São Jerônimo, Presbítero e Doutor da Igreja
Antífona de entrada
Vernáculo:
No meio da Igreja o Senhor abriu os seus lábios, encheu-o com o espírito de sabedoria e inteligência e o revestiu com um manto de glória. (Cf. MR: Eclo 15, 5) Sl. Como é bom agradecermos ao Senhor e cantar salmos de louvor ao Deus Altíssimo. (Cf. LH: Sl 91, 2)
Coleta
Ó Deus, que destes ao presbítero São Jerônimo um profundo amor pela Sagrada Escritura, concedei que o vosso povo seja alimentado cada vez mais com a vossa palavra e nela encontre a fonte da vida. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus, e convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos.
Primeira Leitura — Zc 8, 20-23
Leitura da Profecia de Zacarias
20Isto diz o Senhor dos exércitos: “Virão ainda povos e habitantes de cidades grandes,21dizendo os habitantes de uma para os de outra cidade: ‘Vamos orar na presença do Senhor, vamos visitar o Senhor dos exércitos; eu irei também’. 22Virão muitos povos e nações fortes visitar o Senhor dos exércitos e orar na presença do Senhor”. 23Isto diz o Senhor dos exércitos: “Naqueles dias, dez homens de todas as línguas faladas entre as nações vão segurar pelas bordas da roupa um homem de Judá, dizendo: ‘Nós iremos convosco; porque ouvimos dizer que Deus está convosco’”.
— Palavra do Senhor.
— Graças a Deus.
Salmo Responsorial — Sl 86(87), 1-3. 4-5. 6-7 (R. Zc 8, 23)
℟. Nós temos ouvido que Deus está convosco.
— O Senhor ama a cidade que fundou no Monte santo; ama as portas de Sião mais que as casas de Jacó. Dizem coisas gloriosas da Cidade do Senhor. ℟.
— Lembro o Egito e Babilônia entre os meus veneradores. Na Filisteia ou em Tiro ou no país da Etiópia, este ou aquele ali nasceu. De Sião, porém, se diz: “Nasceu nela todo homem; Deus é sua segurança”. ℟.
— Deus anota no seu livro, onde inscreve os povos todos: “Foi ali que estes nasceram”. E por isso todos juntos a cantar se alegrarão; e, dançando, exclamarão: “Estão em ti as nossas fontes!” ℟.
℣. Veio o Filho do Homem, a fim de servir e dar sua vida em resgate por muitos. (Mc 10, 45) ℟.
Evangelho — Lc 9, 51-56
℣. O Senhor esteja convosco.
℟. Ele está no meio de nós.
℣. Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo ✠ segundo Lucas
℟. Glória a vós, Senhor.
51Estava chegando o tempo de Jesus ser levado para o céu. Então ele tomou a firme decisão de partir para Jerusalém 52e enviou mensageiros à sua frente. Estes puseram-se a caminho e entraram num povoado de samaritanos, para preparar hospedagem para Jesus. 53Mas os samaritanos não o receberam, pois Jesus dava a impressão de que ia a Jerusalém. 54Vendo isso, os discípulos Tiago e João disseram: “Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para destruí-los?” 55Jesus, porém, voltou-se e repreendeu-os. 56E partiram para outro povoado.
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.
Antífona do Ofertório
Iustus ut palma florébit: sicut cedrus, quae in Líbano est, multiplicábitur. (Ps. 91, 13)
Vernáculo:
O justo crescerá como a palmeira, florirá igual ao cedro que há no Líbano. (Cf. LH: Sl 91, 13)
Sobre as Oferendas
Concedei-nos, Senhor, que a exemplo de São Jerônimo, tendo meditado a vossa palavra, sejamos mais solícitos em vos oferecer a oblação que nos salva. Por Cristo, nosso Senhor.
