São Boaventura, Bispo e Doutor da Igreja, Memória
Antífona de entrada
Ou:
O justo tem nos lábios o que é sábio, sua língua tem palavras de justiça; traz a aliança do seu Deus no coração. (Cf. Sl 36, 30-31)
Vernáculo:
Que vos agrade o cantar dos meus lábios e a voz da minha alma; que ela chegue até vós, ó Senhor, meu Rochedo e Redentor! Sl. Os céus proclamam a glória do Senhor, e o firmamento, a obra de suas mãos. (Cf. LH: Sl 18, 15 e 2)
Coleta
Deus todo-poderoso, concedei que, na celebração da memória do bispo São Boaventura, aproveitemos a riqueza dos seus ensinamentos e imitemos sempre sua ardente caridade. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus, e convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos.
Primeira Leitura — Ex 2, 1-15a
Leitura do Livro do Êxodo
Naqueles dias, 1um homem da família de Levi casou-se com uma mulher da mesma tribo, 2e ela concebeu e deu à luz um filho. Ao ver que era um belo menino, manteve-o escondido durante três meses. 3Mas não podendo escondê-lo por mais tempo, tomou uma cesta de junco, calafetou-a com betume e piche, pôs dentro dela a criança e deixou-a entre os caniços na margem do rio Nilo.
4A irmã do menino ficou a certa distância para ver o que ia acontecer. 5A filha do Faraó desceu para se banhar no rio, enquanto suas companheiras passeavam pela margem. Vendo, então, a cesta no meio dos caniços, mandou uma das servas apanhá-la. 6Abrindo a cesta, viu a criança: era um menino, que chorava. Ela compadeceu-se dele e disse: “É um menino dos hebreus”.
7A irmã do menino disse, então, à filha do Faraó: “Queres que te vá chamar uma mulher hebreia, que possa amamentar o menino?” 8A filha do Faraó respondeu: “Vai”. E a menina foi e chamou a mãe do menino.
9A filha do Faraó disse à mulher: “Leva este menino, amamenta-o para mim, e eu te pagarei o teu salário”. A mulher levou o menino e o amamentou. 10Quando já estava crescido, ela levou-o à filha do Faraó, que o adotou como filho e lhe deu o nome de Moisés, porque, disse ela, “eu o tirei das águas”.
11Um dia, quando já era adulto, Moisés saiu para visitar seus irmãos hebreus; viu sua aflição e como um egípcio maltratava um deles. 12Olhou para os lados e, não vendo ninguém, matou o egípcio e escondeu-o na areia.
13No dia seguinte, saiu de novo e viu dois hebreus brigando, e disse ao agressor: “Por que bates no teu companheiro?” 14E este replicou: “Quem te estabeleceu nosso chefe e nosso juiz? Acaso pretendes matar-me, como mataste o egípcio?” Moisés ficou com medo e disse consigo: “Com certeza, o fato se tornou conhecido”. 15aO Faraó foi informado do que aconteceu, e procurava matar Moisés. Mas este, fugindo da sua vista, parou na terra de Madiã.
— Palavra do Senhor.
— Graças a Deus.
Salmo Responsorial — Sl 68(69), 3. 14. 30-31. 33-34 (R. cf. 33)
℟. Humildes, procurai o Senhor Deus, e o vosso coração reviverá.
— Na lama do abismo eu me afundo e não encontro um apoio para os pés. Nestas águas muito fundas vim cair, e as ondas já começam a cobrir-me! ℟.
— Por isso elevo para vós minha oração, neste tempo favorável, Senhor Deus! Respondei-me pelo vosso imenso amor, pela vossa salvação que nunca falha! ℟.
— Pobre de mim, sou infeliz e sofredor! Que vosso auxílio me levante, Senhor Deus! Cantando eu louvarei o vosso nome e agradecido exultarei de alegria! ℟.
— Humildes, vede isto e alegrai-vos: o vosso coração reviverá, se procurardes o Senhor continuamente! Pois nosso Deus atende à prece dos seus pobres, e não despreza o clamor de seus cativos. ℟.
℣. Oxalá ouvísseis hoje a sua voz. Não fecheis os corações como em Meriba! (Cf. Sl 94, 8ab) ℟.
Evangelho — Mt 11, 20-24
℣. O Senhor esteja convosco.
℟. Ele está no meio de nós.
