Santo Inácio de Antioquia Bispo e Mártir, Memória
Antífona de entrada
Vernáculo:
Nós, porém, devemos gloriar-nos na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo; nele está a salvação, nossa vida e ressurreição; por ele somos salvos e libertos. (Cf. MR: Gl 6, 14) Sl. Recordai-vos, ó Senhor, do rei Davi e de quanto vos foi ele dedicado. (Cf. LH: Sl 131, 1)
Coleta
Ó Deus eterno e todo-poderoso, ornais o sagrado corpo da vossa Igreja com o testemunho dos santos mártires; fazei que o glorioso martírio de Santo Inácio de Antioquia, que hoje celebramos, assim como mereceu para ele o esplendor eterno, alcance para nós vossa constante proteção. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus, e convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos.
Primeira Leitura — Ef 1, 1-10
Início da Carta de São Paulo aos Efésios
1Paulo, apóstolo de Cristo Jesus pela vontade de Deus, aos santos e fiéis em Cristo Jesus: 2a vós, graça e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo. 3Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Ele nos abençoou com toda a bênção do seu Espírito em virtude de nossa união com Cristo, no céu. 4Em Cristo, ele nos escolheu, antes da fundação do mundo, para que sejamos santos e irrepreensíveis sob o seu olhar, no amor. 5Ele nos predestinou para sermos seus filhos adotivos por intermédio de Jesus Cristo, conforme a decisão da sua vontade, 6para o louvor da sua glória e da graça com que ele nos cumulou no seu Bem-amado. 7Pelo seu sangue, nós somos libertados. Nele, as nossas faltas são perdoadas, segundo a riqueza da sua graça, 8que Deus derramou profusamente sobre nós, abrindo-nos a toda a sabedoria e prudência. 9Ele nos fez conhecer o mistério da sua vontade, o desígnio benevolente que de antemão determinou em si mesmo, 10para levar à plenitude o tempo estabelecido e recapitular, em Cristo, o universo inteiro: tudo o que está nos céus e tudo o que está sobre a terra.
— Palavra do Senhor.
— Graças a Deus.
Salmo Responsorial — Sl 97 (98), 1. 2-3ab. 3cd-4. 5-6 (R. 2a)
℟. O Senhor fez conhecer seu poder salvador perante as nações.
— Cantai ao Senhor Deus um canto novo, porque ele fez prodígios! Sua mão e o seu braço forte e santo alcançaram-lhe a vitória. ℟.
— O Senhor fez conhecer a salvação, e às nações, sua justiça; recordou o seu amor sempre fiel pela casa de Israel. ℟.
— Os confins do universo contemplaram a salvação do nosso Deus. Aclamai o Senhor Deus, ó terra inteira, alegrai-vos e exultai! ℟.
— Cantai salmos ao Senhor ao som da harpa e da cítara suave! Aclamai, com os clarins e as trombetas, ao Senhor, o nosso Rei! ℟.
℣. Sou o Caminho, a Verdade e a Vida, ninguém vem ao Pai, senão por mim. (Jo 14, 6) ℟.
Evangelho — Lc 11, 47-54
℣. O Senhor esteja convosco.
℟. Ele está no meio de nós.
℣. Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo ✠ segundo Lucas
℟. Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, disse o Senhor: 47“Ai de vós, porque construís os túmulos dos profetas; no entanto, foram vossos pais que os mataram. 48Com isso, vós sois testemunhas e aprovais as obras de vossos pais, pois eles mataram os profetas e vós construís os túmulos. 49É por isso que a sabedoria de Deus afirmou: Eu lhes enviarei profetas e apóstolos, e eles matarão e perseguirão alguns deles, 50a fim de que se peçam contas a esta geração do sangue de todos os profetas, derramado desde a criação do mundo, 51desde o sangue de Abel até o sangue de Zacarias, que foi morto entre o altar e o santuário. Sim, eu vos digo: serão pedidas contas disso a esta geração. 52Ai de vós, mestres da Lei, porque tomastes a chave da ciência. Vós mesmos não entrastes, e ainda impedistes os que queriam entrar”. 53Quando Jesus saiu daí, os mestres da Lei e os fariseus começaram a tratá-lo mal, e a provocá-lo sobre muitos pontos. 54Armavam ciladas, para pegá-lo de surpresa, por qualquer palavra que saísse de sua boca.
