Transfiguração do Senhor, Festa
Antífona de entrada
Vernáculo:
Meu coração disse: Senhor, buscarei a vossa face. É vossa face, Senhor, que eu procuro, não desvieis de mim o vosso rosto! (Cf. MR: Sl 26, 8. 9) Sl. O Senhor é minha luz e salvação; de quem eu terei medo? (Cf. LH: Sl 26, 1ab)
Glória
Glória a Deus nas alturas,
e paz na terra aos homens por Ele amados.
Senhor Deus, rei dos céus,
Deus Pai todo-poderoso.
Nós vos louvamos,
nós vos bendizemos,
nós vos adoramos,
nós vos glorificamos,
nós vos damos graças
por vossa imensa glória.
Senhor Jesus Cristo, Filho Unigênito,
Senhor Deus, Cordeiro de Deus,
Filho de Deus Pai.
Vós que tirais o pecado do mundo,
tende piedade de nós.
Vós que tirais o pecado do mundo,
acolhei a nossa súplica.
Vós que estais à direita do Pai,
tende piedade de nós.
Só Vós sois o Santo,
só vós, o Senhor,
só vós, o Altíssimo,
Jesus Cristo,
com o Espírito Santo,
na glória de Deus Pai.
Amém.
Coleta
Ó Deus, que na gloriosa Transfiguração de vosso Filho confirmastes os mistérios da fé pelo testemunho de Moisés e Elias, e manifestastes, de modo admirável, a nossa glória de filhos adotivos, concedei aos vossos servos e servas ouvir a voz do vosso Filho amado e compartilhar da sua herança. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
Primeira Leitura (Dn 7, 9-10. 13-14)
Leitura da Profecia de Daniel
Eu continuava olhando até que foram colocados uns tronos, e um Ancião de muitos dias aí tomou lugar. Sua veste era branca como neve e os cabelos da cabeça, como lã pura; seu trono eram chamas de fogo, e as rodas do trono, como fogo em brasa. 10Derramava-se aí um rio de fogo que nascia diante dele; serviam-no milhares de milhares, e milhões de milhões assistiam-no ao trono; foi instalado o tribunal e os livros foram abertos.
13Continuei insistindo na visão noturna, e eis que, entre as nuvens do céu, vinha um como filho de homem, aproximando-se do Ancião de muitos dias, e foi conduzido à sua presença. 14Foram-lhe dados poder, glória e realeza, e todos os povos, nações e línguas o serviam: seu poder é um poder eterno que não lhe será tirado, e seu reino, um reino que não se dissolverá.
— Palavra do Senhor.
— Graças a Deus.
Salmo Responsorial (Sl 96)
℟. Deus é Rei, é o Altíssimo, muito acima do universo.
— Deus é Rei! Exulte a terra de alegria, e as ilhas numerosas rejubilem! Treva e nuvem o rodeiam no seu trono, que se apoia na justiça e no direito. ℟.
— As montanhas se derretem como cera ante a face do Senhor de toda a terra; e assim proclama o céu sua justiça, todos os povos podem ver a sua glória. ℟.
— Porque vós sois o Altíssimo, Senhor, muito acima do universo que criastes, e de muito superais todos os deuses. ℟.
Segunda Leitura (2Pd 1, 16-19)
Leitura da Segunda Carta de São Pedro
Caríssimos, 16não foi seguindo fábulas habilmente inventadas que vos demos a conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, mas sim, por termos sido testemunhas oculares da sua majestade. 17Efetivamente, ele recebeu honra e glória da parte de Deus Pai, quando do seio da esplêndida glória se fez ouvir aquela voz que dizia: “Este é o meu Filho bem-amado, no qual ponho o meu bem-querer”. 18Esta voz, nós a ouvimos, vinda do céu, quando estávamos com ele no monte Santo. 19E assim se nos tornou ainda mais firme a palavra da profecia, que fazeis bem em ter diante dos olhos, como lâmpada que brilha em lugar escuro, até clarear o dia e levantar-se a estrela da manhã em vossos corações.
— Palavra do Senhor.
— Graças a Deus.
