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A base bíblica da intercessão de Maria. O que todo católico precisa saber
por Thiago Zanetti em 05/09/2025 • Você e mais 631 pessoas leram este artigo Comentar

Tempo de leitura: 6 minutos
A intercessão de Maria é uma das doutrinas mais mal compreendidas pelos que não conhecem em profundidade a fé católica. Frequentemente, argumenta-se que não há base bíblica para pedir a intercessão de Maria ou dos santos, e que esse ato seria uma forma de “substituir Jesus” como único mediador. No entanto, ao analisar as Escrituras com clareza, contexto e fidelidade à Tradição apostólica, é possível demonstrar que a intercessão dos santos — e em especial de Maria — está em perfeita harmonia com a Revelação. Neste artigo, vamos expor a base bíblica que nos permite afirmar: Maria pode, sim, interceder por nós.
1. Jesus é o único mediador — mas não o único intercessor
A objeção mais comum é baseada em 1Tm 2,5:
“Há um só Deus e um só mediador entre Deus e a humanidade: o homem Cristo Jesus.”
Essa passagem é verdadeira e central. De fato, Jesus é o único mediador no sentido da redenção. Só Ele morreu por nós, só Ele nos reconciliou com o Pai, e só em Seu nome podemos ser salvos.
No entanto, a própria Bíblia apresenta múltiplos intercessores entre os homens e Deus. Exemplo claro é Moisés, que intercede pelo povo em Êxodo 32,11-14, ou Abraão, que intercede por Sodoma em Gênesis 18.
Assim, embora só Cristo seja mediador da salvação, outros podem interceder por nós diante d’Ele, como parte da comunhão dos santos.
2. A intercessão dos santos é bíblica
O livro do Apocalipse mostra claramente que os santos no Céu estão conscientes das nossas necessidades e intercedem por nós. Veja:
“E veio um outro anjo que se colocou perto do altar, com um turíbulo de outro. Ele recebeu uma grande quantidade de incenso, para oferecê-lo com as orações de todos os santos, no altar de ouro que está diante do trono.” (Apocalipse 8,3)
Aqui, vemos que as orações dos santos chegam a Deus como incenso. Esses santos estão no Céu — e suas orações são unidas às nossas. O mesmo livro diz:
“(…) os vinte e quatro Anciãos prostraram-se diante do Cordeiro. Todos tinham harpas e taças de ouro cheias de incenso, que são orações dos santos.” (Apocalipse 5,8)
A Bíblia mostra, portanto, que há orações subindo dos santos a Deus. Se eles podem interceder, é lógico concluir que podem ouvir nossas súplicas — não por poder próprio, mas pela graça que recebem de Deus.
3. Maria está viva no Céu, em corpo e alma
A Igreja crê — e a Tradição confirma — que Maria foi elevada ao Céu em corpo e alma (cf. Dogma da Assunção – cf. Constintuição Apostólica Munificentissimus Deus -, definido por Pio XII em 1950). A Bíblia nos dá indícios disso, como a visão da “mulher vestida de sol” em Apocalipse 12,1:
“Então apareceu no céu um grande sinal: uma mulher vestida do sol, tendo a lua debaixo dos pés e, sobre a cabeça, uma coroa de doze estrelas.”
Essa mulher é identificada, de forma simbólica, como Israel, a Igreja e Maria — a Mãe do Salvador. Estando no Céu, glorificada, ela está unida plenamente a Cristo e, portanto, pode interceder por nós.
4. Em Caná, Maria intercede — e Jesus atende
O episódio das bodas de Caná (João 2,1-11) é profundamente simbólico. Ali, Maria percebe a necessidade dos noivos e se dirige a Jesus:
“Eles não têm mais vinho!” (Jo 2,3)
Jesus responde:
“Mulher, que é isso, para mim e para ti? A minha hora ainda não chegou.” (Jo 2,4)
Mesmo assim, Ele realiza o milagre após a intervenção de Maria.
Esse é o primeiro milagre de Jesus, e acontece por intercessão d’Ela. Maria não toma o lugar de Cristo, mas conduz as pessoas até Ele: “Fazei tudo o que Ele vos disser!” (Jo 2,5).
Essa passagem mostra Maria como intercessora atenta às necessidades humanas — e Jesus atende ao seu pedido.
5. A Mãe do Rei tem papel de intercessora
Na cultura bíblica, a figura da rainha-mãe tinha papel de destaque na corte. Em 1Rs 2,19-20, vemos a relação entre Salomão e Betsabé, sua mãe:
“Betsabéia foi ao rei Salomão para falar a respeito de Adonias. O rei levantou-se e veio a seu encontro, prostou-se diante dela e, depois, sentou-se no trono. Puseram também um outro para a mãe do rei, a qual sentou-se à sua direita.”
“Pede, mãe. Não é justo que eu te decepcione.” (1Rs 2,20)
Essa figura é um “tipo” (uma pré-figuração) de Maria como Rainha-Mãe no Reino messiânico. O próprio Jesus, descendente de Davi, estabelece seu Reino eterno (cf. Lc 1,32-33), e Maria ocupa esse lugar à Sua direita, como intercessora.
6. A Comunhão dos Santos e a oração uns pelos outros
A Carta aos Hebreus diz:
“Vós, ao contrário, vos aproximastes do monte Sião e da cidade do Deus vivo, a Jerusalém celeste; da reunião festiva de milhões de anjos; da assembleia dos primogênitos, cujos nomes estão inscritos nos céus. Vós vos aproximastes de Deus, o Juiz de todos; dos espíritos dos justos que chegaram à perfeição.” (Hebreus 12,22-23)
Isso mostra que, ao rezar, estamos em comunhão com os santos e os justos no Céu — a comunhão dos santos, professada no Credo.
Se podemos pedir oração aos irmãos na Terra, por que não aos que estão no Céu, plenamente unidos a Deus? Se a morte não rompe a caridade cristã (Rm 8,38-39), eles continuam a interceder com ainda mais eficácia.
O papel de Maria na comunhão entre Céu e Terra
Maria pode ouvir nossas orações e interceder por nós não por poder próprio, mas porque está glorificada no Céu, unida ao Filho e à Igreja triunfante. A Bíblia não só não condena essa prática, como apresenta sólidos fundamentos para ela.
Sua intercessão em Caná, sua presença como Rainha-Mãe, a oração dos santos em Apocalipse e a comunhão entre Céu e Terra revelada em Hebreus são fortes indícios de que, ao nos dirigirmos a Maria, não estamos desviando o foco de Cristo, mas confiando em quem está mais próxima d’Ele.
Como dizia São Luís Maria Grignion de Montfort:
“A mais perfeita devoção a Maria é aquela que nos leva mais perfeitamente a Jesus.”

Por Thiago Zanetti
Jornalista, copywriter e escritor católico. Graduado em Jornalismo e Mestre em História Social das Relações Políticas, ambos pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). É autor dos livros Mensagens de Fé e Esperança (UICLAP, 2025), Deus é a resposta de nossas vidas (Palavra & Prece, 2012) e O Sagrado: prosas e versos (Flor & Cultura, 2012).
Acesse o Blog: www.thiagozanetti.com.br
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