Antífona da Comunhão
Vernáculo:
Eis o servo fiel e prudente, a quem o Senhor confiou a sua família para dar-lhe alimento no tempo oportuno. (Cf. MR: Lc 12, 42)
Depois da Comunhão
Senhor, os sacramentos que alegres recebemos na festa de São Jerônimo despertem nossos corações para que, voltados aos ensinamentos da Sagrada Escritura, conheçamos o caminho a seguir e, seguindo-o, alcancemos a vida eterna. Por Cristo, nosso Senhor.
Homilia do dia 30/09/2025
Um mundo de samaritanos
“Estava chegando o tempo de Jesus ser levado para o céu. Então ele tomou a firme decisão de partir para Jerusalém e enviou mensageiros à sua frente”.
O Evangelho de hoje é decisivo dentro da redação de São Lucas. Dividida em duas partes, o autor sagrado dá início à segunda justamente no primeiro versículo da leitura de hoje. Jesus esteve até agora evangelizando na Galileia; deste ponto em diante, começa sua grande subida a Jerusalém e aos céus. Trata-se, de fato, de uma viagem ascensional — uma anábase — num duplo sentido, físico e espiritual. É por isso que Lucas escreve: Estava chegando o tempo de Jesus ser levado para o céu, isto é, de morrer e ser glorificado, para logo acrescentar: Então ele tomou a firme decisão de partir para Jerusalém, ou seja, de subir da Galileia até o cimo do Monte Sião, na Judeia, onde estava localizada a cidade santa. O que pode soar como simples “curiosidade” bíblica é, na verdade, parte importante da formação que o evangelista nos quer transmitir com esse relato, a saber: nós devemos, com Cristo e por Cristo, tomar a decisão de carregar nossa cruz, se quisermos realmente subir aos céus um dia. A linguagem do Evangelho é bastante solene: Chegando o tempo de Jesus ser levado para o céu, isto é, tendo-se completado o tempo (gr. συμπληροῦσθαι, lt. dum complerentur dies) predefinido pelo Pai para a consumação da obra redentora, Jesus fez rosto duro (πρόσωπον ἐστήρισεν), assumindo um semblante como de pedra, sinal de quem sabe para onde deve ir. O problema é que são os Apóstolos que não parecem saber para onde vão. Poder-se-ia dizer que, para eles, aquela viagem era quase um “passeio turístico”. Não é esse o espírito de Jesus. Ele sabe o que o aguarda em Jerusalém; daí a firmeza de sua decisão em passar pelo suplício da cruz para fazer justiça a Deus e reparar o gênero humano caído. Ele sobe a Jerusalém para depois subir de volta ao Pai, a fim de que nós, subindo também o nosso próprio calvário, possamos um dia ascender à glória do céu.
Em seguida, diz o evangelista que Jesus mandou à sua frente alguns batedores para lhe prepararem pousada entre os samaritanos. Lembremos que entre a Galileia, onde o Senhor pregara até então, e a Judeia, onde estava Jerusalém, situava-se a Samaria, cujos habitantes, pela rivalidade religiosa que os separava do judeus, não quiseram recebê-lo; Jesus, com efeito, dava a impressão de que ia à cidade santa, coração do culto judaico. Ora, como vissem a rejeição dos samaritanos, Tiago e João, fazendo juz ao apelido filhos do trovão, perguntaram ao Mestre: Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para destruí-los? Cristo porém os repreende, porque a sua luta é contra o inferno e o pecado, e não contra os homens, razão por que o seu sacrifício na cruz será também pelos samaritanos e por todos os que não receberam a promessa do Messias. É o que nos diz a primeira leitura, tirada do profeta Zacarias: Naqueles dias, quando for instaurado o reino messiânico, isto é, a Igreja, homens de todas as línguas faladas entre as nações, ou seja, de origem pagã, vão segurar pelas bordas da roupa um homem de Judá, dizendo: Nós iremos convosco; porque ouvimos dizer que Deus está convosco. E quem é Deus conosco senão Jesus Cristo, o Emanuel, enviado para salvar não só o povo da promessa, mas aqueles que nem mesmo esperavam ser salvos? Como o Senhor levará a cabo essa obra de salvação? Subindo decididamente a Jerusalém, sem desviar nunca o olhar da missão para que veio — morrer na cruz em proveito de muitos.