℣. Eis meu Filho muito amado, nele está meu bem-querer, escutai-o, todos vós! (Mt 17, 5c). ℟.
Evangelho (Mt 17, 1-9)
℣. O Senhor esteja convosco.
℟. Ele está no meio de nós.
℣. Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo ✠ segundo Mateus
℟. Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, 1Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e os levou a um lugar à parte, sobre uma alta montanha. 2E foi transfigurado diante deles; o seu rosto brilhou como o sol e as suas roupas ficaram brancas como a luz. 3Nisto apareceram-lhes Moisés e Elias, conversando com Jesus. 4Então Pedro tomou a palavra e disse: “Senhor, é bom ficarmos aqui. Se queres, vou fazer aqui três tendas: uma para ti, outra para Moisés, e outra para Elias”. 5Pedro ainda estava falando, quando uma nuvem luminosa os cobriu com sua sombra. E da nuvem uma voz dizia: “Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo meu agrado. Escutai-o!” 6Quando ouviram isto, os discípulos ficaram muito assustados e caíram com o rosto em terra. 7Jesus se aproximou, tocou neles e disse: “Levantai-vos, e não tenhais medo”. 8Os discípulos ergueram os olhos e não viram mais ninguém, a não ser somente Jesus. 9Quando desciam da montanha, Jesus ordenou-lhes: “Não conteis a ninguém esta visão até que o Filho do Homem tenha ressuscitado dos mortos”.
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.
Creio
Creio em Deus Pai todo-poderoso,
Criador do céu e da terra.
E em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor,
Às palavras seguintes, até Virgem Maria, todos se inclinam.
que foi concebido pelo poder do Espírito Santo,
nasceu da Virgem Maria,
padeceu sob Pôncio Pilatos,
foi crucificado, morto e sepultado,
desceu à mansão dos mortos,
ressuscitou ao terceiro dia,
subiu aos céus,
está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso,
donde há de vir a julgar os vivos e os mortos.
Creio no Espírito Santo,
na santa Igreja Católica,
na comunhão dos santos,
na remissão dos pecados,
na ressurreição da carne
e na vida eterna. Amém.
Antífona do Ofertório
Glória et honóre coronásti eum: et constituísti eum super ópera mánuum tuárum, Dómine. (Ps. 8, 6. 7)
Vernáculo:
Pouco abaixo de Deus o fizestes, coroando-o de glória e esplendor; vós lhe destes poder sobre tudo, vossas obras aos pés lhe pusestes. (Cf. LH: Sl 8, 6. 7)
Sobre as Oferendas
Santificai, ó Deus, as nossas oferendas pela gloriosa Transfiguração do vosso Filho, e purificai-nos das manchas do pecado no esplendor de sua luz. Por Cristo, nosso Senhor.
Antífona da Comunhão
Vernáculo:
Não faleis a ninguém desta visão, até que o Filho do Homem tenha ressuscitado dentre os mortos. (Cf. Bíblia CNBB: Mt 17, 9)
Depois da Comunhão
Ó Deus, que o alimento celeste por nós recebido nos transforme na imagem de Cristo, cujo esplendor quisestes revelar na sua gloriosa Transfiguração. Por Cristo, nosso Senhor.
Homilia do dia 06/08/2023
O seu rosto brilhou como o sol e as suas roupas ficaram brancas como a luz
Manifestam-se na Transfiguração do Senhor dois milagres: a visão da luz de sua glória, a redundar em seu corpo, e a visão de sua insondável humildade, pela qual Ele quis ocultar sua própria grandeza, a fim de nos salvar por sua carne.
1. Circunstâncias (Mt 17, 1; Mc 9, 2; Lc 9, 28). — V. 1. Seis dias depois do colóquio com os discípulos em Cesaréia de Filipe, Jesus tomou consigo a Pedro, Tiago e João, seu irmão, os mesmos que admitira como testemunhas da ressurreição da filha de Jairo (cf. Mc 5, 37; Lc 8, 51) e havia de admitir na agonia do Horto (cf. Mt 26, 37). Quanto ao número de dias, estão de acordo Mateus e Marcos, mas Lucas escreve: Passados uns oito dias, o que alguns explicam dizendo que o evangelista numera o termo a quo e o termo ad quem, enquanto os outros não. Talvez o mais adequado seja dizer, com Maldonado, que Lucas não indica o tempo de maneira precisa, mas confusa, e por isso diz “uns”, isto é, “cerca de”.
