27º Domingo do Tempo Comum
Antífona de entrada
Vernáculo:
Ao vosso poder, Senhor, tudo está sujeito, e não há quem possa resistir à vossa vontade, porque sois o criador de todas as coisas, do céu e da terra e de tudo que eles contêm; vós sois o Senhor do universo. (Cf. MR: Est 4, 17) Sl. Feliz o homem sem pecado em seu caminho, que na lei do Senhor Deus vai progredindo! (Cf. LH: Sl 118, 1)
Glória
Glória a Deus nas alturas,
e paz na terra aos homens por Ele amados.
Senhor Deus, rei dos céus,
Deus Pai todo-poderoso.
Nós vos louvamos,
nós vos bendizemos,
nós vos adoramos,
nós vos glorificamos,
nós vos damos graças
por vossa imensa glória.
Senhor Jesus Cristo, Filho Unigênito,
Senhor Deus, Cordeiro de Deus,
Filho de Deus Pai.
Vós que tirais o pecado do mundo,
tende piedade de nós.
Vós que tirais o pecado do mundo,
acolhei a nossa súplica.
Vós que estais à direita do Pai,
tende piedade de nós.
Só Vós sois o Santo,
só vós, o Senhor,
só vós, o Altíssimo,
Jesus Cristo,
com o Espírito Santo,
na glória de Deus Pai.
Amém.
Coleta
Deus eterno e todo-poderoso, que no vosso imenso amor de Pai nos concedeis mais do que merecemos e pedimos, infundi em nós vossa misericórdia, para perdoar o que nos pesa na consciência e para nos dar mais do que a oração ousa pedir. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus, e convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos.
Primeira Leitura — Hab 1, 2-3; 2, 2-4
Leitura da Profecia de Habacuc
Senhor, até quando clamarei, sem me atenderes? Até quando devo gritar a ti: “Violência!”, sem me socorreres?
3Por que me fazes ver iniquidades, quando tu mesmo vês a maldade? Destruições e prepotência estão à minha frente; reina a discussão, surge a discórdia.
2, 2Respondeu-me o Senhor, dizendo: “Escreve esta visão, estende seus dizeres sobre tábuas, para que possa ser lida com facilidade. 3A visão refere-se a um prazo definido, mas tende para um desfecho, e não falhará; se demorar, espera, pois ela virá com certeza, e não tardará. 4Quem não é correto, vai morrer, mas o justo viverá por sua fé”.
— Palavra do Senhor.
— Graças a Deus.
Salmo Responsorial — Sl 94(95), 1-2. 6-7. 8-9 (R. 8)
℟. Não fecheis o coração; ouvi vosso Deus!
— Vinde, exultemos de alegria no Senhor, aclamemos o Rochedo que nos salva! Ao seu encontro caminhemos com louvores, e com cantos de alegria o celebremos! ℟.
— Vinde, adoremos e prostremo-nos por terra, e ajoelhemos ante o Deus que nos criou! Porque ele é o nosso Deus, nosso Pastor, e nós somos o seu povo e seu rebanho, as ovelhas que conduz com sua mão. ℟.
— Oxalá ouvísseis hoje a sua voz: “Não fecheis os corações como em Meriba, como em Massa, no deserto, aquele dia, em que outrora vossos pais me provocaram, apesar de terem visto as minhas obras”. ℟.
Segunda Leitura — 2Tm 1, 6-8. 13-14
Leitura da Segunda Carta de São Paulo a Timóteo
Caríssimo: 6Exorto-te a reavivar a chama do dom de Deus que recebeste pela imposição das minhas mãos. 7Pois Deus não nos deu um espírito de timidez, mas de fortaleza, de amor e sobriedade.
8Não te envergonhes do testemunho de Nosso Senhor nem de mim, seu prisioneiro, mas sofre comigo pelo Evangelho, fortificado pelo poder de Deus.
13Usa um compêndio das palavras sadias que de mim ouviste em matéria de fé e de amor em Cristo Jesus. 14Guarda o precioso depósito, com a ajuda do Espírito Santo, que habita em nós.
— Palavra do Senhor.
— Graças a Deus.
