São Justino, Mártir, Memória
Antífona de entrada
Vernáculo:
Sei que os vossos julgamentos são corretos, e com justiça me provastes, ó Senhor! Perante vós sinto tremer a minha carne, porque temo vosso justo julgamento! Sl. Feliz o homem sem pecado em seu caminho, que na lei do Senhor Deus vai progredindo! (Cf. LH: Sl 118, 75. 120)
Coleta
Ó Deus, que destes ao mártir São Justino um profundo conhecimento de Cristo pela loucura da cruz, concedei-nos, por sua intercessão, repelir os erros que nos cercam e permanecer firmes na fé. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
Primeira Leitura (Eclo 42, 15-26)
Leitura do Livro do Eclesiástico
15Vou recordar as obras do Senhor, vou descrever aquilo que vi. Pelas palavras do Senhor foram feitas as suas obras, de acordo com a sua vontade realizou-se o seu julgamento.16O sol brilhante contempla todas as coisas, e a obra do Senhor está cheia da sua glória.17Os santos do Senhor não são capazes de descrever todas as suas maravilhas.O Senhor todo-poderoso as confirmou, para que tudo continuasse firme para sua glória.18Ele sonda o abismo e o coração, e penetra em todas as suas astúcias.19Pois o Altíssimo possui toda a ciência e fixa o olhar nos sinais dos tempos; Ele manifesta o passado e o futuro e revela as coisas ocultas.20Nenhum pensamento lhe escapa e nenhuma palavra lhe fica escondida.21Pôs em ordem as maravilhas da sua sabedoria, pois só Ele existe antes dos séculos e para sempre.22Nada lhe foi acrescentado, nada tirado, e Ele não precisa de conselheiro algum.23Como são desejáveis todas as suas obras brilhando como centelha que se pode contemplar!24Tudo isso vive e permanece sempre, e em todas as circunstâncias tudo lhe obedece.25Todas as coisas existem aos pares, uma frente à outra, e Ele nada fez de incompleto:26uma coisa completa a bondade da outra, quem, pois, se fartará de contemplar a sua glória?
— Palavra do Senhor.
— Graças a Deus.
Salmo Responsorial (Sl 32)
℟. A palavra do Senhor criou os céus.
— Dai graças ao Senhor ao som da harpa, na lira de dez cordas celebrai-o! Cantai para o Senhor um canto novo, com arte sustentai a louvação! ℟.
— Pois reta é a palavra do Senhor, e tudo o que ele faz merece fé. Deus ama o direito e a justiça, transborda em toda a terra a sua graça. ℟.
— A palavra do Senhor criou os céus, e o sopro de seus lábios, as estrelas. Como num odre junta as águas do oceano, e mantém no seu limite as grandes águas. ℟.
— Adore ao Senhor a terra inteira, e o respeitem os que habitam o universo! Ele falou e toda a terra foi criada, ele ordenou e as coisas todas existiram. ℟.
℣. Eu sou a luz do mundo, aquele que me segue, não caminha entre as trevas, mas terá a luz da vida. (Jo 8, 12) ℟.
Evangelho (Mc 10, 46-52)
℣. O Senhor esteja convosco.
℟. Ele está no meio de nós.
℣. Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo ✠ segundo Marcos
℟. Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo46Jesus saiu de Jericó, junto com seus discípulos e uma grande multidão. O filho de Timeu, Bartimeu, cego e mendigo, estava sentado à beira do caminho.47Quando ouviu dizer que Jesus, o Nazareno, estava passando, começou a gritar: “Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim!”48Muitos o repreendiam para que se calasse. Mas ele gritava mais ainda: “Filho de Davi, tem piedade de mim!”49Então Jesus parou e disse: “Chamai-o”. Eles o chamaram e disseram: “Coragem, levanta-te, Jesus te chama!”50O cego jogou o manto, deu um pulo e foi até Jesus.51Então Jesus lhe perguntou: “O que queres que eu te faça?” O cego respondeu: “Mestre, que eu veja!”52Jesus disse: “Vai, a tua fé te curou”. No mesmo instante, ele recuperou a vista e seguia Jesus pelo caminho.
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.
Antífona do Ofertório
Levábo óculos meos, et considerábo mirabília tua, Dómine, ut dóceas me iustítiam tuam: da mihi intelléctum, ut discam mandáta tua. (Ps. 118, 18. 26 et 73)
Vernáculo:
Abri meus olhos, e então contemplarei as maravilhas que encerra a vossa lei! Eu vos narrei a minha sorte e me atendestes, ensinai-me, ó Senhor, vossa vontade! Vossas mãos me modelaram, me fizeram, fazei-me sábio e aprenderei a vossa lei! (Cf. LH: Sl 118, 18. 26 e 73)
Sobre as Oferendas
Ó Deus, nós vos pedimos: concedei-nos participar dignamente do mistério da Eucaristia, que São Justino defendeu com admirável coragem. Por Cristo, nosso Senhor.