E os levou a um lugar à parte, sobre uma alta montanha, para que Ele se entregasse à oração e eles contemplassem a sua glória. Muito disputam os autores sobre o monte em que se deram estes acontecimentos. — a) Uma antiga tradição, de que são testemunhas Orígenes (cf. In Ps. 88, 13: PL 12, 1547), S. Cirilo de Jerusalém (cf. Catech. 12, 16: PL 33, 744), S. Jerônimo (Epist. 46, 12 e 108, 13: PL 22, 491) etc., afirma que se trata do monte Tabor (hoje Djebel el-Tor, a 321m acima da planície circundante e 615m acima do Mar Mediterrâneo), opinião defendida ainda hoje por bons autores. — b) Há no entanto quem rejeite esta tradição como infundada e opine que o monte da Transfiguração foi algum cômoro do Antilíbano ou, mais provavelmente, o grande Hérmon (hoje Djebel el-Sheikh). As principais razões em que se baseia esta sentença são: 1.ª) segundo Políbio (Hist. V 70, 6), no tempo de Antíoco, o Grande, em 218 a.C., no sopé do monte Tabor (Itabyrium ou Atabyrium) havia uma cidade, que Antíoco conquistara e fortificara. Embora não seja certo que ela ainda existisse no tempo de Cristo, Flávio Josefo (cf. Bell. jud. IV 1, 8) afirma que, no ano 67 d.C., havia ali uma planície amuralhada e habitantes que “não tinham outra água além da chuva”. Isso porém não parece concordar com a narração evangélica, que supõe um lugar deserto. 2.ª) Os evangelistas situam o fato da Transfiguração imediatamente após o colóquio em Cesaréia de Filipe, sem fazer menção alguma a um possível retorno à Galiléia; sinal, portanto, de que tanto uma coisa com outra aconteceram na mesma região.
Resposta: Estas razões não têm peso suficiente para obrigar-nos a rejeitar a tradição. Com efeito, à 1.ª pode-se muito bem responder que Flávio Josefo, na obra citada e em sua Vita, não chama ao Tabor nem “cidade” nem “aldeia”, nomes com que designa, nas mesmas passagens, outros locais habitados, mas “monte”. Além disso, não seria de estranhar que, em tempos de rebelião, os habitantes daquela zona o tenham-se refugiado no topo do monte, nas ruínas de uma antiga cidade. A melhor resposta à 2.ª é que Cristo e seus discípulos poderiam, sem nenhum dificuldade, ter percorrido o caminho de volta num espaço de seis dias; de fato, os próprios evangelistas parecem supor que Cristo estava retornando à Galiléia, já que o descrevem, ao descer do monte, rodeado de turbas e escribas (cf. Mt 17, 14; Mc 9, 14; Lc 9, 37) e, ao sair dali, já percorrendo a Galileia (cf. Mt 17, 21; Mc 9, 28).
2. Cristo se transfigura (cf. Mt 17, 2-9; Mc 9, 3-9; Lc 9, 29-36). — V. 2. E foi transfigurado (μετεμορφώθη) diante deles (Lucas diz: Enquanto orava, transformou-se o seu rosto); como tenha sido essa transmutação, declara-se logo em seguida: O seu rosto brilhou como o sol e as suas roupas ficaram brancas como neve (em grego, ὡς τὸ φῶς: como luz), isto é, apareceu envolto de claridade celeste. — É mais vívida a descrição de Marcos: Suas vestes tornaram-se resplandecentes e de uma brancura tal, que nenhum lavadeiro sobre a terra as pode fazer assim tão brancas.
