3ª feira da 28ª Semana do Tempo Comum
Memória Facultativa
São Calisto I, Papa e Mártir
Antífona de entrada
Vernáculo:
Se levardes em conta, Senhor, nossas faltas, quem haverá de subsistir? Mas em vós se encontra o perdão. Sl. Das profundezas eu clamo a vós, Senhor, escutai a minha voz! (Cf. LH: Sl 129, 3-4 e 1. 2a)
Coleta
Nós vos pedimos, Senhor, que vossa graça nos preceda e acompanhe e nos torne atentos para perseverar na prática do bem. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus, e convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos.
Primeira Leitura — Rm 1, 16-25
Leitura da Carta de São Paulo aos Romanos
Irmãos, 16eu não me envergonho do Evangelho, pois ele é uma força salvadora de Deus para todo aquele que crê, primeiro para o judeu, mas também para o grego. 17Nele, com efeito, a justiça de Deus se revela da fé para a fé, como está escrito: O justo viverá pela fé.
18Por outro lado, a ira de Deus se revela, do alto do céu, contra toda a impiedade e iniquidade dos homens que em sua iniquidade oprimem a verdade. 19Pois o que de Deus se pode conhecer é manifesto aos homens: Deus mesmo lho manifestou.
20Suas perfeições invisíveis, como o seu poder eterno e sua natureza divina, são claramente conhecidas através de suas obras, desde a criação do mundo. Assim, eles não têm desculpa 21por não ter dado glória e ação de graças a Deus como se deve, embora o tenham conhecido. Pelo contrário, enfatuaram-se em suas especulações, e seu coração insensato se obscureceu: 22alardeando sabedoria, tornaram-se ignorantes 23e trocaram a glória do Deus incorruptível por uma figura ou imagem de seres corruptíveis: homens, pássaros, quadrúpedes, répteis. 24Por isso, Deus os entregou com as paixões de seus corações a tal impureza, que eles mesmos desonram seus próprios corpos. 25Trocaram a verdade de Deus pela mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador, que é bendito para sempre. Amém.
— Palavra do Senhor.
— Graças a Deus.
Salmo Responsorial — Sl 18(19A), 2-3. 4-5 (R. 2a)
℟. Os céus proclamam a glória do Senhor!
— Os céus proclamam a glória do Senhor, e o firmamento, a obra de suas mãos; o dia ao dia transmite esta mensagem, a noite à noite publica esta notícia. ℟.
— Não são discursos nem frases ou palavras, nem são vozes que possam ser ouvidas; seu som ressoa e se espalha em toda a terra, chega aos confins do universo a sua voz. ℟.
℣. A palavra do Senhor é viva e eficaz: ela julga os pensamentos e as intenções do coração. (Hb 4, 12) ℟.
Evangelho — Lc 11, 37-41
℣. O Senhor esteja convosco.
℟. Ele está no meio de nós.
℣. Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo ✠ segundo Lucas
℟. Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, 37enquanto Jesus falava, um fariseu convidou-o para jantar com ele. Jesus entrou e pôs-se à mesa.38O fariseu ficou admirado ao ver que Jesus não tivesse lavado as mãos antes da refeição. 39O Senhor disse ao fariseu: “Vós fariseus, limpais o copo e o prato por fora, mas o vosso interior está cheio de roubos e maldades. 40Insensatos! Aquele que fez o exterior não fez também o interior? 41Antes, dai esmola do que vós possuís e tudo ficará puro para vós”.
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.
Antífona do Ofertório
Recordáre mei, Dómine, omni potentátui dóminans: da sermónem rectum in os meum, ut pláceant verba mea in conspéctu príncipis. (Esth. 14, 12. 13)
Vernáculo:
Lembrai-vos de mim, Senhor, vós que estais acima de todo o poder. E dai à minha boca uma palavra justa para que agrade na presença do príncipe. (Cf. MRQ: Est. 14, 12. 13)
Sobre as Oferendas
Acolhei, Senhor, as preces dos fiéis com a oblação do sacrifício, para que possamos, por este serviço da nossa piedosa devoção, alcançar a glória do céu. Por Cristo, nosso Senhor.
