Nome: São Francisco de Girolamo, Presbítero (Memória Facultativa)
Local: Nápoles, Itália
Data: 11 de Maio † 1716

Francisco era filho de João Leonardo de Girolamo e de Gentilesca Gravina. Nascido perto de Tarento, na Itália, a 17 de setembro de 1642, era o mais velho de onze irmãos, aos quais suplantou na virtude e na aplicação aos estudos.

Recebido na sociedade de eclesiásticos de São Cajetano, ali se fez ministrador de catecismo às crianças, incumbindo-se também da arrumação da igreja. Depois dos primeiros estudos, estava com dezesseis anos, enviaram-no a Tarento, para se dar à teologia. Ali, recebeu, depois dalgum tempo, as santas ordens e o diaconato.

Fazendo-se para Nápoles, estudou direito canônico e direito civil.

A 8 de maio de 1666, com uma dispensa de idade, recebeu o sacerdócio.

Cheio de desejo de perfeição, suspirando constantemente, desde algum tempo, pela solidão, foi, porém, por cinco anos, prefeito dum colégio da Companhia de Jesus.

Quando entrou nos vinte e oito anos, foi admitido como noviço na Companhia. Humilde, dado às mortificações, obedientíssimo, passou por duras provas.

Passado o noviciado, Francisco, com o padre Agnello Bruno, trabalhou nas missões. Durante três anos, com aquele companheiro, percorreu inúmeras aldeolas da Puila e de Otranto, como se fora um anjo que os céus lhes enviara.

Em 1674, estava novamente em Nápoles, onde terminou os estudos de teologia, e, no ano seguinte, foi nomeado pregador da igreja do Gesu Nuovo — início duma carreira apostólica que iria durar, sem interrupções, quarenta profícuos anos.

Grande parte do sucesso que São Francisco de Girolamo obteve lhe adveio da grande eloquência. Possuindo voz forte e sonora e estilo simples, insinuava-se no coração dos ouvintes com maneiras graciosas e atraentes. Preferentemente, falava sobre o pecado e os terrores dos divinos julgamentos, pintando-os com cores tão vivas, suscitando imagens tão perfeitas, que arrancava lágrimas de arrependimento ou sustos dos que o ouviam, todos presos, de olhos escancarados, como que magnetizados pela força do verbo fácil. Hábil, passava a falar das doçuras, da bondade, da infinita misericórdia de Nosso Senhor Jesus Cristo, e aqueles que choravam, entregues ao desespero, do terror passavam à tranquilidade, à esperança. Era o momento em que, apelando aos corações endurecidos, convidava-os a solicitar do Salvador o perdão e a reconciliação. Era de ver, então, o grande número de pessoas que caindo de joelhos, suplicavam a Jesus crucificado a bênção dum olhar terno e cheio de perdão.

Sempre, antes de dar início às pregações, São Francisco de Girolamo passava longo tempo ajoelhado aos pés do Crucifixo. E o santo soube aproveitar-se das oportunidades com maestria.

Em 1707, numa erupção do Vesúvio, disse ele aos ouvintes, com voz cava, num tom tão lúgubre que arrepiava:
— Nápoles! Em que tempos vives?

Estas palavras, que em outras circunstâncias nenhum efeito teria, mesmo lançadas naquele diapasão terrível, foi duma eficácia incomum.

Doutra feita, pregava, com tantas lamúrias, sobre os malefícios do pecado, que um menino, entre os assistentes, rompeu a chorar desbragadamente. São Francisco de Girolamo deixou o púlpito, apressou-se a ir ao encontro do pequeno, ao qual abraçou com imensa ternura, depois do que, voltando-se para o auditório emudecido, disse:
— Este menino inocente derrama lágrimas tão sentidas e os pecadores permanecem insensíveis!

Sentindo-se inspirado, tornou ao pequeno:
— E teu pai, que faz ele?

O pai, presente, tocadíssimo, a conter uma avalanche que queria, a todo custo, romper da alma, levantando-se, incontrolado diante das lágrimas do filho, rompeu a correr e a gritar, em direção de Jesus crucificado, suplicando-lhe o perdão dos pecados que carregava.