V. 3. Nisto apareceram-lhes Moisés e Elias, conversando com Jesus. Lucas acrescenta: Que apareceram envoltos em glória, e falavam da morte dele (τὴν ἔξοδον αὐτοῦ), isto é, do êxodo ou partida dele deste mundo, pela morte, ressurreição e ascensão, que se havia de cumprir em Jerusalém, isto é, falavam da morte de Cristo como fim e complemento da Lei e dos Profetas. “Por Moisés é significada a Lei, por Elias são significados os Profetas, pelo Senhor é significado o Evangelho: Cristo apareceu, pois, entre Moisés e Elias, como se o Evangelho fôra confirmado pela Lei e os Profetas” (S. Agostinho, In Joan., tract. XVII, 3). Lucas complementa a narração: Entretanto, Pedro e seus companheiros tinham-se deixado vencer pelo sono (donde talvez se possa inferir que tudo sucedera à noite); ao despertarem (διαγρηγορήσαντες, isto é, resistindo ainda ao sono, ou acordados do sono), viram a glória de Jesus e os dois personagens em sua companhia.
V. 4. Então Pedro, sem saber o que dizia (cf. Lc 9, 33), isto é, fora de si por causa de grande alegria, tomou a palavra e disse: Senhor, é bom, isto é, grato e prazeroso, ficarmos aqui. Se queres, vamos fazer (em grego, ποιήσω: vou fazer) aqui três tendas: uma para ti, outra para Moisés, e outra para Elias, para nos deliciarmos sem cessar com este espetáculo, ou para que ponhas neste monte, com Moisés e Elias, o trono de tua glória. De resto, com efeito, não seria difícil construir as tendas com ramos de terebinto e carvalho, abundantes no monte Tabor. — Nota S. Marcos que os Apóstolos estavam sobremaneira atemorizados, isto é, com aquela reverência e aquele pavor de que são tomados os homens ao verem coisas extraordinárias. Tal pavor, contudo, não excluía a alegria e o gozo.
V. 5. Pedro ainda estava falando, quando uma nuvem luminosa, sinal e símbolo da presença divina (cf. Ex 16, 10; 19, 9.16 etc.), os cobriu, a saber: a Jesus, Moisés e Elias, tirando-os da vista dos Apóstolos, com sua sombra; e da nuvem uma voz dizia: Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo meu agrado. Escutai-o, isto é, obedecei-lhe como Legislador e crede nele como Mestre.
V. 6-8. Aterrorizados pela aparição da nuvem e pelo som da voz celeste, caíram os Apóstolos com o rosto em terra, até que Jesus se aproximasse e os tocasse com a mão, como também nós fazemos quando desejamos acordar alguém sonolento. Tendo os discípulos voltado a si, desapareceu a visão celeste e, olhando eles logo em derredor, já não viram ninguém, senão só a Jesus com eles. Os Apóstolos então ergueram os olhos e não viram mais ninguém, a não ser somente Jesus.
V. 9. Ao descerem do monte, Jesus lhes ordenou que não contassem a ninguém, provavelmente nem aos demais Apóstolos, o que viram antes da Ressurreição: até que o Filho do Homem tenha ressuscitado dos mortos. A proibição de divulgar este fato tem o mesmo motivo que outras ordens semelhantes de Cristo após a realização de um milagre, isto é, para não acirrar ainda mais o ânimo de seus inimigos e evitar que o povo o procure mais pelo desejo de ver maravilhas que pela doutrina da salvação.
Marcos nota que os discípulos não entenderam o que queria dizer: ser ressuscitado dentre os mortos.
Reflexão. — 1) Por que Cristo quis transfigurar-se? a) Para corroborar em nós a fé na Ressurreição. b) Para erguer e confirmar nossa esperança. c) Para acender em nós o fogo da caridade divina. d) Para consolar com a luz da glória a sua Igreja, peregrina pelas trevas do mundo. e) Para mostrar-nos quem de fato Ele é: Deus encarnado. f) Para dar ao seu Corpo místico ocasião de festa e alegria espirituais, muito distintas dos excessos e bacanais do mundo. — 2) As quatro transfigurações do homem: a) a desfiguração, do estado de graça para o de pecado; b) a recriação, do estado de pecado para o de graça; c) a condenação, dos prazeres do mundo para os suplícios da geena; d) e a glorificação, das misérias desta vida para o descanso da pátria celeste.