℣. A Palavra do Senhor permanece para sempre; e esta é a Palavra que vos foi anunciada. (1Pd 1, 25) ℟.
Evangelho — Lc 17, 5-10
℣. O Senhor esteja convosco.
℟. Ele está no meio de nós.
℣. Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo ✠ segundo Lucas
℟. Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, 5os apóstolos disseram ao Senhor: “Aumenta a nossa fé!”
6O Senhor respondeu: “Se vós tivésseis fé, mesmo pequena como um grão de mostarda, poderíeis dizer a esta amoreira: ‘Arranca-te daqui e planta-te no mar’, e ela vos obedeceria. 7Se algum de vós tem um empregado que trabalha a terra ou cuida dos animais, por acaso vai dizer-lhe, quando ele volta do campo: ‘Vem depressa para a mesa?’
8Pelo contrário, não vai dizer ao empregado: ‘Prepara-me o jantar, cinge-te e serve-me, enquanto eu como e bebo; depois disso tu poderás comer e beber?’ 9Será que vai agradecer ao empregado, porque fez o que lhe havia mandado?
10Assim também vós: quando tiverdes feito tudo o que vos mandaram, dizei: ‘Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer’”.
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.
Creio
Creio em Deus Pai todo-poderoso,
Criador do céu e da terra.
E em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor,
Às palavras seguintes, até Virgem Maria, todos se inclinam.
que foi concebido pelo poder do Espírito Santo,
nasceu da Virgem Maria,
padeceu sob Pôncio Pilatos,
foi crucificado, morto e sepultado,
desceu à mansão dos mortos,
ressuscitou ao terceiro dia,
subiu aos céus,
está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso,
donde há de vir a julgar os vivos e os mortos.
Creio no Espírito Santo,
na santa Igreja Católica,
na comunhão dos santos,
na remissão dos pecados,
na ressurreição da carne
e na vida eterna. Amém.
Antífona do Ofertório
Vir erat in terra nómine Iob, simplex et rectus, ac timens Deum: quem Satan pétiit, ut tentáret: et data est ei potéstas a Dómino in facultáte et in carne eius: perdidítque omnem substántiam ipsíus, et fílios: carnem quoque eius gravi úlcere vulnerávit. (Iob. 1 et 2, 7)
Vernáculo:
Havia, na terra, um homem chamado Jó: era íntegro e reto, temia a Deus. Satanás saiu da presença do Senhor e feriu Jó com chagas malignas, desde a planta dos pés até o alto da cabeça. (Cf. Bíblia CNBB: Jó 1, 1. 2, 7)
Sobre as Oferendas
Acolhei, Senhor, nós vos pedimos, o sacrifício que instituístes; e pelos sagrados mistérios que celebramos em vossa honra dignai-vos completar a santificação daqueles que salvastes. Por Cristo, nosso Senhor.
Antífona da Comunhão
Ou:
Há um só pão e, embora sendo muitos, formamos um só corpo, todos os que participamos do mesmo pão e do mesmo cálice. (Cf. 1Cor 10, 17)
Vernáculo:
Desfaleço pela vossa salvação, vossa palavra é minha única esperança! Quantos dias restarão ao vosso servo? E quando julgareis meus opressores? Todos os vossos mandamentos são verdade; quando a calúnia me persegue, socorrei-me! (Cf. LH: Sl 118, 81. 84. 86)
Depois da Comunhão
Concedei-nos, Deus todo-poderoso, que inebriados e saciados pelo sacramento que recebemos, sejamos transformados naquele que comungamos. Por Cristo, nosso Senhor.
Homilia do dia 05/10/2025
Pare de querer ensinar a Deus!
“Sereis como deuses”: contra a soberba rebeldia que, desde Adão e Eva, acomete a humanidade, Nosso Senhor fala neste domingo de duas virtudes fundamentais para a vida espiritual — a fé e a humildade.