Francisco fez conversões admiráveis. Um homem de Paris, protestante, casara-se com uma católica.

Chamava-se Francisco Cassier, a espôsa Madalena Olivier. Tiveram duas filhas. A estas, o pai queria encaminhá-las no protestantismo, mas a mãe, zelosa e sempre atenta, não o consentiu. E as meninas, por isso, eram rudemente castigadas pelo pai.

Um dia, a morte colheu Madalena Olivier, e Francisco resolveu mudar-se para Gênova. Forçou as pequenas a vestirem-se como homens e empreendeu a viagem.

Uma tarde, cansados da caminhada, trataram de repousar um pouco. E o pai, assim que adormeceu, foi, insensivelmente, morto pelas filhas.

Escondido o cadáver, ambas fugiram, deixaram a França, e, sempre envergando roupas masculinas, chegaram a Milão, onde se puseram a serviço de Carlos II, rei da Espanha, então senhor do ducado de Milão.

A companhia em que se engajaram foi enviada para Messina, depois para Nápoles. Ali, incumbida de perseguir uma audaciosa quadrilha de bandoleiros que se embiocara nos Abruzzos, enfiou-se pelas montanhas.

As duas filhas do malfadado Francisco Cassier lutaram com bravura incomum, mas uma delas pereceu. E a irmã, de medo que lhes descobrissem o sexo, tratou de enterrar o cadáver com grande pressa.

Terminada com êxito a expedição que se lançara aos bandidos dos Abruzzos, a jovem, adotando o nome de Carlos Pimentel, tornou a Nápoles com a companhia.

Um dia, em que a moça se achava de sentinela na praça do Castelo Novo, São Francisco, percebendo-a, aproximou-se dela, dizendo-lhe misteriosamente que o procurasse na igreja de Gesu Nuovo, depois do sermão.

Carlos Pimentel boquiabriu-se:
— Que desejará de mim este homem? perguntou-se. Jamais o vi, e nada tenho a tratar com ele!

São Francisco, notando a hesitação da sentinela, tornou, explicando:
— Quero que te vás para confessares. Confessar-me? Por que? Cometi eu porventura algum grande crime? Em sã consciência não sei que grave pecado haja cometido!

E, virando bruscamente as costas ao santo, afastava-se, quando São Francisco, contundentemente, retornou:
— Como podes dizer que não cometeste pecado? Não és uma mulher a viver escondida debaixo de trajes masculinos? Não és Maria Cassier, nascida em Paris, donde vieste para a Itália? Não te escondes também sob o nome de Carlos Pimentel? Não procures negar-mo, que de nada te servirá. Aquele que tudo me revelou é aquele Senhor Jesus que tu vês na cruz. Queres tu que te diga mais? Não foste tu que, de acordo com tua irmã, mataste teu pai tão cruelmente?

O soldado, a estas palavras, pôs-se pálido e trêmulo. E para impedir que o Santo mais falasse, prometeu que iria confessar-se no dia seguinte, embora pensasse o contrário.

São Francisco esperou-a, inutilmente, por dois dias. No terceiro, saiu a procurá-la, e, tendo-a encontrado, disse-lhe:
— É assim que tu tens em conta a palavra dada? Pai, crê em mim, respondeu-lhe ela, eu não pude ir. De resto, é-me impossível ver-te agora, porque, por ordem do vice-rei, embarcaremos imediatamente: partiremos para a Toscana.

O santo pensou por um momento, depois disse:
— Não, não partirás. Jura-me, pelo Cristo, que amanhã de manhã irás procurar-me. Não temas nada, porque tenho grande esperança de que Deus te quer salvar.

Inexplicavelmente, aquele dia mesmo, a ordem de embarque foi revogada, e a jovem apareceu na igreja de Gesu Nuovo, cumprindo a promessa feita a São Francisco de Girolamo.
— Então, disse-lhe ele alegremente, a sorrir: "Querias fugir das mãos de Deus? Lembra-te de que é um Pai que te ama, Aquele que te quer".