Eis aqui outra lição espiritual que podemos extrair hoje: vivemos em meio a samaritanos, isto é, a almas que rejeitam Jesus; de fato, no mundo em que vivemos reina a cultura da morte, uma mentalidade ateia e relativista, favorável a todo tipo de imoralidade, como o aborto, a ideologia de gênero e muitos outros valores contrários aos do Evangelho. Mas dias virão em que até os mundanos, vendo a vitória de Deus, tomarão os fiéis pela borda da roupa, querendo participar da mesma esperança: Nós iremos convosco; porque ouvimos dizer que Deus está convosco. Para isso, temos de ter o rosto sólido e decidido, que olha resoluto para frente, sem se desviar nem para a direita nem para a esquerda. No mundo dos samaritanos, é fato, não há lugar para nós; mas a nossa missão é subir alegres a Jerusalém, conscientes de que a cruz, abraçada com docilidade e obediência, é fonte de salvação. Ó Tiago e João, vós ireis sofrer perseguições e martírios, mas isso servirá para a salvação dos samaritanos que hoje nos rejeitam! Ó Tiago e João, não fiqueis a invocar raios ou vinganças celestes sobre quem ainda rejeita a Cristo; um dia se há de cumprir a profecia, e até os pagãos vos hão de agarrar pela orla do manto, dizendo: Nós iremos convosco; porque ouvimos dizer que Deus está convosco! Foi para isso que Cristo morreu na cruz, também pelos que nada esperavam. — Rezemos e trabalhemos pela evangelização, a fim de que essa profecia se torne verdade em nossas vidas, de modo que as nossas cruzes, pequenas e grandes, recebam da de Cristo a graça de ser instrumentos para a salvação dos samaritanos, de quantos não creem, não esperam e não amam.
Deus abençoe você!
A Igreja celebra hoje a memória de São Jerônimo, um de seus mais insignes Doutores, a quem Deus constituiu como guia para ensinar aos fiéis de todos os tempos o caminho da sabedoria bíblica. No entanto, esse mesmo caminho não foi fácil, de início, para este sábio, que, antes de converter-se em profundidade, sentia pelas Escrituras grande dissabor, e talvez tenha sido este, apesar de todos os seus jejuns e orações, o principal obstáculo para que ele se tornasse o santo que hoje veneramos.Ouça a homilia do Padre Paulo Ricardo para esta terça-feira, dia 30 de setembro, e saiba qual era o desapego que faltava a São Jerônimo.
Santo do dia 30/09/2025
São Jerônimo (Memória)
Local: Belém, Israel
Data: 30 de Setembro † 420
Estamos diante de uma figura única da história da Igreja: polemista, apologeta, estudioso das Escrituras, penitente e santo. São Jerônimo imortalizou-se por sua tradução da Bíblia para o latim, denominada Vulgata, e pelos muitos comentários bíblicos que legou à Igreja. Por isso, ela o celebra como o doutor máximo das Sagradas Escrituras.
Eusébio Jerônimo Sofrônio nasceu em Estridão, Dalmácia, cerca do ano 340. Estudou em Roma e aí foi batizado. Viajou depois para o Oriente, onde passou algum tempo junto aos monges. Foi ordenado presbítero em Antioquia meio contra a sua vontade. Aí não permanecendo, dirigiu-se a Constantinopla, onde travou amizade com Gregório de Nazianzo e Gregório de Nissa. Depois disso, o papa São Dâmaso o reteve em Roma como seu secretário. Por seu grande conhecimento do latim, do grego e do hebraico, o Papa lhe confiou a tradução da Bíblia para o latim. Na tradução, mas sobretudo nas anotações ao texto, Jerônimo revela agudo senso crítico. O Papa, de fato, desejava uma tradução da Bíblia mais fiel em tudo aos textos originais, traduzida e apresentada em latim mais correto, que pudesse servir de texto único e uniforme na Liturgia. O conjunto de sua tradução da Bíblia em latim chamou-se "Vulgata" e foi o texto usado largamente nos séculos posteriores, tornando-se oficial com o Concílio de Trento e só cedeu o lugar ultimamente às novas traduções à luz dos novos estudos exegéticos.