Neste 27.º Domingo do Tempo Comum, continuamos a leitura do evangelho de São Lucas, em que Jesus dirige uma palavra aos discípulos. Poderíamos dizer que as duas colunas que resumem o Evangelho de hoje são a fé e a humildade, duas virtudes que estão na base do edifício espiritual. Primeiro, Jesus fala da fé, porque os próprios Apóstolos lhe pedem: “Aumenta a nossa fé”.Pois bem, Jesus fala da fé, dizendo que, se tivéssemos uma fé pequena como um grão de mostarda, nós diríamos a uma amoreira (a comparação com a amoreira é própria de São Lucas): “Arranca-te da terra e planta-te no mar”. São, portanto, dois milagres: um é arrancar uma amoreira de raízes profundas; outro, não menos importante, é plantar a árvore no mar. É evidente que Jesus está se usando aqui de uma hipérbole, ou seja, de um exagero cuja finalidade é nos ensinar o que a fé realiza dentro de nós.Num segundo momento, Jesus fala do servo inútil. Nossa tradução litúrgica usa a palavra “empregado”, mas o termo é fraco, fazendo o Evangelho perder um pouco o sentido. Na verdade, Jesus não está falando nem de servo nem de empregado; está falando de “escravo”, ou seja, de uma coisa, de uma pessoa que é propriedade de outra, no sentido radical da palavra: escravo é pessoa sem direitos, que vive para servir ao seu senhor e dele depende radicalmente para sobreviver. (Eis a profundidade da palavra “senhor” quando nós chamamos Jesus de Senhor. Significa que nós pertencemos a Ele; não somos nossos.)Esse é, em resumo, o Evangelho deste domingo. Comecemos pela primeira parte, que nos fala da fé. Em primeiro lugar, precisamos recordar o que é a fé. Quando você verdadeiramente crê no que Jesus ensina e revela pela pregação da santa Igreja; quando você tem fé na autoridade do Deus que se revela em Cristo, você está se submetendo a Deus por meio da inteligência.Ora, o que o homem tem de mais elevado? A inteligência. Os animais não têm inteligência. Não adianta pregar para animais. Só por um grande milagre Santo Antônio pôde pregar aos peixes; mas isso se deu para que os peixes pregassem aos homens que, soberbos que eram, tinham de aprender, ainda que fosse pelo exemplo de criaturas irracionais, a submeter seu intelecto a Deus.Quem não tem fé é impiedoso e soberbo, pois prefere crer nas próprias opiniões a crer naquilo que Deus revela. É como se dissesse: “Deus, tu não estás me convencendo. É melhor argumentares melhor, porque os teus argumentos até agora são muito fraquinhos”. A pessoa está julgando a Deus, mas nós não fomos feitos para isso. Nós fomos feitos para crer. Santo Tomás de Aquino nos diz com clareza que nós fomos feitos para ter fé. Ninguém foi feito para a incredulidade. Por isso, quem não tem fé está numa situação contrária à natureza humana.Isso se vê na própria estrutura do ser humano. Se nós estamos vivos hoje, é porque tivemos fé algum dia. Por exemplo, uma mãe que diz: “Filho, faça tal coisa” e ele fez, ou seja, ele creu nela, submeteu-se a alguém que sabia mais. Agora, imaginemos uma mãe que diz: “Coma isso, porque você precisa”. A criança retruca: “Ah, não, eu não vou confiar em você. E se houver veneno na comida?” A mãe explica: “Não tem veneno, filho. É para o seu bem. Coma”. Mas ele insiste: “Não, não creio” e se rebela, não faz o que a mãe está pedindo e não come nem hoje, nem amanhã, nem depois… Resumo da história: não estaríamos vivos se, ainda crianças, tivéssemos negado fé à palavra de nossos pais. É natural do homem crer numa inteligência superior à dele. A criança vê na mãe uma inteligência bondosa e superior, por isso crê e obedece. Isso é natural.Acontece, porém, que estamos numa sociedade que incentiva a descrença, a falta de fé, a desconfiança. Não queremos nos submeter a Deus, e no entanto é a coisa mais natural que nós, mais inteligentes do que os animais e menos do que os anjos, nos submetamos à inteligência infinita de Deus. Essa submissão de fé está profundamente unida à humildade. “Povo de dura cerviz”, diz Deus aos soberbos de Israel. Quem tem dura cerviz é incapaz de dobrar o pescoço, isto é, de inclinar a cabeça. O soberbo tem dura cerviz porque não inclina a inteligência, ou seja, não admite que sua