℣. Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo ✠ segundo Mateus
℟. Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, 20Jesus começou a censurar as cidades onde fora realizada a maior parte de seus milagres, porque não se tinham convertido.
21“Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Porque, se os milagres que se realizaram no meio de vós, tivessem sido feitos em Tiro e Sidônia, há muito tempo elas teriam feito penitência, vestindo-se de cilício e cobrindo-se de cinza.
22Pois bem! Eu vos digo: no dia do julgamento, Tiro e Sidônia serão tratadas com menos dureza do que vós. 23E tu, Cafarnaum! Acaso serás erguida até o céu? Não! Serás jogada no inferno! Porque, se os milagres que foram realizados no meio de ti tivessem sido feitos em Sodoma, ela existiria até hoje! 24Eu, porém, vos digo: no dia do juízo, Sodoma será tratada com menos dureza do que vós!”
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.
Antífona do Ofertório
Benedíctus es Dómine, doce me iustificatiónes tuas: benedíctus es Dómine, doce me iustificatiónes tuas: in lábiis meis pronuntiávi ómnia iudícia oris tui. (Ps. 118, 12. 13)
Vernáculo:
Ó Senhor, vós sois bendito para sempre; os vossos mandamentos ensinai-me! Com meus lábios, ó Senhor, eu enumero, os decretos que ditou a vossa boca. (Cf. LH: Sl 118, 12. 13)
Sobre as Oferendas
Ó Deus, possa agradar-vos o sacrifício oferecido com alegria na festa de São Boaventura; fazei que, por sua exortação, também nós nos entreguemos totalmente ao vosso louvor. Por Cristo, nosso Senhor.
Antífona da Comunhão
Ou:
Quem medita dia e noite na lei do Senhor dará seu fruto no devido tempo. (Cf. Sl 1, 2-3)
Vernáculo:
Quem medita dia e noite na lei do Senhor dará seu fruto no devido tempo. (Cf. MR: Sl 1, 2-3)
Depois da Comunhão
Senhor, instruí pelo Cristo Mestre aqueles que alimentais com o Cristo, pão da vida, para que, na celebração da festa de São Boaventura, aprendam a vossa verdade e a realizem pela caridade. Por Cristo, nosso Senhor.
Homilia do dia 15/07/2025
Ai de ti!
“Se os milagres que foram realizados no meio de ti tivessem sido feitos em Sodoma, ela existiria até hoje! Eu, porém, vos digo: no dia do juízo, Sodoma será tratada com menos dureza do que vós!”
Se no capítulo 10 do Evangelho segundo S. Mateus, Nosso Senhor previa que os fiéis seriam levados diante dos juízes deste mundo, mas teriam certo e favorável o seu despacho no tribunal divino, no capítulo 11, pondo no banco dos réus os que aqui fizeram de magistrados, prevê que os infiéis, ainda que escapem das penas temporais, podem ter certa e indeferida sua apelação diante do Juiz eterno. “Ai de ti, Corazim!”, lamenta Cristo, “ai de ti, Betsaida!” E por que chora hoje a Fonte de todo gozo? “Porque, se os milagres que se realizaram no meio de vós”, suficientes à inteligência de todos e mais do que bastantes para conduzir à fé, “tivessem sido feitos em Tiro e Sidônia”, na região dos gentios, “há muito tempo elas”, trazidas a melhor mente, “teriam feito penitência, vestindo-se de cilício e cobrindo-se de cinza”. Por isso, “no dia do julgamento”, quando Cristo retribuir a cada segundo suas obras, “Tiro e Sidônia”, por terem ignorado o Evangelho, “serão tratadas com menos dureza do que vós”, enquanto Cafarnaum, que não só O viu como foi pousada de Cristo, será jogada no inferno, porque não quis crer, apesar de todos “os milagres que foram realizados no meio de ti”. Aqui nos abre o Senhor mais uma vez a arca de sua sabedoria e nos oferece duas verdades. A primeira é que Deus, se quer que todos se convertam à única religião verdadeira, não irá, por outro lado, julgar injustamente os que, sem culpa própria, não tiverem conhecido a Cristo nem a sua Igreja, desde que se esforcem, com o auxílio da graça, por cumprir a vontade divina e levar uma vida reta segundo os ditames da consciência. A segunda é que serão mais severamente julgados, segundo os princípios da justiça, os que, tendo conhecido a Cristo e a necessidade de incorporar-se ao seu Corpo pelo Batismo, persistirem no entanto em sua infidelidade, preferindo as comodidades narcotizantes da mentira em que vivem às exigências libertadoras da verdade que não querem aceitar. Este é o juízo que recairá sobre nós, se não aproveitarmos este tempo de graça para que não se torne consequência certa o que Cristo nos revela hoje como condição possível: “Sodoma será tratada com menos dureza do que vós!”