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.
Antífona do Ofertório
Glória et honóre coronásti eum: et constituísti eum super ópera mánuum tuárum, Dómine. (Ps. 8, 6. 7)
Vernáculo:
Pouco abaixo de Deus o fizestes, coroando-o de glória e esplendor; vós lhe destes poder sobre tudo, vossas obras aos pés lhe pusestes. (Cf. LH: Sl 8, 6. 7)
Sobre as Oferendas
Senhor, recebei com agrado o sacrifício de nossa devoção, assim como acolhestes Santo Inácio de Antioquia, trigo de Cristo, que, triturado pelos tormentos do martírio, se tornou pão sem mistura. Por Cristo, nosso Senhor.
Antífona da Comunhão
Vernáculo:
Eu sou trigo de Cristo, serei moído pelos dentes das feras, para tornar-me um pão sem mistura. (Cf. MR)
Depois da Comunhão
Senhor, sejamos revigorados pelo pão celeste que recebemos na celebração do martírio de Santo Inácio de Antioquia, para que não tenhamos apenas o nome de cristãos, mas o sejamos de fato pelas nossas obras. Por Cristo, nosso Senhor.
Homilia do dia 17/10/2024
Quem somos nós para aconselhar Jesus?
Mal sabem os paladinos da “tolerância” que estão sendo instrumentos de Satanás, porque, além de não entrarem no caminho da salvação, também não deixam que outras pessoas entrem.
No evangelho de hoje, Jesus continua o seu conflito com os doutores da Lei e os fariseus. Para o homem moderno, é difícil entender o porquê desse conflito, pois vivemos num tempo de grande indiferentismo religioso, no qual predomina a crença básica e fundamental de que todas as religiões são boas, todas as manifestações religiosas são boas, por esse motivo “religião não se discute” nem há por que dizer que uma religião é melhor do que outra.
Se para o mundo moderno o importante é crer em alguma coisa, é evidente que esse diálogo de Jesus com os mestres da Lei tem um sabor de “intolerância”. Com uma cabeça de indiferentismo religioso, se você estivesse na época de Nosso Senhor, diria assim a Ele, aconselhando-o: “Jesus, não precisa brigar com os fariseus. É só uma discordância em termos de interpretação da Palavra de Deus; você interpreta de um jeito, eles interpretam de outro, mas não precisa discutir. Para que ser tão radical assim? Para que ficar discutindo, trocando palavras ofensivas, com este ‘discurso de ódio’, mostrando sinais de intolerância que só geram violência (porque foi depois dessa briga que os mestres da Lei e os fariseus começaram a tratar mal Jesus, a provocá-lo, a armar ciladas e a tramar o que iam fazer para matá-lo). Por isso, não precisa desses conflitos! Vamos ser tolerantes, vamos ser bonzinhos uns com os outros…”.
Essa atitude de querer “aconselhar” Nosso Senhor — não seria preciso dizer — está totalmente errada e soberba. Quem somos nós para querer dar conselhos a Jesus? Comecemos por aí: Jesus é Deus que se fez homem, Deus de misericórdia, paciência e bondade infinitas; se Ele, que conhece o coração das pessoas, está batendo de frente com os fariseus e com os doutores da Lei, o está fazendo por suprema caridade, por amor a eles, para que se convertam.