própria inteligência e sabedoria seja menor, infinitamente menor, que a de Deus.Ora, é próprio do homem equilibrado, saudável e normal se submeter ao Deus que se revela. Onde está a rebeldia humana? Desde Adão e Eva, a rebeldia humana consiste no seguinte. Deus disse: “Podeis usar dos bens da criação. Comei de todas as árvores, mas da árvore do bem e do mal não podeis comer”. O que era a árvore do bem e do mal? A árvore que dizia o que é bom e o que é mau, ciência reservada a Deus.Nós, seres humanos, não podemos tomar o lugar de Deus — “Sereis como deuses” — e dizer: “Isso, para mim, não é pecado. A primeiríssima coisa que devemos a Deus é a obediência, obediência da fé. Se Ele diz: “Isso é pecado, vai-te fazer mal; não comas que é veneno: ‘Se comerdes do fruto desta árvore, morrereis’”, é porque isso é realmente pecado e destrutivo.A destruição do homem consiste na revolta de não se submeter ao Deus que se revela para nos dizer o que é bom e o que é mau. Deus diz: “Não matar”, por exemplo. Então não matemos os outros em nosso coração. Não matemos o nascituro com anticoncepcional, pílula do dia seguinte, aborto etc. Deus diz: “Não cometa adultério”, o que inclui não fazer sexo antes do casamento, não se masturbar, não ver pornografia etc.Deus nos revelou o que é certo e o que é errado; mas nós — que nos achamos grandes, sábios e maravilhosos — sabemos mais do que Deus: “Deus, senta-te no banco dos alunos, e eu, na cátedra luciferiana do meu orgulho, irei julgar-te. Deus, tu estás errado”. Você não vê o absurdo disso? Antes de qualquer coisa, você precisa ter fé. Deus é muito bom. Ele é sábio, é Ele quem diz o que está certo e o que está errado. Quanto a nós, tratemos de obedecer aos mandamentos. Ele diz: “Não furtar”, então não se deve pegar o que pertence ao outro; Ele diz que não se pode levantar falso testemunho, então é proibido contar “mentirinhas” para escapar dos problemas. Controlemos a língua, paremos de desejar o corpo dos outros. O sexo foi feito para ser realizado dentro do casamento. Se você não é casado, não tem por que passar o dia olhando para o corpo dos outros. Paremos de cobiçar coisas materiais, fazendo do dinheiro o nosso “deus”.É isso o que Deus ensina a todos. Mas nós não queremos nos submeter! Nós somos os “grandes”, os “maravilhosos”!… — “Mas, padre, é tão difícil seguir os mandamentos”. Sim, é difícil se você não crescer na fé. O que Jesus está ensinando no Evangelho? Que nós precisamos fazer a fé crescer.Sobre isso há algo muito prático que eu preciso ensinar. Se você quer mudar de vida e obedecer aos mandamentos de Deus mas está tendo dificuldades, sabe o que deve fazer? A primeira coisa é rezar e, por meio da oração, aumentar a sua fé. Numa palavra, você precisa meditar as coisas de Deus.Por quê? Porque, antes de tudo — é o primeiro passo, o bê-á-bá da história — ninguém ama o que não conhece. Você quer obedecer a Deus, seguir os mandamentos, amar os outros, ter virtudes? Tudo isso depende de sua força de vontade, mas a sua vontade é fraca. Como a vontade se fortalece? Pela inteligência da fé. É preciso meditar as coisas de Deus amorosamente, ver o que Ele ensina, seja no Catecismo, seja na vida dos santos, seja no Evangelho. Trata-se de buscar a verdade para amá-la e ser iluminado por ela. A verdade, ao iluminar a inteligência, torna a vontade mais forte.Ora, você faz o quê? Passa o dia inteiro pensando em sabe-se lá o quê, em coisas até honestas, — como fará para pagar as contas, para manter o plano de saúde, para ter saúde e praticar esporte, para manter família, para comprar uma casa, para trocar de carro… —, coisas honestas mas todas carnais!Meu irmão, se a sua cabeça está muito ocupada como a de Marta, incapaz de se concentrar no único necessário, de meditar as coisas de Deus, sua vontade se tornará cada vez mais fraca. Quer ter vontade firme para obedecer aos mandamentos de Deus? Pense nas coisas de Deus, medite, reze, ocupe sua cabeça vazia com coisas espirituais, porque a inteligência ilumina a vontade. Começa-se por aí, na reflexão sobre Deus.Mas eis o que a Serpente fez a Adão e Eva: os fez refletir na direção contrária. “Tu achas que, obedecendo a