meu pecado está sempre à minha frente. Foi contra vós, só contra vós, que eu pequei, e pratiquei o que é mau aos vossos olhos! ℟.
— Pois não são de vosso agrado os sacrifícios, e, se oferto um holocausto, o rejeitais. Meu sacrifício é minha alma penitente, não desprezeis um coração arrependido! ℟.
℣. Buscai o bem, não o mal, pois assim vivereis; então, o Senhor, nosso Deus, convosco estará! (Cf. Am 5, 14) ℟.
Evangelho — Mt 9, 14-15
℣. O Senhor esteja convosco.
℟. Ele está no meio de nós.
℣. Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo ✠ segundo Mateus
℟. Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, 14os discípulos de João aproximaram-se de Jesus e perguntaram: “Por que razão nós e os fariseus praticamos jejuns, mas os teus discípulos não?”
15Disse-lhes Jesus: “Por acaso, os amigos do noivo podem estar de luto enquanto o noivo está com eles? Dias virão em que o noivo será tirado do meio deles. Então, sim, eles jejuarão”.
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.
Antífona do Ofertório
Domine, vivífica me secúndum elóquium tuum: ut sciam testimónia tua. (Ps. 118, 107. 125)
Vernáculo:
Vossa palavra me devolva a minha vida, para que eu possa compreender vossa Aliança! (Cf. LH: Sl 118, 107b. 125b)
Sobre as Oferendas
Ó Senhor, ao vos oferecer o sacrifício da observância quaresmal, vos pedimos: que ele vos torne agradável a nossa vida, e nos ajude a realizar com maior fervor as obras de penitência. Por Cristo, nosso Senhor.
Antífona da Comunhão
Vernáculo:
Com temor servi a Deus, rendei-lhe glória e prestai-lhe homenagem com respeito! Se o irritais, perecereis pelo caminho, pois depressa se acende a sua ira! (Cf. LH: Sl 2, 11 e 12ab)
Depois da Comunhão
Nós vos pedimos, Deus todo-poderoso, que, pela participação neste mistério, sejamos purificados de todas as faltas e transformados pelos remédios da vossa bondade. Por Cristo, nosso Senhor.
Homilia do dia 07/03/2025
Por que vale mais a oração feita em jejum?
Jejuar não é fazer dieta, pois o jejum é um complemento da oração. Ele está em função de uma vida de intimidade com Deus, porque só o amor, que é uma forma de amizade, santifica o homem, e não o simples passar fome.
Sendo a Quaresma um tempo de penitência, torna a Igreja a falar-nos, nesta Sexta-feira depois das Cinzas, de umas das principais formas de mortificação cristã: o jejum. E o motivo por que tantos, neste tempo de renúncia, tão mal se aproveitam dessa prática santa e acabam chegando à Páscoa menos preparados do que convinha, é que poucos sabem em que consiste jejuar. Mas para entendermos que finalidade tem o jejum, o melhor caminho é considerá-lo como um complemento da oração. A razão disto é que, se o simples passar fome fosse causa de santidade, já o mundo teria tantos santos quantos são os famintos, pois não é a fome, sozinha, que santifica, senão o motivo e o amor com que se passa fome. Do contrário, tão santa seria a inédia de um cartuxo quanto a dieta de um mundano. E que diferença há entre um e outro jejum? Que o primeiro, com passar fome por um grande amor, desagrada a si mesmo para ser agradável a Deus, enquanto o segundo, com passar fome por uma pequena vaidade, desagrada o corpo cheio para agradar-se dele vazio. E nisto também se vê que o jejum que santifica difere do jejum do mundo não só quanto à finalidade, mas também quanto ao modo: porque o jejum do mundo, tendo por fim contentar a si mesmo, depende das forças de quem o pratica, ao passo que o jejum cristão, tendo por fim contentar a Deus, só pode santificar com a ajuda da graça, e como tem Deus decretado que o meio ordinário por que nos hão de vir as suas graças é a oração, segue-se que o jejum está em função da oração e é da oração que recebe todo o seu efeito. Por isso, os cristãos não jejuamos por sermos santos, mas para o virmos a ser; e como só Deus nos pode tornar santos, jejuamos para rezar melhor e para que o Senhor encontre em nossas almas menos óbices do que os que, desgraçadamente, já lhe opomos. Jejuamos, não por sermos fortes, mas fracos; não por sermos servos de Deus, mas escravos de nossos caprichos; não por estarmos cheios de graça, mas porque a graça, encontrando-nos cheios de estômago, nem sempre acha espaço para Deus em nossos corações. Queira Ele que o nosso jejum quaresmal, intimamente unido a uma vida de oração simples e humilde, dê por sua graça frutos bons e duradouros de santidade.
Deus abençoe você!
Hoje, primeira sexta-feira do mês e preparação para o primeiro sábado, é um dia mais do que especial, sobretudo neste tempo de Quaresma, para repararmos, por nossa mortificação e oração, as ofensas e injúrias com que tantas vezes desprezamos a caridade do Sacratíssimo Coração de Jesus e traspassamos com o nosso pecado o Coração Imaculado de Maria.Ouça a homilia do Padre Paulo Ricardo para esta sexta-feira, dia 7 de março, e entenda por que o horror do pecado exige de nós espírito e obras de reparação.