Aqui está o que nós temos dificuldade de enxergar (exatamente porque estamos num clima de indiferentismo religioso): é um ato de amor tirar a pessoa do erro, é amor tirar a pessoa das falsas doutrinas. Mas Nosso Senhor Jesus Cristo nos disse: Quem crer e for batizado, será salvo; quem não crer, será condenado (Mc 16,16). Ora, o que está acontecendo no Evangelho de hoje? Tomemos o versículo 52: Ai de vós, mestres da Lei, porque tomastes a chave da ciência, vós mesmos não entrastes e ainda impedistes os que queriam entrar. Vejam que tragédia: eles são os mestres da Lei, que podem ler as Escrituras para um povo que, em sua maior parte, é constituído de analfabetos, mas interpretam tudo de forma distorcida e, com isso, não entram no caminho da salvação nem deixam os outros entrar. Adaptando para os tempos atuais, podemos nos perguntar quem são os “sabichões” da humanidade hoje. São aqueles que ensinam exatamente esse indiferentismo religioso, afirmando que todas as religiões são igualmente boas e que, por isso, não há motivo para querer converter os outros ao catolicismo. Ao fazer isso, nós estamos soberbamente condenando 2000 anos de catolicismo. Para que os mártires morreram e derramaram o sangue? Não precisavam ter morrido, bastava não ser intolerantes. “Você, mártir, não quer adorar César? Faça o seguinte. Respeite quem adora e vá lá fazer um ecumenismo, um culto para César. Não custa nada! Assim você não será morto”. Se devemos viver a indiferença religiosa de hoje, para que os missionários atravessaram os mares para levar o Evangelho? Por que os monges se dedicaram nos mosteiros a rezar, pedindo a Deus a conversão dos pecadores? Observe que nós, homens modernos, nos achamos muito sábios, temos a nova chave de interpretação das Escrituras e, como sabichões do século XXI, podemos dizer do alto de nossas cátedras: “Ouvistes o que foi dito: Converterás e crerás no Evangelho, sereis católicos; eu, porém, vos digo: Qualquer religião serve”. Como podemos ver, isso é ridículo!
Nós queremos dar conselhos a Jesus e condenar uma multidão de santos que foram mártires e missionários ao longo dos séculos. Mas, na verdade, somos nós que precisamos nos converter e aceitar o que Jesus está apresentando. Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida. Os fariseus e os mestres da Lei têm uma atitude verdadeiramente satânica porque, com um ar de piedosos leitores da Sagrada Escritura, eles estão servindo a Satanás e impedindo que as pessoas encontrem o caminho da salvação. O próprio Jesus disse no evangelho de São João que os líderes dos judeus eram filhos do diabo (cf. Jo 8,44); portanto, a coisa é grave. Jesus bate de frente porque quer verdadeiramente, cheio de caridade e de amor, despertar-nos da nossa demência, da letargia espiritual em que nos encontramos.
O único caminho de salvação é crer em Jesus e entregar-se a Ele. Os mestres da Lei não aceitaram Jesus e estavam impedindo os outros de aceitar. Os relativistas e indiferentistas religiosos de hoje não aceitam Jesus como seu Salvador e impedem os outros de aceitá-lo, dizendo que qualquer religião serve. Meus queridos, vamos verdadeiramente aceitar Jesus, vamos deixar de impedir os outros de seguir o caminho correto, e sigamos também nós o caminho seguro de Nosso Senhor. Se crerdes e fordes batizados sereis salvos, se não crerdes sereis condenados. É o Deus de misericórdia quem nos diz isso. Nós vamos preferir crer no Deus da misericórdia, que é sumamente sábio, ou crer nas opiniões dos gurus de plantão do mundo moderno, que só acreditam no indiferentismo religioso porque, no fundo, eles não querem entrar no caminho da salvação e tampouco deixam os outros entrar?
Deus abençoe você!
O grão de trigo que se lança à terra, para poder dar fruto, tem de morrer. Por isso, abrasados pela caridade de Cristo, os mártires não desejam outra coisa senão que chegue logo a hora dos tormentos, quando, moídos nos dentes das feras, eles podem por fim tornar-se pão imaculado e imitadores da Paixão do Senhor.Ouça a homilia do Padre Paulo Ricardo para esta quinta-feira, 17 de outubro, e peçamos a Deus que olhe para a nossa fraqueza e, pela intercessão de Santo Inácio de Antioquia, alivie-nos do peso das nossas culpas e nos crucifique para este mundo que passa.
Santo do dia 17/10/2024
Santo Inácio de Antioquia (Memória)
Local: Roma, Itália
Data: 17 de Outubro† 107
Diz a tradição que Santo Inácio foi o segundo sucessor de São Pedro na sede de Antioquia na Síria. Pode ser considerado também como o primeiro pastor como bispo de uma Igreja. Se ele foi o terceiro bispo, onde os discípulos de Cristo foram, pela primeira vez, chamados cristãos, Inácio foi, por sua vez, o primeiro a chamar a Igreja de Igreja Católica.