Deus abençoe você!
Ninguém pode negar que a Igreja está passando por uma de suas grandes crises. Crise esta que é, acima de tudo, espiritual, e se origina da distorção do que é o sacerdote e de qual sua missão neste mundo.Neste primeiro domingo de agosto, em que rezamos pelas vocações sacerdotais, também celebramos a Festa da Transfiguração do Senhor, em cujo Evangelho encontramos a chave de leitura para entender o que Cristo espera de um sacerdote: Jesus sobe, primeiro, ao Monte Tabor e revela-se em toda a sua glória, para fortalecer os Apóstolos e a todos os sacerdotes de hoje, a fim de que, um dia, eles subam ao Monte Calvário e se ofereçam como vítimas de amor, assim como Ele mesmo fez.Ouça a homilia dominical do Padre Paulo Ricardo e assuma o propósito de rezar pelos sacerdotes e por toda a Igreja, que, com em seus padecimentos, cada vez mais sobe ao Calvário com o seu divino fundador.
Santo do dia 06/08/2023
Transfiguração do Senhor (Festa)
Data: 06 de Agosto
A liturgia de hoje comemora a festa da Transfiguração de Nosso Senhor Jesus Cristo. Dos Evangelistas é São Mateus que refere por minúcias esse fato admirável da vida de Nosso Senhor.
Os Santos Padres ocupam-se muito do mistério da Transfiguração de Nosso Senhor, principalmente São Crisóstomo, que escreveu coisas admiráveis sobre o mesmo assunto. O que se segue, são pensamentos daquele Santo Padre, como os propôs aos ouvintes, explicando o evangelho do dia de hoje.
Nosso Senhor, tendo falado muitas vezes da sua Paixão e Morte, profetizara aos Apóstolos perseguição e morte cruel; tendo-lhes dado mandamentos positivos e severos, quis mostrar-lhes a magnificência e glória com que voltará no fim do mundo, provar e revelar-lhes, já nesta vida sua majestade, para animá-los e confortá-los nas tristezas presentes e futuras.
São Mateus (17, 1-13) escreve, contando o fato da Transfiguração: "Seis dias depois, (isto é, depois da predição de sua Paixão e Morte) Jesus tomou a Pedro, Tiago e a João". Um outro Evangelista (Lc 9, 28) diz: "Oito dias depois". Não há contradição entre os dois, porque este conta o dia em que Jesus cursou perante os Apóstolos e o dia em que subiu o monte Tabor, quando São Mateus conta apenas os dias que estão entre estes dois fatos. Reparamos também a modéstia de São Mateus, que menciona os Apóstolos que mais do que ele, foram honrados por Nosso Senhor. Nesse ponto, segue o exemplo de São João, que minuciosamente refere os elogios com que Jesus distinguiu a Pedro.
Jesus tomou os chefes dos Apóstolos e levou-os a um monte, a sós. E transfigurou-se diante deles. Resplandeceu-se-lhe o rosto como o sol, e os vestidos tornaram-se brancos como a neve. Por que motivo Nosso Senhor levou só estes três Apóstolos? Porque ocuparam um lugar saliente entre os demais. Pedro salientava-se pelo amor a Jesus; João era o mais querido de Nosso Senhor e Tiago por causa da resposta que juntamente com o irmão dera ao Divino Mestre: "Nós beberemos o cálice". E não só por causa desta resposta, como também em virtude das suas obras, que provaram a verdade daquela asserção. Era tão odiado pelos judeus, que Herodes, para ser-lhes agradável, o mandou matar. Por que razão, disse Nosso Senhor aos Apóstolos: "Em verdade vos digo: alguns de vós aqui presentes não verão a morte, enquanto não tiverem visto o Filho do Homem em sua glória?" (Mt 16, 28). Com certeza para lhes estimular a curiosidade de ver aquela visão, da qual lhes falava e enchê-los do desejo de ver o Mestre rodeado da glória divina.