Deus abençoe você!
Santo do dia 15/07/2025
São Boaventura, Bispo e Doutor da Igreja (Memória)
Local: Lyon, França
Data: 15 de Julho † 1274
São Tomás, cognominado o Anjo da escola, tinha um amigo íntimo, igualmente santo, um doutor e um religioso, não, porém, da mesma ordem. Queremos falar de São Boaventura, glória e ornamento da ordem de São Francisco. Foi cognominado Doutor seráfico, por causa da devoção extraordinária, da ardente caridade e do conhecimento profundo que tinha das ciências eclesiásticas. Nasceu em 1221, em Bagnarea, na Toscana. Seu pai e sua mãe, ambos recomendáveis pela piedade, chamavam-se João de Fidenza e Maria Ritelli. Recebeu no batismo o nome de João; mas logo depois o de Boaventura, pelo motivo que vamos dizer.
Na idade de quatro anos foi atacado de uma doença tão perigosa que os médicos perderam a esperança de lhe salvar a vida. Sua mãe pediu-lhe a cura por meio de fervorosas orações e, depois, foi lançar-se aos pés de São Francisco de Assis, rogando-lhe, com lágrimas, intercedesse junto a Deus, por uma criança que lhe era tão cara. O santo, comovido, pôs-se em oração e o doente ficou tão completamente curado, que não experimentou mais nenhum incômodo durante o tempo em que aprouve ao Senhor chamá-lo a si. Tendo-o visto, quando estava prestes a terminar a vida mortal, predisse-lhe todas as graças com que a divina misericórdia o cobriria e exclamou de repente num êxtase profético: "Ó buona ventura"! Palavras que significavam: "Ó feliz acontecimento"! Daí vem o nome de Boaventura dado ao nosso santo. Sua mãe, cheia de gratidão, consagrou-o ao Senhor, com um voto e tomou grande cuidado de lhe inspirar, desde os primeiros anos, vivos sentimentos de piedade. Acostumou-o, também, desde cedo, à prática da renúncia, da humildade e da obediência. O filho correspondia a todos os cuidados; pareceu inflamado do amor de Deus, logo que foi capaz de o conhecer. O progresso que fez nos estudos causou espanto aos mestres; mas os que fez na ciência dos santos, foram ainda mais extraordinários. Seu maior prazer era saber por quantos títulos pertencia a Deus e procurar todos os meios de só viver para Ele.
Quando chegou à idade de vinte e dois anos, entrou na ordem de São Francisco e recebeu o hábito das mãos de Haymon, então geral. Haymon, inglês de nascimento, tinha ensinado teologia em Paris. Gregório mandou-o, na qualidade de núncio a Constantinopla, com a incumbência da revisão do breviário e das rubricas da igreja romana. São Boaventura, nos diz ele mesmo, em seu prólogo da vida de São Francisco, entrou naquela ordem e fez seus votos, pela gratidão, por lhe ter São Francisco conservado a vida, com suas orações e com a resolução de servir a Deus com todo o fervor de que fosse capaz.
Pouco tempo depois, mandaram-no a Paris, para lá terminar os estudos com o célebre Alexandre de Hales, cognominado o Doutor irrefragável. A morte levou-lhe o mestre em 1245 e ele seguiu, depois, as lições de João de la Rochelle, sucessor. Unia a muita penetração um juízo excelente, o que fazia que, nas matérias mais sutis se ativesse somente ao estritamente necessário ou, pelo menos, útil para libertar a verdade dos sofismas, sob os quais, adversários minuciosos procuravam embaraçá-lo. Tornou-se muito hábil no conhecimento da filosofia escolástica e nas partes mais sublimes da teologia: mas referia todos os seus estudos à glória de Deus e à santificação da alma e tinha o cuidado de se premunir contra a dissipação e uma vã curiosidade; por isso, soube conservar em si o espírito de recolhimento e de oração. Jamais desviava de Deus a atenção; invocava as luzes do Espírito Santo no começo de cada uma de suas ações; nutria o fervor com frequentes aspirações, que tornavam contínua a oração. A recordação das chagas de Jesus Cristo que eram o objeto ordinário de suas meditações, inflamava-o de amor pelo Salvador; imaginava ver o nome em tudo o que lia e muitas vezes os olhos se lhe enchiam de lágrimas.