Estamos diante de uma figura extraordinária da Igreja subapostólica do fim do primeiro século. Como bispo de Antioquia, era muito conhecido e estimado em todo o Oriente cristão. Não se sabe praticamente nada sobre as circunstâncias em que foi preso durante o governo do imperador Trajano, que faleceu em 117 depois de Cristo, bem como o ano em que foi dado às feras no circo de Roma. Menciona-se, ora o ano 110, ora o ano 107. Nesta última data, o imperador preparara grandioso espetáculo em Roma, em que foram mortos muitos gladiadores juntamente com homens ilustres em luta com 11.000 animais ferozes.
Inácio fora condenado às feras em sua sede em Antioquia da Síria e provavelmente foi destinado às feras em Roma em 107. Durante o itinerário que conduziu Santo Inácio chamado Teóforo, isto é, Portador de Deus, de Antioquia para Roma, aproveitou ele a oportunidade para dirigir cartas às Comunidades cristãs da Ásia Menor. São sete ao todo, sendo uma dirigida à Igreja de Roma. Nelas ele lembra a organização das ditas Comunidades, concentradas na pessoa do bispo com seus presbíteros e diáconos. Insiste na adesão ao bispo a quem se deve seguir como Cristo seguiu a vontade do Pai. É muito importante o testemunho que estas cartas dão sobre as crenças e a organização interna da Igreja cristã menos de um século após a Ascensão de Cristo. Fora dos autores hagiográficos do Novo Testamento, Santo Inácio é o primeiro escritor a ressaltar o parto virginal de Maria. Também o mistério da Trindade é plenamente dado como certo. Nele já se encontram elementos sólidos de Cristologia. Não menos notáveis são as expressões que ele usa em relação à Santíssima Eucaristia: "Carne de Cristo", "dom de Deus", "remédio de imortalidade". Inácio denuncia os hereges "que não reconhecem que a Eucaristia é a carne de nosso Salvador Jesus Cristo, carne que padeceu por nossos pecados e que o Pai, em sua bondade, ressuscitou".
A mais importante das sete cartas de Santo Inácio é a endereçada à comunidade eclesial de Roma, no desejo de preparar sua chegada à Cidade Eterna. Neste escrito, respira-se o perfume do mais puro amor a Cristo que anima o coração de Inácio. Percebe-se o seu ardente desejo de morrer mártir para estar com Deus, para estar para sempre com Cristo. Nesta carta ele pede que a comunidade de Roma não interfira em favor dele: "Deixai-me ser comida para as feras, pelas quais me é possível encontrar Deus. Sou trigo de Deus e sou moído pelos dentes das feras para encontrar-me como pão puro de Cristo".
Inácio foi de fato atirado às feras em Roma provavelmente no ano de 107. Por decênios suas cartas foram lidas em público nas igrejas, quase com a mesma veneração com que se liam as cartas de São Paulo. No decurso da história do cristianismo encontramos certamente em Santo Inácio de Antioquia muitos dos mais eloquentes testemunhos de doação completa e de amor a Cristo. Ele impressiona, sobretudo, por sua devoção martirial, vendo no martírio pela fé o meio por excelência de fazer-se discípulo perfeito de Cristo.
Este amor total a Cristo presente na Eucaristia e o desejo do martírio para ficar para sempre com ele aparecem de modo eloquente nos textos litúrgicos. A Oração coleta destaca o testemunho do martírio como ornamento da Igreja. A Oração sobre as oferendas pede que Deus aceite a nossa oblação como acolheu Santo Inácio, trigo do Cristo, transformado pelo martírio em pão sem mistura. O pensamento do trigo de Cristo moído pelos dentes das feras volta na Antífona da Comunhão. E na Antífona do Magnificat aparece sua fé ardente na Eucaristia: Eu desejo o Pão de Deus, que é a carne de Jesus descendente de Davi: eu desejo esta bebida que é o sangue de Jesus, caridade incorruptível. A Oração depois da Comunhão pede que sejamos revigorados pelo pão celeste que recebemos na festa de Santo Inácio de Antioquia para que não tenhamos apenas o nome de cristãos, mas realmente o sejamos por nossa vida.
Referência:
BECKHÄUSER, Frei Alberto. Os Santos na Liturgia: testemunhas de Cristo. Petrópolis: Vozes, 2013. 391 p. Adaptações: Equipe Pocket Terço.
Santo Inácio de Antioquia, rogai por nós!