Ouvida em confissão, Maria Cassier recebeu a absolvição, cumpriu a penitência que o santo lhe impôs, e se acercou da mesa santa, passando quase que o dia inteiro na igreja, muito feliz, em piedosos exercícios de devoção.

A noitinha, o santo confessor levou-a consigo até a casa da bondosa marquesa de Santo Stefano, onde ficou a viver, retomadas as vestes do próprio sexo, no mais perfeito recato, a tratar de soldados inválidos.

Tal conversão, extraordinária, ocorreu no ano de 1688. Falecida em 1727, onze anos depois do nosso santo, que deixou o mundo no dia 11 de maio de 1716. Maria Cassier, sob juramento, quando do processo de canonização de São Francisco de Girolamo, em 1839, confirmou detalhadamente o que aqui se disse em resumo.

Conta-se ainda de São Francisco que, estando ausente de Nápoles, numa localidade que se situava a cinco léguas daquela cidade, apareceu a um dos irmãos, Cataldo, o qual, aos cuidados de Maria Cassier, desejava morrer ao lado do santo. Maria, ao ver São Francisco no quarto, exortando o bom Cataldo a perseverar até o fim, a levá-lo a uma boa morte, maravilhou-se, uma vez que era sabedora do afastamento do homem de Deus da cidade.

Aquele fato, propalado por toda Nápoles, foi motivo dum sem-número de conversões. E São Fran cisco de Girolamo, sempre humilde, sempre a fugir da glória, aos milagres que Deus obrava por sua intercessão, atribuía-os ele ao santo de sua grande devoção São Ciro.

Deus fê-lo sabedor do dia da morte, um ano antes, quando do falecimento de Cataldo. Disse:
— Daqui um ano nós nos acharemos reunidos. E assim foi, de fato.

Nosso Senhor, no fim da vida, enviou-lhe grandes sofrimentos, aos quais São Francisco recebeu e aceitou sem um único murmúrio. Se fora puro, cristalizara-se. E não cessava de repetir:
— Bendito seja Deus, que nos consola nas tribulações todas.

E quando, instando com ele os mais chegados, para que invocasse São Ciro e assim obtivesse ainda alguns anos mais de vida para dedicar ao serviço de Deus, respondia sorrindo:
—Ah, não! O santo e eu, sobre este ponto, não nos entendemos. A questão aqui, está consumada.

O único pedido que fez foi o de poder viver para contemplar a estátua do seu santo padroeiro que estava quase terminada. Foi atendido, chegou a vê-la. E, tendo-a contemplado, todo banhado em riso, exclamou, comovido:
— Agora sim, morro contente!

A última hora, o demônio assaltou-o com grande violência. E São Francisco, agitando-se terrivelmente, na grande luta que se travava, dizia, como que respondendo a inaudível pergunta:
— Não! Jamais! Retira-te! Nada tenho, nada, a tratar contigo!

O rosto, ditas aquelas palavras iluminou-se, e uma grande calma do santo se apossou, sinal patente de que vencera o Tentador, expulsando-o de si para sempre.

Pôs-se, então, com muita suavidade, a cantar o Magnificat e o Te Deum, como que agradecendo a Deus a grande vitória alcançada.

O corpo de São Francisco de Girolamo está conservado sob um altar lateral da igreja de Gesu Nuovo, em Nápoles. Quantos milagres foram obtidos por intermédio do santo? Muitos. Inúmeros milagres honraram-lhe as santas relíquias.

Pio VII, em 1806, beatificou-o, e Gregório XVI canonizou-o, como vimos, em 1839.

São Francisco de Girolamo é um dos padroeiros de Nápoles.

Referência:
ROHRBACHER, Padre. Vida dos santos: Volume VIII. São Paulo: Editora das Américas, 1959. Edição atualizada por Jannart Moutinho Ribeiro; sob a supervisão do Prof. A. Della Nina. Adaptações: Equipe Pocket Terço. Disponível em: obrascatolicas.com. Acesso em: 04 mai. 2022.

São Francisco de Girolamo, rogai por nós!

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