Doutrina Católica
10 Heresias condenadas pela Igreja Católica
por Equipe Pocket Terço • Você e mais 329 pessoas leram este artigo Comentar
Tempo de leitura: 11 minutos
Neste artigo, vamos apresentar 10 heresias condenadas pela Igreja Católica ao longo de seus 2.000 anos de história. Mas, antes disso, precisamos entender o que é uma heresia.
O que é heresia?
No contexto da Igreja, uma heresia ocorre quando alguém nega ou questiona uma verdade de fé definida pela Igreja. A palavra vem do grego haíresis, que significa “escolha”, indicando que o herege opta por acreditar em algo contrário ao ensinamento oficial.
Ao longo da história, surgiram muitas ideias que distorciam as verdades reveladas por Cristo. A Igreja combateu essas heresias para preservar e proteger a fé.
1. Marcionismo
O Marcionismo foi uma das primeiras heresias que surgiu na Igreja Católica, no século II.
Fundada por Marcião de Sinope, essa doutrina propunha uma visão diferente sobre a relação entre o Antigo e o Novo Testamento.
Marcião, filho de um bispo, foi para Roma por volta de 144 d.C., onde começou a espalhar suas ideias.
Ele acreditava que o Deus do Antigo Testamento era inferior, vingativo e legalista, enquanto o Deus pregado por Jesus era bom e misericordioso, ou seja, dois deuses diferentes.
Com essa ideia, Marcião criou seu próprio cânon bíblico, excluindo o Antigo Testamento e aceitando apenas uma versão editada do Evangelho de Lucas e dez cartas de São Paulo.
Suas crenças contradiziam a unidade e imutabilidade de Deus. Por isso, e pela alteração nas Escrituras, Marcião foi excomungado e suas ideias declaradas heréticas.
2. Montanismo
O Montanismo foi uma heresia surgida no século II, fundada por Montano.
Conhecido como “A Nova Profecia”, o movimento se destacou por suas profecias extravagantes e pela visão de um fim do mundo próximo.
Montano afirmava ser porta-voz direto do Espírito Santo e pregava que uma nova era, superior à dos apóstolos, havia começado. Ele e suas seguidoras, Priscila e Maximila, promoviam rigor moral, jejuns, celibato e vida ascética. O movimento rapidamente se espalhou pelo Império Romano.
A Igreja condenou o Montanismo porque suas profecias afirmavam ser superiores aos ensinamentos de Cristo e dos apóstolos, desafiando a autoridade dos bispos. Além disso, suas práticas rigorosas, como jejuns extremos e a proibição do casamento, eram vistas como distorções da doutrina dos Evangelhos.
3. Gnosticismo
O Gnosticismo foi uma das heresias mais influentes no Cristianismo.
Ele ensinava que a salvação vinha por meio de um conhecimento secreto, chamado “gnose”.
Os gnósticos acreditavam que o mundo material era mau, criado por um deus inferior chamado demiurgo, enquanto o verdadeiro Deus, bom e distante, seria a fonte de tudo. Para eles, a salvação consistia em libertar a alma do corpo físico, visto como uma prisão, em vez de pela fé em Jesus Cristo.
A Igreja condenou o Gnosticismo por negar a bondade da criação, a encarnação de Cristo e por promover um elitismo espiritual que afastava os fiéis da verdadeira fé.
4. Docetismo
O Docetismo, surgido no início do século II, afirmava que Jesus não tinha um corpo humano real, apenas uma aparência física. Isso colocava em risco a fé na encarnação, paixão e ressurreição de Cristo.
Influenciado por filosofias dualistas, que separavam o mundo material do espiritual, o docetismo via a matéria como má, tornando inconcebível que Deus pudesse assumir um corpo físico. Assim, os docetistas pregavam que os sofrimentos de Jesus na cruz foram apenas ilusórios.
A Igreja condenou o Docetismo por negar a encarnação real de Cristo, essencial para a redenção. Se Jesus não tivesse assumido a natureza humana e realmente sofrido na cruz, a salvação seria impossível.