Antífona da Comunhão
Ou:
Quando o Senhor se manifestar, seremos semelhantes a ele, pois o veremos tal como ele é. (Cf. 1Jo 3, 2)
Vernáculo:
Livrai-me do insulto e do desprezo, pois eu guardo as vossas ordens, ó Senhor. Minha alegria é a vossa Aliança, meus conselheiros são os vossos mandamentos. (Cf. LH: Sl 118, 22. 24)
Depois da Comunhão
Deus todo-poderoso, nós vos pedimos humildemente: assim como nos alimentais com o sacramento do Corpo e Sangue de Cristo, fazei-nos participar da natureza divina. Por Cristo, nosso Senhor.
Homilia do dia 14/10/2025
A pureza de coração
“Limpais o copo e o prato por fora, mas o vosso interior está cheio de roubos e maldades. Insensatos! Aquele que fez o exterior não fez também o interior? Antes, dai esmola do que vós possuís e tudo ficará puro para vós”.
V. 37. Enquanto Jesus falava, um fariseu convidou-o para jantar com ele. Jesus entrou e pôs-se à mesa. — a) “Enquanto falava”, isto é, enquanto, certa feita, estava a ensinar o povo com discursos e sermões. Assim o interpretam Agostinho (cf. De consen. evangel. II 39) e Beda, para os quais Lucas não guarda neste ponto a ordem cronológica, mas une no tempo coisas ocorridas em momentos diversos. Maldonado, pelo contrário, seguindo a opinião de Eutímio, julga que a cena aqui narrada aconteceu no mesmo lugar e no mesmo tempo que as anteriores, isto é, após a expulsão do demônio mudo (cf. 11, 14), do sermão em defesa de sua autoridade divina (cf. 11, 15-26) e das críticas à incredulidade de sua geração (cf. 11, 26-36). Nesse sentido, teria o evangelista escrito: “Enquanto falava”, a fim de indicar ao leitor em que ocasião Jesus foi convocado e explicitar, por antecipação (cf. v. 53s), com que ânimo O convidara para jantar um dos fariseus. — b) “Convidou-O”, portanto, não com reta intenção, mas por simulação, ou seja, a fim de observá-lO e buscar algum motivo para O acusar. — c) “Jesus entrou e pôs-se à mesa”, quer dizer, tão-logo entrou em casa, sentou-se à mesa sem ter lavado antes as mãos, segundo as cerimônias observadas pelos fariseus. É a razão do que se diz no v. seguinte.
V. 38. O fariseu ficou admirado ao ver que Jesus não tivesse lavado as mãos antes da refeição. — a) “O fariseu ficou admirado” por ver Jesus sentar-se sem lavar as mãos, conforme o costume, ficou escandalizado. Todos os judeus, com efeito, e especialmente os fariseus, costumavam fazer uma série de abluções antes e durante as refeições, como se vê nos evangelhos de Marcos (cf. 7, 4) e João (cf. 2, 6). Os fariseus, no entanto, punham a sua santidade e pureza nesta cerimônias de purificação, embora trouxessem em si mesmos um coração impuro e maculado. — b) “Jesus não tinha lavado as mãos antes da refeição”. Acrescenta Maldonado não ser improvável que Jesus assim tenha agido de indústria, para ter ocasião de ensinar, a partir de um escândalo farisaico, o quão vãos e supersticiosos eram a doutrina e o costume dos fariseus, que, negligenciado a pureza da alma, punham toda religião e santidade em lavar e purificar o corpo.