Deus, serás feliz? Não! Será como Deus se desobedeceres, então serás verdadeiramente feliz”. Adão e Eva, enganados pelo pai da mentira, foram levados para longe da verdade. Em outras palavras, foi com a inteligência, antes de tudo, que Adão e Eva foram enganados. Foi nela que se instalou primeiro a suspeita de Deus.Na civilização ocidental moderna, nós nos achamos muito “bonzinhos” e muito “maravilhosos” porque duvidamos e suspeitamos de tudo… Não! Baixemos a dura cerviz e com inteligência obedeçamos a Deus, amemos a verdade de Deus, busquemos amorosamente a verdade de Deus em atos de fé, e então veremos o nosso coração tornar-se mais forte contra o pecado.A fé purifica. É ela que corrige maus hábitos arraigados, extirpa manias enraizadas, qual amoreiras arrancadas da terra. É próprio da fé dar-nos liberdade. — “Ah, padre!… Mas eu já rezo, e rezo muito! Rezo o dia inteiro”. Reza, sim; mas e os maus hábitos? Você está se tornando, lenta e gradualmente, mais virtuoso? Se não, há alguma coisa errada com a sua oração. Você não reza direito, se a sua vida não muda; a sua oração não é verdadeira, se você vive obstinado no pecado.Por quê? Porque o primeiro passo da oração é o ato da fé, ou seja, a submissão da inteligência. É um dobrar o intelecto diante de Deus, ao contrário do que fez Lúcifer. O diabo achava-se muito esperto e muito sábio, por isso não se dobrou diante de Deus, dizendo: “Não servirei”. Nós não. Nós temos de servir com humildade, como quem diz: “Sou um servo inútil. Não faço mais do que o meu dever. Não me pertenço, pois sou de Deus, meu Senhor, por isso farei tudo o que Ele me disser”.No entanto, nós ensinamos desde cedo aos nossos filhos uma vaidosa desconfiança. O que as escolas têm ensinado aos nossos filhos? “Você não pode ser ingênuo, você tem de ser crítico”. Ou seja: apela-se para a vaidade dos jovens, e a primeira coisa que eles fazem é achar que há valor em ser desobediente. Não. O ser humano encontra seu real valor na obediência, mas obediência a Deus em tudo, isto é, em ser escravo de amor.Se você notar dentro de si alguma opinião em desacordo com o ensinamento de Deus, mude de opinião na hora! Fuja do erro com verdadeiro pavor como se fosse (porque o é) armadilha do demônio! Busque a verdade de Deus, ensinada na fé da santa Igreja de dois mil anos, no Magistério de dois mil anos, no Catecismo, na vida dos santos, no ensinamento dos Santos Padres. Submeta-se, e você verá que a busca amorosa da verdade é fonte de força.“O Evangelho é uma força de Deus para aquele que crê” (Rm 1,16), força para vencer o pecado, força para abandonar os maus hábitos. Mas seja humilde, como um servo e escravo inútil de Deus a quem só cabe dizer: “Senhor, eis-me aqui”, e então a fé irá purificá-lo.Santo Tomás de Aquino nos ensina como funciona a dinâmica purificadora da fé. O que é uma coisa pura? Se dissermos: “Eis aqui uma moeda de prata”, essa prata será pura ou impura. Será impura, se estiver misturada com chumbo, por exemplo; mas se a misturarmos com ouro, ela não só permanecerá pura como terá ainda mais valor.Uma coisa torna-se impura, portanto, quando é misturada com algo que lhe é inferior. Ora, quando exercitamos a fé, vamos nos unindo a Deus, que é superior a nós, nosso Senhor e guia, nosso pastor e mestre, e isso faz o nosso coração ir-se purificando cada vez mais, porque estamos nos unindo ao que é do alto, àquilo que é superior.Nós nos tornamos impuros quando nos unimos ao que é inferior, àquilo que é da terra, a hábitos arraigados no pecado, em criaturas passageiras. — “Ah, o meu problema agora é dinheiro, agora é prazer, agora é sexo, é comida, é bebida, é não sei o quê…”. Não, você tem de se purificar! Una-se ao que é do alto, e é a fé que realiza essa purificação.Deixe, pois, seus maus hábitos, tão arraigados e ruins. Eis o evangelho que Jesus nos ensina neste domingo. Temos de arrancar pela raiz o que nos faz ser da terra para nos unirmos às coisas do alto. Como diz São Paulo, “buscai as coisas do alto” (cf. Col 3,1ss), onde nossos corações estarão unidos a Cristo. Lá é o nosso lugar. Quando chegarmos ao Céu, participaremos do banquete que o Senhor tem preparado para nós!