5. Adocionismo
O Adocionismo foi uma heresia cristológica que surgiu nos séculos II e VIII.
Ela ensinava que Jesus era Filho de Deus por adoção, e não por natureza, o que contrariava o ensinamento da Igreja sobre a união das naturezas divina e humana em Cristo.
Embora tenha surgido no século II, o adocionismo ganhou destaque no século VIII, na Espanha, com líderes como Elipando, arcebispo de Toledo, e Félix, bispo de Urgel. Eles afirmavam que Jesus, em sua humanidade, foi adotado como Filho de Deus por mérito e obediência. No entanto, essa ideia criava uma divisão entre a humanidade e a divindade de Cristo.
A Igreja condenou o Adocionismo por comprometer a doutrina da união hipostática, que afirma a união inseparável das naturezas divina e humana em Jesus. Ao sugerir que sua filiação era adotiva, negava-se sua filiação natural e eterna com o Pai, essencial para a Trindade e a encarnação.
6. Arianismo
O Arianismo questionava a divindade de Jesus Cristo e gerou um grande debate teológico.
Esse movimento, liderado por Ário, um presbítero de Alexandria, ensinava que Jesus, o Filho de Deus, não era coeterno nem consubstancial com o Pai, mas criado por Ele, com um início no tempo.
Essas ideias rapidamente ganharam seguidores e causaram divisões profundas na Igreja.
Preocupado com a unidade, o imperador Constantino convocou o Concílio de Niceia, reunindo bispos de várias regiões para resolver a controvérsia.
Vale ressaltar que, como vimos e veremos mais adiante, a Igreja Católica existia e combatia heresias muito antes de Constantino. Se você achava que Constantino fundou a Igreja, saiba que isso não é verdade. Já ouviu essa versão antes? Estamos curiosos para ler seu comentário.
Heresias como o Marcionismo, Montanismo e Gnosticismo já haviam sido enfrentadas séculos antes, o que contradiz o argumento de alguns protestantes de que a Igreja Católica teria sido fundada por ele.
O Concílio de Niceia, convocado por Constantino, foi um marco na história da Igreja e estabeleceu precedentes para futuros concílios.
A Igreja condenou o Arianismo porque ele negava a plena divindade de Cristo, essencial para a fé cristã. Sem a divindade de Jesus, a salvação estaria comprometida, já que apenas Deus pode redimir a humanidade. Além disso, negar a consubstancialidade prejudicava a doutrina da Trindade.
No Concílio de Niceia, liderado por Santo Atanásio, os bispos reafirmaram a divindade de Cristo e sua igualdade com o Pai, formulando o Credo Niceno, que declara Jesus como “Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai”. Esse credo foi essencial para combater o Arianismo.
Embora condenado em Niceia, o Arianismo continuou a influenciar alguns imperadores e líderes eclesiásticos por décadas, sendo definitivamente condenado no Primeiro Concílio de Constantinopla, em 381 d.C., onde a doutrina da Trindade foi reafirmada.
7. Macedonianismo
O Macedonianismo foi uma heresia do século IV que negava a divindade do Espírito Santo, afirmando que Ele era uma criatura subordinada ao Pai e ao Filho.
O nome vem de Macedônio, ex-bispo de Constantinopla, que influenciou essa controvérsia. Após o Concílio de Niceia definir a consubstancialidade do Filho com o Pai, a natureza do Espírito Santo ficou em aberto. Macedônio e seus seguidores aproveitaram essa incerteza para ensinar que o Espírito Santo não era Deus, mas uma força criada por Ele.
Essa ideia se espalhou, especialmente no Oriente, gerando confusão e ameaçando a unidade da Igreja.
A Igreja condenou o Macedonianismo por negar a consubstancialidade do Espírito Santo, essencial para a doutrina da Trindade. Sem reconhecer o Espírito Santo como Deus verdadeiro, a compreensão da Trindade ficava comprometida.
