Espiritualidade

O valor redentor do sofrimento vivido em união com Cristo

por Thiago Zanetti em 08/10/2025 • Você e mais 278 pessoas leram este artigo Comentar


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Tempo de leitura: 5 minutos

Por que sofremos? Essa é uma das perguntas mais profundas da existência humana. Diante da dor, muitos se revoltam, outros se desesperam. No entanto, a fé cristã oferece uma resposta que não apenas consola, mas transforma: o sofrimento pode ter um valor redentor quando é vivido em união com Cristo.

O Catecismo da Igreja Católica nos lembra que “Assim, no sofrimento e na morte, a sua humanidade tornou-se instrumento livre e perfeito do seu amor divino, que quer a salvação dos homens” (CIC, 609). Isso significa que, desde a Cruz, o sofrimento deixou de ser apenas consequência do pecado: ele foi elevado por Cristo a um meio de redenção.

A dor que salva: o exemplo de Jesus

Jesus não fugiu da dor. Ele a assumiu por amor. Na Cruz, Ele carregou os nossos pecados, as nossas doenças, as nossas angústias. O profeta Isaías já havia anunciado:

“Em verdade, ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e carregou os nossos sofrimentos” (Is 53,4).

Mas não apenas isso. Cristo nos convida a segui-lo nesse caminho: “Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mt 16,24).

Aqui está o segredo: a cruz que destrói, quando unida à cruz de Cristo, passa a redimir.

Participar dos sofrimentos de Cristo

São Paulo viveu isso intensamente. Ele escreve aos Colossenses:

“Alegro-me nos sofrimentos que tenho suportado por vós e completo, na minha carne, o que falta às tribulações de Cristo em favor do seu corpo que é a Igreja” (Cl 1,24).

Mas como pode faltar algo à Paixão de Cristo?

O que falta, explica a Igreja, não é eficácia — pois a Cruz de Jesus é absolutamente suficiente para nos salvar. O que falta é a nossa participação. Deus quis nos associar livremente à obra redentora. Não por necessidade, mas por amor. Como ensina o Catecismo:

“A cruz é o único sacrifício de Cristo, ‘único mediador entre Deus e os homens’ (1Tm 2,5). Mas pelo fato de que, em sua Pessoa Divina encarnada, ‘de certo modo uniu a si mesmo todos os homens’, ‘oferece a todos os homens, de uma forma que Deus conhece, a possibilidade de serem associados ao seu Mistério Pascal’” (CIC, 618).

Sofrer com sentido: quando a dor se transforma em oferta

A grande diferença entre o sofrimento cristão e o sofrimento mundano é o sentido. Sofrer por sofrer não santifica ninguém. Mas quando a dor é unida ao sacrifício de Cristo, ela se transforma em amor redentor.

Isso pode ser feito de maneira simples:

  • Ao oferecer uma doença com fé.
  • Ao suportar uma humilhação com paciência.
  • Ao enfrentar dificuldades com esperança e oração.

Santa Teresinha do Menino Jesus dizia: “Quero sofrer por amor e mesmo alegrar-me por amor.” (Manuscrito B, 4v).

O sofrimento como escola de amor

O sofrimento vivido com Cristo forma o coração. Ele purifica, amadurece, fortalece. É no sofrimento que somos treinados para amar verdadeiramente. São João Paulo II, que sofreu com dignidade até o fim de sua vida, ensinou:

“Cristo, de fato, não responde diretamente e não responde de modo abstrato a esta pergunta humana sobre o sentido do sofrimento. O homem percebe a sua resposta salvífica à medida que se vai tornando ele próprio participante dos sofrimentos de Cristo” (Carta Apostólica Salvifici Doloris, n. 26).

O sofrimento nos tira do comodismo, nos faz dependentes da graça, nos convida à comunhão com os outros que sofrem. Ele nos torna mais humanos — e mais santos.

Um tesouro escondido: o apostolado da dor

Poucos falam disso hoje, mas existe uma missão espiritual reservada àqueles que sofrem. A Igreja reconhece o valor apostólico do sofrimento. Há pessoas que não podem sair em missão, mas que, em seu leito, em silêncio, intercedem, oferecem, salvam almas com Cristo.

Como disse o Papa Bento XVI:

“Toma parte com o teu sofrimento nesta obra de salvação do mundo, que se realiza por meio do meu sofrimento, por meio da minha Cruz. À medida que abraçares a tua cruz, unindo-te espiritualmente à minha Cruz, desvendar-se-á a teus olhos o sentido salvífico do sofrimento. Encontrarás no sofrimento a paz interior e até mesmo a alegria espiritual” (Homilia do Papa Bento XVI, Esplanada do Santuário de Fátima, 13 de Maio de 2010).

Esse é o verdadeiro apostolado da dor: um tesouro escondido aos olhos do mundo, mas precioso diante de Deus.

O sofrimento de Maria: modelo perfeito de união com Cristo

Entre todos os exemplos, nenhum é tão sublime quanto o de Maria. Ela é chamada pela Igreja de “Corredentora” não porque nos salva, mas porque se uniu de modo único ao sofrimento redentor de Cristo.

Como afirma o Concílio Vaticano II:

“Assim avançou a Virgem pelo caminho da fé, mantendo fielmente a. união com seu Filho até à cruz. Junto desta esteve, não sem desígnio de Deus (cfr. Jo.19,25), padecendo acerbamente com o seu Filho único, e associando-se com coração de mãe ao Seu sacrifício, consentindo com amor na imolação da vítima que d’Ela nascera; finalmente, Jesus Cristo, agonizante na cruz, deu-a por mãe ao discípulo, com estas palavras: mulher, eis aí o teu filho (cfr. Jo. 19, 26-27)” (Lumen Gentium, n. 58).

Maria nos ensina a sofrer com fé, com amor e com esperança.

Sofrer com Cristo, ressuscitar com Ele

A última palavra nunca será da dor. A cruz é caminho, mas o destino é a ressurreição. O sofrimento cristão não é fim, é passagem.

Como nos lembra São Paulo:

“Soframos com ele, para sermos também glorificados com ele” (Rm 8,17).

E isso não é apenas para depois da morte. Ainda nesta vida, aquele que une seus sofrimentos a Cristo experimenta uma paz que o mundo não pode dar. Uma luz que brota no meio da escuridão.

O caminho da transformação

Sofrer nunca será fácil. Mas sofrer com Cristo é diferente. É participar do amor que salva. É transformar a dor em oferenda, a lágrima em oração, a cruz em escada para o céu.

Não desperdice sua dor. Ofereça-a. Una-a a Jesus. E descobrirá, aos poucos, que até o sofrimento pode ser caminho de plenitude.

“Felizes os que choram, porque serão consolados” (Mt 5,4).

Thiago Zanetti

Por Thiago Zanetti
Jornalista, copywriter e escritor católico. Graduado em Jornalismo e Mestre em História Social das Relações Políticas, ambos pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). É autor dos livros Mensagens de Fé e Esperança (UICLAP, 2025), Deus é a resposta de nossas vidas (Palavra & Prece, 2012) e O Sagrado: prosas e versos (Flor & Cultura, 2012).
Acesse o Blog: www.thiagozanetti.com.br
Siga-o no Instagram: @thiagoz.escritor




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