V. 39. O Senhor disse ao fariseu: Vós fariseus, limpais o copo e o prato por fora, mas o vosso interior está cheio de roubos e maldades. — a) “O Senhor”, vendo por sua ciência tanto divina quanto infusa os pensamentos do outro, “disse ao fariseu”, cuja admiração não parece ter-se manifestado exteriormente. — b) “Vós fariseus”, repreende Ele na pessoa de um só o pecado comum a todos, “limpais o copo e o prato por fora”, isto é, o que é visível e exterior, “mas o vosso interior”, onde está a vossa consciência e a vossa real figura, “está cheio de roubos e maldade”. Com a mesma imagem condena o Senhor, em Mt 23, 25, a hipocrisia dos fariseus e sinedritas. Nota Maldonado que a partícula nunc, que encabeça este v. no texto em latim, tem força adversativa, de modo que o sentido da frase seria: “Se vós limpásseis o que é de dentro como limpais o que é de fora, não haveria de repreender-se o vosso costume; mas (lt. nunc) como limpais diligentemente o que é de fora, o que porém é de dentro está cheio de rapina e dolo, sois insensatos e hipócritas” (cf. v. 40).
V. 40. Insensatos! Aquele que fez o exterior não fez também o interior? — Assim os improba Cristo, comenta o Venerável Beda, “como se dissesse: o que fez as duas naturezas do homem”, isto é, o corpo e a alma, “deseja que as duas estejam puras. Isto é contra os maniqueus, que afirmavam ser a alma criada por Deus, o corpo porém pelo diabo. Isto também é contra os que abominam como mais graves os pecados corporais, como a fornicação, o furto e outros, mas desprezam como de pouca monta os espirituais, igualmente condenados pelo Apóstolo” (apud S. Tomás de Aquino, Catena in Lucam, c. 11, l. 11).
V. 41. Antes, dai esmola do que vós possuís e tudo ficará puro para vós. — a) “Do que possuís”. Quanto a esta expressão (l. quod superest), os intérpretes latinos se dividem em três sentenças principais: 1) alguns, como Liriano, pensam que se refere à restituição dos roubos mencionados por Cristo no v. precedente; 2) outros, como Beda, pensam que se refere aos bens em geral dos fariseus; 3) outros, enfim, como Boaventura, pensam que a construção em latim significa, na verdade: “O que vos resta”, de maneira que o sentido do v. seria: “O único remédio que vos resta é dar esmolas”. No texto grego, observa Maldonado, a expressão τὰ ἐνόντα parece estar por κατὰ τὰ ἐνόντα (lt. pro facultatibus vestris = “cada um segundo suas possibilidades”), de maneira que o sentido genuíno da passagem seria: “Antes, dê esmolas cada um de vós quanto lhe for possível”. Para uma exposição mais detalhada destas e de outras interpretações, leia-se o comentário de Cornélio a Lapide a este trecho de Lucas. — b) “Tudo ficará puro para vós”. Repreendeu Cristo aos fariseus por limparem o corpo, mas negligenciaram a alma; por isso, ensina que, se derem esmola, tudo (isto é, o corpo e alma, o que é exterior e o interior), ficará puro. Poder-se-ia perguntar, contudo, como é possível que a esmola purifique a alma, o que não pode dar-se senão pela remissão dos pecados. Dizem Beda e Boaventura, comentando este ponto, que a esmola perdoa pecados no sentido de dispor ao perdão deles. É o que ensina a Escritura, ao falar da esmola: Resgata teu pecado pela justiça (Dn 4, 24); Tua caridade para com teu pai não será esquecida (Eclo 3, 15); A esmola livra do pecado e da morte (Tb 4, 11); A esmola livra da morte: ela apaga os pecados e faz encontrar a misericórdia e a vida eterna (Tb 12, 9).
Nota sobre a purificação do homem. — Tudo para vós será puro. “A impureza de cada coisa consiste em estar misturado com coisas mais vis”, isto é, de natureza inferior. “Com efeito, não se diz que a prata é impura por estar misturada com ouro, pelo qual se torna mais nobre, mas por estar misturada com chumbo ou estanho”, por exemplo. “Pois bem, é evidente que a criatura racional é mais digna do que todas as coisas temporais e criaturas corporais. E, por isso, torna-se impura ao sujeitar-se a coisas temporais por amor” a elas. “Ora, desta impureza ela é purificada pelo movimento contrário, a saber: enquanto tende àquilo que está acima de si, ou seja, a Deus. Neste movimento, o primeiro princípio é a fé, como se diz em Hb 11, 6: Para se achegar a Ele é necessário que se creia primeiro. E, por isso, o princípio da purificação do coração é a fé, a qual, se for aperfeiçoada pela caridade formada, causa uma perfeita purificação” (S. Tomás de Aquino, STh II-II 7, 2c.).