São Tomás de Aquino veio vê-lo e perguntou-lhe em que livros tinha aprendido aquela sagrada ciência: "Eis - respondeu ele, mostrando-lhe o crucifixo - a fonte onde vou haurir meus conhecimentos. Estudo Jesus e Jesus crucificado". Tinha ainda horas marcadas para se ocupar unicamente da oração, que considerava, com razão, o princípio da graça e a chave que abre o céu. Tinha sabido, de São Paulo, que somente o Espírito Santo nos pode iniciar no conhecimento dos segredos e dos desígnios de Deus e gravar nos corações o amor das santas máximas; que somente ele pode dar-se a conhecer e que sua luz, como a do sol, se manifesta por si mesma; essa luz nos ilumina a alma e nos manifesta interiormente o nosso dever. Sabia ainda que o dom da oração é comunicado somente aos que antes se dispuseram a receber a presença sensível do Espírito Santo pela compunção, bem como pela prática da penitência, da humildade e da renúncia. Por essas diferentes virtudes separou-se para ser admitido aos favores inefáveis do esposo celeste. Sua vida era tão pura, suas paixões estavam tão perfeitamente submissas, que Alexandre de Hales costumava dizer, falando dele, que não parecia ter pecado em Adão. O espírito de mortificação era o principal meio que empregava para se manter na inocência; as austeridades eram extraordinárias. Notava-se-lhe, entretanto, no rosto, certa alegria, que provinha da paz interior de que gozava. Ouviam-no, muitas vezes, repetir esta máxima: "A alegria espiritual é o sinal mais certo da graça de Deus que habita numa alma". À prática da mortificação acrescentava a das maiores humilhações. Se se tratava de servir aos doentes, procurava sempre exercitar os misteres mais baixos e repugnantes. Não temia expor a vida, dedicando-se àqueles cujas doenças eram mais perigosas e mais capazes de causar repugnância à natureza. A humildade só lhe fazia descobrir em si mesmo imperfeições e faltas e tinha um cuidado extremo em ocultar o que lhe poderia atrair a estima dos homens. Quando o brilho das virtudes o traía contra sua vontade, abraçava novas humilhações para diminuir a alta ideia que dele se concebia ou pelo menos, para fortificar-se contra o veneno da vanglória e satisfazer o amor que tinha pela abjeção. A crermos nele, era o mais indigno dos pecadores, não merecendo respirar o ar, nem viver sobre a terra.
Muitas vezes sua humildade lhe impedia aproximar-se da Sagrada Mesa, embora ardesse do mais inflamado desejo de se unir todos os dias ao terno objeto de seus afetos: mas Deus fez um milagre para acalmar-lhe os ardores e recompensar-lhe o amor. Eis de que maneira é narrado, nos atos de sua canonização. "Muitos dias se haviam passado sem que ousasse apresentar-se à Mesa Sagrada: mas, enquanto ouvia a missa e meditava na Paixão de Jesus Cristo, o Salvador, para coroar-lhe a humildade e o amor, colocou-lhe na boca, pelo ministério de um anjo, uma parte da hóstia consagrada que o padre tinha nas mãos. Esse favor o inundou de uma torrente de delícias; depois daquele tempo comungou mais frequentemente e cada uma de suas comunhões era acompanhada das mais doces consolações.
São Boaventura preparou-se pelo jejum, pela oração e outras boas obras a receber o sacerdócio, a fim de obter uma medida de graça proporcionada às funções sublimes que devia exercitar. Desejava o sacerdócio, mas sempre com temor e tremor, e quanto mais lhe conhecia a excelência e a dignidade, mais se humilhava, considerando que estava para ser honrado com ele. Todas as vezes que subia ao altar, viam-se, pelas lágrimas e pelo exterior, os sentimentos de humildade e de amor com que os oferecia; tinha em mãos e recebia na alma o Cordeiro sem mancha. Fez, para sua ação de graças, depois da missa, a bela oração que começa por estas palavras: "Transfige, dulcissime Domine", e cuja recitação a Igreja recomenda a todos os sacerdotes que acabam de celebrar o santo sacrifício. Julgando-se chamado, na qualidade de padre, a trabalhar especialmente pela salvação do próximo, nada descuidou para corresponder perfeitamente à missão. Pregou a palavra de Deus com tanta força e unção que conseguia maravilhosamente acender nos ouvintes o fogo sagrado, que nele mesmo ardia. Para mais facilmente obter os meios de bem cumprir a importante função, escreveu o livro intitulado "Pharetra" ou Aljava, que outra coisa não é senão um resumo de pensamentos muito tocantes, tirados dos Padres da Igreja.