Antífona da Comunhão
Vernáculo:
O que vos digo no escuro, dizei-o à luz do dia; o que vos é sussurrado ao ouvido, proclamai-o sobre os telhados! (Cf. Bíblia CNBB: Mt 10, 27)
Depois da Comunhão
Restaurados, ó Deus, pelo alimento celeste, nós vos suplicamos que, seguindo o ensinamento do mártir São Justino, permaneçamos sempre em ação de graças pelos dons recebidos. Por Cristo, nosso Senhor.
Homilia do dia 01/06/2023
Somos cegos e mendigos
O cego jogou o manto, deu um pulo e foi até Jesus. Então Jesus lhe perguntou: “Que queres que eu te faça?” O cego respondeu: “Mestre, que eu veja!” Jesus disse: “Vai, a tua fé te curou”.
O Evangelho de hoje traz a famosa cura do cego e mendigo de Jericó, Bartimeu. O que significa essa cura para nós? É importante recordar o seguinte: quando Jesus faz milagres, Ele nunca os faz simplesmente pela benfeitoria, pela caridade corporal. Não, não é somente isso. Quando Jesus faz milagres, além do bem físico feito à pessoa, Ele nos está dizendo alguma coisa também a nós. Por quê? Porque as ações de Cristo são salvíficas e reveladoras. E o que quer dizer a cura de Bartimeu, cego e mendigo? Em primeiro lugar, temos de entender que somos nós este cego e mendigo. Por que somos cegos? Somos cegos porque, embora tenhamos fé, nossa fé ainda precisa aumentar. E por que somos mendigos? Somos mendigos porque, embora possamos estar em estado de graça e, portanto, ter em nós a caridade de Deus, a nossa caridade também precisa aumentar. Somos mendigos de Deus e dependemos da graça para que tudo isso cresça. A cegueira significa a fé que precisa aumentar; a mendicância, a caridade que precisa crescer. Mas como iremos vê-lo realizar-se em nossa vida? Antes de tudo, entendamos a cegueira. Se não vemos as coisas com o olhar de Deus, não as vemos como elas são. Eis uma de nossas grandes misérias. Pelo pecado original, temos uma dificuldade enorme de enxergar os fatos. Vivemos perturbados passionalmente, ou seja, nossas paixões e emoções nos fazem distorcer a realidade. Quantas vezes passamos por situações que parecem enormes, monstruosas, tremendas, enquanto as pessoas ao redor não entendem por que sofremos tanto. Para elas, que não estão envolvidas afetivamente como nós, a dificuldade parece simples; para nós, é uma montanha que não conseguimos transpor. Pois bem, além da dificuldade de enxergar a realidade por causa do pecado original, há também uma outra: como ainda não vemos a Deus face a face, não compreendemos de todo como as coisas realmente são no projeto divino. Sim, porque Deus é a fonte do ser todas as coisas, de modo que elas são como Deus as vê, não como nós as vemos. Por exemplo, cremos que nos conhecemos; mas, na verdade, nos ignoramos. É Jesus quem nos conhece, Ele sabe quem somos. Muitas vezes, temos de nós mesmos uma visão distorcida: há em nós coisas más que não reconhecemos, e outras boas que exageramos… Mas Jesus nos conhece perfeitamente, e não só isso: ama-nos e quer o nosso bem. Por isso precisamos enxergar a realidade, e a forma de o fazer chama-se oração. A oração é o exercício da fé no qual pedimos a Jesus seus olhos emprestados. Na oração, pedimos a Cristo que nos revele a nós mesmos: “Quem sou eu, Jesus? Que projetos tendes para mim? O que quereis de mim, Senhor?” Somos cegos, não vemos sequer quem nós somos. Não é que não enxerguemos um palmo à frente do nariz, não enxergamos um palmo para dentro do nariz! Não vemos as coisas de fora, não vemos as coisas de dentro. Mas Jesus vê, “Ele é a luz que ilumina todo homem”, diz o evangelho de S. João. Aqui, portanto, está a primeira lição da cura de Bartimeu: Jesus quer-nos curar da nossa cegueira. Sim, precisamos enxergar quem somos. Feito isso, ou seja, uma vez que começamos a ver-nos nos planos de Deus, então podemos começar a transformar nosso coração, para que ele queira o que Jesus mesmo quer. Afinal, não só não nos conhecemos como tampouco nos amamos. Não temos por nós verdadeiro amor porque não nos amamos com a vontade de Cristo. Jesus é quem nos ama de verdade. Quantas coisas andamos querendo por julgá-las boas, quando, na verdade, são veneno! Por quantas coisas passamos dias, semanas, meses, anos, a vida inteira lutando, mas que, no fim das contas, só nos farão mal! Nós não somos nossos amigos, mas Cristo o é, Ele quer o nosso bem. Por isso, a melhor coisa que temos a fazer é parar de querer o que queremos para querer o que Jesus quer. Se desejamos o que Jesus não deseja, mudemos imediatamente de vontade, conformando-a à de Cristo, querendo o que Ele quer, porque é Ele quem sabe o que é bom para nós. Jesus põe-se diante de nós como um Amigo que passa à beira do caminho desses cegos e mendigos que somos nós. Temos de pedir a Ele na oração: “Jesus, que eu veja. Jesus, que eu veja com os vossos olhos. Jesus, que eu enxergue como vós enxergais”. Somente assim, com os olhos emprestados de Cristo, começaremos a ver que nossas vontades e projetos pessoais nem sempre são bons, mas que as vontades e projetos de Cristo para nós, sim, sempre o são. Jesus nos ama, Ele é o nosso verdadeiro amigo! Queiramos pois o que Jesus quer, deixemo-nos transformar. Quando formos rezar, é importante que estejamos dispostos a mudar. Se rezamos, mas não estamos dispostos a sair da oração diferentes, não estamos rezando direito. Sim, há gente que passa horas perdidas na oração. Não porque a oração seja coisa ruim, mas porque as pessoas é que rezam mal. Há quem vá ao sacrário para tentar mudar Jesus, como se a oração fosse uma espécie de “queda de braço” para convencer Deus a seguir os nossos planos: “Seja feita a minha vontade assim na terra como no céu”... Precisamos curar-nos dessa cegueira e então, vendo que Deus quer mudar a nossa vontade, querer o que Ele quer. Somente assim deixaremos de ser cegos e mendigos, porque enxergaremos a verdade com os olhos de Cristo e teremos a grande riqueza que é o seu amor, a sua vontade realizada em nossos corações.