Para resolver a questão, a Igreja convocou o Primeiro Concílio de Constantinopla em 381 d.C., onde a divindade do Espírito Santo foi reafirmada. Ele foi declarado “Senhor que dá a vida, que procede do Pai, e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado”, complementando o Credo Niceno-Constantinopolitano.
Então, se você acredita em Deus como um único Deus em três Pessoas — a Santíssima Trindade — saiba que foi a Igreja Católica quem definiu esse dogma, fundamentado na Sagrada Tradição e nas Escrituras, mesmo que a palavra “Trindade” não apareça na Bíblia.
8. Pelagianismo
O Pelagianismo foi uma heresia do século V, promovida por Pelágio, um monge britânico em Roma.
Ele questionava doutrinas centrais do Cristianismo, como o pecado original e a graça divina, defendendo que as pessoas poderiam alcançar a santidade e a salvação apenas pelo próprio esforço, sem depender da graça de Deus.
Suas ideias ganharam força, especialmente em Roma e na África do Norte, sendo difundidas por seus seguidores.
A Igreja condenou o Pelagianismo por negar a graça essencial para a salvação e minimizar os efeitos do pecado original.
Santo Agostinho foi o principal opositor de Pelágio, defendendo a doutrina da graça em obras como De natura et gratia e De peccato originali, argumentando que o pecado original inclinava toda a humanidade ao mal, e que apenas a graça de Deus poderia restaurar o ser humano.
9. Protestantismo
O Protestantismo surgiu no século XVI, quando Martinho Lutero fixou suas 95 Teses na igreja do Castelo de Wittenberg.
Suas ideias se espalharam rapidamente e influenciaram outros reformadores, como João Calvino, na Suíça, e Henrique VIII, na Inglaterra, que também romperam com a Igreja Católica. Eles defendiam doutrinas como sola scriptura (somente a Escritura) e sola fide (somente a fé), rejeitando a tradição e o magistério da Igreja.
Os reformadores pregavam que a Bíblia era a única fonte infalível de autoridade, e que a salvação vinha pela fé em Jesus, sem a mediação da Igreja ou das obras. Reconheciam apenas dois sacramentos: batismo e eucaristia, em oposição aos sete da Igreja Católica.
A Igreja respondeu ao crescimento do Protestantismo com a Contrarreforma, liderada pelo Concílio de Trento, reafirmando a tradição, a importância das obras junto com a fé, os sete sacramentos e a autoridade do Papa.
A condenação do Protestantismo visava proteger a unidade doutrinária e a fé, conforme a tradição apostólica.
10. Modernismo
O Modernismo foi um movimento teológico e filosófico que surgiu no final do século XIX e início do século XX, buscando reinterpretar os dogmas e tradições da Igreja Católica à luz dos avanços científicos, históricos e culturais.
O Papa Pio X chamou o modernismo de “síntese de todas as heresias”, pois ele desafiava a fé e a autoridade do Magistério. Em meio a transformações como a Revolução Industrial e o avanço das ciências, intelectuais católicos sentiram a necessidade de adaptar a fé ao mundo moderno.
Teólogos como Alfred Loisy, George Tyrrell e Ernesto Buonaiuti lideraram o movimento, propondo conciliar a fé com a ciência, aplicando métodos críticos às Escrituras e questionando a infalibilidade papal. Eles acreditavam que os dogmas poderiam evoluir conforme a consciência da Igreja se desenvolvesse.
A Igreja condenou o modernismo, levando à excomunhão de alguns teólogos e reforçando a formação sólida e fiel à tradição nos seminários.
Trouxemos aqui 10 heresias condenadas pela Igreja Católica. Cada uma delas representou um desafio e, ao ser combatida, ajudou a proteger a fé de sempre, a Fé universal, a Fé Católica.
Tem alguma outra heresia que você sabe e não mencionamos? Comente aqui embaixo! Aproveite para compartilhar com alguém que pode aprender algo com este artigo.
– Equipe Pocket Terço
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