Em Roma, criou-se em torno ao sábio e penitente presbítero, largo círculo de amizades, sobretudo de senhoras da alta sociedade, que ele orientou nos ásperos caminhos da santidade de cunho monástico. Mas, quando São Dâmaso morreu, em 384, e ele perdeu o apoio para o cargo de secretário, São Jerônimo se viu numa situação bastante difícil. Nos dois anos posteriores, mesmo tendo impressionado toda a cidade de Roma por sua santidade pessoal, seu saber e sua honestidade, ao mesmo tempo, arranjou um vasto círculo de pessoas que não gostavam dele. Por mais que se justificasse sua indignação, o seu modo de falar as coisas provocava ressentimentos. A própria reputação dele foi objeto de ataques. Levantaram-se até calúnias contra ele. Jerônimo ficou sobremodo indignado com tudo isso e resolveu retornar ao Oriente, a fim de lá encontrar um refúgio na calma.
Viveu os últimos 35 anos em Belém, na oração, na penitência, na direção de cenáculos de vida ascética e monástica. Continuou a dedicar-se à tradução da Bíblia a partir dos textos originais e à revisão da antiga versão latina. Escreveu muitos comentários da Bíblia e vários tratados. São Jerônimo foi uma personalidade vigorosa, de inteligência extraordinária, de temperamento indomável. Teve uma correspondência literária muito vasta, de grande interesse histórico; ele se sentia presente e engajado como escritor em todos os problemas doutrinários do seu tempo.
Morreu em Belém no ano 420. Foi declarado padroeiro dos estudos bíblicos. Ele deixou escrito: "Se, conforme o apóstolo Paulo, Cristo é o poder de Deus e a sabedoria de Deus, e quem ignora as Escritura ignora o poder de Deus e sua sabedoria, ignorar as Escrituras é ignorar Cristo" (cf. Leitura hagiográfica).
Os textos da Missa traduzem um homem apaixonado pelas Sagradas Escrituras.
Que todo cristão possa viver o que reza a Antífona da entrada: Que as palavras da Escritura estejam sempre em teus lábios, para que, meditando-as dia e noite, te esforces para realizar tudo aquilo que ensinam, e terá sentido e valor a tua vida (Js 1,8).
A Oração do dia realça o amor pela Sagrada Escritura dado por Deus a São Jerônimo; que este Deus conceda ao seu povo alimentar-se cada vez mais da sua palavra e nela encontre a fonte da vida.
Na Oração sobre as oferendas, a Igreja pede que, à semelhança de São Jerônimo meditando vossa palavra em nossos corações, sejamos mais solícitos em oferecer-vos o sacrifício que nos salva.
A Oração depois da Comunhão pede que, sempre atentos às Sagradas Escrituras, conheçamos o caminho a seguir e cheguemos por ele à vida eterna.
Convém fechar esta reflexão com a Antífona da Comunhão: Vossas palavras foram encontradas e eu as devorei; elas se tornaram minha delícia e a alegria do meu coração; porque vosso nome, Senhor Deus, foi invocado sobre mim.
Referência:
BECKHÄUSER, Frei Alberto. Os Santos na Liturgia: testemunhas de Cristo. Petrópolis: Vozes, 2013. 391 p. Adaptações: Equipe Pocket Terço.
São Jerônimo, rogai por nós!