Catecismo

Namorar para casar: fugindo da cultura do “ficar”

por Thiago Zanetti em 11/08/2025 • Você e mais 809 pessoas leram este artigo Comentar


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Tempo de leitura: 5 minutos

Nos últimos anos, a maneira como as pessoas se relacionam mudou drasticamente. Em meio a aplicativos de encontros, relacionamentos líquidos e a chamada “cultura do ficar”, o namoro sério parece ter perdido espaço. No entanto, para quem busca construir um relacionamento sólido e duradouro, é essencial resgatar o verdadeiro sentido do namoro: preparar-se para o casamento.

O que é a cultura do “ficar” e por que ela é perigosa?

A “cultura do ficar” é caracterizada por relacionamentos rápidos, superficiais e sem compromisso. Nesse modelo, o envolvimento físico e emocional acontece sem um propósito claro, muitas vezes sem nem conhecer de fato a outra pessoa.

O problema é que essa mentalidade gera uma série de consequências:

  • Superficialidade afetiva: não há tempo nem disposição para conhecer profundamente o outro.
  • Apego e frustração: mesmo sem compromisso, há envolvimento emocional, e as decepções se acumulam.
  • Distorção da visão de amor: a relação passa a ser baseada em prazer imediato, e não em entrega e doação.

Do ponto de vista cristão, essa dinâmica esvazia o sentido do amor verdadeiro, que é chamado a ser fiel, exclusivo e aberto à vida. Como ensina o Catecismo da Igreja Católica, a caridade “‘é o vínculo da perfeição’ (Cl 3,14); é a forma das virtudes” (CIC 1827), e São Paulo descreve que:

“O amor é paciente, é benfazejo; não é invejoso, não é presunçoso nem se incha de orgulho; não faz nada de vergonhoso, não é interesseiro, não se encoleriza, não leva em conta o mal sofrido; não se alegra com a injustiça, mas fica alegre com a verdade. Ele desculpa tudo, crê tudo, espera tudo, suporta tudo” (1Cor 13,4-7).

Namorar com propósito: a visão cristã

O namoro, segundo a tradição cristã, não é um passatempo, mas um período de discernimento e amadurecimento para o casamento. É nessa fase que o casal:

  • Se conhece profundamente
  • Aprende a lidar com as diferenças
  • Consolida valores e objetivos comuns
  • Cresce na fé e no respeito mútuo

O namoro com propósito leva em conta que o casamento é uma vocação. O Papa Francisco, na exortação Amoris Laetitia, lembra que 

“O matrimónio é uma vocação, sendo uma resposta à chamada específica para viver o amor conjugal como sinal imperfeito do amor entre Cristo e a Igreja. Por isso, a decisão de se casar e formar uma família deve ser fruto dum discernimento vocacional” (Amoris Laetitia, 72).

Fugindo da lógica descartável

O “ficar” alimenta uma mentalidade de consumo nas relações: quando algo não agrada, troca-se por outro. Para fugir dessa lógica, é preciso adotar três atitudes práticas:

1. Clareza de intenções

Desde o início, deixe claro que seu objetivo no namoro é discernir um futuro casamento. Isso evita que ambos percam tempo em um relacionamento sem direção.

2. Respeito aos limites

Evitar intimidades precoces preserva a amizade, o respeito e a liberdade para discernir se realmente há compatibilidade para uma vida a dois.

3. Crescimento conjunto

O namoro saudável é aquele em que ambos se ajudam a ser melhores, não apenas emocionalmente, mas também espiritualmente.

O papel da fé no namoro

A fé dá ao namoro um fundamento sólido, ajudando o casal a enxergar além do momento presente. Isso significa:

  • Rezar juntos: colocar o relacionamento diante de Deus.
  • Participar da vida da Igreja: viver a fé em comunidade.
  • Buscar aconselhamento: ouvir casais experientes e líderes espirituais.

São João Paulo II escreveu que:

“Deus é amor e vive em si mesmo um mistério de comunhão pessoal de amor. Criando-a à sua imagem e conservando-a continuamente no ser, Deus inscreve na humanidade do homem e da mulher a vocação, e, assim, a capacidade e a responsabilidade do amor e da comunhão. O amor é, portanto, a fundamental e originária vocação do ser humano” (Familiaris Consortio, 11). 

Benefícios de namorar para casar

Quando o namoro tem como meta o casamento, ele se torna mais estável e saudável. Alguns benefícios são:

  • Profundidade emocional: mais diálogo, menos superficialidade.
  • Segurança: clareza sobre o rumo do relacionamento.
  • Maturidade: aprendizado sobre compromisso e fidelidade.
  • Base para a família: construção de um alicerce sólido para o futuro.

Amor que permanece

Em uma sociedade marcada pela pressa e pela descartabilidade, namorar para casar é um ato contracultural — e profundamente libertador. É dizer “não” à lógica do uso e “sim” ao amor que permanece, que constrói e que busca o bem do outro.

O namoro não é um fim em si mesmo, mas um caminho. Um caminho que, percorrido com maturidade e fé, leva ao altar — e, mais importante, a uma vida inteira de amor fiel.

Thiago Zanetti

Por Thiago Zanetti
Jornalista, copywriter e escritor católico. Graduado em Jornalismo e Mestre em História Social das Relações Políticas, ambos pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). É autor dos livros Mensagens de Fé e Esperança (UICLAP, 2025), Deus é a resposta de nossas vidas (Palavra & Prece, 2012) e O Sagrado: prosas e versos (Flor & Cultura, 2012).
Acesse o Blog: www.thiagozanetti.com.br
Siga-o no Instagram: @thiagoz.escritor




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