Santo do dia 07/03/2025
Santas Perpétua e Felicidade (Memória)
Local: Cartago, Tunísia
Data: 07 de Março † 203
Com outros companheiros, Perpétua e Felicidade sofreram o martírio em Cartago, atual Tunísia, no ano de 202. Um decreto do imperador Setímio Severo, que atingia, sobretudo, os que se preparavam para o batismo, levou à prisão vários catecúmenos do norte da África. Entre eles se achavam a escrava Felicidade e sua nobre senhora Vibia Perpétua. Felicidade estava no oitavo mês de gravidez e Perpétua tinha um filho de colo. Todos foram levados a Cartago, onde foram martirizados.
Possuímos uma peça literária de comovente beleza, denominada Paixão de Santa Perpétua, que conta a história dos últimos dias das jovens mártires, bem como o martírio junto com os demais catecúmenos de um diácono que batizou os catecúmenos na eminência do martírio. Estas Atas do martírio constituem um dos documentos mais realistas e emocionantes do cristianismo primitivo. Elas englobam notas autobiográficas que Perpétua escreveu na prisão. Comovente, sobretudo, o duelo entre o amor filial e o paterno e as exigências da fé em Cristo, quando o pai pagão fez de tudo para demovê-la do martírio.
Os homens catecúmenos com o diácono Sáturo foram atirados às feras e estraçalhados por elas até a morte. Perpétua e Felicidade, que dera à luz uma menina na prisão, foram atiradas à arena para serem atacadas por uma vaca furiosa que as devia levar à morte. Perpétua, lançada aos ares pela vaca brava, caiu de costas. Levantou-se logo e, vendo Felicidade caída, aproximou-se e deu-lhe a mão para erguê-la. Ficaram então de pé, rezando, até o momento em que foram degoladas.
As Atas das mártires terminam com estas palavras: "Os que foram testemunhas destes fatos lembrar-se-ão da glória do Senhor, e aqueles que deles tiverem conhecimento por esta narrativa estarão em comunhão com os santos mártires e por intermédio deles com Jesus Cristo, Nosso Senhor, para quem são a honra e a glória pelos séculos."
O registro da paixão de Santa Perpétua e de Santa Felicidade e seus companheiros constitui um dos maiores tesouros hagiológicos que chegaram até nós. No século IV, essas Atas eram lidas publicamente nas igrejas da África.
As santas Perpétua e Felicidade figuram no Cânon romano (Oração eucarística I). O que indica a alta veneração de que gozaram na Antiguidade.
Podemos realçar vários aspectos do testemunho dessas mártires. A dignidade e a importância em que eram tidos os catecúmenos na Igreja primitiva. Quem está a caminho dos sacramentos da Iniciação cristã já é considerado membro da Igreja. Diz a Introdução Geral do Ritual do Batismo de Adultos: "Desde então (isto é, desde o rito de instituição) os catecúmenos, cercados pelo amor e a proteção da Mãe Igreja como pertencendo aos seus e unidos a ela, já fazem parte da família de Cristo; são alimentados pela Igreja com a Palavra de Deus e incentivados por atos litúrgicos. Tenham a peito, portanto, participar da liturgia da Palavra e receber as bênçãos e os sacramentais. Quando se casam, se o noivo e a noiva forem catecúmenos, ou apenas um deles e a outra parte não foi batizada, será usado o rito próprio. Se falecerem durante o catecumenato, realizam-se exéquias cristãs" (n. 18). Podemos dizer que eles já estão justificados pela fé.
Um segundo ponto a realçar é o combate da paixão. O martírio constitui um combate com Cristo contra os inimigos da fé, contra todas as forças do mal. Quando se fala da paixão dos mártires, ela compreende todos os sofrimentos suportados por causa da fé em Cristo Jesus. Ela inclui a própria morte. Os sofrimentos da paixão constituem a confessio, a confissão da fé. Se os catecúmenos ainda não forem batizados, eles são batizados pela paixão, isto é, pelo batismo de sangue.
Uma terceira observação. O batismo de sangue, o martírio não se apresenta como privilégio dos homens considerados fortes no combate. No martírio, particularmente das mulheres, manifesta-se a força do testemunho no poder do Espírito Santo. Esta força vem expressa na Oração coleta: Ó Deus, pelo vosso amor, as mártires Perpétua e Felicidade resistiram aos perseguidores e superaram as torturas do martírio. Pelo amor a Deus, a exemplo das mártires, possamos crescer constantemente na caridade.
Referência:
BECKHÄUSER, Frei Alberto. Os Santos na Liturgia: testemunhas de Cristo. Petrópolis: Vozes, 2013. 391 p. Adaptações: Equipe Pocket Terço.
Santas Perpétua e Felicidade, rogai por nós!