Deus abençoe você!
Santo do dia 05/10/2025
São Benedito, o Negro, Religioso (Memória Facultativa)
Local: Palermo, Itália
Data: 05 de Outubro † 1589
Nas terras da Sicília, em 1524, Deus preparava o caminho para um santo que traria luz à escuridão do mundo, acendendo os corações com o fogo da fé e da humildade. São Benedito, filho de africanos que haviam sido escravizados, nasceu no vilarejo de San Fratello. Sua vida, desde o primeiro instante, foi marcada pelo toque divino. Mesmo nascendo em condições humildes, Benedito carregava dentro de si um senso profundo de liberdade: a liberdade de servir, amar e confiar completamente em Jesus e Maria.
Desde menino, Benedito destacava-se por sua pureza de coração e por sua devoção à Santíssima Virgem. Seus pais, apesar da dureza de vida, transmitiram-lhe a fé, e Benedito abraçou cada ensinamento com simplicidade e fervor. Quando trabalhava como pastor, era frequente encontrá-lo em oração, sempre elevando seu coração a Deus em meio às tarefas mais cotidianas.
Aos 18 anos, Benedito deixou sua casa e juntou-se a um grupo de eremitas franciscanos. Lá, no silêncio das montanhas, ele dedicou sua vida à oração e à penitência, buscando uma união mais profunda com Deus. Mesmo na solidão, sua santidade começou a chamar a atenção, e muitos procuravam Benedito em busca de milagres e de conselhos espirituais. Embora fosse analfabeto, sua sabedoria e dons espirituais eram evidentes para todos que o conheciam.
Foi nesse período que Benedito começou a enfrentar intensas batalhas espirituais. Tal como Santo Antônio, ele foi atormentado por tentações, mas sua fé o manteve firme. A confiança que depositava em Deus era inabalável, e cada provação servia apenas para aproximá-lo ainda mais do Senhor. A partir de então, sua vida passou a ser marcada por uma série de milagres, como curas, multiplicações de alimentos e, inclusive, a ressurreição de mortos.
Em obediência à ordem do Papa Pio IV, Benedito foi chamado a deixar sua vida de eremita e ingressou no convento de Santa Maria de Jesus, em Palermo, onde assumiu a função de cozinheiro. Era na simplicidade da cozinha que Benedito continuava a exercer sua santidade. Relatos de época contam que, quando os alimentos começavam a faltar, Benedito confiava em Deus, e a comida se multiplicava de forma milagrosa. Ele sempre atribuía esses prodígios à providência divina, sem jamais buscar glória para si.
Mesmo com uma função tão humilde, Benedito logo foi chamado a posições de maior responsabilidade. Em 1578, ele foi eleito Superior do convento, apesar de ser um simples irmão leigo e analfabeto. Sua liderança, marcada pela obediência, humildade e amor, trouxe paz e fervor espiritual à comunidade. Ao fim de seu mandato, retornou com alegria às suas atividades na cozinha, servindo seus irmãos com a mesma dedicação.