"Eis que lhes apareceram Moisés e Elias, falando com Ele". Por que apareceram essas figuras do Antigo testamento? Há diversas razões que explicam esta circunstância. A primeira é esta: Porque entre o povo dizia-se que Jesus era Elias, Jeremias ou um dos profetas do Antigo testamento, ficar-lhes-ia patente a grande diferença que existia entre o servo do Senhor, e que bem merecido fora o elogio que coube a São Pedro, por ter chamado Filho de Deus a Nosso Senhor. Segunda razão: Repetidas vezes inimigos de Nosso Senhor o acusavam de blasfêmias, da pretensão de dizer-se Filho de Deus (Jo 9, 33). Estas acusações eram frequentes e como proviessem de inveja, quis Nosso Senhor mostrar que não transgredira a lei e nenhuma blasfêmia proferira, dizendo-se Filho de Deus. Para este fim, Jesus fez aparecer dois profetas de maior destaque. De Moisés era a lei, e não era admissível que justamente Moisés distinguisse com sua presença o transgressor da mesma que era Jesus Cristo, na opinião dos judeus. Elias, o grande zelador da honra de Deus, por seu turno, nunca teria honrado com sua presença a Jesus Cristo se este de fato não fosse o filho de Deus. Um terceiro motivo seria este: Aparece um profeta que morreu e um outro que não sofreu a morte. Esta circunstância devia fazer compreender aos discípulos, que seu Mestre é o Senhor da vida e da morte, e seu reino é no céu e na terra. Um quarto motivo, o próprio Evangelista menciona: Para mostrar a glória da cruz e para animar os pobres Apóstolos, na triste previsão de sofrimentos. Os dois profetas falaram da glória, que na cruz seria manifesta, em Jerusalém; (Lc 9, 31), isto é, da sua Paixão e Morte.
Se Nosso Senhor levou consigo estes três Apóstolos, foi também porque deles havia de exigir uma virtude mais apurada que dos outros. "Quem quer seguir-me, tome a sua cruz e siga-me". Os dois profetas do Antigo Testamento eram homens que, pela lei de Deus e pelo bem do povo, estavam sempre prontos a deixar a vida. Ambos, Elias e Moisés, usaram da máxima franqueza na presença de tiranos, este diante do Faraó, aquele diante de Achab; ambos se empenharam em favor de homens rudes e ingratos; ambos foram quais vítimas de malícia daqueles, a que mais benefícios dispensaram; ambos trabalharam para exterminar a idolatria entre o povo. Tanto um como o outro desprezavam a riqueza. Moisés e Elias eram pobres e viviam num tempo em que os grandes servidores de Deus não possuíam o dom de fazer grandes milagres. É verdade que Moisés dividiu as águas do mar; Pedro, porém, andou sobre as ondas, expulsou maus espíritos, curou muitos doentes e transformou a face da terra. É verdade que Elias ressuscitou um morto; os Apóstolos, porém, chamaram muitos mortos à vida, no tempo em que ainda não tinham recebido o Espírito Santo. Jesus Cristo faz aparecer estes dois profetas, para apresentá-los aos discípulos, como modelos de firmeza e constância; como Moisés devem ser mansos e humildes; iguais a Elias, deviam ser zelosos e incansáveis; como ambos, prudentes e circunspectos. Elias passou fome durante três anos, por amor ao povo. Moisés disse a Deus: "Perdoai-lhes os pecados e exonerai-me ou se assim não quiserdes, extingui meu nome do vosso livro". Tudo isso Jesus faz lembrar aos Apóstolos mostrando-lhes, em misteriosa visão, a glória de Elias e Moisés.
Propondo-lhes Elias e Moisés como modelos, a imitação dos mesmos ainda não é o ideal, que Jesus Cristo quer ver nos Apóstolos. Quando estes disseram: "Senhor, se assim quiserdes, chamaremos fogo do céu, que destrua esta cidade", talvez assim falaram lembrando-se de Elias, que de tal forma procedeu. Jesus, porém, respondeu-lhes: "Não sabeis de que espírito sois". (Lc 9, 55). Queria assim ensinar-lhes que é melhor sofrer uma injustiça, quando se perceberam graças maiores. Não quer isto dizer que Elias não fosse santo e perfeito. Elias vivera num outro tempo, em que a humanidade, atrasada ainda na cultura, carecia de meios educativos mais fortes. O campo de ação dos Apóstolos não devia ser o Egito, a terra de Moisés, mas o mundo inteiro; não era ao Faraó que haviam de contradizer, mas aceitar a luta do demônio, o tirano da maldade, vencê-lo e desarmá-lo.