Deus abençoe você!
Santo do dia 14/10/2025
São Calisto I (Memória Facultativa)
Local: Roma, Itália
Data: 14 de Outubro † c. 222
São Calisto I é certamente um dos grandes papas dos primeiros séculos do cristianismo. As notícias sobre ele são bastante escassas e as que possuímos provêm de fonte hostil a ele, isto é, de Hipólito, adversário do papa anterior a Calisto e do próprio papa Calisto I. No ano de 217, com a morte do papa Zeferino, subiu à cátedra de Pedro em Roma um liberto, ou seja, um ex-escravo. É bom saber que, então, os libertos, em Roma, constituíam uma classe muito ativa, em cujas mãos estava grande parte do comércio e da indústria.
Ainda jovem escravo, Calisto esteve a serviço de certo cristão de nome Carpóforo, comerciante, mas não foi bem-sucedido em seus negócios, sendo obrigado a indenizar o dono pelos prejuízos causados. Foi deportado para a ilha da Sardenha e condenado a trabalhos forçados nas minas. Aí se encontrou com muitos cristãos condenados por motivos da fé. Passados alguns anos, Calisto foi indultado e pôde voltar do exílio. O papa Zeferino quis aproveitar as capacidades extraordinárias de Calisto, encarregando-o da administração dos cemitérios ou catacumbas na Via Ápia, que, em seguida, passaram à história com o nome de São Calisto.
Com a morte de Zeferino, clero e povo elegeram Calisto para sucessor do Papa, apesar de ter tido origem escrava. Mas ao ser eleito sofreu séria oposição do presbítero Hipólito, homem de vasta cultura e escritor fecundo em assuntos doutrinários. Hipólito chegou a formar contra ele uma comunidade rival, tornando-se, inclusive, o primeiro antipapa. Mais tarde, Hipólito, condenado às minas por ser cristão, se reconciliou com a Igreja e morreu mártir.
Durante seu curto pontificado de seis anos, a Igreja foi perturbada por discussões sobre o mistério da Santíssima Trindade. Calisto condenou a doutrina de Sabélio que defendia o modalismo, doutrina que reduz as pessoas divinas a modalidades da única pessoa do Pai Eterno. Condenou também ideias rigoristas de Tertuliano e de Hipólito que negavam a absolvição dos pecados de apostasia, adultério e homicídio. São Calisto firmou a doutrina: "Todo pecado pode ser perdoado pela Igreja, cumpridas as devidas condições de penitência".
Desconhecem-se as circunstâncias do martírio. É possível que tenha sido assassinado durante um motim popular contra os cristãos, no ano 222. Sua memória ficou bem viva na comunidade cristã de Roma, que sempre o venerou como mártir.
A Oração coleta faz alusão apenas ao martírio. Seu nome ficou ligado às catacumbas ou cemitérios de Roma e ao culto dos mártires. A mensagem de sua comemoração parece ir além. Sim, antes de tudo, ele se apresenta como mártir e pastor. Podemos lembrar, no entanto, outros elementos. Jesus não fez acepção de pessoas.
Todos são chamados a segui-lo e a testemunhá-lo. Não importa que alguém tenha sido ou seja escravo, pois, também ele, como o publicano Mateus, pode se tornar apóstolo de Cristo. Outro aspecto é o cuidado dos mortos. A sacralidade dos túmulos cristãos na esperança da ressurreição e o culto dos mártires e dos santos em geral.
Referência:
BECKHÄUSER, Frei Alberto. Os Santos na Liturgia: testemunhas de Cristo. Petrópolis: Vozes, 2013. 391 p. Adaptações: Equipe Pocket Terço.
São Calisto I, rogai por nós!