Um dos aspectos mais comoventes da vida de São Benedito era sua profunda devoção ao Menino Jesus. Ele passava longos momentos em oração diante de uma imagem de Nossa Senhora, que até hoje se conserva na igreja principal do convento de Palermo. Conta-se que, em uma dessas ocasiões de oração, Nossa Senhora lhe oferecia o Menino Jesus para que ele o sustentasse em seus braços. Com uma simplicidade encantadora, Benedito permanecia brincando com o Menino Deus entre seus braços, profundamente imerso na sua oração.
No entanto, sua obediência era tão grande aos compromissos da vida comunitária que, em certo momento, ao ouvir o sino do convento, Benedito, para não se atrasar, rapidamente lançou o Menino Jesus nos braços de Nossa Senhora, saindo apressado para cumprir suas tarefas. Curiosamente, a imagem de Nossa Senhora parece, desde então, segurar o Menino Jesus de forma um tanto desajeitada, como um testemunho visível da simplicidade e obediência de Benedito. Esse episódio revela não só sua intimidade com Deus, mas também seu compromisso com a disciplina da vida religiosa.
A vida de São Benedito era uma contínua comunhão entre o céu e a terra. Ele vivia intensamente sua fé, seja nas tarefas mais simples, seja nos momentos de oração profunda. Sua humildade e serviço constantes faziam dele um reflexo da vida de Cristo, especialmente no cuidado pelos pobres e necessitados. Em uma ocasião, ao ver um irmão prestes a jogar fora um pedaço de pão, Benedito correu e pegou o alimento, dizendo: “Não jogue fora este pão, aqui contém o sangue dos pobres!” Esse gesto revelou a compaixão profunda que ele nutria por aqueles que sofriam e sua compreensão de que cada ato de generosidade e cuidado tinha um valor eterno.
Benedito era também um homem de milagres. Além das curas, ele multiplicava os alimentos para alimentar os frades e os pobres que vinham ao convento em busca de ajuda. Mesmo em sua simplicidade, os dons espirituais de Benedito atraíam multidões, mas ele sempre procurava manter-se longe das glórias humanas, atribuindo tudo à vontade de Deus e à intercessão da Santíssima Virgem.
Em 1589, São Benedito faleceu em plena fama de santidade, aos 63 anos. Seu corpo foi encontrado incorrupto, exalando um suave perfume, sinal da pureza com que viveu. Logo após sua morte, a devoção a São Benedito se espalhou por toda a Europa, alcançando também as Américas.
No Brasil, São Benedito se tornou um dos santos mais venerados, especialmente entre as comunidades afro-brasileiras. Sua história de humildade e serviço tocava profundamente os corações de escravizados e oprimidos, que o viam como um exemplo de dignidade e santidade. Em diversas regiões do país, as congadas e irmandades se formaram para honrar sua memória e espalhar sua devoção. O povo brasileiro, especialmente nas regiões mais simples, carrega São Benedito no coração como um protetor e intercessor poderoso, alguém que verdadeiramente entende as dores e lutas da vida.
Nos dias de festa em sua honra, é comum ver procissões, cantos e celebrações em várias partes do Brasil. Em Palermo, no museu do convento onde repousam seus restos mortais, há fotos e registros das inúmeras paróquias e capelas brasileiras dedicadas ao santo, testemunhando o amor e devoção do povo brasileiro.
São Benedito é um exemplo vivo de como a santidade não depende de riqueza, status ou conhecimento, mas de uma alma simples, cheia de amor e disposição para servir a Deus e aos outros. Ele nos ensina que a verdadeira grandeza está na humildade, no serviço silencioso e na profunda confiança em Deus. Que, por sua intercessão, possamos aprender a trilhar o caminho da santidade, amando e servindo com a mesma devoção com que ele amou Jesus e Maria.
Referência:
• Instituto Plinio Corrêa de Oliveira. “São Benedito, o Mouro – 05 de outubro”. 2024.
• Redemptor. “São Benedito, o Preto – 4 de abril”.
• Phillip Mericle. “São Benedito, o Mouro – A vida e a santidade de um exemplo extraordinário.”
• Vatican News. “São Benedito: um dos santos mais amados pelos brasileiros”. Bruno Franguelli, SJ.
São Benedito, rogai por nós!