E não o conseguiram dividindo as águas do mar. A tarefa era, armando-se do ramo de Jessé, dividir as águas furiosas do oceano da impiedade. Reparemos bem as quantas coisas não amedrontaram os Apóstolos: a morte, privações e mil martírios não menos os intimidaram, que aos Judeus e o Mar Vermelho e as hostes de Faraó; mas Jesus, seu Mestre, levou-os a tal grau de perfeição que não hesitaram em aceitar tudo. Para torná-los capazes de uma missão tão difícil, apresentou-lhes os dois grandes heróis do Antigo Testamento.
"Senhor, bom é estarmos aqui", disse São Pedro a Jesus. Ouvindo as referências à Paixão e Morte do querido Mestre, o coração encheu-se de temor; mas desta vez, faltando-lhe a coragem de dizer: "Longe de ti estas coisas", formulou os receios nas palavras já mencionadas. O monte onde se achavam, bem longe de Jerusalém, já era a seu ver uma garantia; fazendo ainda três tendas para lá morar, dispensava perfeitamente a viagem a Jerusalém e removido o perigo do Mestre cair nas mãos dos inimigos. "Bom é estarmos aqui", com Elias, que chamou fogo sobre a montanha; com Moisés, que falou com Deus no cimo do monte - ninguém sabe que aqui estamos. Quem não descobre nestas palavras a profunda e sincera amizade de São Pedro ao Mestre? Os Evangelistas, referindo-se às palavras de São Pedro, dizem: "Não sabia o que falava, pois tão atônito de medo se achava" (Mc 9, 5 e Lc 9, 33).
Falando ainda, eis que uma nuvem os envolveu. Não era noite, era dia claro. A luz, o esplendor assombrava-os e atônitos caíram de rosto por terra. Qual foi a atitude de Cristo? Nem ele, nem Elias, nem Moisés, disseram coisa alguma. Mas da nuvem saiu a voz daquele que é a Verdade. Por que da nuvem? Porque Deus sempre fala da nuvem. "Rodeado está de nuvens e trevas" (Sl 96, 2). "O Filho do Homem vem entre as nuvens" (Dn 7, 13). Saindo a voz da nuvem, não lhes restava dúvida que era a voz de Deus.
E eis que uma uma voz do meio da nuvem disse: "Este é meu Filho muito amado, em quem me agradei; ouví-o". No monte Sinai, Deus publicou ameaças contra o povo. Aqui se via uma nuvem branca e lúcida. Pedro tinha falado em três tendas. Deus, porém, mostrou uma única tenda, não feita por mão de homem; daí a circunstância da aparição de uma luz claríssima e a audição de uma voz. Para não deixar dúvida sobre a pessoa em questão, Elias e Moisés desapareceram e a voz disse: "Este é meu filho muito amado". Se é Ele o amado, o medo de Pedro é infundado. Embora já devesse estar convencido da divindade do Mestre, embora não tivesse dúvida da sua futura ressurreição, Pedro ainda é vacilante em sua fé. Ouvindo agora a voz confirmante do Eterno Pai, deviam desaparecer-lhe os temores e as dúvidas. Se Ele é o Filho muito amado, o Pai não o abandonará. É seu amado, não só por ser seu filho, mas também por Lhe ser igual. "Nele achei meu agrado", quer dizer, pois: Ele é meu agrado, minha alegria, porque, como Filho, é igual ao Pai, é regido pela mesma vontade, é um com ele eternamente. Ouví-o.
Referência:
LEHMANN, Padre João Batista. Na Luz Perpétua. 2. ed. Juiz de Fora: Typ. do "Lar Catholico", 1935. 550 p. Volume II. Adaptações: Equipe Pocket Terço.