Deus abençoe você!
A Igreja passa por uma grande apostasia. Os católicos não estão mais prontos para o martírio. Ao primeiro aperto, a alma “espana” e abandona a fé. Antigamente, para que os cristãos apostatassem, eram necessárias ameaças, cadeias, torturas... Hoje, não é preciso muito: basta ser “cancelado” ou temer que os “amigos” olhem torto, para que o fiel já se conforme ao mundo.Isso acontece porque não há mais pessoas do calibre de um São Justino, que verdadeiramente se ponham a estudar não só para conhecer as coisas, mas para saboreá-las por dentro, tendo um conhecimento experimental da verdade, que nos torna capazes de derramar o próprio sangue para testemunhar a fé. Assista à homilia do Pe. Paulo Ricardo para esta quarta-feira, dia 1.º de junho, e peçamos a intercessão de São Justino, a fim de que nos dê a graça de experimentarmos as verdades que ele defendeu com seus escritos e com o seu sangue!
Santo do dia 01/06/2023
São Justino, Mártir (Memória)
Local: Roma, Itália
Data: 01 de Junho† c. 165
Filósofo cristão e cristão filósofo, como foi acertadamente definido, Justino (nascido em Flávia Neápolis, na Samaria, no início do século II) pertence àquela plêiade de pensadores que em cada período da história da Igreja tentaram uma síntese da provisória sabedoria humana e das inalteráveis afirmações da revelação cristã. O itinerário da sua conversão a Cristo passa pela experiência estoica, pitagórica, aristotélica e neoplatônica. Daí o desenlace quase inevitável, ou melhor, providencial e a adesão à verdade integral do cristianismo.
Ele mesmo conta que, insatisfeito com as respostas dadas pelas várias filosofias, retirou-se para um lugar deserto, à beira-mar, para meditar e que um velho, a quem tinha confiado sua desilusão, respondeu-lhe que nenhuma filosofia podia satisfazer o espírito humano, porque a razão sozinha é incapaz de garantir a posse plena da verdade sem o auxílio de Deus. Foi assim que Justino, aos trinta anos, descobriu o cristianismo, tornou-se seu propagador e para proclamar ao mundo essa sua descoberta escreveu suas duas Apologias.
A primeira delas dedicou-a ao imperador Antonino Pio e ao filho Marco Aurélio, ao Senado e ao povo romano. Escreveu outras obras, pelo menos oito, entre as quais a mais considerável é intitulada Diálogo com Trifão e é relembrada porque abre o caminho à polêmica antijudaica na literatura cristã. Mas as duas Apologias permanecem como o documento mais importante, porque destes escritos aprendemos como era explicado o cristianismo naquela época e como eram celebrados os ritos litúrgicos, em particular a administração do batismo e a celebração do mistério eucarístico. Aqui não há argumentações filosóficas, mas comoventes testemunhos de vida da primitiva comunidade cristã, à qual Justino está feliz de pertencer: “Eu, um deles…”. Tal afirmação podia custar-lhe a vida.
De fato, Justino pagou com a vida a sua pertença à Igreja. Por ocasião de sua ida a Roma, foi denunciado por um hipócrita e cínico filósofo, Crescêncio, com quem havia disputado por muito tempo. Também o magistrado que o julgou era filósofo estoico, amigo e confidente de Marco Aurélio. Mas para o magistrado, Justino não passava de simples cristão, igual a seus seis companheiros, entre os quais uma mulher, todos condenados à decapitação pela sua fé em Cristo. Do martírio de são Justino e companheiros se conservam as Atas autênticas.
Referência:
SGARBOSSA, Mario; GIOVANNI, Luigi. Um santo para cada dia. São Paulo: Paulus, 1983. 397 p. Tradução de: Onofre Ribeiro. Adaptações: Equipe Pocket Terço.
São Justino, rogai por nós!