No mesmo tempo, encarregaram-no de ensinar no interior do convento. Depois da morte de João de La Rochelle, foi nomeado para preencher-lhe a vaga na cátedra pública da universidade. Tinha somente vinte e três anos e devia ter vinte e cinco para poder desempenhar aquele cargo; mas julgaram poder dispensar da regra, em favor de Boaventura. Seus raros talentos bem depressa lhe granjearam admiração universal. Continuou, como antes, a estudar aos pés do crucifixo.
Alexandre IV terminou, em 1256, a disputa que havia surgido entre a universidade de Paris e os regulares: convidaram São Tomás e São Boaventura para receberem juntos o barrete de doutor. Os dois santos, em vez de disputarem-se o passo, quiseram ceder o primeiro lugar um ao outro. Não se deixaram convencer pelas razões que pretensos interesses de ordem fazem, às vezes, se aleguem; pareciam invejosos somente das prerrogativas que se fundam na humildade. São Boaventura insistiu tão fortemente que São Tomás foi obrigado a consentir em passar por primeiro; assim, ele triunfou ao mesmo tempo de si mesmo e do amigo.
Boaventura era geral de sua ordem quando assistiu ao Concílio Ecumênico de Lyon. Foi encarregado pelo Papa São Gregório X de ser presidente do Concílio e preparar a matéria de que aí se devia tratar. Caiu doente depois da terceira sessão; entretanto, assistiu ainda à quarta, na qual o logoteta ou o grande chanceler de Constantinopla abjurou o cisma; mas no dia seguinte, as forças abandonaram-no a ponto de ele ser obrigado a ficar em casa. Depois, só se ocupou dos exercícios de piedade. A serenidade que lhe transparecia no rosto revelava a tranquilidade de sua alma. O Papa administrou-lhe o sacramento da Extrema-Unção, como prova a inscrição que se via ainda em 1731, no quarto onde morreu. Durante a enfermidade, sempre conservou os olhos presos ao crucifixo. A bem-aventurada morte deu-se no domingo, 15 de julho de 1274. Estava no seu quinquagésimo-terceiro ano de vida e foi chorado por todo o Concílio, pela doutrina, eloquência, virtudes e maneiras amáveis que conquistavam o coração de todos os que o viam. Enterraram-no em Lyon, na casa da ordem, isto é, dos frades menores. O Santo Papa quis oficiar os funerais. Todos os Padres do Concílio a ele assistiram, com toda a corte de Roma. Pedro de Tarentásia, Cardeal Bispo de Óstia, da ordem dos irmãos pregadores, fez o elogio fúnebre do santo e sobre estas palavras de Davi: "Eu vos choro, irmãos, meu irmão, Jonatas"! E comoveu mais com as lágrimas, suas e dos ouvintes, do que com a eloquência do discurso feito no momento.
São Boaventura foi canonizado por Sisto IV, no ano de 1482. Sisto V colocou-o no número dos doutores da Igreja, como Pio V já tinha posto Santo Tomás. Lemos nos atos de sua canonização a história de vários milagres operados por sua intercessão. A peste atacou a cidade de Lyon em 1628; fizeram uma procissão na qual se levaram algumas relíquias do servo de Deus e imediatamente o flagelo cessou as devastações. Outras cidades também foram libertadas de várias calamidades públicas invocando o mesmo santo.
Referência:
ROHRBACHER, Padre. Vida dos santos: Volume XIII. São Paulo: Editora das Américas, 1959. Edição atualizada por Jannart Moutinho Ribeiro; sob a supervisão do Prof. A. Della Nina. Adaptações: Equipe Pocket Terço. Disponível em: obrascatolicas.com. Acesso em: 11 jul. 2021.
São Boaventura, rogai por nós!