Catecismo

GRAÇA E LIVRE ARBÍTRIO

por Marcos A. Fiorito • Você e mais 171 pessoas leram este artigo Comentar

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Se existe uma questão intrincada que atordoa a mente de algumas pessoas é essa a respeito da nossa liberdade. Até que ponto, diante da vontade de Deus e das tentações, sou livre para escolher o caminho que realmente desejo seguir. A nossa intenção ao escrever este artigo é esclarecer o assunto à luz da doutrina cristã.

Deus criou os seres inteligentes dentro de um plano excelso, pois são chamados a participar da sua glória eterna gozando de sua presença face a face no Céu. A isso chamamos de visão beatífica, e nisso se resume a bem-aventurança.

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Deus constituiu os anjos e os homens a sua imagem e semelhança, a saber: possuem inteligência, vontade e liberdade. Por isso o homem é senhor de seus atos. E por ter livre arbítrio, pode escolher por si mesmo o seu caminho, ainda que adverso do estabelecido por Deus.

Apesar do pecado original, Deus nos inspira ao bem através da nossa consciência fortificada pela graça.

Há dois tipos de graça: Graça habitual (ou santificante) e graça atual. Segundo o Catecismo da Santa Igreja: “A graça santificante é um dom habitual, uma disposição estável e sobrenatural para aperfeiçoar a própria alma e torná-la capaz de viver com Deus, agir por seu amor. Deve-se distinguir a graça habitual, disposição permanente para viver e agir conforme o chamado divino, e as graças atuais, que designam as intervenções divinas, quer na origem da conversão, quer no decorrer da obra da santificação” (CIC § 2000).

A graça habitual é um dom divino que nos torna filhos adotivos de Deus, herdeiros de sua glória e irmãos de Jesus Cristo. Ela nos dá um incalculável privilégio, que é a participação da natureza divina, como nos ensina São Pedro (II Pd 1, 3-4).

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A graça atual nos é dada em socorro muito em função de nossa miséria humana e nos auxilia à prática da virtude. Ela move nossos corações para o sentido do bem. Ela pode converter uma alma petrificada no mal, pode nos estimular à santidade, pode nos inclinar a fazer atos de caridade, fortalecer nossa vontade, etc. Enfim, são muitas as atribuições da graça atual.

Através dos sacramentos, dilatamos o nosso estado de graça (santificante); através da graça atual resistimos melhor às tentações e progredimos na vida espiritual. Portanto, é através da correspondência à graça que nós mantemos nossa vida sobrenatural.

A Igreja nos ensina que Deus nunca toca em nosso livre arbítrio, nunca escolhe por nós. Muito menos o Maligno pode nos forçar ao erro sem nosso consentimento. Contrariamente ao que dizia Lutero, que defendeu que o homem é como um jumento: ora Deus o arrasta para o bem, ora o demônio o arrasta para o mal. Calvino também desfigurou a doutrina do livre arbítrio quando expôs sua doutrina a respeito das predestinações. Segundo ele, os homens são destinados ao Céu ou Inferno independentemente de uma vida reta ou desviada.

O certo é que Deus não nos criou como robôs, ou seja, programados para o bem ou o mal. Temos liberdade de seguir uma via ainda que ela nos conduza ao precipício. É semelhante aos pais que aconselham seus filhos para o caminho reto e, apesar de tudo, tomam outro destino, perdendo-se. A diferença é que Deus nos adverte e nos socorre através de sua graça, tornando a nossa escolha ainda mais responsável.

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Temos um exemplo claro de intervenção vigorosa da graça em Saulo de Tarso, que de perseguidor dos cristãos, tornou-se o maior de todos os apóstolos de Cristo. Embora ele tenha recebido uma graça eficaz, que se difere de uma graça comum, ainda assim teve que dar o seu consentimento.

Como brilhantemente ensinam São Tomás de Aquino e São Boaventura, a graça não destrói a natureza, muito pelo contrário, ela a aperfeiçoa.

Marcos A. Fiorito

Teólogo e historiador

(Autoriza-se reprodução do artigo com citação da fonte e autor.)

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